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VI Estrutura da tese

PARTE 1 – CONVERGÊNCIA JORNALÍSTICA E ROTINAS DE PRODUÇÃO

1. CONCEITO FLUIDO DE CONVERGÊNCIA: UMA DEFINIÇÃO MULTIDIMENSIONAL

1.1 Convergência: (in) definição polissêmica e o sentido para o jornalismo

O jornalismo contemporâneo tem vivenciado um conjunto de transformações de natureza estrutural que perpassa as práticas jornalísticas (apuração, produção e distribuição de conteúdos) e, consequentemente, a própria relação com o público (interatividade, participação na produção, redes sociais) e novas feições para o produto jornalístico (a notícia, as narrativas), além de redefinições nos modelos de negócios das organizações jornalísticas (multiplicação de suportes, integração de redações, fusões, surgimento de plataformas móveis). A tecnologia e as redes digitais estão no cerne da expressão destas processualidades reconfigurantes. O processo de convergência jornalística em andamento nas redações com a produção multiplataforma ou cross-media14 é parte significativa deste cenário e vincula-se diretamente à questão da mobilidade dentro do chamado jornalismo móvel, numa relação estreita com as redações integradas15 (SALAVERRIA; NEGREDO, 2008; SALAVERRÍA, 2010), com as tecnologias móveis digitais exercendo um papel pertinente enquanto plataformas de produção ou de consumo de notícias.

O conceito de convergência no jornalismo é herança do uso em outras áreas como na biologia, na economia, na tecnologia. Gordon (2003) mostra que o termo foi primeiro empregado no “mundo da ciência e da matemática” entre os séculos XVII e XVIII passando pela biologia evolucionista de Charles Darwin em a “origem das espécies” e, no século XX,

14Alguns autores como Erdal (2011) diferencia a “comunicação cross-media” de “produção cross-media” tendo em vista que no primeiro caso pode ocorrer apenas a distribuição multiplataforma, enquanto que no segundo caso o nível de envolvimento no processo de produção em todas as escalas é mais evidente. García Avilés e Carvajal (2008) ainda diferenciam no processo de convergência dois modelos de redação: integrado e cross-

media, que para os autores teriam sistemas distintos de atuação.

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As redações integradas são definidas por Salaverría e Negredo (2008, p.127) como a junção de duas ou mais unidades redacionais, principalmente online e impressas. Para o controle de fluxo, as decisões editoriais direcionam-se para o mesmo núcleo redacional através da infraestrutura tecnológica como equipamentos e sistemas gerenciadores de conteúdo. Os modelos de redação integrada se apresentam de forma distinta dependendo da cultura do país, da história da empresa e da cultura jornalística. Os autores descrevem duas formas de convergência: convergência pela escala midiática (convergência a dois – impresso e online; convergência a três – impresso, online e TV; convergência a quatro – impresso, online, TV e rádio) e convergência pela escala geográfica (convergência em meios de comunicação nacionais; convergência em meios de comunicação locais e regionais).

aparece na ciência política. Para Gordon, entre as décadas de 1960 e 1970, utilizava-se o termo no contexto tecnológico com os computadores e o processo de digitalização. Negroponte (1995) na década de 1970 apontava a proximidade da convergência tecnológica com mass media originando-se pela expansão telemática ou pelas tecnologias da informação e comunicação (TICS) deixando tênue as fronteiras entre os meios e gerando novas correlações, conforme defende Quandt e Singer (2009, p.131):

“Convergência” tem sido usada para descrever a diluição das fronteiras entre as comunicações móvel e fixa; emissores, telefone, celular e as redes domésticas; meios, informação e comunicação; e mais ainda, telecomunicações, meios e tecnologia da informação16

Negroponte foi um dos primeiros a utilizar o termo ainda na década de 1970, mais precisamente em 1979 durante uma conferência quando advogava que a tecnologia e o setor da indústria de informação e entretenimento estariam em processo de junção beneficiados por esses fatores para estruturação da “convergência midiática”. Esta concepção aparece em Pool (1983) quando no seu célebre livro “Technologies of freedom” disseminou o conceito de “convergência de modos” vinculado à distribuição eletrônica de conteúdos de mídias impressas (jornais, revistas, livros), rádio e tv onde a fronteira entre um meio e outro seria transparente com os modos de comunicação17 desenvolvidos separadamente convergindo através da matriz digital e, portanto, “[...] A tecnologia eletrônica está trazendo todos os modos de comunicação para dentro de um grande sistema” 18(POOL, 1983, p.28). Esse sistema ou ecossistema midiático giraria em torno da digitalização que permitiria o fluxo de conteúdos de um meio para o outro eletronicamente.

