• Nenhum resultado encontrado

Estrutura do volume

No documento HISTÓRIA GERAL DA ÁFRICA (páginas 36-46)

É evidente, portanto, que as relações entre africanos e europeus se modi- ficaram radicalmente e que a África teve de enfrentar, entre 1880 e 1935, o grande desafio do colonialismo. Quais foram as origens desse fantástico desafio, o colonialismo? Em outras palavras, por que e como as relações existentes havia três séculos entre a África e a Europa sofreram uma reviravolta tão drástica e tão fundamental durante esse período? Como é que se instalou o sistema colonial na África e que medidas – políticas e econômicas, psicológicas e ideológicas – foram adotadas para sustentar esse sistema? Até que ponto a África estava preparada para enfrentar tal desafio, como é que o enfrentou e com que resultado? Entre as inovações, quais as que foram aceitas e quais as rejeitadas? Que é que subsistiu do antigo sistema e que elementos foram destruídos? Que adaptações, que arranjos foram feitos? Quantas instituições foram abaladas e quantas se desintegraram? Quais os efeitos de todos esses fenômenos sobre a África, seus povos, suas estru- turas e instituições políticas, sociais e econômicas? Enfim, qual foi o significado do colonialismo para a África e sua história? É a tais questões que este volume procurará responder.

Com esse fim em vista, bem como com o propósito de explicar as iniciativas e reações africanas em face do desafio colonial, dividimos este volume, à parte os dois primeiros capítulos, em três grandes seções. Cada uma é precedida por um capítulo (3, 13, 22), onde apresentamos um apanhado geral do tema da seção, visto de uma perspectiva africana global; depois, nos capítulos seguintes,

9 a diante do desafio colo nial

abordamos o mesmo tema do ponto de vista regional. A seção introdutória, que compreende o presente capítulo e o que se segue, estuda as atitudes dos africanos e seu grau de preparação em vésperas da transmutação fundamental que se dá nas relações entre a África e os europeus, bem como os motivos da partilha, da conquista e da ocupação da África pelas potências imperialistas europeias. Convém realçar, pois frequentemente se ignora, que a fase da conquista efetiva foi precedida por anos de negociações entre essas potências e os dirigentes africanos e por colóquios que redundaram em tratados. Cumpre insistir nessa fase de negociações, pois ela mostra que as potências europeias originalmente aceitavam a contraparte africana como igual e reconheciam a soberania e a independência das sociedades e dos Estados africanos.

A segunda seção trata das iniciativas e reações africanas diante da conquista e da ocupação do continente, tema grosseiramente deturpado ou inteiramente ignorado, até os anos de 1960, pela escola colonial da historiografia africana. Para os membros dessa escola, tais como H. H. Johnston, sir Alan Burns e, mais recentemente, Margery Perham, Lewis H. Gann e Peter Duignan10, os africanos

teriam de fato acolhido favoravelmente a dominação colonial, já que ela não só os preservava da anarquia e das guerras civis mas também lhes trazia algumas vantagens concretas. Citemos, a esse respeito, Margery Perham:

A maioria das tribos aceitou rapidamente a dominação europeia, considerando que ela fazia parte de uma ordem irresistível, da qual podiam extrair numerosas vanta- gens, essencialmente a paz, e inovações apaixonantes: ferrovias e estradas, lâmpadas, bicicletas, arados, culturas e alimentos novos e tudo o que podia ser adquirido ou provado nas cidades. Essa dominação trouxe às classes dirigentes – tradicionais ou recém -criadas – maior autoridade e segurança, bem como novas formas de riqueza e de poder. Por muito tempo, apesar da extrema perplexidade que estas provocaram, as revoltas foram bastante raras, e não parece que a dominação tenha sido sentida como uma indignidade11.

