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VI Estrutura da tese

PARTE 1 – CONVERGÊNCIA JORNALÍSTICA E ROTINAS DE PRODUÇÃO

1. CONCEITO FLUIDO DE CONVERGÊNCIA: UMA DEFINIÇÃO MULTIDIMENSIONAL

1.4 A cultura da produção nas redações convergentes

O processo da convergência, dado sua abrangência conceitual e prática, configura espaços dinâmicos da cultura da produção jornalística contemporânea reacomodando a práxis tradicional e adicionando formas distintas e complementares de pensar os fluxos informacionais nas redações integradas (online e impressa, em essência), considerando os aspectos de adoção de um perfil multitarefa dos repórteres em campo. Por isso, enfatizamos sobre essas condições, conectadas ao jornalismo móvel digital, para visualização e análise dos aspectos de complexidade envolvidos e como os dois conceitos (convergência e mobilidade) atuam no cenário jornalístico interferindo no terceiro conceito-chave da tese (rotinas produtivas) e as mudanças observadas no interior das redações na perspectiva das práticas jornalísticas com o redesenho dos perfis profissionais em cena.

Se o conceito de convergência não encontra um consenso em termos de uma estabilidade teórica em sua definição e aceitação - caminhando lado a lado com a divergência (ERDAL, 2007) -, não é diferente também na perspectiva de implantação na prática de projetos de redações convergentes (MICÓ; MASIP; BARBOSA, 2009) no que tange ao exercício da multitarefa ou da polivalência identificado nas atividades dos repórteres (SCOLARI; MICÓ SANZ; GUERE; PARDO KUKLINSKI, 2008; ZARAGOZA, 2002) dentro das experiências em andamento indicando, assim, impasses, conflitos e incertezas. Por isso, pesquisadores buscam discutir metodologias que possam melhor delimitar os estudos sobre o fenômeno (SAAD CÔRREA; CORRÊA, 2007). A cultura da produção entra em discussão nesse cenário na questão de como as rotinas se alteram para se adaptar às novas estratégias e tecnologias adotadas nos modelos. É o caso, por extensão, da comunicação móvel com as tecnologias portáteis que potencializam as organizações jornalísticas para atuar nas diversas plataformas ampliando sobremaneira a forma de produção, consumo e compartilhamento.

Diante das resistências e da complexidade do trabalho, alguns grupos de comunicação adotam estratégias de criação de cargos como de coordenador de convergência, editores de multiplataformas ou algo assemelhado. A função visa conduzir a um posto de interlocução entre as equipes, um profissional que possa se movimentar entre as duas culturas (impresso e digital) e fomentar a colaboração mútua deixando a fronteira entre online e impresso mais tênue ou inexistente. Deste modo, as tecnologias móveis fazem parte desse modelo horizontal

de distribuição e produção de conteúdos em multiplataformas devido às exigências por repórteres multitarefa que incorporem essas novas capacidades.

Este tipo de polivalência não somente se expande atualmente entre os jornalistas da imprensa, mas também entre boa parte dos demais jornalistas - de agência, televisão, rádio e internet - sobretudo quando estes são enviados por seus respectivos meios para cobrir alguma informação em um lugar remoto. O elevado custo dessas operações fazem com que as empresas exijam de seus jornalistas um retorno que justifique tal investimento, em forma de uma maior variedade de formatos informativos. A miniaturização das câmeras e gravadores digitais, assim como a simplificação dos meios de transmissão in loco, tornam hoje muito mais simples essas atividades do há uma década (SALAVERRÍA; NEGREDO, 2008, p.49).49

Esse terreno de atuação em sentido múltiplo (de funções, de distribuição, de meios diversos) apresenta níveis de tensão pela complexidade incorporada, pelas relações trabalhistas, pelos conflitos entre culturas. Com a solidificação do jornalismo digital a partir do início da década passada, as investigações sobre os impactos da convergência no campo do jornalismo colocaram em evidência as implicações na produção jornalística em termos de atuação profissional, na reestrutura das redações e na relação entre o público produtor de conteúdo e os jornalistas nas empresas de comunicação como explorado por Pavlik (2001) e outros autores que abordam o jornalismo digital (DEUZE, 2003; PALACIOS, 2003). Essas mudanças apontam para o conflito cultural dos jornalistas (do online e do impresso) como indicado em estudos a partir de Cawley (2008), García (2008), Quinn (2005), Cottle e Ashton (1999) ou como expresso por Dailey et al. (2005) que se referem a conjuntura como de “colisão de culturas” ou de "acúmulo de funções" (KISCHINHEVSKY, 2009) condicionadas pelo jornalismo convergente, em nome do qual, afirma Barbosa (2009, p.39): “Há também empresas que a adotam como modelo de negócio para redução de custos, eliminação de postos de trabalho, ou mesmo como estratégia para sobrevivência diante da crise econômica que vem atingindo a indústria de jornais mais diretamente”.

Outras pesquisas indicam as mudanças que significam reestruturação organizacional, de práticas nas redações (ERDAL, 2007; MICÓ; MASIP; BARBOSA, 2009; SALTIZIS; DICKINSON, 2008) que já vinham evoluindo com a digitalização e o surgimento da internet.

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Este tipo de polivalencia no solo se extiende hoy día entre los periodistas de prensa sino también entre buena parte de los demás periodistas – de agencia, televisión, rádio e Internet – sobre todo cuando son enviados por sus respectivos medios a cubrir alguna información en un lugar remoto. El elevado coste de esas operaciones hace que las empresas reclamen de sus periodistas un retorno que justifique tal inversión, en forma de una mayor diversidad de formatos informativos. La miniaturización de las cámaras y grabadoras digitales, así como la simplificación de los medios de transmisión in situ, hacen hoy mucho más sencillas esas labores de lo que eran una década atrás” (SALAVERRÍA; NEGREDO, 2008, p.49, tradução nossa).

Digitalização dos sistemas de produção da notícia desencadeia a supressão dos limites que tradicionalmente separaram a criação do conteúdo para meios impresso, internet, rádio e televisão possibilitando, portanto, a chamada "convergência de mídias". Sistemas digitais oferecem condições para que jornalistas compartilhem arquivos em formato de áudio, vídeo e texto com mais dinamismo, de forma a produzir conteúdos para distribuição em diversas plataformas (GARCÍA AVILÉS; CARVAJAL, 2008, p.221).50

Alguns dos fatores relacionados às consequências está a alteração do deadline sobre o jornalista (PAUL, 2008; PATERSON, 2008) à medida que são mais demandados no campo por atualizações mais constantes tendo em vista sua condição de estar sempre online e com tecnologias móveis acopladas (PELLANDA, 2008), o que se sobressai em situações de emergência através de coberturas que chamam a atenção do público e que passam a exigir essa condição de notícias de última hora (SCHNEIDER, 2007). Esse processo de produção passa a considerar com mais evidência a condição de mobilidade diante de uma estrutura móvel que permite o acesso ou produção remota facilitada pela computação ubíqua para publicação instantânea via dispositivos portáteis conectados a redes sem fio. A notícia, por esse prisma, vincula-se à instantaneidade mais fortemente (CANAVILHAS, 2007) e o material produzido entra no fluxo em caráter multimeios. Desse modo, na esfera profissional os jornalistas estendem suas funções para além das tradicionalmente estabelecidas e já catalogadas pelos estudos do newsmaking para redações de impresso e televisão, por exemplo.

No âmbito profissional, a convergência se traduz em diversas estratégias para aproveitar o material informativo, de forma que apareça em diferentes meios. Tais estratégias incluem desde formas de cooperação entre as redações multimídia integradas, onde se centralizam todas as informações, realizam-se as atribuições e se canaliza o fluxo de informações para editar as versões impressas, audiovisuais e online dos conteúdos. Acrescenta-se também que os jornalistas assumam um maior nível de polivalência com o objetivo de produzir conteúdos para diversos suportes (AVILÉS et al., 2007, p.2).51

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Digitization of news production systems facilitates the erosion of borders that have traditionally separated the creation of content for print, the internet, radio and television, thus allowing so-called ‘media convergence’. Digital systems allow journalists to share data files (audio, video and text) with increasing versatility, in order to elaborate content for the various platforms.” (GARCÍA AVILÉS; CARVAJAL, 2008, p.221, tradução nossa).

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En el ámbito profesional, la convergencia se traduce en diversas estrategias para aprovechar el material informativo, de forma que aparezca en distintos medios. Dichas estrategias incluyen desde formas de cooperación entre las redacciones de diferentes medios hasta la creación de redacciones multimedia integradas, donde se centralizan todos los mensajes, se realizan las asignaciones y se canaliza el flujo de información para editar las versiones impresas, audiovisuales y en línea de los contenidos. Se plantea también que los periodistas asuman un mayor nivel de polivalencia, con objeto de producir contenidos para varios soportes.” (GARCÍA AVILÉS et. al, 2007, p.2, tradução nossa).

