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k) Agência Reuters

3.7 Jornalismo em tablets e smartphones: emissão e difusão

O jornalismo móvel digital em termos de produção de conteúdos em mobilidade também se relaciona ao aspecto de difusão de conteúdos para celulares, que começou de forma efetiva em 2000 no Brasil, como relata (CARMO, 2008; FERREIRA, 2005), com as iniciativas com os canais Wap, que devido as suas limitações estão bem no primórdio do que se tem hoje em termos de conteúdos para celulares (via internet móvel e aplicativos). Três grandes grupos de comunicação tiveram suas incursões neste campo como Grupo Folha,

Grupo Abril e Grupo Estado de São Paulo. A Folha teve sua primeira versão para Wap em

março de 2000 com o lançamento do FolhaWap com a distribuição de conteúdos basicamente oriundos de seu espelho Folha Online e alguns outros serviços básicos. O Estadão também lançou sua versão em 2000, acompanhado pelo Grupo Abril, que foi além e estruturou uma unidade para cuidar especificamente dessa demanda com o Abril Sem Fio que reunia os conteúdos das diversas revistas do Grupo. Até a metade da década passada, o formato Wap funcionou de uma forma limitada e com exploração limitada da potencialidade da Internet móvel. A partir de 2006 em diante, com a banda larga móvel e o lançamento de smartphones, é que se verificou uma evolução do consumo de notícias em dispositivos portáteis. Daí em diante os formatos também vêm mudando como do Wap para Mobi e para sistemas operacionais específicos como IOS, com a chegada do iPhone em 2007, e do Android posteriormente.

Além da banda larga móvel e dos novos dispositivos que surgiram durante esse período deve-se colocar como relevante o aperfeiçoamento das interfaces com o touch screen. Do formato Wap estes portais de conteúdo móvel introduziram o envio de mensagens, o SMS, para os usuários com notícias curtas como resultados de jogos de futebol, economia, política e outros canais específicos de acordo com a seleção do usuário através da contratação do serviço. O SMS foi incorporado nos celulares a partir de 1992 e no Brasil ganhou a denominação de torpedos. Além do uso de SMS para os usuários, as mensagens de textos ou do recurso MMS (mensagem multimídia, a partir de sua introdução em 2001) começaram a ser utilizadas pelos jornalistas para transmissão de notícias para a redação.

Nesta direção, a proliferação de tecnologias da comunicação móvel e a ampliação do espectro da banda larga móvel possibilitaram o surgimento de novos hábitos de consumo: o

consumo em mobilidade em dispositivos portáteis ou o consumo “digital omnívore”168 (COMSCORE, 2011) pela transição de plataforma em plataforma móvel. Essa vertente complementa-se com a de produção tendo em vista que à medida que a audiência consome em mobilidade passa a também exigir atualizações mais constantes.

Consideramos, portanto, que essa demanda também é transferida para os repórteres móveis no tocante à atualização contínua. Esse contexto é importante demarcar para uma compreensão mais aprofundada das multiplataformas de produção e consumo, mesmo considerando que não será nosso enfoque, este último aspecto. A maioria dos dados mais detalhados sobre consumo de informações ainda é produzido sobre o mercado americano. Relatório sobre mídia móvel da Nielsen (2011), o "State of the media: the mobile Media Report", revela que 44% dos americanos possuiam smartphones em 2011 contra 18% em 2009. No Brasil já são 19 milhões de smartphones169 em operação. Além dos smartphones, é

crescente a quantidade de tablets para a mesma finalidade: consumo de notícias. A maioria destes aparelhos usam sistemas operacionais Android da Google ou IOS da Apple. Entre as principais atividades nesses aparelhos estão a visualização de vídeos (31 milhões dos donos de smartphones).

Na discussão sobre o futuro da indústria da notícia, pesquisa da Pew Research Center (2011) identifica que 53% dos que possuem tablets consomem notícias diariamente indicando uma transição para dispositivos móveis. Este fenômeno é colocado pela ComScore (2011) como “omníveros digitais”, ou seja, hábito de consumo multiplataformas móveis. Estudo comparativo (entre 2010 e 2011) da ComScore (2011) com usuários de tecnologia móvel nos EUA concluiu que o consumo e o tráfego de dados estão se distanciando de desktops e avançando em dispositivos móveis como em smartphones e tablets e ainda de forma cruzada e complementar entre estes. Abaixo (tabela 1), constata-se uma maior mobilidade com telefones móveis conforme dados relativos à América Latina. O Brasil liderava para tablets com 39,9% e de celular 56%.

168

O termo “omnivores” se justifica pela presença do que é chamado de "dispositivos conectados" como os

smartphones, consoles de jogos, e-readers e tablets onde o usuário consome de forma indistinta de forma cross media.