Semelhantes ideias também se refletem no uso de termos eurocêntricos, tais como “pacificação”, Pax Britannica e Pax Gallica, que descrevem a conquista e a ocupação da África entre 1880 e 1914. Os historiadores que dedicaram certo interesse ao assunto só o mencionaram, por assim dizer, de passagem. Na obra A

short history of Africa, publicada em 1962, uma das primeiras análises modernas

realmente sérias da história da África, os historiadores ingleses Roland Oliver e

10 JOHNSTON, H. H., 1899, 1913; BURNS, 1957; PERHAM, 1960a; GANN & DUIGNAN, 1967. 11 PERHAM, 1960a, p. 28.

J. D. Fage consagram apenas um parágrafo ao que eles chamam de “resistência tenaz” dos africanos, num capítulo de quatorze páginas dedicado ao que depois se conheceu como “corrida” europeia às colônias africanas. É para corrigir essa falsa interpretação da escola colonial, para restabelecer os fatos e dar relevo à perspectiva africana que resolvemos destinar sete capítulos ao tema das inicia- tivas e reações africanas.

Ver -se -á neles que não há nenhuma evidência em apoio à tese segundo a qual os africanos teriam acolhido com entusiasmo os soldados invasores e rapida- mente aceitado a dominação colonial. Na realidade, as reações africanas foram exatamente o inverso. Está bem claro que os africanos só tinham duas opções: ou renunciar sem resistência à soberania e à independência, ou defendê -las a qualquer custo. É muito significativo que a maioria dos dirigentes africanos, como será amplamente demonstrado neste volume, tenha optado sem hesitar pela defesa da sua soberania e independência, a despeito das estruturas políticas e socioeconômicas de seus Estados e das múltiplas desvantagens que sofriam. De um lado, a superioridade do adversário, de outro, a bravia determinação de resistir a todo preço estão traduzidas no baixo -relevo reproduzido na sobrecapa desta obra. Esse baixo -relevo, pintado numa das paredes do palácio dos reis do Daomé, em Abomey, mostra um africano armado de arco e flecha, barrando desafiadoramente o caminho a um europeu armado com uma pistola.

John D. Hargreaves coloca esta interessante questão em artigo recente:

Dadas as diversas atitudes possíveis da parte dos invasores europeus, os dirigentes africanos podiam escolher entre várias opções. No número das vantagens de curto prazo que lhes ofereciam os tratados ou a colaboração com os europeus, estava não só o acesso às armas de fogo e aos bens de consumo, mas ainda a possibilidade de conquistar para a sua causa aliados poderosos, que os ajudariam em suas disputas externas ou internas. Então, por que motivo tantos Estados africanos rejeitaram essas oportunidades, preferindo resistir aos europeus nos campos de batalha?12.

A resposta pode parecer enigmática, mas somente para os que encaram o problema do ponto de vista eurocêntrico. Para o africano, o que estava em jogo, na verdade, não era esta ou aquela vantagem a curto ou a longo prazo, mas sua terra e sua soberania. É precisamente por essa razão que quase todas as sociedades africanas – centralizadas ou não – optaram mais cedo ou mais tarde por manter, defender ou recuperar sua soberania; não podiam aceitar nenhum compromisso que a pusesse em risco, e, de fato, foram numerosos os chefes que

preferiram morrer no campo de batalha, exilar -se voluntariamente ou ser des- terrados pela força a renunciar sem combate à soberania de seu país.

Assim, os dirigentes africanos, na sua maioria, optaram pela defesa de sua soberania e independência, diferindo nas estratégias e nas táticas adotadas para alcançar esse objetivo comum. A maior parte deles escolheu a estratégia do confronto, recorrendo às armas diplomáticas ou às militares, quando não empre- gando as duas, como foi o caso de Samori Touré e Kabarega (de Bunyoro), que veremos mais adiante; já Prempeh e Mwanga (de Buganda) recorreram exclusivamente à diplomacia. Outros, como Tofa, de Porto Novo (no atual Benin), adotaram a estratégia da aliança ou da cooperação, mas não a colabo- ração. Cumpre insistir nesta questão da estratégia, pois ela foi grosseiramente desfigurada até o presente, de forma que já se classificaram alguns soberanos africanos como “colaboradores”, qualificando sua atividade como “colaboração”. Somos contrários ao emprego do termo “colaboração”, pois, além de inexato, é pejorativo e eurocêntrico. Conforme já vimos, a soberania era o problema fun- damental em jogo entre os anos de 1880 e 1900 para os dirigentes africanos e, quanto a isso, está bem claro que nenhum deles se prestava a fazer acordos. Os dirigentes africanos qualificados erroneamente como colaboradores eram aque- les que estimavam que a melhor maneira de preservar sua soberania ou mesmo de recuperar a soberania acaso perdida em proveito de alguma potência africana, antes da chegada dos europeus, não consistia em colaborar, mas antes em se aliar aos invasores europeus. Por colaborador entende -se seguramente aquele que trai a causa nacional unindo -se ao inimigo para defender os alvos e objetivos deste último ao invés dos interesses de seu próprio país. Ora, como já vimos, todos os africanos se viam confrontados com o problema de abandonar, conservar ou recuperar sua soberania. Tal era o objetivo daqueles que ligaram sua sorte à dos europeus, sendo inteiramente falso qualificá -los de colaboradores.

