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k) Agência Reuters

4.4 As tecnologias da mobilidade

A tecnologia móvel sempre marcou presença na ficção científica em filmes e romances. Em "Neuromancer" de William Gibson, de 1984, uma das passagens do texto menciona o que seria uma espécie de tablet ou notebook sem fio no diálogo entre os personagens Case e Deane, quando este último "manejou um terminal portátil de computador" (GIBSON, 2003, p. 48) para checar informações em rede através de bancos de dados. A portabilidade conectada também aparece nos desenhos clássicos dos “Jetsons” do final da década de 1960 com as simulações de uso do que viria a ser um celular na década de 1970 e com tecnologia de um videofone com chamadas de áudio e vídeo, que se tornou realidade em 2007 com o 3G com a vídeo chamada.

Tablets também aparecem em filmes como “2001: uma odisseia no espaço”, de 1968,

e “Jornada nas estrelas”, de 1979 (SCOLARI, 2011, n/p) e tem sua origem em tempos mais remotos ainda como revela o site Mashable Tech num histórico de tablets a partir de 1888192 com o telautograph, uma plataforma de toque que permitia via caneta o envio de mensagens por telégrafo. Em 1980, o pesquisador Steve Mann utilizou, de forma pioneira, uma câmera

wearable para capturar imagens fotojornalísticas publicadas em jornais impressos e, assim,

caracterizar uma prática de jornalismo móvel na época com a experimentação (PAVLIK, 2001). Mann atua como um cyborg desenvolvendo e experimentando protótipos de realidade aumentada com a fotografia computacional como referência do seu trabalho. Essa atmosfera futurística das tecnologias móveis era patente entre a década de 1970 e 1980 com os primeiros aparelhos celulares, como discorre Katz e Sugiyama (2005, p.67):

Quando um telefone móvel com capacidade de uso emergiu no cenário no final da década de 1980, o aparelho apareceu para o público como uma tecnologia altamente sofisticada e futurística. Isto representava um símbolo de riqueza e status, embora ainda não tão famoso. De forma instigante, parece que os designers do Motorola StarTac se inspiraram no comunicador da série de TV Star Trek para o desenho do telefone móvel; a escolha do nome para a linha, “StarTac”, reforça essa percepção de que se deve ao nome “Star Trek” da série.193

192Disponível em http://mashable.com/2012/02/03/ipad-history-devices/ acesso em 3 fev. 2012

193 “When a usable mobile phone burst upon the scene in the late 1980s, it appeared to the public as a highly

futuristic and sophisticated technology. It was an emblem of the rich and important, though not yet the famous. Interestingly, it appears that designers of the early Motorola StarTac clamshell mobile phone were inspired by the communicator of the TV series Star Trek; certainly the name chosen for the line, “StarTac”, reinforces this belief when juxtaposed with the name “Start Trek”” (KATZ; SUGIYAMA, 2005, p.67, tradução nossa).

Devido ao aspecto “fashion”, preço alto e de infraestrutura das redes de telefonia entre as décadas de 80 e 90 o crescimento do número de celulares ficou em patamares baixos. Na metade da década de 90 as estatísticas indicavam menos de um celular para cada 20 pessoas no mundo. Em 2003 houve um aceleramento e a paridade foi de 1 para cada 5 pessoas (LING; PEDERSEN, 2005). Atualmente a proporção é quase de uma assinatura de celular por habitante, considerando os 6 bilhões de habilitações (UIT, 2011) na razão de 7 bilhões de pessoas na terra, segundo as Nações Unidas (ONU)194 ou no caso de alguns países, como o Brasil, onde os indicadores revelam que a quantidade de telefones móveis em operação é maior que o número de habitantes.

Para o jornalismo do século XXI, os dispositivos móveis se tornaram uma das principais plataformas de produção. Essa dimensão da comunicação móvel, portanto, compõe o cenário das tecnologias da mobilidade, que nos referimos aos dispositivos móveis como celular, smartphones, câmeras e gravadores digitais, tablets e similares e desencadeadores de práticas sociais e comunicacionais contemporâneas. A emergência das tecnologias da mobilidade como celulares representa um novo paradigma comunicacional e de sociabilidade cuja extensão precisa ser melhor compreendida.

