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A Convenção da União de Paris para a proteção da propriedade industrial

Chapter V. New York: St Martins Press, 1997.

2. O COMÉRCIO INTERNACIONAL E A PROTEÇÃO PATENTÁRIA

2.3 Fontes do Direito Internacional sobre propriedade intelectual

2.3.1 A Convenção da União de Paris para a proteção da propriedade industrial

Por ser o primeiro acordo internacional referente à propriedade industrial, o Acordo de Paris estabeleceu regras extremamente simples e gerais dando flexibilidade aos países membros para conduzir seus sistemas de propriedade industrial por meio de suas legislações locais. Tem-se, assim, a liberdade para criar um regime próprio de propriedade intelectual, tendo em vista as especificidades do país.

A Convenção da União de Paris - CUP, de 1883, deu origem ao hoje denominado Sistema Internacional da Propriedade Industrial e foi a primeira tentativa de uma harmonização internacional dos diferentes sistemas jurídicos nacionais relativos à propriedade industrial. Surge, assim, o vínculo entre uma nova classe de bens de natureza imaterial e a pessoa do autor, assimilado ao direito de propriedade. Os trabalhos preparatórios dessa Convenção Internacional se iniciaram em Viena, no ano de 1873. A Convenção de Paris sofreu revisões periódicas, a saber: Bruxelas (1900), Washington (1911), Haia (1925), Londres (1934), Lisboa (1958) e Estocolmo (1967). Conta atualmente com 136 (cento e trinta e seis) países signatários127 sendo o Brasil um dos quatorze primeiros países signatários.

A Convenção de Paris foi elaborada de modo a permitir razoável grau de flexibilidade às legislações nacionais, desde que fossem respeitados determinados princípios fundamentais, de observância obrigatória pelos países signatários. Criou-se um "território da União", constituído pelos países contratantes, onde se aplicam os princípios gerais de proteção aos Direitos de Propriedade Industrial. São os princípios128:

a) Tratamento nacional. Esse princípio consagrado no Art. 2º da Convenção de Paris estabelece que os nacionais de cada um dos países membros gozem,

127

INPI. Estatísticas sobre patentes. Disponível em: <http//www.inpi.gov.br> Acesso em: 28.janeiro.2005.

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em todos os outros países membros da União, da mesma proteção, vantagens e direitos concedidos pela legislação do país a seus nacionais, sem que nenhuma condição de domicílio ou de estabelecimento seja exigida. Assim, os domiciliados ou os que possuem estabelecimentos industriais ou comerciais efetivos no território de um dos países membros da Convenção (art. 3º), são equiparados aos nacionais do país onde foi requerida a patente ou o desenho industrial.

Ressalva expressamente à Convenção, às disposições das legislações nacionais no que tange aos processos judicial e administrativo, à competência, à escolha de domicílio ou de estabelecimento no país ou à designação de mandatário129.

b) Prioridade Unionista. Esse princípio estabelecido pela Convenção de Paris em seu Art. 4º dispõe que o primeiro pedido de patente ou desenho industrial depositado em um dos países membros serve de base para depósitos subseqüentes relacionados à mesma matéria, efetuados pelo mesmo depositante ou seus sucessores legais. Tem-se o Direito de Prioridade. Os prazos para exercer tal direito são doze meses para invenção e modelo de utilidade e seis meses para desenho industrial.

A Convenção, ao estabelecer o Direito de Prioridade Unionista, regula os parâmetros que devem ser observados pelos países da União, entre os quais se destacam: a não obrigatoriedade de identidade entre as reivindicações do pedido que deu origem ao direito de prioridade e o pedido ulterior, contanto que a matéria esteja totalmente descrita no primeiro pedido130; a possibilidade de o direito de prioridade estar fundamentado nos pedidos de patente de naturezas diversas; assim um pedido de invenção poderá servir de base para um pedido de modelo de utilidade e vice-versa131; o dever de se considerar como primeiro pedido, cuja data marcará o início do prazo de prioridade, um pedido ulterior que tenha o mesmo objeto do primeiro pedido apresentado no mesmo país da União, desde que, na data do depósito do pedido ulterior, o pedido anterior tenha sido retirado, abandonado ou recusado, sem ter sido submetido à

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A legislação nacional faz uso, em especial, dessa última ressalva no art. 217, da Lei n.º 9.279/96 - LPI. 130

Art.4o, H, da Convenção de Paris. 131

inspeção pública, sem ter deixado subsistir direitos, inclusive, o de ter servido de base para reivindicação do direito de prioridade132.

c) Interdependência dos direitos. Esse princípio expresso no Art. 4º da Convenção de Paris, consentâneo com o Princípio da Territorialidade, estatui serem, as patentes concedidas (ou pedidos depositados) em quaisquer dos países membros da Convenção, independentes das patentes concedidas (ou dos pedidos depositados) correspondentes, em qualquer outro País signatário ou não da Convenção. Tal dispositivo tem caráter absoluto. A independência está relacionada às causas de nulidade e de caducidade, como também do ponto de vista da vigência.

d)Territorialidade. Esse princípio consagrado na Convenção de Paris estabelece que a proteção conferida pelo estado através da patente ou do registro do desenho industrial tem validade somente nos limites territoriais do país que a concede.

Observa-se que a existência de patentes regionais, como, por exemplo, a patente européia, não se constitui uma exceção a tal princípio, pois, tais patentes resultam de acordos regionais específicos, nos quais os países membros reconhecem a patente concedida pela instituição regional como se tivesse sido outorgada pelo próprio Estado.

O Princípio da Igualdade de Tratamento pode ser considerado o artigo principal da Convenção e dispõe que o governo de cada país membro conceda aos inventores nacionais e de outros países o mesmo tratamento nacionalmente133.

Ante o exposto, notamos que as patentes são ferramentas do desenvolvimento tecnológico e industrial dos Estados partes. Portanto, não visam apenas a beneficiar o inventor. Almejam também, o progresso da sociedade. Daí porque, em troca da concessão de um monopólio temporário de exploração, o Estado tem o direito de exigir a descrição completa do invento – de modo a contribuir para o acúmulo

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Art.4o, A, da Convenção de Paris. 133

DI BLASI, G.; GARCIA, M. S. E MENDES, P. P. M., A propriedade industrial: os sistemas de marcas e patentes e desenhos industriais analisados a partir da lei n.9.279 de maio de 1996. Rio de Janeiro: Forense, 1998.

de conhecimentos que irão produzir novas invenções no futuro – e sua produção local – para fortalecer a base industrial instalada no território do poder concedente.

Os Estados, a seu critério, podem negar proteção a certos produtos, proibindo-se, porem, tratamento discriminatório contra estrangeiros, ou seja, se os nacionais tiverem direito a certa patente, os estrangeiros também o terão nas mesmas condições.