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PARTE II – PATENTES E O FOMENTO DO DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO DE PAÍSES EM

3. O SISTEMA DE PATENTES E A RACIONALIDADE ECONÔMICA

3.1 O Sistema de Patentes

3.1.2 Requisitos à Patenteabilidade

Todos os sistemas de proteção à propriedade intelectual estabelecem direitos e obrigações entre seus titulares e a sociedade de acordo com a funcionalidade da matéria protegida na circulação econômica. Logo, os diferentes resultados do trabalho intelectual terão proteção por meio de diferentes institutos – direito de autor,

copyright, propriedade industrial, dentre outros.

Para que a proteção à propriedade seja concedida, é necessário que o titular atenda a determinados requisitos na fase anterior e posterior com vistas à manutenção dos seus direitos de titular. As matérias úteis à esfera da produção se caracterizam por elevar o nível de riqueza gerado nessa esfera através do aumento de produtividade da mesma. Tal aumento da produtividade requer um trabalho novo, que

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Cabe ressalvar que, conforme Art.69 da LPI, a licença compulsória não poderá ser concedida se, à data da solicitação da licença, o titular justificar o desuso por razões legítimas; comprovar a realização de sérios preparativos para exploração do objeto da patente; ou ainda, justificar a falta de comercialização ou de fabricação por obstáculo de ordem legal.

eleve o estado das artes úteis e a sociedade, em contrapartida, requer a divulgação pública do conhecimento, visando induzir e difundir o desenvolvimento tecnológico e econômico210.

Apenas as invenções são matérias úteis à esfera da produção e são protegidas através da propriedade industrial com patentes de invenção e de modelo de utilidade. Os requisitos para a concessão desses privilégios são: a novidade, a aplicação industrial, a atividade inventiva e a divulgação social211.

3.1.2.1 O requisito da novidade.

Para que exista a invenção é necessário que haja um trabalho gerador de conhecimento técnico capaz de aumentar a capacidade produtiva à disposição da sociedade, ou seja, deve se acumular ao estoque de conhecimento técnico existente. A novidade pode ser absoluta ou relativa. A novidade relativa trata de um conhecimento que já é público, porém ainda não possui utilização industrial no país concedente da patente. Neste caso, a novidade ocorre no sentido geográfico – verdadeiramente inexistindo – e não aumentando o estoque de conhecimento, apenas é utilizada como um monopólio conferido para estimular a produção local de um produto212.

É a novidade a justificativa do monopólio como impedimento do desperdício de recursos do trabalho repetitivo, dado que será socialmente divulgado o conhecimento novo. Os sistemas de documentação de patentes são extremamente importantes não somente para a definição de novidade no registro de patentes como também para a definição do nível tecnológico dos diversos ramos industriais213.

A utilidade à produção é uma exigência que complementa a novidade, pois enquanto a novidade é necessária, a aplicação industrial é sua suficiência. Caso o uso do novo trabalho se restrinja ao desenvolvimento e pesquisa, sem aplicabilidade industrial, a concessão do monopólio temporário de uso estaria limitando o próprio

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BARBOSA, A. L. F. Sobre a propriedade do trabalho intelectual. Rio de Janeiro: UFRJ, 1999. 211 Idem. Ibidem. 212 Idem. Ibidem. 213 Idem. Ibidem.

desenvolvimento por excluir o novo trabalho intelectual da sociedade. Toda patente é de livre uso para a pesquisa e desenvolvimento214.

3.1.2.2 O requisito da atividade inventiva.

O Art. 13 da Lei de Propriedade Intelectual brasileira define que a invenção é dotada de atividade inventiva sempre que, para um técnico no assunto, aquele com mediana experiência e conhecimento, não decorra de maneira evidente ou óbvia, isto é, que não envolve habilidade ou capacidade além daquela usualmente inerente a um técnico no assunto. Por técnico no assunto deve entender-se aquele com mediana experiência e conhecimento, e não um experto ou técnico com elevadíssimo e vasto conhecimento técnico na área.

Considerando que o efeito técnico diferente é avaliado com base na justa posição de elemento ou conhecimentos pertencentes ao estado da técnica, em geral, serão utilizados, no exame de tal requisito, mais de uma referência ou documento que, analisados em conjunto e comparados com o pedido de patente de invenção, permitirá uma conclusão quanto ao nível inventivo presente215.

Esta parece ser uma exigência advinda da prática nos procedimentos de exame e na jurisprudência de países desenvolvidos, sendo gradativamente disseminado nos demais países. Deve haver acréscimo ao estado das artes e ao estoque de capital tecnológico. Não deve ser simples organização óbvia de conhecimentos já disponíveis216. Dessa forma as invenções, para serem patenteáveis, não podem ser decorrência de justaposições de processos, meios e órgãos conhecidos, simples mudança de forma, proporções, dimensões e materiais, salvo se, no conjunto, o resultado obtido apresentar um efeito técnico (resultado final alcançado através de procedimento peculiar a uma determinada arte, ofício ou ciência) novo ou diferente (que resulte diverso do previsível ou, não óbvio, para um técnico no assunto).

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BARBOSA, A. L. F. Sobre a propriedade do trabalho intelectual. Rio de Janeiro: UFRJ, 1999. 215

Em INPI. Disponível em: <http://www.inpi.gov.br/ >. Acesso em:24 fevereiro .2007. Requisitos para Proteção.

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3.1.2.3 O requisito da aplicação industrial.

O Art. 15 da LPI define expressamente o termo "suscetíveis de aplicação industrial" para o patenteamento das invenções ou criações. Por sua vez a Convenção da União de Paris, em seu Art 1º estabelece que a Propriedade Industrial deve ser entendida na sua acepção mais ampla, aplicando-se não só à indústria propriamente dita, mas também às indústrias agrícolas e extrativas e a todos os produtos manufaturados e naturais. O termo indústria deve ser compreendido, pois, como incluindo qualquer atividade física de caráter técnico, isto é, uma atividade que pertença ao campo prático e útil, distinto do campo artístico217.

A invenção ou o modelo de utilidade deve, portanto, pertencer ao domínio das realizações, ou seja, deve se reportar a uma concepção operável na indústria, e não a um princípio abstrato. Assim, uma invenção ou modelo de utilidade será considerada como suscetível de aplicação industrial se o seu objeto for passível de ser fabricado ou utilizado em qualquer tipo de indústria.

3.1.2.4 O requisito da divulgação social.

Este requisito é a razão social de ser do sistema de patentes, pois é o relatório descritivo do invento que leva ao estado das artes úteis e representa a contrapartida à concessão das patentes.

No relatório descritivo do invento deve existir a descrição escrita, a invenção ou criação deva ser descrita de forma perfeitamente clara e completa de modo a permitir sua reprodução por um técnico no assunto. Desta forma, pode haver a repetição do invento, para comprovar a apreensão da informação pela sociedade, atestando o atendimento ao requisito de divulgação bem como se pode facilitar e aperfeiçoar o uso da invenção.

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Em INPI. Disponível em: <http://www.inpi.gov.br/ >. Acesso em:24 fevereiro .2007. Requisitos para Proteção. Atividade inventiva.