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3.2. Modelo de jogo no futebol

3.2.3. A cultura do futebol no país, estado e clube

Damo (1998) apresenta características do futebol brasileiro e do futebol europeu, o Futebol-Arte ao Futebol-Força. Segundo o autor, nas características do futebol brasileiro identifica-se o espetáculo; artístico; Dionisíaco; Barroco; Intuitivo; Natureza; Dom; Rua; Jogo; Individual; Agilidade; Habilidade; Malandro; Candomblé e o futebol arte. Já no futebol europeu identifica-se a Eficiência; Competitividade; Apolíneo; Clássico; Racional; Cultura; Aprendizado; Clube/ Escola; Esporte; Coletivo; Rigidez; Força; Caxias; Catolicismo/ Protestantismo e o Futebol Força.

Essas características que identificam a maneira de jogar do futebol brasileiro e europeu estão cada vez mais se interligando entre si. O futebol europeu busca a individualidade brasileira para ser o diferencial dentro da equipe e o futebol brasileiro busca a organização e força europeia para servir como trunfo nas partidas e campeonatos.

Para Balzano (2008) apud Florenzano (1998), o futebol força surgiu na Copa do Mundo de 1966 e se caracterizou por apresentar jogadores europeus com grandes vigores físicos e disciplina tática. O futebol-força foi uma maneira encontrada pelos europeus para neutralizar a escola sul-americana.

Segundo Giglio (2003), a principal mudança no futebol foi o desenvolvimento da parte física. Hoje, os jogadores aguentam correr mais, realizam múltiplas funções em campo, são mais disciplinados taticamente e isso aumentou a velocidade do jogo. Os preparadores físicos conquistaram espaço, a partir da introdução de novos métodos de treinamento, embasados por um conhecimento científico que culminou num novo estilo de jogo, o Futebol-Força. Para o autor, é nesse período que o treinamento da técnica perdeu espaço para o aprimoramento da força física. O Futebol-Força marcou simbolicamente uma ruptura no mundo do futebol, pois o que era defendido como modelo passou a ser contestado. As alterações ocorridas no futebol são vistas como uma evolução, uma modernização que se fez necessária, pois muitos países, principalmente da Europa, caminharam para um aperfeiçoamento da condição física. Segundo o autor, ao chegar com a designação de um futebol moderno, o Futebol-Força fez com que os brasileiros passassem a dar maior atenção para esse novo estilo de jogo. Como a sociedade e o futebol caminham juntas, ao

surgir um novo estilo de se praticar futebol, ele foi importado e rapidamente passou a fazer parte do meio futebolístico brasileiro.

Paoli (2007) cita dois estilos que são mais evidentes de futebol, o futebol arte e o futebol força, onde podemos observar que no Brasil o futebol arte participou de forma decisiva da construção da identidade futebolística nacional. Ainda segundo o autor, o futebol-arte caracterizar-se, dentre outros fatores pelo atleta que pode individualmente desequilibrar uma partida com jogadas de efeito por sua habilidade técnica e astúcia no momento da ação.

Entretanto, conforme Soares e Paoli (2007) apud Lovisolo (2003), a contradição que se apresenta no futebol contemporâneo praticado é que a identidade do futebol brasileiro construído a partir da improvisação, belos lances, não está sendo construída apenas pelos jogadores de grande habilidade, dando espaço também para outros tipos de jogadores que privilegiam a força.

Hoje, o futebol brasileiro mostra cada vez mais sofrer influência do estilo de jogo europeu, modificando sua forma de jogar e prezando mais a defesa do que o ataque, que sempre foi a maior característica do nosso futebol.

A cultura de cada país pode influenciar diretamente no seu estilo de jogo. (DAMO, 1998). Da mesma forma que os países possuem hábitos, costumes, características diferentes, o futebol também possui características singulares. (DAOLIO, 2005)

De acordo com Soares (2003) o “estilo brasileiro de futebol” é caracterizado pela alegria, dribles, improvisações, passes de calcanhar, etc.

Daolio (2005), fala que por ser um esporte jogado com os pés, o futebol no Brasil é comparado com outras expressões de sua cultura como a capoeira o samba, danças, além de ser uma forma de expressão individual, permitindo iniciativas particulares apesar de ser um esporte coletivo.

Soares (2003) fala que na definição do estilo do futebol brasileiro são enfatizadas as habilidades e capacidades individuais dos jogadores, como a improvisação, criatividade, produzindo ações inesperadas, onde o “craque” é escolhido para representar o estilo do futebol brasileiro, colocando a figura do jogador com maior importância, sendo ele o jogador que se tornará o herói, decidindo e salvando sua equipe em situações adversas fazendo com que o jogo coletivo fique em segundo plano.

Damo (1998) fala que, em um país tão extenso na sua geografia, com diferentes culturas e sociedade estrafegada, o futebol expressa as diversidades das regiões, diferenças étnicas, raciais, socioeconômicas, etc.

Para Damo (1998), existem discrepâncias na maneira de jogar futebol em cada região ou estado do Brasil. Por exemplo, no Rio de Janeiro onde a malandragem carioca é conhecida mundialmente e já foi berço de craques que marcarem o futebol brasileiro como Garrincha, Zico, Atílio e Júnior, possui um futebol jogado de maneira mais cadenciado, prezando a posso de bola e a boa qualidade no passe e até hoje ainda levam essa característica do “malandro” estando sempre entre os melhores clubes do Brasil.

O autor ainda fala que no Sul do país, por conta da influência europeia sofrida pela região, o futebol é jogado com mais intensidade e pegada, sendo um jogo mais forte e com uma maior disciplina tática. Damo (1998), falatórios e culturais da região acabaram se refletindo na maneira de jogar do futebol gaúcho, a Revolução Farroupilha (1835-45) à “Legalidade”, que deu sustentação a João Goulart após a renúncia de Jânio Quadros, em 1961, passando pela Revolução Federalista (1893- 95), a Coluna Prestes e a Revolução de 30, se somam a outros confrontos acontecidos na região ou nas suas fronteiras que classifica e caracteriza o gaúcho como um “produto de guerra”.

De acordo com Vasconcelos (2011), as primeiras equipes nordestinas começaram a serem fundadas no século XIX. A cultura do Nordeste apresenta características que foram adquiridas de seus antepassados e possuem uma grande diversificação a que foi influenciada por indígenas, africanos e europeus.

Damasceno (2002) fala que ao chegar ao Ceará, o futebol provocou modificações nos setores sociais, industriais e culturais, promovendo um alerta sobre momentos de lazer.

O futebol cearense foi influenciado em sua construção pelo povoamento do seu território, que foi resultado da diversidade de povos que passaram ou habitaram o estado influenciando assim em características de sua população como altura, peso, cor da pele, entre outras. (VASCONCELOS, 2011)

Ainda segundo o autor, a seca, fenômeno natural que atinge o estado do Ceará, também possui forte influência no biótipo do povo cearense e de seus atletas no qual, apresenta geralmente uma baixa estatura, característica essa, herdada geneticamente e adquirida a partir do ambiente influenciado pela história do estado.

Podemos identificar essas características físicas nos principais nomes cearenses do futebol brasileiro dos últimos tempos, