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k) Agência Reuters

4.3 Comunicação ubíqua

A mobilidade atual está vinculada à noção de computação ubíqua e pervasiva que apresenta um quadro onde a tecnologia hipoteticamente estaria em todos os lugares e embutidas nos dispositivos eletrônicos. Os conceitos de computação ubíqua (WEISER, 1991; BELL; DOURISH, 2006) e pervasiva (NIEUWDORP, 2007) surgiram na década de 1990 como formas de denominar o estágio da computação na interação com o espaço urbano e a abrangência da digitalização no que hoje se denomina “internet das coisas” (STERLING, 2005; KRANENBURG, 2008). Para Weiser a computação ubíqua significa as tecnologias desaparecendo nas coisas, se tornando invisível devido ao grau de penetrabilidade. “Estas máquinas estarão interconectadas numa rede ubíqua” (WEISER, 1991, p.2). 187 A comunicação móvel pode ser apontada como um desdobramento deste modelo de computação ubíqua e pervasiva com novas práticas a ela associada (KATZ, 2008; CASTELLS, 2006) de forma a constituir uma nova espacialidade.

As tecnologias móveis, os sensores invasivos (tipo RFID) e as redes de acesso sem fio à internet (Wi-Fi, Wi-MAX, 3G) criam a computação ubíqua da era da internet das coisas e fazem com que o ciberespaço “desça” para os lugares e os objetos do dia a dia. A informação eletrônica passa a ser acessada, consumida, produzida e distribuída de todo e qualquer lugar, a partir dos mais diferentes objetos e dispositivos. O ciberespaço começa assim a “baixar” para coisas e lugares, a “pingar” no “mundo real”. A metáfora do download mostra bem a atual ênfase da localização e da mobilidade física e informacional de pessoas, objetos e informações, ressaltando relações espaciais concretas nos lugares (públicos e privados). O download do ciberespaço cria uma nova territorialização do espaço, a territorialidade informacional. O lugar não é mais um problema para acesso e trocas de informação no ciberespaço “lá em cima”, mas uma oportunidade para acessar informação a partir das coisas “aqui em baixo” (LEMOS, 2009, p.92).

Com um enfoque arqueológico comparável a de Castells (1999) que situa a década de 1970 como a do desenvolvimento das tecnologias da informação e comunicação (que

187 “These machines and more will be interconnected in a ubiquitous network” (WEISER, 1991, p.2, tradução

culminaria na estrutura para o surgimento da sociedade em rede) através de um acelerado desenvolvimento da micro-eletrônica, fibra ótica, podemos também fazer o mesmo com as tecnologias da mobilidade. Neste mesmo sentido, podemos apontar a década de 1990 e a primeira década do século XXI como potencializadoras do desenvolvimento das tecnologias móveis digitais com os smartphones, os celulares digitais, câmeras digitais, notebooks, tablets e a expansão das redes sem fio (GPRS, Wi-Fi, WiMax, 3G e 4G).

Temos nessa situação uma espécie de descontinuidade (GIDDENS, 1991; MCLUHAN, 2005) com um ritmo acelerado do desenvolvimento de tais tecnologias. Lemos (2005) denomina o contexto de “era da conexão” com os computadores coletivos móveis se beneficiando da computação ubíqua e pervasiva (WEISER, 1991) e constituindo territórios informacionais (LEMOS, 2009). Sobre esse processo de informatização, Lemos (2005) situa a emergência da comunicação móvel na localização dos computadores pessoais (PC) na década de 1970, o computador coletivo (CC) nas décadas de 1980 e 1990 e dos computadores coletivos móveis (CCM) no século XXI. "Essa conexão se dá hoje com o suporte dos celulares, PDAs, smartphones e demais aparelhos de computação portáteis. Esses dispositivos estão imersos nas redes wireless que se expandem rapidamente em coberturas e velocidade de banda" (PELLANDA, 2009, p.13). A evolução das tecnologias sem fio da telefonia188 permitiu essa expansão da ubiquidade de acesso (figura 40), principalmente com as redes de alta velocidade como 3G e agora o 4G.

As conexões sem fio e a ampliação do conjunto de dispositivos móveis com os tablets e

e-readers apontam para a “era pós-PC” que consolida a noção de acesso remoto e produção

via computadores portáteis a partir da estabilidade de aplicações que emulam e potencializam as formas de trabalho em diversas etapas podendo-se manter em mobilidade e conectado através de redes 3G ou 4G189 que vem sendo apropriada por conglomerados de comunicação

em várias parte do mundo para a prática do jornalismo móvel digital e da comunicação móvel no espectro mais amplo.

188

Santaella (2008) classifica a “comunicação móvel”, tendo por base celulares, smartphones e PDA's, como a quinta geração das tecnologias da comunicação influenciada pelas tecnologias móveis; antes, a quarta geração, se constituiria das redes teleinformáticas, partindo da cibercultura, computadores, computadores pessoais; a terceira geração, a chamada “cultura das mídias”, apresentaria como representação a tv a cabo, o vídeo cassette,

Walkman, fax entre outros artefatos da decada de 1980; a segunda geração, “eletro-eletrônica”, seria composta

pelo radio e televisão; enquanto que a primeira geração das tecnologias da comunicação seria a “eletro- mecânica” a partir da foto, jornal, cinema, telegráfo.

189 A tecnologia de terceira ou quarta geração é a atribuição para as redes de alta velocidade para dispositivos

móveis visando potencializar as atividades de upload e download ou de transmissão por streaming (PARDO KUKLINSK ET AL., 2008; SRIVASTAVA, 2008)..

Figura 40 – Evolução das conexões de telefonia móvel até o 3G

Fonte: SRISVASTAVA, Lara. In: KATZ, James E. Handbook of mobile communication studies. Cambridge: The Mit Press, 2008

As experiências com transmissão ao vivo e produção jornalística em mobilidade se dimensionaram no país com a implantação das redes de alta velocidade 3G e outros dispositivos portáteis utilizados como conexão e plataforma móvel em complemento ou contraponto mesmo ao pouco alcance das redes Wi-Fi190 via cobertura dos hotspots191. A

chamada “era pós-PC” se beneficia da chamada computação em nuvem implementada por diversas corporações como Apple, Amazon e Google para o acesso remoto de arquivos liberando o espaço de memória interna dos gadgets levando estas condições para o trabalho com fluxos diretamente da rede com o uso das tecnologias da mobilidade no cenário.

190 O Grupo de Pesquisa em Cibercidades do Programa de Programa de Pós-Graduação em Comunicação e

Cultura Contemporâneas da Universidade Federal da Bahia – UFBA, em Salvador – BA, Brasil, vem realizando desde julho de 2007 um mapeamento dos hotspots da cidade de Salvador e identificou que uma parte da rede sem fio Wi-Fi está centralizada em hotéis, em shoppings, universidades e centros comerciais com restrições de acesso para os usuários em deslocamento pelo espaço urbano. Neste sentido há dificuldades para encontrar conexões abertas para acesso à internet. O projeto denominado de "Wi-Fi Salvador" (http://blog.ufba.br/wifisalvador/) é pioneiro no país e se propõe a desenvolver estudos e caracterização de novas práticas em torno do acesso sem fio nos respectivos hotspots e a relação com o espaço urbano.

191 É necessário pontuar que parte deste fenômeno emergente na mídia brasileira em torno do 3G se explica pela

conjuntura de que a infraestrutura de wireless ainda é limitada e centralizada em hotspots de shoppings, aeroportos, hotéis e com uma forte política de fechamento das redes por parte de empresas e usuários, como mencionado na nota anterior.