Neste primeiro momento, Pool ampliava a visibilidade do termo partindo da visão estabelecida anteriomente por Negroponte na década de 1970 e, mais à frente, no seu livro “A Vida Digital” (1995) em que construiu o discurso da digitalização na oposição analógico- digital com a noção de “átomos” e “bits”. Pool (1983), no entanto, enxergava a convergência como expressão da fusão midiática que começava a ocorrer naquele momento e que

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“Convergence” has been used to describe the blurring of boundaries between fixed e mobile communications; broadcast, telefone, mobile, and home networks; media, information, and communication; and most notably, telecommunications, media, and information technology (QUANDT; SINGER, 2009, p.131, tradução nossa).

17 Poll (1983) comenta sobre as três principais técnicas desenvolvidas de forma separada na indústria: telégrafo e

telefone, telefone e rádio, impressos e eletrônicos. A tecnologia eletrônica permitiu a convergência desses modos de forma a estabelecer uma cooperação efetiva entre esses meios técnicos para distribuição de conteúdos.

18 “[...] eletronic technology is bringing all modes of communication into one grand system” (POOL, 1983, p.28,

sinalizava o surgimento de novos fenômenos como descritos por Santaella (1996) com seu conceito de “cultura das mídias”19 e, na sequência, por Lévy (1999), Bell (2001), Lemos (2002, 2003) Bell et al. (2004) com a “cibercultura” enquanto fenômeno contemporâneo estruturando as bases da sociedade vigente com as janelas abertas do ciberespaço (LEMOS; PALACIOS, 2001; GIBSON, 2003).

As teorias da cibercultura são importantes para situar o processo de convergência pelo viés das dinâmicas do ciberespaço e dos novos dispositivos tecnológicos que se transformaram em plataformas para produção, distribuição de informações e apropriações pelas redes digitais. Tanto Lévy (1999) e Lemos (2002) quanto Rüdiger (2011) fincam as raízes da cibercultura para além do seu aspecto tecnológico. Todavia propõem uma análise com fundo histórico em seu surgimento por meio das tecnologias digitais via microeletrônica e das manifestações de contracultura da década de 1970. Além de herdeira de uma noção da cibernética da década de 1950, o termo ciberespaço de Gibson (2003) influenciou diretamente na concepção de cibercultura. No livro “Neuromancer” de Gibson (2003, p.68), ciberespaço aparece como sendo:

Uma alucinação consensual vivida diariamente por bilhões de operadores autorizados, em todas as nações, por crianças aprendendo altos conceitos matemáticos...Uma representação gráfica de dados abstraídos dos bancos de dados de todos os computadores do sistema humano. Uma complexidade impensável. Linhas de luz abrangendo o não-espaço da mente; nebulosas e constelações infindáveis de dados. Como marés de luzes de cidade [...].

Lévy (1999, p.17) define cibercultura a partir dessa noção de Gibson ao afirmar que trata-se de “o conjunto de técnicas (materiais e intelectuais), de práticas, de atitudes, de modos de pensamento e de valores que se desenvolvem juntamente com o crescimento do ciberespaço”. André Lemos (2002, p.15-16), no livro “Cibercultura – Tecnologia e Vida Social na Cultura Contemporânea”, defende que:

A cultura contemporânea, associada às tecnologias digitais (ciberespaço, simulação, tempo real, processos de virtualização, etc.), vai criar uma nova relação entre a técnica e a vida social que chamaremos de cibercultura. [...] A tese de fundo é que a

19 Santaella (2003) coloca que o que ela compreendia como “cultura das mídias” seria uma noção intermediária

entre meios de massa e o conceito de cibercultura. Na sua argumentação, os novos hábitos de consumo e o surgimento de modalidades de distribuição e consumo de informação e entretenimento como a tv a cabo, videocassete, os jogos, os walkmans e outros meios na década de 1980 representavam uma mudança paradigmática na paisagem midiática e na proliferação de mídias de recepção e de práticas.

cibercultura resulta da convergência entre a sociabilidade contemporânea e as novas tecnologias de base microeletrônica.

