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Principais povoados ao sul da Comarca de Santo Antônio da Jacobina, século

XVIII

Fonte: FERRAZ, Ana Emília de Quadros. Um presente especial. Vitória da Conquista: quero te conhecer, v 2. Vitória da Conquista: Edições Uesb, 2007. p. 20

O Arraial da Conquista estava ligado à Comarca de Santo Antônio da Jacobina. Este detalhe é interessante, já que existiam comarcas mais próximas a esse arraial, como a de Ilheos, que facilitariam as decisões sobre o fluxo dos recursos. Todavia, mesmo após a

solicitação das autoridades do Arraial da Conquista7 para troca de comarca, a Coroa

portuguesa não autorizou tal mudança, uma vez que o interesse de Portugal era ocupar o interior. “A vinculação administrativo-judiciária forçosamente acarretaria o trânsito de pessoas entre a Região de Conquista e o povoado aí edificado com o núcleo de povoamento de Rio de Contas [...]” (MEDEIROS, 1978a, p. 9). Ainda hoje o município de Vitória da Conquista mantém mais ligação com municípios do interior do estado do que com aqueles que estão situados no litoral e é transpassado por diversas rodovias que permitem o trânsito para essas duas direções. “De qualquer maneira, a vinculação com o sertão mais distante fixa- se do ponto de vista da cultura, da economia e da sociedade.” (MEDEIROS, 1978a, p. 9).

Nas terras do Arraial, o ouro não foi encontrado em grande quantidade, todavia, com a fundação do povoado e a criação de gado nas fazendas em sua redondeza, os dois outros objetivos foram alcançados. Então, se estabeleceu outra questão como analisa Medeiros (1977f):

[...] o escoamento do gado, para o mercado consumidor. O problema das estradas assumiu importância fundamental, sobretudo daquelas em direção ao litoral.

Manuel da Cunha Menezes, Governador da Bahia, em 1776, propôs a João Gonçalves da Costa a construção de uma estrada que ligasse o litoral até sair na Estrada Geral do Rio São Francisco. Sabe-se que o Sertanista terminou o trabalho em outubro de 1779. (MEDEIROS, 1977f, p. 7).

Desde o período inicial de ocupação, portanto em razão do objetivo de ligar mais facilmente o sertão e o litoral e da necessidade de escoamento da produção de gado, surgiram as primeiras estradas que fazem a ligação de Vitória da Conquista com outras localidades.

7

Petição: “Diz João Gonçalves da Costa, Capitão da Conquista [...], do Sertão da Ressaca que todo território da dita conquista está no termo do Rio das Contas da Comarca de Jacobina, em distância desta 200 léguas e mais de 90 daquella do rio das Contas, cujas ordinárias administrão e justiça com frouxidão e incommodo gravíssimo das partes litigantes que não podem procurar o seu recurso em semelhantes longitude nem serem punidos os delictos que acontecem. E porque o dito território e sertão adjacente [...] ficão em distância de Villa e Comarca de Ilheos 40 legoas, hé mais conforme a boa razão que pertenção a dita comarca e ao termo da Villa Nova da mesma comarca [...]. Requer portanto a V.A.R. se digne determinar em beneficio da Conquista e dos povos da mesma que o seu território se uma ao termo da Villa Nova [...] Comarca dos Ilheos. – Pede a V.A.R. se digne de deferir-lhe. E.R.Mcê.” Documento do Arquivo Público de Estado da Bahia transcrito por Medeiros (1978a, p. 9)

Capítulo 1 - Descortinando o conceito de rede e seus vínculos com os processos sócioespaciais

Este fenômeno se tornou um importante fator para a consolidação de redes num momento posterior.

Durante o século XIX, o Arraial da Conquista se consolidou como um lugar de entroncamento entre o sertão e o litoral. Conforme relato de Maximiliano (1940), viajante pesquisador e naturalista, que visitou o Arraial da Conquista por volta do ano de 1816,

Para ir do arraial da Conquista, através do sertão da Baía, à capital da capitania, podem-se escolher vários caminhos. A estrada principal de Minas Novas e de Minas Gerais a essa cidade, passa pela vila de “Caieté”, vila do Rio de Contas e Vila da Cachoeira de Paraguassú. Mais próxima do Arraial, onde me achava eu, há uma outra, acompanhando o curso do Rio Gavião. [...] O caminho que as “boiadas” da zona de Conquista costumam tomar para atingir a capital é o mais curto; [...]

A chamada estrada das boiadas, que é relativamente boa na estação sêca, [...] foi feita à custa pelo coronel João Gonçalves da Costa, que até agora não recebeu qualquer indenização do governo por êsse e vários outros empreendimentos igualmente úteis [...] (MAXIMILIANO, 1940, p. 421).

Maximiliano (1940) assinalou elementos que são interessantes para essa análise, quando avaliou que a localidade oferecia o suporte necessário à circulação e estadia das boiadas e que isso, associado ao comércio – especialmente de algodão –, dinamizaria a economia local.

Arraial da Conquista, principal localidade do distrito, é quasi tão importante como qualquer vila do litoral. [...] Independente dos recursos que a cultura dos campos fornece para a subsistência dos habitantes, a venda do algodão e a passagem das “boiadas”, que vão para a Baía, lhes proporcionam outros meios de vida; as boiadas que vêm do Rio São Francisco passam também por essa localidade: algumas vezes vêem-se chegar, numa semana, para mais de mil bois, que se destinam à capital. (MAXIMILIANO,1940, p. 409).

Percebe-se o Arraial com a função de um lugar de entroncamento e de passagem. Até 1809, as terras do Arraial da Conquista pertenciam ao território da Vila de Minas do Rio de Contas (Mapa 2), que, em 1810, formou a Vila Nova do Príncipe e Sant‟anna do Caetité, à qual o Arraial da Conquista passou a pertencer (Mapa 3). A importância, destacada por Maximiliano, possibilitou a elevação do Arraial da Conquista à categoria de Vila em 1840, com denominação de Imperial Villa da Victória (Mapa 4). A constituição de um território próprio revela a importância que a localidade começava a alcançar.