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A abordagem do desenvolvimento como problema, veio a tornar-se mais enfática somente a partir das flutuações econômicas do século 19. Com a Grande Depressão da década de trinta colocou-se em evidência o grande drama social do desemprego, tornou-se mais premente as ações dos estados na economia, a noção de desenvolvimento, atrelada à questão da distribuição, passou a ser mais enfatizada.

O subdesenvolvimento, como corolário define-se pela insuficiência do crescimento econômico, em relação ao crescimento demográfico. Busca-se o desenvolvimento econômico, ou seja, a existência de crescimento econômico contínuo, em ritmo superior ao crescimento demográfico, envolvendo mudanças estruturais e melhoria dos indicadores econômicos e sociais per capita, implicando em fortalecimento da economia nacional, a ampliação da economia de mercado e a elevação geral da produtividade. O desenvolvimento econômico originou a primeira forma de protecionismo para a industrialização no resto do mundo.

Por sua vez, os neoclássicos acreditavam no monoeconomismo que era uma proposta teórica em que uma lei econômica válida para um ponto do universo seria válida para todo o universo.Por exemplo, a elasticidade é um conceito abstrato o suficiente para ser utilizado em qualquer lugar do planeta.

Também acreditavam num crescimento econômico balanceado que é gerador de uma distribuição eqüitativa para todos os agentes econômicos demonstrando então, uma visão otimista do processo de desenvolvimento. Nesse contexto, seria o desenvolvimento um processo continuado, gradual e harmonioso e que o sistema econômico tenderia ao pleno emprego, sendo os preços e os salários flexíveis e que as remunerações dos fatores se distribuiriam segundo suas produtividades marginais respectivas. Não existiria então, conflito distributivo entre os agentes econômicos tendo

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MAIA, Jaime de Mariz. Economia Internacional e Comércio Exterior. 9ª edição. São Paulo: Ed. Atlas, 2004.

em vista que a própria eficiência alocativa que se encarrega de proceder a justiça distributiva.

Porém, segundo os autores desenvolvimentistas não ocorre tal equilíbrio balanceado, pois o sistema direciona-se a um estado de desequilíbrio, pois com o surgimento de novas indústrias ocorre estímulo exacerbado da produção, gerando um crescimento superior ao setor agrícola gerando então uma diferença na relação de trocas entre os setores deriva, por exemplo, da carência de alimentos. Também não acreditavam na hipótese de monoeconomismo, pois era por demais difícil formular proposições que pudessem ser válidas em todo o universo.

Ao contrário do que os neoclássicos teorizavam, na vida real havia a possibilidade de existir, por exemplo, mercado imperfeito, informações assimétricas, externalidades, equilíbrio múltiplo e vantagens comparativas em contraposição aos retornos constantes de escala, competição pura, informação simétrica/perfeita, insignificantes custos de transação e externalidades e preços sensíveis às forças de mercado.

A doutrina do protecionismo59, em especial, a corrente estruturalista, adota especial atenção à questão do desenvolvimento. O tema em questão sempre foi preocupação presente nos debates multilaterais. A preocupação universal com o subdesenvolvimento, o debate das relações norte-sul, isto é, o intercambio entre países desenvolvidos e em desenvolvimento, há muito se encontra presente, mas modificações sistemáticas não foram realizadas até o presente momento. Pela perspectiva liberal, os vínculos de relacionamento entre economias em desenvolvimento e economias desenvolvidas são benéficos uma vez que, “por meio do intercâmbio comercial, da assistência internacional e dos investimentos, as economias menos desenvolvidas adquirem mercados de exportação, o capital e a tecnologia de que necessitam para se desenvolver” 60.

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Os desenvolvimentistas econômicos observaram que observaram que é possível haver mercado imperfeito, informações assimétricas, externalidades, equilíbrio múltiplo e vantagens comparativas. 60

GUILPIN, Robert. A economia política das relações internacionais. Tradução de Sérgo Bath. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2002, p.294.

A Teoria do Crescimento e do Desenvolvimento Econômico discute estratégias de longo prazo, isto é, quais as medidas que devem ser adotadas, para um crescimento econômico equilibrado e auto-sustentado. A teoria supõe que os recursos estão plenamente empregados. A preocupação, nesse ponto, é analisar o comportamento do produto potencial, ou do pleno emprego, na economia61.

