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Seguindo a tendência não só nacional, mas também do Partido dos Trabalhadores, a PMSP investiu, entre 2013 e 2016, na expansão de sua malha participativa. Com efeito, algumas iniciativas foram criadas em diversas secretarias e áreas da Prefeitura alinhadas no sentido de promover maior participação social por parte da população.

O Programa de Metas da Prefeitura Municipal de São Paulo (2013-2016)17 foi estruturado em três grandes eixos, são eles: i) compromissos com os direitos sociais e civis, ii) desenvolvimento econômico sustentável com redução das desigualdades, e iii) gestão descentralizada, participativa e transparente18. É dentro do terceiro eixo que está prevista a promoção da participação e do controle social na administração pública municipal e, concretamente, a criação do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social e de mais 6 Conselhos Temáticos; a realização de 18 Conferências Municipais Temáticas; a criação de Conselhos Participativos nas 32 subprefeituras; e a implementação de todos os conselhos gestores previstos em lei. Verifica-se, a partir disso, a relevância dada ao tema da participação, sendo um dos três pilares da gestão do ex-Prefeito Fernando Haddad.

A criação do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, que viria a ser o Conselho da Cidade (CC) foi uma das inovações neste sentido. Instituído em março de 2013, o CC se constitui enquanto “órgão de assessoramento imediato ao Prefeito na implementação do desenvolvimento econômico, social e ambientalmente sustentável da Cidade de São Paulo” (website). Segundo o seu Regimento Interno (Art. 3. III), o CC é composto por, “no máximo, 90 cidadãos e cidadãs de notória representatividade e reconhecida atuação social, econômica e ambiental, que possam contribuir para o desenvolvimento sustentável da Cidade com sua experiência e conhecimento (...)”. Importante mencionar que tais conselheiros não são eleitos pela população, mas sim indicados pelo Chefe do Executivo municipal. Reconhecendo o aspecto positivo de se criar um novo canal de comunicação entre sociedade civil e PMSP, cabe dizer que a decisão final continua sendo uma prerrogativa exclusiva da burocracia e do Prefeito, permanecendo assim “um déficit democrático no tocante ao compartilhamento do poder decisório. Ainda que a sociedade seja convocada a opinar através de conselheiros selecionados pelo Poder Executivo” (LEBLANC et al, 2016, p.15).

Outra instância participativa implementada durante a referida gestão foi o Conselho Participativo Municipal, que, conforme Decreto Nº 56.208, de 30 de junho de 2015 “é organismo autônomo da sociedade civil, (...) instância de representação da população de cada região da

17 Página oficial da Rede Nossa São Paulo: “a lei do Plano de Metas determina que todo prefeito, eleito ou reeleito, apresentará o Programa de Metas de sua gestão, até noventa dias após sua posse, que conterá as prioridades: as ações estratégicas, os indicadores e metas quantitativas para cada um dos setores da Administração Pública Municipal”. Disponível em: <http://www.nossasaopaulo.org.br/programa-de-metas>. Acesso em: 20 out. 2016.

18 Portal eletrônico da PMSP. Disponível em

<http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/planejamento/arquivos/15308- 004_AF_FolhetoProgrmadeMetas2Fase.pdf>. Acesso em: 20 out. 2016.

Cidade para exercer o direito dos cidadãos ao controle social, por meio da fiscalização de ações e gastos públicos, bem como da apresentação de demandas, necessidades e prioridades na área de sua abrangência”. Sobre a sua composição, o Artigo 5° explana que “será composto por conselheiros eleitos no território correspondente à respectiva Subprefeitura, em conformidade com a sua divisão distrital, e por, no mínimo, uma cadeira de conselheiro extraordinário para os imigrantes, no território de cada Subprefeitura”. Resumidamente, além de aumentar os espaços participativos, há sobretudo um movimento de descentralizar a participação, na lógica de territorializar os representantes da sociedade civil que atuam junto ao poder público.