Portanto, a convergência midiática se transformou a partir destes elementos definidores da própria cibercultura que elevaram a relação entre tecnologia e sociedade no mundo contemporâneo flexibilizando os processos de criação, dos quais o jornalismo também convive com essa confluência das tecnologias digitais em sua prática e processualidades.

Um segundo momento crucial nesse contexto de convergência está concentrado na década passada deste século XXI quando foi delimitado um recorte mais fechado com a definição operacional para “convergência jornalística” (HUANG; RADEMAKERS; FAYEMIWO; DUNLAP, 2004; QUINN; FILAK, 2005; SALAVERRÍA; NEGREDO, 2008; BARBOSA, 2009; GARCIA AVILÉS, 2006). O conceito assim colocado atribui um entendimento que avança para além do aspecto tecnológico e confere novos sentidos e, ao mesmo tempo, um stricto sensu para o campo do jornalismo evitando a abrangência temática e epistemológica que o termo adquiriu ao longo da sua história, como vimos, com sua vertente polissêmica.

Jornalismo convergente refere-se às práticas de reportagem para multiplataformas midiáticas tais como televisão, jornal, internet e rádio. Um repórter poderia praticar jornalismo convergente de forma voluntária ou quando requerido por sua organização jornalística proprietária de múltiplas plataformas ou que atua de forma cooperada com outras empresas de plataforma midiática (HUANG; RADEMAKERS; FAYEMIWO; DUNLAP, 2004, p.73).20

É esse ponto que nos interessa com mais proximidade para a tese, com a convergência sendo posta como “uma forma de jornalismo” (QUINN, 2005) em expansão com a noção de multiplataformas e uma articulação dentro dos limites da prática numa perspectiva contextual de sua evolução na relação com a técnica e a tecnologia dos meios, entrelaçadas às ocorrências das novas rotinizações das atividades, nas quais o jornalismo em condições de

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Converged journalism refers to the practices of reporting news for multiple media platforms such as television, newspaper, the internet and radio. A reporter could practice converged journalism either voluntary or as required by his or her company that either owns multiple media platform or cooperates with a company that owns another media platform” (HUANG; RADEMAKERS; FAYEMIWO; DUNLAP, 2004, p.73, tradução nossa).

mobilidade se inclui. “Convergência é uma forma evolucionária e revolucionária de jornalismo que emerge em várias partes do mundo” (QUINN, 2005, p.3).21

Nesta pesquisa, o conceito que adotamos para compreensão do cenário consolida-se a partir de Sádaba et al.(2008), que defendem uma perspectiva de convergência no jornalismo por meio de quatro dimensões principais: tecnológica, empresarial, profissional e de conteúdos22. Estes aspectos perpassam, de fato, pelas principais questões que relacionam convergência e jornalismo diante das reestruturações em voga. O tecnológico refere-se à infraestrutura, principalmente das redes digitais, que possibilita o tráfego de dados (voz, áudio, imagens). As redes de alta velocidade ampliam as condições de distribuição de conteúdos, os

softwares, hardwares e outros artefatos estão inseridos nesta categoria; o empresarial indica

as fusões de empresas ou aquisição de outras, além de questões envolta com os modelos de negócios; o aspecto de convergência profissional trata-se das estratégias de trabalho multitarefa com os repórteres polivalentes que atuam com diversos equipamentos multimídia para exploração do material em virtude de um melhor aproveitamento para escoamento por multiplataformas dentro das redações integradas; a convergência de conteúdos empreende uma modificação dos conteúdos, com novas formas de narrativas, adaptações e iniciativas mais enfáticas de uso de multimídia, instantaneidade, interatividade, participação da audiência e o trato dos diferentes formatos.