As tecnologias da mobilidade estendem-se por automóvel, aviões e outras mediadas ou não por extensões tecnológicas. Kellerman (2006), no seu conceito de “mobilidades pessoais”, define três tipos relacionadas às tecnologias da mobilidade pessoal, que seriam perfeitamente aplicáveis ao jornalismo, quais sejam: 1) mobilidade física (corporal); 2) mobilidade física estendida por tecnologias; e 3) mobilidade virtual por meio de telefones fixos e móveis, além do uso da internet. Nesta classificação ficaria de fora transporte público e comunicações por necessitar de outras mediações para ocorrer, conforme delimita abaixo.

Mobilidades pessoais se constituem em movimentos autoestabelecidos que incluem, primeiro, o automovimento não tecnológico de natureza corporal (físico), conhecido como o andar, e as mobilidades físicas estendidas por tecnologias (dirigir automóveis e guiar bicicletas e motos). Mobilidades pessoais incluem ainda mobilidades virtuais por meio de telefones móveis e fixos e internet. Mobilidades autoestabelecidas excluem, pela própria natureza que possui, o uso de transporte público e comunicações, onde os movimentos são mediados quando comparados entre automóveis, por um lado, e ônibus e trens, por outro lado, tanto quanto entre telefones versus telegráfo e serviços postais como já foram feitas e se farão ainda em termos de comparação (KELLERMAN, 2006, p.2).195

194 Disponível em http://www.uncsd2012.org/rio20/index.php?page=view&nr=647&type=230&menu=39 acesso

em 14 nov. 2011

195Personal mobilities constitute self-propelled movements, which include, first, the natural corporeal (physical) non-technological self-moving, more simply known as walking, and obviously those physical mobilities extended by technologies (driving automobiles and bicycling and motorcycling). Personal mobilities

Para o autor a mobilidade sempre esteve presente entre à modernidade e à pós- modernidade demarcando a “sociedade em movimento”, sendo que a mobilidade virtual faz parte desta configuração para os tempos recentes.

Uma maior dimensão da mobilidade na era moderna tem sido a extensão espacial do indivíduo através da transmissão e recepção de informações por meio do telefone trazendo mobilidade virtual para as pessoas, e consequentemente a emergência da […] sociedade da mobilidade informacional (KELLERMAN, 2006, p.1).196

Essas tecnologias da mobilidade contemporâneas voltadas para a digitalização dos aparatos se constituíram a partir das inovações tecnológicas que se disseminaram desde a década de 1970 com a microeletrônica (CASTELLS, 1999; LEMOS, 2002) criando uma rede de novos produtos digitais que geram intervenções nas redações e nos processos midiáticos pela expansão de suportes e o surgimento de dispositivos portáteis com capacidade de captura, edição e transmissão do material jornalístico. Na Era em que se aponta como “pós-PC”197 (MOURA, 2010) e de “computação em nuvem”, devido à banda larga móvel e aos dispositivos como smartphones, tablets e e-readers que tendem a superar os computadores pessoais e operarem de forma independente, constatamos novos cenários em formação para o jornalismo em termos de surgimento de novas demandas.

Vicente (2010), Briggs (2007), Pellanda (2009), visualizam esse terreno das tecnologias da mobilidade através de uma dimensão calcada na “cultura do celular”198 (GOGGIN, 2006; LEVINSON, 2004; LING, 2004) como a principal representação e que se molda no jornalismo como ferramenta de produção adequada pela miniaturização e ubiquidade, trazendo potencialidades reconhecidas para o campo. Durante a década passada, a

further include virtual mobilities through fixed and mobile tselephones and the Internet. Self-propelled mobilities exclude, by their very nature, the use of public transportation and communications, in which movements are mediated, though comparisons between automobiles, on the one hand, and buses and trains, on the other, as well as between telephones versus telegraph and postal services, have been made, and some will be made later on.” (KELLERMAN, 2006, p.2, tradução nossa)

196 “One major dimension of mobility in the modern era has been the spatial extension of the self via the

transmission and receipt of information through the telephone, bringing about a virtual mobility of the self, and the subsequent emergence of […] info-mobility society” (KELLERMAN, 2006, p.1, tradução nossa).