Nas últimas décadas, a busca do crescimento econômico62 como forma de se obter um maior bem-estar para os povos e a solução dos problemas profundos como pobreza e subdesenvolvimento, estava no centro da atenção não só dos países em desenvolvimento. Percebeu-se que somente o crescimento econômico não implicava desenvolvimento, não houve a melhoria automática dos indicadores sociais nos países emergentes.

Coloca-se, então, a questão como promover crescimento econômico e desenvolvimento sócio-econômico uma vez que crescimento e desenvolvimento econômico são conceitos distintos. Segundo VASCONCELLOS63 “Crescimento econômico é o crescimento contínuo da renda per capita ao longo do tempo. Por sua vez, o desenvolvimento econômico é um conceito mais qualitativo, incluindo alterações da composição do produto e a alocação dos recursos pelos diferentes setores da economia, de forma a melhorar os indicadores de bem-estar econômico e social (pobreza, desemprego, desigualdade, condições de saúde, nutrição, educação e moradia)” 64.

A existência de crescimento econômico contínuo, em ritmo superior ao crescimento demográfico, envolvendo mudanças de estrutura e melhoria de indicadores econômicos e sociais, compreende um fenômeno de longo prazo,

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VASCONCELLOS, Marco Antonio Sandoval de. Economia: micro e macro: teoria e exercícios. 3.ed. São Paulo:Atlas, 2002.

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Sobre Crescimento Econômico sugere-se a leitura de JONES, Hywel G. Modernas Teorias do Crescimento Econômico: Uma Introdução. Tradução de Maria Angela Fonseca & Marcos Giannetti Fonseca. Sao Paulo: Atlas, 1979 e o capítulo 9: A Teoria do Crescimento Econômico, p.487-522 em SIMONSEN, Mario Henrique. Macroeconomia. 2.ed. São Paulo:Atlas, 1995. 63

Em VASCONCELLOS, Marco Antonio Sandoval de. Economia: micro e macro: teoria e exercícios. 3.ed. São Paulo:Atlas, 2002.

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implicando fortalecimento da economia nacional, ampliação da economia de mercado e a elevação geral da produtividade.

Para um processo endógeno de desenvolvimento sustentável, a ênfase está no desenvolvimento do mercado interno. Trata-se de condição fundamental que, aliada à inserção no mercado externo têm-se os recursos necessários para financiar o desenvolvimento. O processo exige a ação firme e contínua do Estado. Este tem que coordenar suas etapas e orientar sua política econômica em longo prazo. Não se olvidando de que a dinâmica de expansão de uma economia em desenvolvimento depende, em última análise, do ritmo de crescimento de suas exportações, da produtividade do setor de mercado interno, da expansão do consumo interno, da estrutura interna de distribuição de renda e da eliminação dos estrangulamentos do crescimento econômico.

Até a Segunda Guerra Mundial prevaleceu a concepção que crescimento econômico trazia desenvolvimento econômico65, apesar de vozes dissidentes. A crítica a este modelo ganhou força com a formulação da moderna teoria do desenvolvimento econômico. As teorias do subdesenvolvimento têm como premissa que a economia internacional distorce o modus operandi dos mercados e, desta forma, mantém os países em desenvolvimento na situação de dependentes e subdesenvolvidos66. Por esta razão, os países desenvolvidos são os responsáveis pela pobreza mundial. Conforme a corrente desenvolvimentista, o intercâmbio entre países desenvolvidos e países em desenvolvimento traz mais benefício às economias maduras do que às economias periféricas.

Os economistas, em especial os de países subdesenvolvidos67, trabalham as características peculiares de economias em desenvolvimento, mostrando a inadequação do instrumental da análise econômica tradicional. Uma das críticas aborda

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Sobre crescimento econômico e desenvolvimento econômico sugere-se a leitura de JONES, Hywel G. Modernas Teorias do Crescimento Econômico: Uma Introdução. Tradução de Maria Angela Fonseca & Marcos Giannetti Fonseca. Sao Paulo: Atlas, 1979.

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GUILPIN, Robert. A economia política das relações internacionais. Tradução de Sérgo Bath. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2002.

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Sobre economias em desenvolvimento ver BARDHAN, Pranab. Economics of Development and the

Development of Economics. Journal od Economic Perspectives – volume 7, number 2 – spring

a preposição central da teoria neoclássica de analisar economias operando perto do pleno emprego, situação de economias maduras. Esta proposição não é válida em economias com desemprego acentuado dos fatores de produção e altas taxas de desemprego. Eles refutam que os mecanismos de mercado sejam suficientes para fazer o desenvolvimento econômico fluir das regiões mais desenvolvidas às menos desenvolvidas.