Mitchelstein e Boczkowski (2009), no artigo “Between tradicional and change: a review of recent research on online news production Journalism”, analisam a produção de notícias online a partir de 2000 e apontam quatro aspectos referentes às transformações na prática jornalística: 1.Modificações no fluxo de trabalho editorial, 2.Alterações na prática de apuração, 3.Aceleração dos padrões de produção de conteúdo e 4. Convergência dos impressos, rádio, televisão e outros suportes online. Estas transformações estão contempladas, como expomos, nas abordagens sobre o jornalismo digital e na relação entre as redações online e impressa, que realçavam essas alterações a partir da concepção de um profissional multitarefa, da introdução de tecnologias móveis digitais e de uma nova forma de pensar a produção, agora mais vinculada à distribuição multiplataforma.

Essas mudanças do online significam mais pressão sobre os jornalistas no ambiente de trabalho como multitarefa, apuração e redação para diferentes formatos gerando o que Bromley (1997 apud MITCHELSTEIN; BOCZKOWSKI, 2009) vai denominar de "multiskilling", ou seja, “multiassassinato” , numa construção pejorativa sobre a atividade para várias mídias resultante da pressão no local de trabalho. "Esta pressão consiste na combinação de fluxos de trabalhos antigos e consolidados com novas demandas” (p.568).52. Portanto, acrescentam, “as notícias online aumentaram a pressão sobre os jornalistas por causa das multitarefas e as exigências por técnicas de apuração e narrativas para realização em vários formatos midiáticos” (MITCHELSTEIN; BOCZKOWSKI, 2009, p.568).53

Percebemos que novas tarefas foram acrescidas à rotina ao longo das últimas décadas (figura 7) se naturalizando como atribuições incorporadas e transformando o ambiente de trabalho de uma condição monomídia para múltiplos suportes e, naturalmente, redefinindo o perfil profissional para atuação no jornalismo. O quadro identifica que na década de 1960, o repórter tinha apenas a atribuição de repórter, mas que ao longo das décadas passou a assumir outras eventuais demandas como redator, editor, documentarista, diagramador, repórter fotográfico, locutor, entre outras. Com o jornalismo móvel digital em contexto de convergência essa realidade de concentração de tarefas aumenta exponencialmente como representação discursiva da dinâmica entre rotinas e mobilidade revelada na complexidade instaurada com a mobilidade. Esta realidade já reflete no estabelecimento dos contratos de

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"This pressure blends long-standing workflows with novel demand" (MITCHELSTEIN; BOCZKOWSKI, 2009, p.568, tradução nossa)

53 "online news has increased the pressure on journalists to carry out multiple tasks and combine news-gathering

and story-telling techniques in different media formats" (MITCHELSTEIN; BOCZKOWSKI, 2009, p.568, tradução nossa).

trabalho nas redações integradas, a exemplo de O Globo, Estadão e Folha de S.Paulo com a exigência de trabalho multiplataforma de sua equipe de jornalistas levando, consequentemente, a adoção de uma rotina com atividades polivalentes que envolve o desdobramento por habilidades na captura de formatos variados (áudio, vídeo e fotos) e a destreza com equipamentos de edição remota.

Figura 7 – Evolução das atividades realizadas por jornalistas da imprensa

Fonte: Salaverría e Negredo (2008)

De acordo com essa perspectiva, Machado e Palacios (2007) conduziram pesquisa sobre competências para os novos profissionais diante deste cenário digital, de convergência e de adaptabilidade aos novos processos e funções, cujas conclusões acerca dos resultados nesta conjuntura encaminha para um perfil profissional conectado com as novas demandas nas empresas de comunicação, conforme apontam em uma das conclusões apresentadas.

[…] Em lugar de uma super especialização, o futuro profissional do campo da comunicação deverá ser capaz de adaptar-se a uma variedade de funções decorrentes do processo de convergência nos sistemas de produção das empresas. Se este tipo de inferência estiver correto, tudo indica que o profissional mais adequado para o novo mercado terá que ter condições de compreender processos, planejar ações, interpretar cenários e, mais importante, ser suficientemente flexível para, por um lado, se adaptar e, por outro, reagir de forma criativa aos constantes ajustes dos processos produtivos porque passam as empresas de comunicação. A formação continuada do profissional de comunicação é o elemento recorrente, em todos os cenários futuros imagináveis (MACHADO; PALACIOS, 2007, p.81).

