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Chapter V. New York: St Martins Press, 1997.

2. O COMÉRCIO INTERNACIONAL E A PROTEÇÃO PATENTÁRIA

2.3 Fontes do Direito Internacional sobre propriedade intelectual

2.3.6 O Acordo TRIPS e seus efeitos no Brasil

O Acordo TRIPS foi incorporado ao direito interno brasileiro por meio do Decreto n. 1.355, de 30 de dezembro de 1994. O acordo é composto de sete partes e prevê um nível mínimo de proteção da propriedade intelectual. Por esse motivo não impede o legislador interno de disciplinar uma proteção mais larga aos direitos de propriedade intelectual não prescrito no Acordo TRIPS, salvo estipulação contrária188.

187

Idem. Ibidem. p.80. 188

ARSLANIAN, Regis Percy. e LYRIO, Mauricio Carvalho. A reforma da lei de patentes no Brasil e as pressões norte-americanas na área de propriedade intelectual. Política Externa, vol.4, n.2 setembro, 1995, p. 4.

Contudo o TRIPS não se aplica automaticamente. O Acordo TRIPS diferiu sua aplicação para os países em desenvolvimento, caso do Brasil, até 1.01.2000. Ademais, o TRIPS não é uma lei uniforme. Ele cria direitos e obrigações para os Estados membros. Porém não cria direitos e obrigações para as partes privadas.

Assim, o TRIPS exige lei interna, mas não é lei interna. É um acordo de direitos mínimos que se endereçam aos Estados membros. São estes que têm liberdade para legislar como melhor entenderem de acordo com o respectivo sistema jurídico.

O TRIPS, com alcance global, representa uma tentativa de regular e proteger diferentes bens imateriais. É um acordo complexo, não apenas pelo seu conteúdo substantivo e adjetivo, mas pelo enfoque dado ao tema, vinculando-o à vida econômica e comércio internacional. É uma mudança nos institutos da propriedade intelectual, dando lhe outra interpretação. O TRIPS possui dois mecanismos básicos contra as infrações à propriedade intelectual: a elevação do nível de proteção em todos os Estados membros e a garantia da observação dos direitos de propriedade intelectual.

O TRIPS trata dos direitos de autor e conexos, marcas, indicações geográficas, desenhos industriais, patentes, topografias de circuitos integrados, proteção do segredo de negócio e controle da concorrência desleal. Estabelece princípios básicos, quanto à existência, abrangência e exercício dos direitos de propriedade intelectual.

Com o TRIPS foram consagrados os seguintes princípios básicos: tratamento nacional, nação mais favorecida e princípios que beneficiam o desenvolvimento sócio-econômico. O princípio do tratamento nacional assegura que o mesmo tratamento dispensado ao cidadão nacional deve ser garantido aos estrangeiros residentes ou não residentes. Segundo o princípio da Nação mais favorecida todas as vantagens, favores, privilégios ou imunidades concedidas por um Estado partem a outro, deve ser estendida a todas as outras partes do acordo189.

189

ARSLANIAN, Regis Percy. e LYRIO, Mauricio Carvalho. A reforma da lei de patentes no Brasil e as pressões norte-americanas na área de propriedade intelectual. Política Externa, vol.4, n.2 setembro, 1995, p. 4.

A grande contribuição para o regime de propriedade intelectual no que refere ao conteúdo é a proibição de exclusão de produtos e processos de setores tecnológicos que não estejam previamente permitidas no Acordo. A técnica da redação do Acordo privilegiou a diversidade dos Estados-membros, embora tivesse função de harmonizar ao máximo as legislações existentes. Este fato reflexo do principio da independência das patentes, pois cada Estado tem o poder de determinar os procedimentos necessários para sua concessão. As brechas deixadas para preenchimento nas legislações nacionais são claras, dando a impressão de que o TRIPS permite certa liberdade legislativa190.

No Brasil, foi por meio da Lei 9.279, de 14.05.1996, que houve a regulação dos direitos e obrigações relativas à propriedade industrial, visando à concessão de patentes de invenção e de modelo de utilidade; de registro de desenho industrial; de registro de marca; de repressão a falsas indicações geográficas; e de repressão à concorrência desleal. Trouxe como novidades a inclusão da patente para substâncias, matérias ou produtos obtidos por meio de processos químicos e as substâncias, produtos alimentícios, químico-farmacêuticos e medicamentos de qualquer espécie, bem como os respectivos processos de obtenção e modificação. A referida lei é a Lei vigente até o momento em relação à propriedade industrial.

No que tange aos acordos internacionais, a independência da propriedade, ou das patentes, garante que o fato de uma patente ter sido negada, cancelada ou extinta em seu país de origem não implica que em outro país receba o mesmo tratamento. Da mesma forma, as patentes conseguidas em um país são independentes das patentes sobre um mesmo invento em outros países membros dos acordos internacionais191.

Devido à disseminação de empresas multinacionais dos países centrais pelo mundo, a homogeneização de legislações de propriedade industrial se tornou uma necessidade para fins de minimização e padronização de custos. Um exemplo da

190

MARINHO, Maria Edelvacy Pinto. O regime de propriedade intelectual:a inserção das inovações biotecnologicas no sistema de patentes. Dissertação UniCEUB, Brasília, 2005, p.132.

191

DI BLASI, G.; GARCIA, M. S. E MENDES, P. P. M. a propriedade industrial: os sistemas de marcas e patentes e desenhos industriais analisados a partir da lei n.9.279 de maio de 1996. Rio de Janeiro: Forense, 1998.

tendência é a maior homogeneização entre países quanto às posturas econômicas, por meio da formação de blocos econômicos, como Nafta, Comunidade Européia e Mercosul. Um acordo que exemplifica essa tendência são os acordos do GATT que tem atualmente entre seus instrumentos o TRIPS.

Desde sua criação, em 1947, o GATT disciplina as relações comerciais internacionais, mas a partir da Rodada do Uruguai, em 1987, sua atuação foi ampliada pela inclusão do comércio de serviços entre as matérias de sua competência192. Desde então a proteção à propriedade intelectual passou a ser discutida no âmbito do GATT.

Apesar de o tema patente ter sido discutido na OMC através do TRIPS, o órgão central do sistema de patentes é a OMPI 193. Os objetivos principais da OMPI são centralizar os trabalhos que visam à disciplina operacional dos convênios, tratados e acordos internacionais que tratam da propriedade intelectual e estimular a atividade inventiva e difundir o conhecimento dos meios mais eficazes de industrialização194.