197 Disponível em http://macworldbrasil.uol.com.br/noticias/2011/05/18/esqueca-o-desktop-a-era-pos-pc-ja-

chegou/ acesso em 22 maio 2011

198Numa abordagem crítica da questão há também alguns desconfortos por parte dos profissionais em lidar com essa “cultura do celular” seja pela invasão de privacidade espacial do “ser localizado em qualquer lugar”, do ter que “fazer mais que o possível” e, inclusive, a colisão entre equipes de trabalho como fotógrafos e repórteres pela invasão dos seus respectivos “territórios” de atuação ou, além, um olhar enviesado para a produção amadora de cidadãos munidos das mesmas capacidades tecnológicas. Contudo, deve-se reconhecer que a introdução desses artefatos no dia a dia já é uma realidade na gestão e geração de conteúdos via dispositivos móveis.

telefonia móvel expandiu-se rapidamente pelo planeta configurando o chamado “o mundo móvel”. Dados de relatório da UIT – União Internacional de Telecomunicações indicam em 2013 6,8 bilhões de celulares habilitados no mundo (gráfico 1) para uma população de 7,1 bilhões. Num comparativo entre 2005 e 2013 o crescimento da telefonia móvel figura como exponencial a cada ano com quase a totalidade da população mundial. A UIT revela que a taxa de telefones móveis habilitados já atingiu 96% dos habitantes em nível global, sendo que em países desenvolvidos já ultrapassou em 128% e nos países em desenvolvimento 89%. Em termos de banda larga móvel ultrapassou os 2 bilhões de assinaturas.

Gráfico 1 – Quase 7 Bilhões de habilitações de telefone móvel no mundo.

Fonte: UIT – União Internacional de Telecomunicações199

No Brasil, extratos da ANATEL (2013) revelam que o número de celulares habilitados ultrapassou o da população200 do país com 261,78 milhões201 em 2012, representando 80,53% (210,82 milhões) de pré-pagos e 19,47% (50,96 milhões) de pós-pagos com uma teledensidade equivalente a 132,78 para cada 100 habitantes. Em novembro de 2011, 38,83 milhões de habilitações eram em tecnologia 3G202 de banda larga móvel. Numa recuperação

199

Disponível em http://www.itu.int/ITU-D/ict/facts/material/ICTFactsFigures2013.pdf Acesso em 28 fev. 2013 200

Considerando uma população de aproximadamente 192 milhões de habitantes, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE (2010)

201 Disponível em http://www.anatel.gov.br/Portal/exibirPortalInternet.do# acesso em 23 jan. 2013

202Disponível em http://thenextweb.com/la/2011/12/20/brazil-now-has236m-mobile-numbers-thats-a20-increase-

dessa evolução da telefonia móvel, em 1995 havia 91 milhões de usuários de celular em todo o mundo; em 2002, 1,158 bilhão e em 2004 1,752 bilhão (GOGGIN, 2006, p.1). Em 2013 indicativos de 7 bilhões, conforme gráfico acima.

Esta conjuntura implica em reconhecer uma cultura da mobilidade na sociedade contemporânea e que é reforçada por outros números associados que compõem o quadro de tecnologias da mobilidade como os representados pelos telefones inteligentes, os chamados

smartphones, com recursos multimídia, que no Brasil chegam a 19 milhões de aparelhos203 e utilizam com mais frequência a base de redes 3G ou 4G no acesso à internet de alta velocidade. Neste sentido, o resultado de uma sondagem dos pesquisadores Zago, Camargo e Dias (2011) sobre a relação Twitter e celular no Brasil revelou que 44% dos respondentes (de 579 no total), de uma amostra de 802 usuários, utilizam a tecnologia 3G, sendo que 58% para atualizar na plataforma de microblog (enviar e receber mensagens). Este conjunto de dados compõem novas relações de sociabilidade, mas também de penetrabilidade nas redações com uso desse aparato enquanto plataformas de produção e difusão de conteúdos.

A convergência das tecnologias da computação e das comunicações estão rapidamente reescrevendo as condições tradicionais da estrutura e da organização da redação. Comunicações móveis, computação portátil e a apuração da notícia digital sinaliza o fim da redação de televisão como temos conhecido a partir da metade do século passado. A redação virtual, estação ou rede serão uma realidade digital no século XXI (PAVLIK, 2001, p.108).204

Para Sheller (2011) estão ocorrendo transformações sócio-técnicas conectadas com a paridade convergência e mobilidade que implicam em novas questões para a ciência social e outras disciplinas que estudam os fenômenos relacionados a essa dimensão das tecnologias da mobilidade.