Ao mesmo tempo em que as indicações de perfil profissional caminham para essa concepção flexível, para alguns autores essa caracterização do jornalista com múltiplas funções vai acarretar uma série de consequências para a atividade e para a qualidade da notícia produzida. Jorge, Pereira e Adghirni (2009, p.85) afirmam que “o profissional de jornalismo que as empresas estão buscando é mesmo o superjornalista, o hiperjornalista”. Na citação abaixo os autores contemplam uma situação em que esta característica descrita aparece envolvendo as competências exigidas atualmente para a atuação profissional.

Do bolso direito do colete, ele retira uma câmara e começa a filmar. Algumas vezes para e saca fotos com o mesmo aparelho. No bolso esquerdo, carrega um palmtop e uma caneta. A tiracolo, um pequeno notebook. E, no cinto, outros apetrechos, como pilha e bateria, cartão eletrônico, cartão de crédito, gravador digital, binóculo e celular (JORGE; PEREIRA; ADGHIRNI, p.85, 2009).

Kischinhevsky (2009) concorda que o contexto descrito traz consequências para as rotinas dos jornalistas com o acúmulo de dispositivos e de funções como “blocos de notas, gravador, câmera fotográfica, câmera de vídeo, telefone celular de terceira geração, computador portátil...” (KISCHINHEVSKY, 2009, p.67). Desse modo, ele discorre que o processo de convergência altera, significativamente, a composição do trabalho tendo em vista que “com um mercado de trabalho redesenhado pelas novas TICS e pela precarização, ganha espaço o discurso da inevitabilidade da convergência e da necessidade de se investir em profissionais com múltiplas habilidades (multiskilled).” (p.67). Em meio à crise das empresas jornalísticas (SANT´ANNA, 2008; CHAPARRO, 2004; MEYER, 2007) a convergência representou um novo ponto de discussão para os modelos de negócios, a atividade jornalística e todo o entorno que se relaciona com as mudanças imputadas nas redações com as tecnologias emergentes54 e as relações de trabalho em mobilidade.

No campo mais específico do ofício de jornalista, a possível combinação de ferramentas de apuração também produz um inquietante desafio. Os novos meios convergentes demandam notícias em forma de texto, fotografia, vídeo e áudio. A digitalização de gravadores e câmeras permite a mescla dessas linguagens no ato da apuração pelo repórter. A prática de alguns meios digitais de encarregar seus repórteres de voltar para a redação com conteúdos em mais de uma linguagem deu origem à expressão “jornalista de mochila”, e a questionamentos sobre a possível queda de qualidade na apuração jornalística, dada a sobrecarga de tarefas e de

54Esta processualidade se apresenta com mais ênfase em situações de emergência, onde também atuam os chamados “Repórteres de Ocasião” (AZAMBUJA, 2009) centrados em cidadãos presentes em cenas de conflitos e de grande impacto em termos de noticiabilidade.

preocupação com aspectos técnicos, por mais simplificadas que sejam as operações dos novos aparelhos digitais (SANT´ANNA, 2008, p.23).

Todavia, as novas relações com um público em mobilidade e, consequentemente, com exigências por atualizações contínuas também completam este quadro de modificações e, neste sentido, reforça-se a compreensão de que para um melhor atendimento aos preceitos do jornalismo baseado em processo de apuração aprofundado é necessária uma melhor estratégia de condução do trabalho com o aporte da tecnologia móvel de forma a favorecer a produção de forma qualitativa. Como ilustração da conjuntura, Erdal (2009) realizou uma pesquisa que visava capturar as transformações nas redações e como os profissionais se adaptam ao cenário. A sua abordagem foi estabelecida a partir da noção de processo cross-media e utilizou como parâmetro as redações do grupo NRK55, da Noruega. Para o pesquisador ocorria uma

transposição de conteúdos ou uma cultura da (re)produção na distribuição cross media adotada no grupo de comunicação. Neste sentido, ele salienta que “o termo jornalismo cross

media enfatiza a relação entre as diferentes plataformas de mídia. Este conceito descreve

comunicação ou produção onde dois ou mais plataformas midiáticas estão envolvidas no processo de integração” (ERDAL, 2009, p.216).56 Sob esse prisma, Erdal conclui que o que verificou foi apenas “crescente reprodução de notícias e as implicações para as rotinas de trabalho diário dos repórteres nas redações convergentes” (ERDAL, 2009, p.216).57

