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A conquista militar (1885 ‑1902)

No documento HISTÓRIA GERAL DA ÁFRICA (páginas 69-72)

Por diversas razões, foram os franceses os mais ativos na consecução da política de ocupação militar. Avançando do alto para o baixo Níger, não tar- daram a vencer o damel de Cayor, Lat -Dior, que lutou até a morte, em 1886. Derrotaram Mamadou Lamine na batalha de Touba -Kouta, em 1887, pondo fim dessa forma ao império Soninke, por ele fundado na Senegâmbia. Conse- guiram também romper a célebre obstinada resistência do grande Samori Touré, capturado (1898) e exilado no Gabão (1900). Uma série de vitórias – Koundian (1889), Segu (1890) e Youri (1891) – do major Louis Archinard fez desaparecer o império Tukulor de Segu, embora seu chefe, Ahmadu, persistisse em encar- niçada resistência até sua morte, em Sokoto, em 1898. Na África ocidental os franceses conquistaram ainda a Costa do Marfim e a futura Guiné Francesa, onde instalaram colônias em 1893. Iniciadas em 1890, a conquista e a ocupação do reino do Daomé estavam concluídas em 1894. No final dos anos de 1890, os franceses tinham conquistado todo o Gabão, consolidado suas posições na África do norte, completado a conquista de Madagáscar (exilando a rainha Ranavalona III em Argel, em 1897) e, na fronteira oriental, entre o Saara e o Sahel, posto fim à obstinada resistência de Rabah de Sennar, morto em combate em 1900.

A conquista britânica também foi espetaculosa e sangrenta e – como vere- mos mais adiante – encontrou a resistência decidida e frequentemente difícil de vencer dos africanos. Utilizando as possessões litorâneas na Costa do Ouro (atual Gana) e na Nigéria como base de operações, o Reino Unido bloqueou a expansão francesa em direção ao baixo Níger e no interior do reino Ashanti. À última expedição saída de Kumasi (em 1900) seguiu -se a anexação do Ashanti em 1901 com o exílio de Nana Prempeh nas Seychelles. Os territórios ao norte do Ashanti foram oficialmente anexados em 1901, depois de terem sido ocu- pados entre 1896 e 1898. A partir de Lagos, uma de suas colônias, os britâni- cos lançaram -se à conquista da Nigéria. Em 1893, a maior parte do território yoruba tinha sido proclamada protetorado. Em 1894, era conquistado o reino de Itsekiri e exilado em Acra o hábil Nana Olomu, seu “príncipe mercador”. Aparentemente incapaz de enfrentar o rei Jaja, de Opobo, em campo de batalha, Harry Johnston, o cônsul britânico, resolveu armar -lhe uma cilada. Convidado a

encontrar -se com ele a bordo de um navio de guerra britânico, o rei foi feito pri- sioneiro e remetido para as Antilhas, em 1887. Brass e Benin foram conquistadas no final do século. Em 1900, a dominação britânica no sul da Nigéria estava praticamente garantida. A ocupação do Igbo e de certas regiões do interior oriental só se tornou efetiva, entretanto, nas duas primeiras décadas do século XX. Ao norte, a conquista britânica partiu de Nupe, onde, em 1895, a Royal Niger Company, de George Goldie, exercia sua influência de Lokoja à costa. Ilorin foi ocupado em 1897, e, após a criação da West African Frontier Force, em 1898, o sultanato de Sokoto foi conquistado por Frederick Lugard em 1902. No norte da África, o Reino Unido, já em posição de força no Egito, esperou até 1896 para autorizar a reconquista do Sudão, a qual deu lugar, em 1898, a um verdadeiro banho de sangue, inútil e cruel. Mais de 20 mil sudaneses, inclusive seu chefe, o califa Abdallah, morreram em combate. A ocupação de Fachoda pela França – no sul do Sudão – em 1898, claro, não podia ser tolerada por lorde Salisbury, sendo a França obrigada a recuar.