Seja como for, depois da Segunda Guerra Mundial, o termo “colaborador” ganhou sentido pejorativo, e é interessante notar que certos historiadores que o empregam têm consciência disso. R. Robinson, por exemplo, declara: “Convém sublinhar que o termo [colaborador] não é utilizado em sentido pejorativo” 13.

Se há o risco de o termo assumir tal sentido, por que empregá -lo então, em especial no caso da África, em que é particularmente inexato? Por que não usar a palavra “aliado”, bem mais conveniente? Assim, Tofa, rei dos Gun de Porto Novo, é sempre citado como um exemplo típico de colaborador. Mas sê-lo -ia

na verdade? Como Hargreaves claramente mostrou14, Tofa tinha de enfrentar

três diferentes inimigos no momento da chegada dos franceses: os Yoruba, a nordeste, os reis Fon do Daomé, ao norte, e os britânicos, na costa, de modo que, com certeza, considerou a chegada dos franceses um presente dos céus, uma oportunidade não só para preservar sua soberania, mas até para obter algumas vantagens à custa de seus inimigos. Era, pois, natural que Tofa quisesse aliar -se aos franceses, e não colaborar com eles. Só historiadores sem consciência dos problemas que Tofa tinha de enfrentar naquela época ou que negam ao afri- cano toda iniciativa ou o conhecimento de seus próprios interesses, ou ainda aqueles que encaram a matéria de uma perspectiva eurocêntrica, é que o classi- ficam como colaborador. Além do mais, o fato de esses pretensos colaboradores, amiúde prontos a se aliar aos europeus, muitas vezes, mais tarde, oporem -lhes resistência lutando contra eles é outra prova da inexatidão do termo: Wogobo, rei dos Mossi, Lat -Dior, o damel de Cayor, e o próprio grande Samori Touré são exemplos do absurdo total do qualificativo.

Afinal de contas, só historiadores realmente ignorantes da situação política e etnocultural da África em vésperas da conquista e da partilha europeias ou que tenham a respeito opiniões simplistas usam esse termo. Partem da hipótese de que, a exemplo de muitos países europeus, os países africanos são habitados pelo mesmo grupo etnocultural ou pela mesma nação e, portanto, todo segmento da população que se alie a um invasor justifica a denominação de colaborador; mas, na África, nenhum país, nenhuma colônia, nenhum império era povoado por um só grupo étnico. Todos os países e impérios contavam numerosas nações ou grupos etnoculturais tão diferentes uns dos outros como os italianos o são, por exemplo, dos alemães ou dos franceses. Além disso, antes da chegada dos invasores europeus, as relações entre esses diferentes grupos eram muito fre- quentemente hostis, sendo, aliás, possível que alguns estivessem sob o domínio de outros. Chamar de colaboradores esses grupos subjugados ou hostis porque optaram por se juntar aos invasores europeus para lutar contra seus inimigos ou senhores estranhos é não compreender nada da questão. Na verdade, como se poderá constatar em certos capítulos deste volume, a natureza das reações afri- canas à colonização foi determinada não só pela situação política e etnocultural com que se defrontavam os povos africanos, mas também pela própria natureza das forças socioeconômicas presentes em cada sociedade à época do confronto, bem como da sua organização política.