169 Disponível em http://thenextweb.com/la/2011/08/22/smartphone-usage-in-brazil-why-youll-besurprised/

Tabela 1 – Brasil lidera em tráfego de dados oriundos de tablets

Tráfego Não Originado em Computadores por Dispositivo Outubro 2011América Latina, Mercados Selecionado

Celular Tablet Outros

Argentina 77,0% 17,1% 5,8% Brasil 56,0% 39,9% 4,1% Chile 78,8% 15,7% 5,6% Colômbia 53,7% 38,9% 7,4% Costa Rica 63,9% 27,1% 8,9% Equador 58,0% 30,0% 12,0% México 58,2% 27,8% 14,0% Peru 65,0% 24,1% 11,0% Porto Rico 45,6% 34,6% 19,9% Venezuela 57,8% 31,4% 10,8% Fonte: ComScore170

O chamado mundo móvel se expande com a conectividade das redes sem fio que permitem a mobilidade, tendo os celulares como os que mais se utilizam desta conexão sem fio. No gráfico abaixo demonstram-se os dados referentes à posição de tablets e mobile em termos de uso de 3G e 4G.

Figura 34 – Pesquisa revela que usuários de celular utilizam mais conexão 3G ou 4G nos EUA

Fonte: ComScore

170 Disponível em

http://www.comscore.com/por/Press_Events/Press_Releases/2011/12/Tablets_Account_for_Nearly_40_Percent_ of_Non-Computer_Web_Traffic_in_Brazil_and_Colombia acesso em

As telas móveis para leitura (smartphones e tablets) têm aberto uma discussão sobre as questões de interface para consumo de notícias dentro do jornalismo móvel. As plataformas portáteis diferem em termos de tamanho do computador pessoal ou notebook complexificando a relação e o modo de visualizar (NEVES, 2011). Como a diagramação se acomoda neste entreposto? Que recursos facilitam o visualização e interação? Alguns pesquisadores como Natansohn e Cunha (2010), Cunha (2011) e Holanda (2011) têm discutido a emergência e as adaptações de produtos de caráter jornalístico para plataformas móveis e os reposicionamentos desses conteúdos no cenário, entre os quais estão as revistas diante de uma nova interface de consumo.

Apesar das revistas brasileiras estarem se mexendo para disponibilizar conteúdo para estas diversas plataformas móveis, pouco ainda têm mudado no que se refere à produção. Geralmente, aplicativos e mobile sites para celulares – e também para os tablets – ainda tem sido alimentados automaticamente com o site convencional, para o desktop. A atualização ainda está sob responsabilidade do mesmo pessoal que cuida da atualização dos sites. Porém, os novos dispositivos estão “forçando” uma mudança de perfil nas redações, com a contratação de novos profissionais […] (NATANSOHN; CUNHA, 2010).

Nesta citação, temos a afirmação de que está ocorrendo um processo similar ao da transposição do impresso para o online nos primeiros momentos do jornalismo digital em meados da década de 1990 (CANAVILHAS; SANTANA, 2011). Entretanto, com o aumento da densidade de plataformas móveis, como tablets, a tendência natural é o de estabelecimento de novas gramáticas para as interfaces baseadas em touch screen e em outros recursos possibilitados pelos sistemas operacionais móveis.

Figura 35 – Consumo de notícias em tablets e smartphones

Em estudo de monitoramento de três anos (entre 2008 e 2011) realizado pelos pesquisadores Canavilhas e Santana (2011) sobre o desenvolvimento do jornalismo para plataformas móveis, na análise de 10 veículos de comunicação de várias regiões do mundo, concluiu-se que ainda o jornalismo vivencia para o meio móvel uma caracterização transpositiva como ocorreu com o início do jornalismo digital, mesmo diante de algumas iniciativas pontuais. “[…] A situação atual revela que os conteúdos continuam a ser meras transposições da oferta existente nos meios tradicionais, num modelo de shareware semelhante ao que ocorreu com o webjornalismo” (CANAVILHAS; SANTANNA, 2011, p.54).

Para entender e discutir sobre tablets e o uso da sua interface é importante perpassar o conceito de "interface" (JOHNSON, 1997) e a ideia de Scolari (2004) de que as interfaces não são neutras e, portanto, são objetos funcionando como agenciadores. Entretanto, esta é uma discussão que não iremos estabelecer aqui na tese tendo em vista que passa, em parte, ao largo do nosso objetivo central. Pórem, acreditamos que é importante situar essa expansão do consumo de notícias em plataformas móveis porque, de alguma forma, ela incide sobre o jornalismo móvel na condição da produção do repórter em campo, partindo-se aqui da tese de que esse consumidor em mobilidade passará a exigir uma atualização mais contínua do “hard

news”. Com esse pressuposto, temos uma relação estreita entre o jornalismo móvel na

produção e no consumo de notícias, cuja análise podemos encaminhar através da lente da mobilidade.

4.0 MOBILIDADE