O conceito de “convergência jornalística” refere-se a um proceso de integração de formas de comunicação com atuação tradicionalmente separadas que afeta as empresas, tecnologias, profissionais e audiência em todas as fases da produção, da distribuição e do consumo de conteúdos de qualquer tipo. Este processo ocasiona profundas implicações para as estratégias empresariais, as mudanças tecnológicas, a elaboração e distribuição de conteúdos em distintas plataformas, no perfil profissional dos jornalistas e nas formas de acesso a conteúdos (AVILÉS et. al, 2007, p.2).23

21 "Convergence is a revolutionary and evolutionary form of journalism that is emerging in many parts of the

world" (QUINN, 2005, p.3, tradução nossa). 22

Destas quatro dimensões, nos interessa mais diretamente a convergência profissional por se relacionar mais objetivamente com a produção em condições de mobilidade nas redações integradas com distribuição de conteúdos para distintas plataformas dentro da consideração da multitarefa, de modo que as tecnologias móveis digitais atravessam o contexto dentro do processo de convergência no jornalismo nas referidas dimensões enquadradas.

23El concepto de “convergencia periodística” alude a un proceso de integración de modos de comunicación tradicionalmente separados que afecta a empresas, tecnologías, profesionales y audiencias en todas las fases de producción, distribución y consumo de contenidos de cualquier tipo. Dicho proceso acarrea profundas implicaciones para las estrategias empresariales, los cambios tecnológicos, la elaboración y distribución de contenidos en distintas plataformas, el perfil profesional de los periodistas y las formas de acceso a los contenidos (SÁDABA et. al, 2008, p.2, tradução nossa)

Nota-se que Jenkins (2001, 2004, 2005, 2009) definiu sua construção argumentativa em favor do sentido multidimensional defendido acima por García Avilés (2007) para pensar convergência24 no cenário do jornalismo. A partir do artigo “convergence? I Diverge” (2001), da revista Technology Review, Jenkins considerava demasiado pesado o emprego do termo numa perspectiva apenas tecnológica e, assim, contra argumentou para convergência enquanto “processo”, ao qual se vincularia cinco sentidos demarcadores: tecnológico,

econômico, social ou orgânico, cultural e global.

Os cinco processos de convergência elencados são tratados de forma confluentes. A

convergência tecnológica, por exemplo, seria responsável pelo fluxo entre multiplataformas

através da viabilidade do formato digital de áudios, vídeos e imagens permitidos pela digitalização do “átomos para bits” dos meios existentes. Portanto, a relação entre os meios ocorreria via informação digital; convergência econômica se daria pela fusão de grupos de mídias ou indústria de entretenimento como o exemplo citado entre a AOL e Time Warner, em 2000, quando unificaram seus negócios na junção entre a “velha” e a “nova mídia” numa mesma operação. Esta perspectiva permitiria sinergia para a produção baseada na narrativa transmídia; Convergência orgânica ou social perpassaria uma mudança de hábito de consumo com a incorporação da multitarefa para “navegar pelo novo ambiente de informações”. Ou seja: atividades seriam realizadas com o uso simultâneo de diversas mídias (televisão, videogame, computador); Convergência cultural é a base do discurso de Jenkins e se constituiria numa gama de explorações que vão além do aspecto tecnológico. O processo envolveria com mais ênfase a participação do público com possibilidades de não apenas consumir, mas personalizar, anotar, apropriar-se, remixar e compartilhar o conteúdo. É nesta perspectiva que a narrativa transmidiática encontraria seu eco com a distribuição multiplataforma; e, por último, convergência global, colocado pelo autor como a circulação pelas redes de produtos como música e cinema numa aproximação da “aldeia global” de McLuhan.

Estas cinco dimensões processuais apresentadas por Jenkins delimitam um argumento que procura estabelecer um caráter cultural atravessando as diversas estratégias de

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By convergence, I mean the flow of content across multiple media platforms, the cooperation between multiple media industries, the search for new structures of media financing which fell at the interstices between old and new media, and the migratory behavior of media audiences who would go almost anywhere in search of the kinds of entertainment experiences they wanted. Convergence is a word that manages to describe technological, industrial, cultural, and social changes, depending on who's speaking and what they think they are talking about. You've probably been hearing a lot about convergence lately. You are going to be hearing even more” (JENKINS, 2005, p.2).

disseminação e apropriação. É uma concepção que se contrapunha às posições correntes até então e foi a base para seu livro “cultura da convergência” (2009) em que explicita o conceito com essa posição divergindo, portanto, da ideia de convergência pelo viés tecnológico da “caixa-preta”, ou seja, de concentração em um único aparelho de diversas funções, como procura refutar na sua argumentação:

Meu argumento aqui será contra a ideia de que a convergência deve ser compreendida principalmente como um processo tecnológico que une múltiplas funções dentro dos mesmos aparelhos. Em vez disso, a convergência representa uma transformação cultural, à medida que consumidores são incentivados a procurar novas informações e fazer conexões em meio a conteúdos de mídia dispersos (JENKINS, 2009, p.29-30).