Como a conectividade móvel começa a ocorrer de diferentes formas novas através de uma ampla gama de dispositivos móveis e ambientes "inteligentes", há uma nova convergência entre movimento físico de pessoas, veículos e coisas; produção de informação, armazenamento e recuperação; comunicações e computação distribuída sem fio; e vigilância e tecnologias de rastreamento. Estas transformações sócio- técnicas fazem emergir novas questões substantivas para as ciências sociais,

203 Disponível em http://thenextweb.com/la/2011/08/22/smartphone-usage-in-brazil-why-youll-be-surprised/

acesso em 22 ago. 2011 204

Converging computing and telecommunications technologies are rapidly rewriting the traditional assumptions of newsroom organization and structure. Mobile communications, portable computing, and digital news gathering signal the end of the television newsroom, or even station, as we have known it for the past half century. The virtual newsroom, station, or network will be a twenty-first century digital reality.” (PAVLIK, 2001, p.108, tradução nossa).

enquanto da mesma forma sugestionam novas abordagens teóricas e metodológicas (SHELLER, 2011, p.1)205

Nessa abordagem, podemos argumentar que novas esferas de produção surgem baseadas nessas inovações tecnológicas introduzidas e definidoras, em parte, dos fatores estruturantes do jornalismo contemporâneo. Neste sentido, é importante situar o processo de informatização das próprias redações (MASIP, 2008) da década de 1970 para a de 1980 como uma etapa de incorporação de tecnologias modernas no interior da cultura jornalística trazendo novas formas de lidar com fontes de informação, com base de dados, com o processo produtivo como um todo, interligado por redes locais e remotas através da possibilidade de construção de reportagens mediadas por computador. Estas mudanças se intensificam mais ainda na atualidade diante da introdução das plataformas móveis no contexto jornalístico com sua capacidade de expandir o componente mobilidade para a produção e o consumo de notícia de forma remota e em movimento.

Nesse contexto do jornalismo móvel temos os celulares como plataformas de produção na identificação como dispositivos híbridos (LEMOS, 2007; LEVINSON, 2004; GOGGIN, 2006) com funções múltiplas de edição de textos, navegação na web, acesso a banco de dados, capacidade de registro e edição de vídeos, fotos, áudio; e a expansão da tecnologia de terceira geração (3G), a banda larga móvel, favorecendo o surgimento destes projetos no âmbito dos grupos de comunicação e também na prática do jornalismo participativo móvel. Com a crescente portabilidade e a convergência multimídia que concentra num único dispositivo diversas funções, a exemplo do celular, aparelho híbrido e ubíquo que dispara múltiplas operações, como atesta Lemos (2007b) no artigo "Comunicação e práticas sociais no espaço urbano” quando apresenta a noção de hibridismo que os celulares adquiriram.

Pensar o celular como um “Dispositivo Híbrido Móvel de Conexão Multirrede” (DHMCM) ajuda a expandir a compreensão material do aparelho e tirá-lo de uma analogia simplória com o telefone. A denominação de DHMCM permite defini-lo melhor e com mais precisão. O que chamamos de telefone celular é um Dispositivo (um artefato, uma tecnologia de comunicação); Híbrido, já que congrega funções de telefone, computador, máquina fotográfica, câmera de vídeo, processador de texto,

205As mobile connectivity begins to occur in new ways across a wide range of mobile devices and ‘smart’ environments, there is a new convergence between physical movement of people, vehicles and things; information production, storage and retrieval; wireless distributed computing and communications; and surveillance and tracking technologies. These sociotechnical transformations raise new substantive issues for the social sciences, while also being suggestive of new theoretical and methodological approaches.” (SHELLER, 2011, p.1, tradução nossa).

GPS, entre outras; Móvel, isto é, portátil e conectado em mobilidade funcionando por redes sem fio digitais, ou seja, de Conexão; e Multirredes, já que pode empregar diversas redes, como: Bluetooth e infravermelho, para conexões de curto alcance entre outros dispositivos; celular, para as diversas possibilidades de troca de informações; internet (Wi-fi ou Wi-Max) e redes de satélites para uso como dispositivos GPS (LEMOS, 2007b, n.p)

O celular representa um processo de convergência tecnológico que impacta o jornalismo contemporâneo sob à base da comunicação móvel que se estrutura nos diversos âmbitos da produção a partir, principalmente, do surgimento do jornalismo digital206. “O telefone móvel realça a comunicação livre de conexões físicas, independente dos fios e cabos” (HEMMENT, 2005).207 O processo de convergência jornalística com a integração ou convergência de redações tradicionais e redações online e a multiplicação de plataformas de distribuição de conteúdo forçam redefinições que afetam toda a cadeia produtiva desde as funções jornalística até a distribuição da notícia para a audiência.