Muitos historiadores europeus têm condenado os opositores por roman- tismo e falta de perspicácia, louvando, ao contrário, o progressismo e a cla- rividência dos colaboradores. Segundo os termos empregados por Oliver e Fage em 1962:

Se [os dirigentes africanos] fossem perspicazes e bem -informados, mais particular- mente, se tivessem acesso a conselheiros estrangeiros, como missionários ou comer- ciantes, poderiam compreender muito bem que nada teriam a ganhar resistindo, mas, pelo contrário, muito ganhariam negociando. Se fossem menos clarividentes, tivessem menos sorte ou fossem menos bem aconselhados, perceberiam que seus inimigos tradicionais estavam do lado do invasor e adotariam então uma atitude de resistência que facilmente podia terminar numa derrota militar, na deposição do chefe, na perda de territórios em proveito dos aliados autóctones da potência ocu- pante, talvez pela fragmentação política da sociedade ou do Estado [...] Tal como no tempo do tráfico de escravos, havia ganhadores e perdedores e encontravam -se representantes de ambos nos confins de cada território colonial15.

Ronald E. Robinson e John Gallagher também descreveram a oposição ou a resistência como “lutas românticas de reação contra a realidade, protestos apaixonados de sociedades traumatizadas pela nova era de mudanças e que não se aquietavam” 16.

Mas essas opiniões são muito discutíveis. A dicotomia entre resistência e o que se pretende por colaboração não é apenas mecânica, mas pouco convincente. Certamente que houve ganhadores e perdedores durante o tráfico de escravos, mas, desta vez, não havia ganhadores. Os assim chamados colaboradores, tal qual os que resistiram, acabaram por perder, e é interessante notar que são os dirigentes classificados como românticos e intratáveis que ainda são lembrados, tendo se tornado fonte de inspiração para os nacionalistas de hoje17. Concordo

inteiramente com a conclusão de Robert I. Rotberg e Ali A. Mazrui, segundo a qual

não se pode dizer que a introdução das normas e do poder dos ocidentais, bem como dos controles e coerções de que vinham acompanhados, foi questionada em todas as partes da África pelos povos afetados18.

15 OLIVER & FAGE, 1962, 1970, p. 203.

16 ROBINSON, R. E. & GALLAGHER, J., 1962, p. 639 -40.

17 Para um estudo mais detalhado do problema, ver BOAHEN, Towards a new cathegorization and perio-

dization of Africa responses and reactions to colonialism, em que se baseiam partes deste capítulo.

No entanto, qualquer que tenha sido a estratégia dos países africanos, nenhum deles, com exceção da Libéria e da Etiópia, conseguiu preservar sua soberania, por motivos que examinaremos em seguida: no início da Primeira Guerra Mun- dial, que marca o fim da primeira seção deste volume, a África havia tombado sob o jugo colonial. No capítulo 11, veremos como e por que os liberianos e os etíopes fizeram frente ao colonialismo.

Qual foi a ação política, social e econômica das potências coloniais em suas novas possessões, após o interlúdio da Primeira Guerra Mundial? Essa questão será respondida na segunda seção do volume. Os diversos mecanismos políticos criados para administrar as colônias e as ideologias que os embasam foram satis- fatoriamente estudados em numerosas obras sobre o colonialismo na África19,

de modo que consagramos a esse tema apenas um capítulo. Em compensação, estudaremos com bastante atenção – para contrabalançar as teorias da escola colonial – os aspectos socioeconômicos do sistema colonial e sua incidência sobre a África. Ver -se -á, nesses capítulos, que o período que vai do fim da Primeira Guerra Mundial a 1935 – qualificado por certos historiadores contemporâneos como de apogeu do colonialismo – foi marcado pela instalação de uma infraes- trutura rodoviária e ferroviária, assim como pelo engodo de uma certa evolução social, por causa da abertura de escolas primárias e secundárias. No entanto, o objetivo essencial das autoridades coloniais continuava a ser a exploração dos recursos africanos, fossem animais, vegetais ou minerais, em benefício exclu- sivo das potências metropolitanas, principalmente de suas empresas comerciais, mineiras e financeiras. Um capítulo dessa seção para o qual gostaríamos de pedir atenção especial é o que trata dos aspectos demográficos da dominação colonial, tema em geral ausente das pesquisas consagradas ao colonialismo na África.