Puijk (2008), em um estudo comparativo entre 1980 (primeiro estudo, redação analógica) e 2003 (segundo estudo, redação digital) no mesmo grupo NRK, o pesquisador identificou que o processo de convergência alterou significativamente o ambiente de trabalho e o perfil profissional. Nesse segundo momento, a redação operava com computadores e conexão de internet e dentro da lógica de digitalização e convergência jornalística, de modo que a pressão por produtividade era mais perceptível devido ao processo de atualização constante. Além disso, as funções foram alteradas, além da reestrutura física da redação para se adaptar aos modelos implantados e baseados em tecnologia. “A crescente competição, combinada com mudanças na tecnologia dos meios resultou, entre outros aspectos, no aumento da pressão na produtividade, mudanças nas divisões do trabalho e reorganizações

55 Disponível em http://www.nrk.no/ acesso em 22 abril 2010

56The term cross-media journalism, emphasizing the relationship between different media platforms. This

concept describes communication or production where two or more media platforms are involved in an integrated way.” (ERDAL, 2009, p.216, tradução nossa).

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“Increased reproduction of news, and its implications for the daily work routines of reporters in a converged newsroom.” (ERDAL, 2009, p.216, tradução nossa)

mais frequentes” (PUIJK, 2008, p.31).58 A introdução de novas tecnologias de trabalho demarcou a diferença entre a redação do segundo estudo em relação ao primeiro apontando algumas dessas ferramentas adotadas como podcast, celulares e PDA’s, vídeos em transmissão streaming com processo de distribuição multiplataforma.

Por outro lado, outras pesquisas indicam também que as redações convergentes podem favorecer a qualidade da notícia produzida. Estudos de caso de Verweij (2009) em redações convergentes da África do Sul indicam que a mudança foi positiva em termos de oferecer mais oportunidade de narrativa para o público e que a mudança foi menos tecnológica. "Redações convergentes oferecem mais oportunidades para o público ser informado e se envolver na matéria e permite ao repórter e editor mais ferramentas integradas para a narrativa da notícia" (VERWEIJ, 2009, p.75).59 Entretanto, uma questão está ainda no estabelecimento

do modelo adotado de convergência que pode interferir nas mudanças. Barbosa (2009), em estudo dos processos de convergência nas redações, afirma que os modelos brasileiros ainda não estão bem definidos e os projetos estão mais vinculados à distribuição multiplataforma que necessariamente ao trabalho cooperativo, que poderia favorecer a qualidade da notícia.

Para Singer (2008) as consequências dessas mudanças impactam também a pequisa e sua condução tendo em vista que o reposicionamento (técnico, funções e fluxos de produção) das redações indica a necessidade de redirecionamento metodológico e de estratégias para exploração das novas nuances trazidas pela convergência jornalística. “A convergência das redações oferece um estudo de caso para o valor do estudo de caso: é um tema adequado para exploração através de métodos etnográficos que podem ser cruzados e combinados com observação participante, entrevistas em profundidade, análises de documentos e pesquisas de sondagens” (SINGER, 2008, p.157).60 A convergência jornalística apresenta desafios e oportunidades para a prática nas redações na expressão das rotinas mais flexíveis visando a adaptação à conjuntura menos estável diante de processos ampliados internamente e externamente com a atuação em mobilidade através do uso de computadores portáteis, gravadores, câmeras e outros instrumentos incorporados de forma acelerada.

58 "Increased competition, combined with changes in (media) technology, has resulted in, amongst others,

increased pressure on productivity, changes in divisions of labor and frequent reorganizations" (PUIJK, 2008, p.31, tradução nossa)

59 “Converged newsroom offer more opportunities for the public to be informed and involved in a story, and

offer the reporter and editor more integrated tools to tell the story” (VERWEIJ, 2009, p.75, tradução nossa)

60 "Newsroom convergence offers a case study for the value of the case study: It is an ideal subject to explore

through ethnographic methods that can confortably mix and match participant observation, in-depth interviews, documents analysis, and subject surveys" (SINGER, 2008, p.157, tradução nossa).