Não obstante considerar que quando se identifica o desenvolvimento da convergência no nexo jornalismo e mobilidade, novos processos operacionais e conceituais entram em consideração como a tríade portabilidade-mobilidade-ubiquidade com o uso de tecnologias móveis para o fluxo de produção (COBO ROMANÍ; PARDO KUKLISNK, 2007; SILVA, 2008; CANAVILHAS, 2007). Com a convergência de funções embutidas nos aparelhos tais como câmera fotográfica e de vídeo, web browser, editor e visualizador de textos em vários formatos, conexões 3G, Wi-Fi e WiMax, o celular ou o conjunto de tecnologias móveis torna- se uma plataforma móvel ideal para a prática jornalística pela sua capacidade multimídia como dispositivo híbrido (LEMOS, 2008; LEVINSON, 2004). Estamos, assim, diante de novas práticas que se aproximam do que Castells et al. (2006) definem como sociedade em rede móvel desencadeadas de forma mais massiva a partir do início do século XXI com a formatação da estrutura da Web 2.0208, das plataformas móveis e das conexões sem fio. Como

206 O estudo do jornalismo digital no Brasil começou em 1996 através de pesquisadores como Marcos Palacios e

Elias Machado com a publicação do Manual de Jornalismo na Internet. O Grupo de Pesquisa em Jornalismo Online da FACOM/UFBA é o mais consolidado do país nos estudos empíricos e teóricos de abordagens voltados para o tema (PALACIOS; DÍAZ NOCI, 2008). O jornalismo digital está colado à própria cibercultura, como um fenômeno mais amplo e com ramificações mais expansivas ao ser formatado em base da micro-eletrônica e movimentos socioculturais da contracultura (LEMOS, 2002). Neste contexto, o Grupo de Pesquisa em Cibercidades representa a consolidação destes estudos ao cercar um fenômeno com uma abordagem do espaço urbano, da mobilidade e das novas práticas com pesquisas centradas nas dimensões da cibercultura e da comunicação móvel.

207 “The mobile phone enables communication free from physical connections, unfettered by wires and cables”

(DREW HEMMENT, 2005, n.p, tradução nossa).

208 A Web 2.0 é uma atribuição da web mais colaborativa, uso de base de dados e das aplicações em mashup. O

termo foi cunhado em 2004 por O´Reilly Media em uma conferência para designar as potencialidades de uma nova web em termos de superação da web 1.0. A Web 2.0, que se aproveita da própria expansão da banda larga,

temos apontado, o jornalismo móvel instaura novos desafios de estudo e observação empírica de experiências com o uso destas tecnologias digitais.

Assim entra em operação para análise a mobilidade física do repórter e a mobilidade informacional/virtual (do tráfego de dados) da produção conduzida em campo. Esta conjuntura pertence a uma perspectiva de sociedade moderna (GIDDENS, 1991) ou pós- moderna209, como a denomina Harvey (1992). Tanto a mobilidade (conceitual, teórica e

operacional) quanto as tecnologias móveis (como artefatos culturais) se tornaram cruciais para a compreensão da própria dinâmica do jornalismo contemporâneo e suas práticas sob à condição de jornalismo em mobilidade dentro do espectro dos estudos da comunicação móvel como podemos ver essa evolução através da representação da figura 41 com uma recuperação arqueológica desses marcos. Firma-se, assim, o estabelecimento da relação jornalismo e tecnologias da mobilidade indicando as implicações para o campo do jornalismo como: a) tensionar as rotinas produtivas em relação ao agente da mobilidade, o repórter; b) estabelecer novas relações entre produtor da notícia e o público (também passível de produção de conteúdos por estar munido das mesmas tecnologias); c) vincular as tecnologias móveis digitais a um processo de descontinuidade210 devido ao ritmo acelerado das mudanças.

As tecnologias da mobilidade estão mudando as redações tradicionais e renovando as formas de lidar com a produção jornalística, por um lado, e com o público ativo, por outro lado. Pelo menos operacionalmente, o jornalista se depara com um cenário multifacetado e com preocupações novas de fundo em termos de conhecimento técnico e de estratégia.

caracteriza-se como plataforma web e da computação em nuvem para armazenamento e para rodar aplicações diretamente da Web, inclusive via tecnologia móvel.

209 A discussão em torno da sociedade moderna ou pós-moderna é ampla, instigante e com várias correntes de