Na década de cinqüenta, Raul Prebisch formulou a tese da tendência estrutural de deterioração dos termos de troca entre os países subdesenvolvidos, exportadores de produtos primários, e os desenvolvidos, exportadores de produtos industrializados. Teve como enfoque da pesquisa a perda de importância do comércio internacional como motor do desenvolvimento, devido à propensão marginal decrescente dos países centrais de importar matérias-primas e alimentos da periferia e pela característica do novo líder econômico mundial pós-guerra, os Estados Unidos, auto-suficiente em alimento, com uma economia mais fechada e protecionista.

Na década de cinqüenta e inicio dos anos sessenta, acreditava-se amplamente que a industrialização nos países em desenvolvimento ocorreria se ao setor industrial fossem assegurados mercados domésticos seguros, que permitiriam que eles se desenvolvessem68. A prática da substituição de importações foi comumente utilizada.

Por volta da década de oitenta, evidenciou-se o esgotamento do sistema de substituição de importações como ferramenta na busca do desenvolvimento69. A produção nacional não era competitiva, representada por volumes pequenos, a altos custos e pouca inovação. A solução encontrada por muitos países foi reduzir as barreiras comerciais adotadas até então. O sucesso na adoção dessa estratégia pode ser visualizado no caso dos tigres asiáticos70 tendo por base o crescimento das exportações de manufaturados e a importação de insumos para os mesmos.

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Em VASCONCELLOS, Marco Antonio Sandoval de. Economia: micro e macro: teoria e exercícios. 3.ed. São Paulo:Atlas, 2002, p.407.

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Idem. p.408. 70

A expressão Tigres asiáticos refere-se às economias de Hong Kong, Singapura, Coreia do Sul e Taiwan (Formosa); esses territórios e países apresentaram grandes taxas de crescimento e rápida industrialização entre as décadas de 1960 e 1990.

Segundo os estruturalistas71, a economia mundial está composta por um núcleo central de países altamente industrializados e por uma ampla periferia subdesenvolvida72. O crescimento econômico é feito à custa dos países em desenvolvimento, uma vez que as características estruturais dos países industrializados e dos países não-industrializados são distintas. Os termos de troca entre países desenvolvidos e países em desenvolvimento tendem a uma deterioração constante, beneficiando os primeiros73. Desta forma, as economias em desenvolvimento são obrigadas a aumentar o volume de bens primários exportados para fazer face aos custos da tecnologia e produtos manufaturados recebidos dos países desenvolvidos.

Contudo, a teoria estruturalista apresenta falhas. Em especial, os economistas falharam ao transformarem as proposições intuitivas em modelos claros, precisos e sintéticos. Aliado a este fator, remanescia a dificuldade em reconciliar economias de escala com as estruturas de mercados concorrenciais74. Note-se que, desde a teoria do livre comércio até a teoria estruturalista, o Estado foi se adequando às necessidades do mercado e, agora, mais uma vez o papel do Estado teve que ser remodelado de forma a satisfazer as novas necessidades econômicas. Cabe agora, um breve estudo do papel do Estado na economia para que, ao longo do trabalho, fique claro o viés entre doutrina e postura do Estado em suas relações internacionais.

Note-se que a partir da década de 80, alguns países do Pacífico começaram a apresentar altos índices de crescimento mundial e interferência no mercado mundial, sendo por isso designados tigres asiáticos. Os termos lembram agressividade e é exatamente essa a característica fundamental dos quatro países que formam esse grupo. Eles utilizaram estratégia arrojada de atração de capital estrangeiro - apoiada na mão- de-obra barata e disciplinada, na isenção de impostos e nos baixos custos de instalação de empresas. A imensa e ininterrupta expansão da economia japonesa foi decisiva para criar um dinâmico mercado em toda a área circundante do Pacifico. O Japão atuou não só como estímulo, mas também como exemplo. O crescimento mais marcante foi o apresentado pela Coréia do Sul, um dos mais pobres países em desenvolvimento na década de 1960, que se transformou numa semi-industrializada nação de renda média Os Tigres asiáticos alcançaram o desenvolvimento com um modelo econômico exportador; esses territórios e nações produzem todo tipo de produto para exportá-los a países industrializados. O consumo doméstico é desestimulado por altas tarifas governamentais.

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Ver SPERO, Joan Edelman; HART, Jeffrey A. The Politics of International Economic Relations.