Quais foram as iniciativas e as reações dos africanos em face da consoli- dação do colonialismo e da exploração do seu continente? Essa questão será respondida na terceira seção deste volume, aliás objeto de reflexão cuidadosa, em consonância com o princípio que norteia esta obra: considerar a história da África de um ponto de vista africano e dar ênfase às iniciativas e reações africanas. Durante esse período, os africanos não tiveram absolutamente uma atitude de indiferença, de passividade ou de resignação. Se é apontado como a era clássica do colonialismo, nem por isso deixa de ser, igualmente, a era clássica da estratégia da resistência ou do protesto dos africanos. Conforme mostraremos tanto no estudo geral como nos estudos regionais subsequentes, os africanos

19 Ver ROBERTS, S. H., 1929; HAILEY, 1938, 1957; EASTON, 1964; GANN & DUIGNAN, eds., 1969, 1970; GIFFORD & LOUIS, eds., 1967, 1971; SURET -CANALE, 1971.

recorreram a certos métodos e procedimentos – sua multiplicidade comprova amplamente a fecundidade dos povos do continente nesse domínio – para resis- tir ao colonialismo.

Cumpre sublinhar que nessa época os africanos – com exceção dos dirigentes do norte do continente – não tinham como objetivo a derrubada do sistema colonial, mas antes conseguir melhorias e ajustes no interior do sistema. Seu grande propósito era torná -lo menos opressivo, menos desumano, de modo a beneficiar tanto os africanos quanto os europeus. Os dirigentes africanos esforçaram -se para corrigir medidas e abusos específicos, como o trabalho for- çado, a tributação elevada, as culturas agrícolas obrigatórias, a alienação de terras, as leis relativas à circulação, os baixos preços dos produtos agrícolas e o alto custo dos bens importados, a discriminação racial e a segregação, e para desenvolver melhoramentos como hospitais, água encanada e escolas. Deve -se frisar que membros de todas as classes sociais – tanto intelectuais como analfa- betos, citadinos como rurais – partilhavam esses ressentimentos contra o sistema colonial, o que fez nascer uma consciência comum de sua condição de africanos e negros, em oposição a seus opressores, dirigentes coloniais e brancos. Foi durante esse período que assistimos ao revigoramento do nacionalismo político africano, cujas primeiras manifestações remontam aos anos de 1910, logo após a instauração do sistema colonial.

Cabia agora às novas elites intelectuais ou à nova burguesia articular tal sentimento à direção do movimento, papel até então exercido, no quadro das estruturas políticas pré -coloniais, pelas autoridades tradicionais. Esses novos dirigentes, paradoxalmente, eram produto do próprio sistema colonial, saídos de estruturas escolares, administrativas, industriais, financeiras e comerciais criadas por ele próprio.

Estando a direção das atividades nacionalistas e anticolonialistas concentrada nas mãos dos intelectuais africanos, que na sua maior parte viviam nos novos centros urbanos, passou -se a identificar, incorretamente, o nacionalismo africano do entreguerras exclusivamente com esta camada social, caracterizando -o como um fenômeno inicialmente urbano.

Como se mostrará nos capítulos desta seção, as associações e agrupamen- tos formados pela articulação das aspirações nacionalistas foram efetivamente numerosos, e bastante variadas as estratégias e táticas elaboradas no decurso do período para concretizá -las. B. O. Oloruntimehin e E. S. Atieno -Odhiambo, nos capítulos 22 e 26, adiante, apontam entre esses grupos clubes de jovens, associações étnicas, sociedades de antigos alunos, partidos políticos, movimen- tos políticos abrangendo um ou vários territórios com atividades tanto internas

quanto externas ao continente, sindicatos, clubes literários, clubes de funcio- nários, associações de socorros mútuos, e ainda várias seitas ou movimentos religiosos. Alguns desses grupos tinham se constituído nos anos precedentes à Primeira Guerra Mundial, mas não há dúvida de que proliferaram durante o período considerado, como se verá nos capítulos consagrados a esse tema.

O envio de petições e delegações às autoridades metropolitanas e locais, as greves, os boicotes, sobretudo a imprensa e os congressos internacionais, foram as armas ou táticas então adotadas, ao contrário do que ocorrera no período anterior à Primeira Guerra Mundial, em que as rebeliões e os tumultos predominaram como formas de resistência. O período do entreguerras foi, incontestavelmente, a idade de ouro do jornalismo na África, de modo geral, e, em particular, na África ociden-

No documento HISTÓRIA GERAL DA ÁFRICA (páginas 36-46)