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A consolidação do Bonapartismo e do Estado Burguês

2 A COMUNA DE PARIS DE 1871: OS ANTECEDENTES, A CONQUISTA

2.3 OS ANTECEDENTES DA COMUNA DE PARIS NA FRANÇA

2.3.2 A consolidação do Bonapartismo e do Estado Burguês

Bonaparte, em 1849, apareceu como sendo representante do camponês. Todavia, não se tratou de representar o camponês progressista, que lutava e desejava mudar de situação, mas, sim, do camponês conservador, que vivia quase isolado a si mesmo e a sua família. No entanto, mesmo este camponês acabou por se endividar frente à política de

propriedade fundiária desenvolvida por Bonaparte11, revelando seu descontentamento conjuntamente com outros setores da sociedade nas eleições de 10 de dezembro de 1850. Como resposta, o Partido da Ordem e Luís Bonaparte orquestraram um dos maiores golpes, até então, em prol da manutenção do status quo. Marx chama atenção para o fato de Bonaparte,

Como força do poder executivo autonomizada, sente como vocação sua assegurar a ordem burguesa. (...) A burguesia francesa exclamou também, depois do coup d’état: Só o chefe da Sociedade de 10 de Dezembro pode salvar a sociedade burguesa! Só o roubo pode salvar a propriedade, o perjúrio a religião, a bastardia a família, a desordem a ordem! (MARX, 2003a, p. 332).

Isso explica o que Marx identifica como sendo uma força que emerge para garantir o poder da burguesia, que pode parecer acima dela, inclusive, representante de outros interesses (dos camponeses), mas que, mesmo não sendo da sua vontade, necessita abrir mão do poder direto para não perder o poder. A burguesia entrega os anéis para manter os dedos intactos. Este foi o período de maior prosperidade para a burguesia e para o comércio. O início, segundo Hobsbawm, da Era de Ouro do Capital.

Luís Bonaparte não era o candidato prioritário da grande burguesia, todavia, podiam controlá-lo, inclusive, quando o colocaram com a tarefa de defender o fim da Assembleia Nacional, centralizando o poder na figura do presidente: Bonaparte. Para Marx (2003a), havia uma preocupação clara neste processo: afastar a burguesia republicana democrata, os pequeno-burgueses, todos aqueles que pudessem influenciar os rumos da nova república com ideias mais democráticas e causar alguma instabilidade neste bloco dos realistas no poder. Dissolveram a Assembleia antes de criarem as leis orgânicas, sem reação. Eram duas as que mais os preocupavam: as leis do ensino e do culto. Marx, de forma irônica e provocadora, expõe,

O sentido da constituição burguesa é a dominação da burguesia como produto e resultado do sufrágio universal, com ato inequívoco da vontade soberana do povo. Mas a partir do momento em que o conteúdo deste sufrágio, dessa vontade soberana, já não é a dominação da burguesia, terá a constituição ainda sentido? (MARX, 2003a, p. 176).

Não bastou a dissolução da Assembleia, era necessário limitar a participação popular. A intenção da burguesia, do Partido da Ordem, com a lei eleitoral, para além de derrotar de vez a Montanha, era também de isolar Bonaparte, sem o sufrágio, este não teria mais os votos dos camponeses para se eleger, todavia, isso já não era possível. A nomeação de outro presidente obrigaria uma discussão entre os partidos que existiam, podendo colocar em risco o domínio da grande burguesia. Isso porque, segundo Marx, não existia nenhum partido que sozinho representasse uma maioria declarada. Seria necessário um intenso debate e disputas internas, o que não seria necessariamente positivo para a grande burguesia. Por isso, o Partido da Ordem foi obrigado a tolerar Bonaparte, ou seja, derrotam a social democracia, a pequena burguesia e destroem os proletários, os ditos mais exaltados com o fim do sufrágio universal. Contudo, necessitavam de um nome capaz de dirigir este processo sem causar grandes estragos ou possíveis fissuras que colocassem em risco o domínio da burguesia. Esta lacuna, ocupada por Bonaparte, foi a oportunidade que necessitava para a construção do seu golpe.

Diante da crise de superprodução, sentida a partir de 1851, e as flutuações da própria produção de cereais, a burguesia se vê numa situação de muita crise, entre a revolução, as crises financeiras, as tentativas de golpe, as disputas internas. Bonaparte soube aproveitar este momento com o golpe de 18 de Brumário. Dissolveu a Assembleia Nacional, decretou novamente o sufrágio universal e controlou o poder em suas mãos, aniquilando qualquer possibilidade de resistência, assim como o Partido da Ordem, que representava obstáculos para a centralização do seu poder ou revolução. Vitória de Bonaparte! Em 2 de dezembro de 1851, este regime constitucional republicano foi banido

da França, e o Estado se revelou como sendo um escritório dos interesses da burguesia francesa. Por fim, Marx analisa o fenômeno do bonapartismo e o processo de construção da consciência e das condições para o triunfo do processo revolucionário.

Mas a revolução é radical. Ela ainda esta passando pelo purgatório. Cumpre a sua tarefa com método. Ate 2 de dezembro de 1851, tinha terminado metade do seu trabalho preparatório; agora, completa a outra metade. Leva primeiro a perfeição o poder parlamentar, para poder derrubá-lo. Agora, conseguindo isso, leva a perfeição o poder executivo, o reduz a sua expressão mais pura, isola- o, enfrenta-se com ele, com o único alvo contra o qual deve concentrar todas as suas forças de destruição. E quando a revolução já tiver levado a cabo essa segunda parte do seu trabalho preliminar, a Europa ergue-se- á e rejubilará: bem escavado, velha toupeira! (MARX, 2003a, p. 322).

O que ocorreu em 2 de dezembro de 1851 foi o que os franceses chamam de coup

de tête: esconde-se os efeitos da revolução de fevereiro e derruba-se as concessões

liberais conquistadas e “arrancadas” com lutas seculares. Este período de 1848-51 serviu como lição e experiência para a classe proletária no sentido de colocar em pauta a necessidade de criar condições sob as quais somente a revolução moderna “seria séria”, em que a velha sociedade e as relações sociais pudessem de fato e concretamente ser superadas através de uma revolução proletária. Uma vez consolidada a república da burguesia, a definição mais robusta do Estado capitalista como sendo um escritório da burguesia tornou-se evidente, assim como o seu real caráter de classe. Nesse momento, desvela-se que não seria mais possível compactuar com uma classe que para se manter no poder necessitou se constituir como uma força reacionária. A tarefa colocada agora, para a classe trabalhadora, era a de recriar suas formas de organização para combater esta nova forma do inimigo da classe. O conceito de antagonismo de classes ganha uma clara base material e objetiva para se consolidar.

2.3.3 O Império Napoleônico e as condições objetivas e subjetivas para a