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A criação da Coordenação de Promoção do Direito à Cidade

Nesse sentido, em setembro de 2013, a Secretaria Municipal de Direitos Humanos de São Paulo criou a Coordenação de Promoção do Direito à Cidade como resposta institucional aos protestos de junho que clamavam por novas formas de participar, além das outras demandas. Em

21 Matéria “USE A CIDADE - O processo que faz o espaço urbano deixar de ser um problema e virar uma solução para as pessoas. Disponível em: <http://tab.uol.com.br/cultura-urbana/#imagem-1>. Acesso em 10 fev. 2017.

janeiro de 2014, foi realizado um encontro com a sociedade civil com fins de criar o Plano de Ocupação do Espaço Público pela Cidadania, instrumento base das ações da CPDC. De fato:

O Plano de Ocupação do Espaço Público pela Cidadania guia todas as ações da Coordenação de Direito à Cidade. Pretende promover a ressignificação do espaço público, articulando ações de governo e iniciativas da sociedade civil, como forma de efetivar os direitos humanos e fortalecer o exercício da cidadania, bem como apoiar formas inovadoras e não tradicionais de participação e diálogo social (website)22

Um primeiro ponto a ser colocado na análise da CPDC é o fato dela não existir na Lei que institui a SMDHC. Portanto, o cargo DAS 14 da Coordenadora é, formalmente, da Coordenação de Diálogo Social da Coordenadoria de Participação Social e Gestão Estratégica. Apesar de presente no organograma formal da SMDHC, é importante dizer que a área de Diálogo Social não se consolidou de fato durante a gestão. Segundo a fala do Entrevistado RG1:

Apesar de estar na lei de criação da SMDHC, nunca existiu de fato. Da criação da SMDHC até a criação da CPDC, ficou esta indecisão interna do diálogo social e da estratégia de territorialidade que eram dois cargos soltos que ninguém sabia direito o que iria fazer, se ia ter isso na SMDHC. No fim a pauta diálogo social ficou distribuída em cada coordenação (2016)

A CPDC surge guiada pelo Plano de Ocupação do Espaço Público pela Cidadania o qual possui três eixos principais: o primeiro pensado para recomposição do mobiliário urbano e estruturas físicas na cidade; o segundo para estimular iniciativas da sociedade civil, e o terceiro com foco na participação social. O fato de estar previsto um eixo para tratar especificamente de participação supõe a tentativa de se consolidar uma interface entre a PMSP e esses novos atores em emergência na cidade. Neste sentido, algumas falas dos entrevistados ilustram esse movimento:

Neste eixo de participação e diálogo social, a gente queria repensar os mecanismos institucionais de participação, por entender que esse novo contexto e esses novos atores estavam trazendo elementos que nos ajudaram a “ressignificar” o próprio processo de diálogo entre o poder público e a sociedade civil. Tinham muitos grupos que trabalhavam com hortas urbanas, mobiliário urbano, atividades culturais (...). Eu acho que a CPDC, de fato, cumpriu uma missão importante que foi se transformar no principal canal de interlocução da PMSP com os novos atores, novos coletivos, novos grupos da cidade. (Entrevistado RG2, 2016)

A partir do trecho acima, é possível dizer que a equipe envolvida na criação da CPDC tinha por objetivo, logo no princípio, que a pasta refletisse e repensasse o diálogo entre o poder público e a sociedade civil, sob a ótica do direito à cidade. E afirma-se que o balanço foi positivo

22 Página oficial da CPDC. Disponível em:

<http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/direitos_humanos/promocao_do_direito_a_cidade/programas_e _projetos/index.php?p=218625>. Acesso em: 12 jan. 2017.

na medida em que a coordenação de fato se consolidou enquanto principal “canal de interlocução” entre a PMSP e os coletivos urbanos.

A fim de reforçar a tese de que a CPDC pode ser considerada como uma interface socioestatal entre os atores analisados, temos a fala do Entrevistado RG1:

Uma das coisas que a gente coloca como diretriz de todos os projetos da CPDC é que, ao estabelecer relações com esses grupos, seja pros projetos pilotos, seja por meio de edital, que esse pudesse ser um canal de escuta, de comunicação dos grupos com o poder público e que a gente pudesse encaminhar isso na medida do possível, para as outras áreas. Para esses projetos mais próximos da CPDC, a gente conseguiu fazer isso e conseguiu entender que essa relação era um canal, sim, de participação e de comunicação com o poder público. Mas acho que a gente não conseguiu avançar nesta formulação e nem na execução desta questão, porque a gente ainda ficou muito restrito a grupos que de alguma forma tinham proximidade a nós (2016).

No extrato acima, a interface é primeiramente denominada como um “canal de escuta”, de “comunicação” e/ou de “participação”. Outrossim, se clarifica um pouco mais o papel desempenhado pela CPDC no âmbito do poder municipal. Realmente, uma das ações desempenhadas era o encaminhamento de demandas recebidas por parte dos grupos para outros órgãos da PMSP: “questões de iluminação, zeladoria, limpeza, a Coordenação de Promoção do Direito à Cidade articulava para dentro da Prefeitura” (Entrevistado RG1, 2016). A porta de entrada de alguns coletivos acaba sendo a própria CPDC, mas para além de um simples encaminhamento, ocorria uma problematização da gestão, internamente, ao questionar a relação do governo com estes atores e a sua atuação, trazendo assim novas demandas para dentro da Prefeitura.

A passagem abaixo, de outro entrevistado, também corrobora com os enunciados colocados anteriormente:

Então, pra mim, quanto mais eu conheço o trabalho da Coordenação, dos coletivos, mais eu percebo como foi acertada a decisão de sua criação. Com a Coordenação de Promoção do Direito à Cidade, a Prefeitura Municipal de São Paulo construiu um canal de interlocução com os coletivos que vibra na mesma frequência dos coletivos. E isso, pra mim, é a coisa mais importante do Estado. O Estado precisa oferecer dentro da sua estrutura espelhos às demandas da sociedade civil. E esta demanda da sociedade civil por incidir no espaço público, ela encontrou seu espelho na CPDC. Evidente que ela é pequena, que tem poucos recursos, que ela é nova, que ela é precária, não estou nem discutindo estas questões. Mas que foi criada, e se os coletivos têm algum lugar que eles conseguem sentar numa mesa e falar “estamos falando da mesma coisa, quando a gente fala de espaço público é o mesmo espaço público, quando a gente fala de direito à cidade é o mesmo direito à cidade, quando a gente reclama do Estado é a mesma reclamação do Estado”. É o mesmo registro. Então, isso foi uma grande conquista. (Entrevistado RA, 2016).

Aqui, o termo empregado para fazer alusão à interface em questão é “canal de interlocução”. Em síntese, nota-se uma confluência nas falas dos entrevistados com relação ao papel empreendido pela coordenação. A palavra “canal” apareceu em todas elas, seguida de alguma especificação.

Mas o componente essencial a ser analisado a partir do último fragmento citado é o fato de fazer referência ao “mesmo registro” entre os coletivos e a CPDC. O entrevistado sugere que há resultados positivos advindos dessa “mesma frequência” entre os atores envolvidos quando anuncia ter sido uma “grande conquista”. Com o propósito de explicitar tal entendimento, a próxima seção se debruçará sobre o discurso do direito à cidade, empregado com enorme frequência pelo governo, sociedade civil e academia.