2 DIACRONIA E SINCRONIA DA REDE NO SISTEMA DE SAÚDE EM VITÓRIA DA CONQUISTA
3 REBATIMENTOS ESPACIAIS DO SISTEMA DE SAÚDE EM VITÓRIA DA CONQUISTA
3.1 A concentração de unidades de saúde na cidade e a produção do espaço conquistense
Na cidade afloram elementos fixos do sistema de saúde. Decisões estatais e privadas de investimento no setor impactam diretamente na configuração territorial. Quanto mais variados os tipos de serviços oferecidos numa cidade, maior a sua força de atração.
As unidades de saúde têm importância estratégica, política e econômica, e a implantação de serviços tem objetivos diferentes na esfera estatal e na esfera privada. O sistema estatal age de maneira diferente do sistema privado quanto à instalação de fixos e à geração de fluxos apesar de serem complementares. Como afirma Aciole (2006),
O setor Saúde no Brasil envolve, como sabemos, um subsistema estatal (público) e um subsistema privado. É por meio deles que atuam atores sociais específicos, alocados em esferas específicas como Estado e o mercado, para perseguir e obter a realização de seus projetos quer políticos, quer sociais, quer econômicos. Esferas definidas em torno da configuração de práticas sociais que organizam ofertas de serviços e ações constitucionalizadas; esferas organizadas técnico-assistencialmente, em permanente tensão, pelas lógicas aduzidas a partir das categorias cidadania e consumidor. (ACIOLE, 2006, p. 119).
Numa constante tensão das categorias cidadania e consumo, vão-se materializando as unidades e os equipamentos de saúde instalados na cidade. O governo constrói ora grandes edificações, como hospitais (Fotografia 3), ora mais modestas, como Unidade Básica de Saúde (UBS) (Fotografia 4).
Capítulo 3 - Rebatimentos espaciais do sistema de saúde em Vitória da Conquista
A iniciativa privada também age de maneira parecida, pois, em alguns momentos, investe em hospitais e clínicas de grande e médio portes (Fotografias 5 e 6) e, em outros, a maior parte dos investimentos se restringe à abertura de consultórios isolados (Fotografia 7). Contudo, o intento dos investimentos traz consigo uma permanente tensão entre o mercado da saúde e a necessidade de garantia de atendimento à população.
Fotografia 3 – Hospital Geral de Vitória da Conquista, 2009
Autora: FERRAZ, Ana Emília de Quadros. Fonte: Trabalho de Campo, 2009.
Fotografia 4 – Policlínica de Atenção Básica, localizada no
Bairro Brasil na cidade de Vitória da Conquista, 2009
Autora: FERRAZ, Ana Emília de Quadros. Fonte: Trabalho de Campo, 2009.
Fotografia 5 – Hospital em Vitória da Conquista,
2009
Autora: FERRAZ, Ana Emília de Quadros. Fonte: Trabalho de Campo, 2009.
Fotografia 6 – Clínica em Vitória da Conquista, 2009
Autora: FERRAZ, Ana Emília de Quadros. Fonte: Trabalho de Campo, 2009.
Capítulo 3 - Rebatimentos espaciais do sistema de saúde em Vitória da Conquista
A relação entre mercado e cidadania pode ser notada, inclusive, pala maneira como são construídas e mantidas as unidades e os equipamentos de saúde. A comparação entre a sala de espera de uma Policlínica de Atenção Básica (PAB) (Fotografia 8) e a de uma clínica particular (Fotografia 9) demonstra como a iniciativa privada tem se utilizado de estratégias para captar o paciente, oferecendo um ambiente de espera onde o conforto e a estética são prioridades. Já no PAB, as instalações são simples e oferecem apenas o indispensável.
Fotografia 7 – Consultório médico em Vitória da
Conquista, 2009
Autora: FERRAZ, Ana Emília de Quadros. Fonte: Trabalho de Campo, 2009.
A construção de grandes hospitais estatais e a instalação de equipamentos caros, especialmente de média e alta complexidades são processos que envolvem disputas políticas e
Fotografia 8 – Sala de espera de uma Policlínica de
Atenção Básica na cidade de Vitória da Conquista, 2009
Autora: FERRAZ, Ana Emília de Quadros. Fonte: Trabalho de Campo, 2009.
Fotografia 9 – Sala de espera de uma clínica
privada de Vitória da Conquista, 2009
Autora: FERRAZ, Ana Emília de Quadros. Fonte: Trabalho de Campo, 2009.
Capítulo 3 - Rebatimentos espaciais do sistema de saúde em Vitória da Conquista
impactam na construção do espaço. Em relação a clínicas e hospitais, quanto maior a presença de equipamentos, maior credibilidade lhes é conferida. Como alerta Aciole (2006),
Equipamentos médico-hospitalares, particularmente os que constituem recursos diagnósticos e/ou terapêuticos são, estruturalmente, associados à qualidade na prestação de apoio [...] por essa vinculação acabam recebendo uma conotação que estabelece valorização diferenciada aos estabelecimentos segundo o grau de incorporação e utilização. (ACIOLE, 2006, p. 300).