O conceito de convergência nos leva, igualmente, a refletir sobre as novas dinâmicas do jornalismo e sua cultura de produção com a reestrutura das redações, diferentes ações estratégicas para a distribuição de conteúdos multiplataformas e o surgimento de formatos jornalísticos que demandam esse entrecruzamento midiático da convergência (QUANDT; SINGER, 2009), especialmente com a ampliação do espectro midiático com as plataformas móveis. A tese de Jenkins (2009, p.30) é de que “a convergência não ocorre por meio de aparelhos, por mais sofisticados que venham a ser. A convergência ocorre dentro dos cérebros de consumidores individuais e em suas interações sociais com outros”. Essa apropriação dos recursos para o jornalismo está na proposta defendida por cuja ancoragem se encaixa na noção de “convergência de modos” que Pool (1993) descreveu projetando para o futuro dos meios de comunicação. Bell et al.(2004, p.26) retomam o conceito com a mesma visão empregada por Jenkins de oposição à caixa-preta como metáfora de concentração da convergência numa única tecnologia procurando descrever os nós que são construídos em torno do termo e de sua operacionalidade.

Um termo atual [convergência] em uso para descrever a fusão de um conjunto de telecomunicações e tecnologia da informação ou aplicações multimídia. A televisão digital com centenas de canais que ofertam acesso incorporado à internet e às aplicações disponíveis nos computadores residenciais é um exemplo da convergência. Convergência significa a possibilidade de diversas partes da tecnologia se comunicarem entre si, em vez de simplesmente transformar tudo dos diversos dispositivos dispersos numa "caixa". Convergência tornou-se possível como tecnologias tais como gravações baseadas em fitas magnéticas ou transmissão de televisão analógica quando todos esses aspectos foram substituídos pelas tecnologías digitais. Esta condição foi facilitada pelo surgimento de redes que puderam distribuir diversas formas de conteúdo digital (de telecomunicações para

games, filmes, por meio do acesso à rede e às aplicações disponíveis "sob demanda" para as residências ou para os dispositivos portáteis (BELL et al., 2004, p.26).25

Pode-se afirmar que este ponto de vista tanto de Jenkins quanto de Bell desdobra um juízo de valor pertinente para o fenômeno da convergência no jornalismo, apesar de eles tratarem o tema num sentido mais amplo e voltado para a indústria da informação de uma forma geral. Estudiosos como Quandt e Singer (2009), ampliando o escopo acima, colocam convergência como uma palavra da moda que se não for devidamente esmiuçada pode desviar o entendimento de sua aplicação para o jornalismo em razão de sua abrangência terminológica. Sendo assim, haveria um desvio do encaminhamento para especificidades como as mudanças na redação e nas rotinas que podem lograr caracterizações e atribuições para análise no jornalismo.

A palavra da moda, "convergência", tornou-se um sinônimo para a velocidade dos desenvolvimentos em tecnologia de mídias, mercados, produção, conteúdo e recepção. O termo, de forma abrangente, refere-se à fusão de tecnologias de meios distintos, principalmente baseado nos processos de digitalização, contudo indo além do surgimento da tecnologia em si. Pesquisadores de jornalismo têm abordado o tema essencialmente quanto à "convergência de redação", especificamente no tocante às mudanças nas rotinas de trabalho e nas estruturas organizacionais conectadas para a produção de conteúdos para diferentes plataformas. Uma dessas perspectivas, mais recentemente, foco das investigações, ampliou este significado do termo para o enquadramento da convergência das funções dos jornalistas e do público dentro de um contexto de rede digital" (QUANDT; SINGER, 2009, p.130).26

Esse panorama construido em torno da convergência é intrínseco ao desenvolvimento do jornalismo digital como completude do sistema de meios de comunicação para o século

25A term currently in use to describe the coming together of a range of telecommunications and information technology or multimedia applications. A digital television with hundreds of channels which also offers inbuilt Internet access and the applications now available on home PCs is an example of convergence. Convergence is