O Zanzibar foi colocado oficialmente sob protetorado britânico em novem- bro de 1890. Essa medida, bem como as tentativas de abolição da escravatura daí derivadas, provocaram rebeliões facilmente esmagadas. Zanzibar serviu de base para a conquista do resto da África Oriental Britânica. O país mais cobiçado pelo Reino Unido nessa região era Uganda. A batalha de Mengo (1892) em Buganda, centro das operações – acarretou a proclamação do protetorado sobre Uganda (1894). Estava livre agora a via para a conquista do resto de Uganda, concretizada quando da captura e exílio nas Seychelles, em 1899, dos reis Kaba- rega e Mwanga. Todavia, no Quênia, foram precisos quase dez anos para que os britânicos impusessem efetivamente sua dominação sobre os Nandi.

Na África central e austral, a British South Africa Company (BSAC), de Cecil Rhodes, empreendeu a ocupação da Mashonalândia sem a concordância de Lobengula. Em 1893, o rei foi obrigado a fugir da capital, morrendo no ano seguinte. No entanto, seu reino não foi totalmente subjugado antes da sangrenta repressão da revolta dos Ndebele e dos Mashona, em 1896 -1897. A conquista da atual Zâmbia, menos acidentada, terminou em 1901. A derradeira guerra britânica, no quadro da partilha da África, foi travada contra os bôeres, na África do Sul. Essa guerra apresenta a interessante particularidade de envolver brancos contra brancos. Começou em 1899 e terminou em 1902.

A ocupação efetiva se revelou difícil para as outras potências europeias. Os alemães, por exemplo, conseguiram estabelecer efetivamente sua dominação no sudoeste da África no final do século XIX, essencialmente em função da hostilidade de mais de um século que impedia a união dos Nama e dos

Maherero. No Togo, os alemães aliaram -se aos pequenos reinos dos Kotokoli e dos Chakossi para mais facilmente esmagar a resistência dos Konkomba (1897 -1898), dispersos, e dos Kabre (1890). Em Camarões, foi ao norte que o comandante alemão major Hans Dominik encontrou mais dificuldades. Em 1902, porém, tinha logrado submeter os principados Peul. Em compensação, a conquista da África Oriental Alemã foi a mais feroz e a mais demorada de todas as guerras de ocupação efetiva, prolongando -se de 1888 a 1907. As expedições mais importantes foram as enviadas contra o célebre Abushiri, o Indomável (1888 -1889), os Wahehe (1889 -1898) e os chefes da revolta Maji Maji (1905 -1907).

A ocupação militar portuguesa, iniciada na década de 1880, só foi comple- tada no decorrer do século XX. Embora um empreendimento bastante árduo para os portugueses, estes conseguiram afinal consolidar sua dominação em Moçambique, Angola e Guiné (atual Guiné -Bissau). O Estado Livre do Congo também se viu diante de graves problemas com Portugal antes de a Bélgica levar a cabo a ocupação militar da sua esfera de influência. Leopoldo II começou por se aliar aos árabes do Congo, que na realidade lhe eram particularmente hostis. Quando a inutilidade da colaboração tornou -se evidente, Leopoldo mandou uma expedição contra eles. Levou quase três anos (1892 -1895) para submetê- -los. Mas a conquista de Katanga, iniciada em 1891, só foi concluída no início do século XX.

A Itália é que encontrou as maiores dificuldades nas guerras de ocupação efetiva. Em 1883 teve êxito em ocupar uma parte da Eritreia. Também já obti- vera a costa oriental da Somália, depois da primeira partilha do império Omani, em 1886. Mais tarde, o tratado de Wuchale (ou Uccialli), de 1889, celebrado com o imperador Menelik II, definiu a fronteira entre a Etiópia e a Eritreia. Depois de estranho contencioso sobre a interpretação das cláusulas do tratado, a Itália informou às outras potências europeias que a Etiópia era um proteto- rado italiano. Mas, ao tentar a ocupação desse protetorado fictício, sofreu uma derrota ignominiosa em Adowa, em 1896. Conseguiu, no entanto, conservar seus territórios na Somália e na Eritreia. Na África do norte, somente em 1911 é que a Itália logrou ocupar as zonas costeiras da Cirenaica e da Tripolitânia (atual Líbia). O Marrocos foi bem -sucedido e manteve sua independência até 1912, data em que a perdeu em favor da França e da Espanha. Assim, em 1914, somente a Libéria e a Etiópia ainda eram, pelo menos nominalmente, independentes.

No documento HISTÓRIA GERAL DA ÁFRICA (páginas 69-72)