Clínicas e hospitais fazem divulgação dos equipamentos instalados com o fito de valorizar os serviços oferecidos e dinamizar os fluxos. Essa e outras táticas são utilizadas para captar o paciente, aquele que busca manter ou restaurar a sua saúde e que é o sujeito que alimenta a rede, sendo, ao mesmo tempo, produto e condição do e no sistema de saúde.
Em Vitória da Conquista, nos idos da década de 1950, a inauguração do Hospital Regional Crescêncio Silveira foi um marco histórico; no entanto, com o passar dos anos, perdeu a força de referência e atualmente suas instalações foram transformadas em um Centro de Saúde (CS). Esse exemplo demonstra como os fixos vão se requalificando ao longo do tempo. As Fotografias 10 e 11 retratam essa unidade de saúde em dois momentos históricos. Apesar de o prédio manter a mesma característica, a sua função foi transformada, especialmente nos valores referenciais qualitativos para a população.
Fotografia 10 – Hospital Regional Dr. Crescêncio Silveira em
Vitória da Conquista, inaugurado em 1953
Fonte: Rocha, 2003, p. 90. .
Somente na década de 1990, com a construção do Hospital Geral de Vitória da
Conquista (conhecido como Hospital de Base) e do Hospital Esaú Matos23, novos
investimentos de vulto foram realizados na cidade por parte do Estado. O primeiro com recursos estaduais, e o segundo com recursos municipais. Esses hospitais são hoje em dia as principais unidades estatais e atendem a população de Vitória da Conquista e de mais uma centena de municípios. Essas unidades têm um fluxo intenso de pacientes, especialmente na porta de entrada do Pronto Socorro e, por isso, estão sempre com a capacidade de atendimento no limite. O Hospital de Base, por ser um Hospital Geral e ser da esfera administrativa vinculada à Sesab, está sempre superlotado, sendo “comum” pacientes em macas nos corredores (Fotografia 12).
23
Atualmente denominado de Hospital Municipal Esaú Matos, pois está sob a esfera administrativa do município. Caracterizado como Hospital Especializado, é referência na medicina materno-infantil (inclusive acolhe residência médica nessa área).
Fotografia 11 – Centro de Referência Crescêncio Silveira em Vitória da Conquista,
2009
Autora: FERRAZ, Ana Emília de Quadros. Fonte: Trabalho de Campo, 2009.
Capítulo 3 - Rebatimentos espaciais do sistema de saúde em Vitória da Conquista
Os principais hospitais vinculados à iniciativa privada, como se tratou nos capítulos anteriores, foram inaugurados nas décadas de 1940 (Hospitais São Vicente e São Geraldo), de 1970 (Samur, Unimec e Cupe), 1990 (Andro) e 2000 (IBR, Hospec, Clínica Cirúrgica Santa Clara) (Painel Fotográfico 4).
Fotografia 12 – Pacientes em macas num corredor do Hospital
Geral de Vitória da Conquista, 2008
Fonte: Disponível em:
<httpmfcreencontro.blogspot.com2008_12_01_archive.html> Acesso em: 30 jun. 2009.
Hospital ANDRO – Inaugurado na década de 1990 Hospitais SAMUR, UNIMEC e CUPE – Inaugurados na década de 1970
Hospitais IBR, Santa Clara e HOSPEC – Inaugurados na década de 2000 Hospitais São Vicente e São Geraldo – Inaugurados na década de 1940
Painel fotográfico 4 – Hospitais privados de Vitória da Conquista, por década de
inauguração, 2009
Autora: FERRAZ, Ana Emília de Quadros. Fonte: Trabalho de Campo, 2009.
Capítulo 3 - Rebatimentos espaciais do sistema de saúde em Vitória da Conquista
No Mapa 12, destaca-se a localização dos hospitais de Vitória da Conquista, onde é possível verificar que essas unidades não estão homogeneamente distribuídas. Várias delas foram construídas próximas umas das outras, e isso impactou seu entorno.
Atualmente existe uma concentração de clínicas, laboratórios, consultórios, hospitais e outros estabelecimentos que sobrevivem especialmente do movimento produzido por essas unidades em algumas ruas da cidade, como pode ser verificado no Mapa 13. Como afirma Icasuriaga (2002, p. 230) “[...] só se investe o capital onde já se verifiquem condições favoráveis, o que provoca um desenvolvimento desigual do espaço, alternando pontos de máxima concentração com áreas desertas”.
Vias públicas, que, até a década de 1990, eram eminentemente residenciais, hoje são quase exclusivamente destinadas aos serviços do setor de saúde ou outros que se vinculam direta ou indiretamente a esse setor (Mapa 14). Ao longo dos anos, casas residenciais foram substituídas por unidades de saúde. Em alguns casos, a casa original sofreu adaptações e passou a funcionar como consultório ou clínica, como pode ser visto no Painel fotográfico 5.
Painel fotográfico 5 – Casa na década de 1970, transformada em clínica na década
de 1990, na Rua Otávio Santos na cidade de Vitória da Conquista, 2009
Autora: FERRAZ, Ana Emília de Quadros.
Fontes: Acervo pessoal Carlos Eduardo de Sousa Ferreira e Trabalho de Campo, 2009. Fonte: Acervo pessoal Carlos Eduardo de
Sousa Ferreira
Autora: FERRAZ, Ana Emília de Quadros. Fonte: Trabalho de Campo, 2009.
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