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Sul da Nigéria

No documento HISTÓRIA GERAL DA ÁFRICA (páginas 176-180)

As iniciativas e reações dos nigerianos em face dos britânicos foram tão mul- tiformes como os ardis e os meios empregados por estes últimos para estender a sua dominação ao conjunto da Nigéria atual. O país Ioruba foi conquistado pelos missionários e pelas autoridades de Lagos, os Oil Rivers pelos missionários e pelos cônsules, e o norte da Nigéria ao mesmo tempo pela National African Cornpany (que se transformaria, em 1886, na Royal Niger Company – RNC) e pelas autoridades britânicas. As principais armas utilizadas pelos britânicos

44 BOAHEN, 1977. 45 Ibid.

Áfr ic a sob do mina çã o colo nial, 1880-1935

figura 6.3 Nana Prempeh I (c. 1873-1931) no exílio nas Seychelles, cerca de 1908. A mulher sentada à sua direita é a famosa Nana Yaa Asantewaa, rainha de Edweso e alma da rebelião Ashanti de 1900; à esquerda de Nana Prempeh estão seus pais. (Chapa fotográfica batida em torno de 1908 por S. S. Ohashi e reproduzida em 1924 pela firma McCorquodale de Londres, para a exposição de Wembley. Foto: Susan Hopson)

foram a diplomacia e a intervenção militar. As reações dos nigerianos, por con- sequência, vão da luta aberta às alianças e submissão temporárias.

Foi graças aos missionários, essencialmente, que a influência e o comércio britânicos, limitados de início a Lagos (ocupada desde 1851), alcançavam a maior parte do país Ioruba. Desde 1884 os britânicos assinaram tratados com numerosos chefes Ioruba sobre a abolição do tráfico de escravos, o desenvol- vimento das trocas e a instauração do protetorado. Em 1886, a administração britânica conseguiu igualmente convencer Ibadã e a coalizão Ekitiparapo (com- preendendo os Ekiti, os Ijesha e os Egba) a assinar um tratado de paz que punha fim à guerra em que estavam envolvidos desde 1879. Que os britânicos tenham sido tão influentes no país Ioruba desde 1886 não nos deve surpreender. Além da atividade dos comerciantes e dos missionários europeus anterior às guerras, os Ioruba, devastados por lutas intestinas desde os anos de 1850, estavam fati- gados de embates e aspiravam à paz, o que explica o fato de eles terem aceito a intervenção dos britânicos. Até então, Ijebu era o único Estado do país Ioruba que havia efetivamente resistido aos missionários, aos comerciantes britânicos e à administração de Lagos. Ansiosos por conquistar o país Ioruba desde começos da década de 1890, os britânicos resolveram dar -lhe uma lição e, dessa forma, mostrar aos outros Estados Ioruba que toda resistência era inútil46. A pretexto de

uma “afronta” que teria sido feita ao governador Denton em 1892, os britânicos lançaram contra os Ijebu uma expedição cuidadosamente preparada, com mil homens armados de fuzis, metralhadoras e um canhão Maxim. Os Ijebu não se acovardaram, levantando um exército entre 7 mil e 10 mil homens. Apesar da sua enorme superioridade numérica e do fato de alguns deles terem armas de fogo, os Ijebu foram batidos47. Parecia que todos os restantes Estados Ioruba

tinham extraído uma lição desta invasão e já não surpreende que, entre 1893 e 1899, Abeokuta, Ibadã, Ekiti -Ijesa e Oyo aceitassem assinar um tratado e receber residentes ingleses (ver fig. 6.1); se os britânicos bombardearam Oyo em 1895, foi somente para rematar a submissão do alafin. Abeokuta permaneceu nominalmente independente até 1914.

Se os Ioruba, regra geral, adotaram a submissão como estratégia, não sucedeu o mesmo com os chefes do reino de Benin e com certos chefes dos Estados do delta do Níger. Não obstante a assinatura de um tratado de protetorado, em 1892, Benin guardava a sua soberania com determinação. Semelhante atitude não podia, evidentemente, ser tolerada na época. Por isso, aproveitando como

46 CROWDER, 1968, p. 126 -7. 47 SMITH, 1971, p. 180.

motivo de intervenção a morte do seu cônsul -geral interino e de outros cinco ingleses que viajavam para Benin, os britânicos mandaram uma expedição puni- tiva de 1500 homens contra o país, em 1897. Malgrado o desejo do Oba de se submeter, a maioria dos chefes levantou um exército para rechaçar os invasores. Mas foi derrotado e a capital se viu incendiada, depois da pilhagem de seus bronzes preciosos48.

No delta do Níger, assim como em muitas outras regiões da Nigéria, os britânicos assinaram em 1884 tratados de protetorado com a maior parte dos chefes. Mas, embora alguns deles, como Calabar e Bonny, tenham autorizado os missionários a operar em seus Estados, outros não deram essa permissão. Além disso, todos insistiam no direito de regulamentar o comércio e de taxar os mercadores britânicos. Os novos cônsules ingleses, como Hewett e Johnston, não podiam admitir isso. Jaja de Opobo é o exemplo do chefe que fez frente aos cônsules e aos missionários britânicos (ver fig. 6.5). Obrigou os mercadores desta nacionalidade a pagar impostos e ordenou a paralisação total do comércio no rio, até que determinada firma britânica cumprisse o pagamento. O cônsul, Johnston, mandou -o parar com a exigência de tributos aos seus compatriotas, mas Jaja de Opobo, em vez disso, enviou uma missão junto do Foreign Office para protestar contra essa ordem. Como Jaja não queria ceder, apesar de o cônsul ter ameaçado bombardear a sua cidade com as canhoneiras britânicas, em 1887 Johnston atraiu -o a bordo de um navio, portando um salvo -conduto, e o deteve, expedindo -o para Acra49, onde foi julgado e deportado para as Antilhas. Estu-

pefatos com esta forma de tratar um dos chefes mais poderosos e mais ricos da região, e sofrendo já de dissensões internas, os outros Estados do delta – Velho Calabar, Novo Calabar, Brass e Bonny – renderam -se e aceitaram as comissões administrativas impostas por Johnston.

Outro chefe que também desafiou os britânicos foi Nana, governador do rio no reino de Itsekiri. A exemplo de Jaja, quis regulamentar o comércio no rio Benin, o que levou os britânicos a formar um exército para lhe tomar a capital. A primeira tentativa, que se deu em abril de 1894, foi rechaçada, mas a segunda, em setembro, teve êxito. Nana fugiu para Lagos, onde se rendeu em pessoa ao governador britânico, que prontamente o julgou e deportou, primeiro para Calabar e depois para a Costa do Ouro50.

48 WEBSTER e BOAHEN, 1967, p. 247 -9.

49 CROWDER, 1968, p. 119 -23; O. IKIME, 1973, p. 10. 50 IKIME, 1971, p. 227 -8.

No documento HISTÓRIA GERAL DA ÁFRICA (páginas 176-180)