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PARTE II – PATENTES E O FOMENTO DO DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO DE PAÍSES EM

6. O FOMENTO DO DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO

6.2 As Patentes no Processo de Desenvolvimento

Os sistemas nacionais de inovação são instrumentos chaves para impulsionar um país em seu processo rumo ao desenvolvimento. No caso brasileiro, por exemplo, para a transformação do seu sistema de inovação é preciso elevar a capacitação produtiva do país, ou seja, a capacidade de implementação dos componentes de um dado sistema de produção. Isto se dá porque os desafios enfrentados são diferentes de acordo com as especificidades de cada país.

Considerar as especificidades do país é extremamente importante, e, para contextualizar, pode-se analisar o sistema japonês. Este foi construído de acordo com as características específicas de um país que importava pesquisa e desenvolvimento - P&D. Na estrutura industrial japonesa a maioria da P&D era feita por grandes corporações que mantinham grandes equipes de especialistas para fiscalizar as atividades do Departamento de Patentes japonês, participação ativa nos processos de oposição prévia de patentes e conduzir freqüentemente negociações de licenciamento simples e cruzados.

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ALBUQUERQUE, E. M. Sistemas nacionais de inovação e direitos da propriedade industrial: notas introdutórias a um debate necessário. Estudos Econômicos, São Paulo, v. 26, n.2, p.171- 200, maio-agosto, 1996.

Agora, poderia ser utilizado o modelo japonês para o caso brasileiro? Sua utilização deve levar em conta as características nacionais para um resultado eficiente. A conclusão mais importante da análise do exemplo japonês é que incentivos para inovação podem ocorrer com uma legislação patentária relativamente fraca.

Porém, uma mudança importante no cenário internacional irá dificultar cada vez mais a busca de instrumentos de difusão como os utilizados pelo Japão: a pressão dos grandes grupos empresariais dos países desenvolvidos pelo fortalecimento dos Direitos de Propriedade Intelectual. Os oligopólios mundiais iniciaram seu desenvolvimento nos anos quarenta e cinqüenta a partir das grandes empresas transnacionais, tendo aumentado em extensão e passado a constituir “....a forma dominante de estrutura da oferta na maior parte das indústrias P&D intensivas assim como em muitas industrias intensivas em escala” 348.

Atualmente, graças à intensificação da abertura econômica dos países e o conseqüente aumento da importância dos tratados internacionais, as legislações internacionais tendem a ganhar força impondo sobre as legislações nacionais um número cada vez maior de cláusulas mandatórias. Os oligopólios mundiais compõem a força predominante na reestruturação da economia conhecida como globalização. O fenômeno atua no sentido de ajudar a transpor barreiras à atuação internacional desses oligopólios e viabilizar o alcance de seus recursos manufatureiros e de marketing, distribuir as atividades de P&D e utiliza fontes de matéria- primas e produtos intermediários internacionais.

Este processo estaria dividindo os Estados-nação entre aqueles que resguardam a sua soberania econômica e política (EUA, Alemanha e Japão) e os que estão perdendo essa soberania349.

348

ALBUQUERQUE, E. M. Sistemas nacionais de inovação e direitos da propriedade industrial: notas introdutórias a um debate necessário. Op.cit., p.136.

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Segundo CORREA350, a postura da América Latina como um todo é muito mais reativa com relação ao temas Direitos de Propriedade Intelectual, cedendo aos desígnios dos países desenvolvidos. A falta de preocupação governamental brasileira em explorar a margem de manobra que o acordo do GATT faculta aos países em desenvolvimento para adaptar suas legislações patentárias aos novos termos do acordo internacional revela que o Brasil tem aceitado as demandas externas sem muito questionamento.

Tendo em vista o progressivo enrijecimento dos acordos internacionais relacionados aos Direitos de Propriedade Intelectual, é essencial o aproveitamento de oportunidades de contrabalançar o que é requerido internacionalmente com as necessidades nacionais de difusão tecnológica visando o progresso econômico. Sem dúvida é necessária a adequação de legislações patentárias nacionais aos acordos nos quais o Brasil é signatário. Porém, é preciso que se analise cuidadosamente se os benefícios de investimentos diretos, atraídos por uma postura reativa na questão patentária e uma inserção tecnológica passiva, superar o desperdício da oportunidade de se conduzir um processo de desenvolvimento bem sucedido.

A relação entre os grandes oligopólios mundiais, que impulsionam a globalização e a pressão por Direitos de Propriedade Intelectual mais rígidos pode ser explicada da seguinte forma as corporações de hoje se utilizam cada vez mais dos diferentes tipos de investimentos do investimento direto clássico. Estas conquistam frações do capital e dos direitos de administração em outras firmas através de ativos imateriais (incluindo franchising, leasing, know-how gerencial e licenciamento de tecnologia) e não mais por meio de aportes de capital351. Para que estes ativos imateriais posssam circular de forma segura ao lado do deslocamento dessas multinacionais em sua busca por novos mercados e insumos, é necessário que direitos de propriedade intelectual estejam bem definidos, de preferência, de forma a resguardar os interesses dos detentores da tecnologia, para que os riscos dos acionistas dessas multinacionais

350

CORREA, C. M. Nuevas tendencias sobre patentes de invención en America Latina. Revista del Derecho Industrial, v.13, n.39, 1991.

351

ALBUQUERQUE, E. M. Sistemas nacionais de inovação e direitos da propriedade industrial: notas introdutórias a um debate necessário. Op.cit.

sejam minimizados. Os prejuízos das grandes empresas criadoras de invenções com a pirataria se fez sentir mais forte do que se esperava com a abertura das economias.

ALBUQUERQUE352 enumera cinco modalidades de

internacionalização de tecnologia que ocorrem no atual processo de “globalização”: a produção privada de tecnologia sobre uma base multinacional; a aquisição de tecnologia no estrangeiro através de compra ou relações assimétricas; as trocas cruzadas de conhecimentos através de cooperação ou de parceria; a proteção de conhecimentos e inovações em países estrangeiros; e.a valorização de capital tecnológico fora do país de origem ou sobre uma base multinacional.

De todos os agentes envolvidos nessas modalidades, apenas as empresas multinacionais atuam em todas as modalidades e as patentes se mostram relevantes para quatro dessas modalidades. A definição de direitos de propriedade intelectuais cada vez mais fortes e homogêneos também funciona como uma garantia ao desenvolvimento dessas formas de internacionalização.

As grandes empresas têm poderosos lobbies para influenciar políticas governamentais não somente nos Estados Unidos como em todos os países e vem utilizando tal poder como forma de definir a forma como o tema das patentes é tratado353. Albuquerque utiliza um interessante argumento para justificar a pressão dos Estados Unidos, como nação, por Direitos de Propriedade Intelectual mais rígidos: a diminuição do hiato tecnológico entre Estados Unidos e as maiores nações do mundo.

352

Idem.Ibidem. 353

ALBUQUERQUE, E. M. Sistemas nacionais de inovação e direitos da propriedade industrial: notas introdutórias a um debate necessário. Op.cit.

7. O QUADRO JURÍDICO DA PROTEÇÃO PATENTÁRIA NO