Ainda seguindo esta linha, alude-se à São Paulo Aberta e ao Comitê Intersecretarial de Governo Aberto de São Paulo, instituídos via Decreto nº 54.794, em 28 de janeiro de 2014, com o objetivo de aumentar a transparência e o acesso às informações públicas, aprimorar a participação social e governança pública, fomentar a inovação tecnológica, combater a corrupção, e melhorar a prestação de serviços públicos. Na página virtual da São Paula Aberta, lê-se “a Prefeitura da Cidade de São Paulo entende que a transparência, o acesso à informação, a inovação tecnológica e a participação social são diretrizes fundamentais para o aprimoramento da gestão e das políticas públicas na cidade”19.

Por sua vez, o Plano Diretor Estratégico da Cidade (PDE) já mencionado neste trabalho, também contou com amplo processo participativo, tanto presencial, por meio de audiências públicas, seminários, oficinas e Diálogos com Segmentos, como digital, por meio de uma plataforma. Na sua revisão, foram realizadas 114 audiências públicas envolvendo 25.692 participantes (website20).

No que diz respeito a ferramentas digitais, variadas plataformas e canais eletrônicos foram instituídos com fins de promover ainda mais a participação da população em processos decisivos sobre a cidade. Alguns deles são: i) o Observatório de Indicadores da Cidade de São Paulo (que disponibiliza indicadores sobre o município bem como análises setoriais), ii) o GeoSampa (que reúne informações públicas e georreferenciadas sobre o município), iii) o Planeja Sampa (canal dedicado para participação no planejamento e orçamento do município),

19 Portal eletrônico do programa São Paulo Aberta. Disponível em <http://www.saopauloaberta.com.br/>. Acesso em: 10 jan. 2017.

20 Portal eletrônico do Gestão Urbana. Disponível em: <http://gestaourbana.prefeitura.sp.gov.br/marco-

iv) o Gestão Urbana (uma ferramenta para participação social nas políticas territoriais do município), dentre outros.

De modo geral, e considerando as iniciativas colocadas acima, pode-se dizer que a gestão 2013-2016 da Prefeitura Municipal de São Paulo investiu efetivamente na ampliação de seus espaços institucionalizados e dedicados à participação social. Segundo Paulani et al (2014, p. 128), “a assinatura pelo prefeito de São Paulo, em maio deste ano [2014] da adesão do município ao Compromisso Nacional de Participação Social, instituído pelo decreto 8.243 da presidenta Dilma, vem corroborar com esta orientação”.

No que tange o presente estudo, também houve esforço na implementação de políticas públicas com objetivo de incentivar um maior uso do espaço público urbano (JAHNEL, 2016). Efetivamente, uma série de políticas públicas municipais foram implementadas nesse período que, de alguma maneira, incidem no espaço público ou fazem referência à nova dinâmica da cidade. Programas como: Ruas Abertas, com foco no processo participativo que ocorreu para escolha das vias integrantes do Programa; o Plano Diretor Urbano, consolidado de maneira participativa e também com o direito à cidade como eixo central; a implementação de Praças Wi- Fi, com foco na ativação dos territórios subutilizados; o Carnaval de Rua, que representa a apropriação da cidade pelas pessoas, exclusivamente no espaço público, entre outras políticas. Tais programas são exemplos do direito à cidade 2.0 trazido por Bonduki acima.

Nesse sentido, as jornadas de junho de 2013 tiveram impacto forte nessas políticas, trazendo consigo um diagnóstico de que há outras demandas da sociedade civil desprovidas de um posicionamento da municipalidade.

“Do pioneirismo da periferia aos movimentos que se formaram a partir de junho de 2013, o amadurecimento de uma nova cultura urbana deixa claro que as pessoas estão aprendendo a usar a cidade a seu favor - e é bom os políticos entenderem isso” (FUJITA, 2016).21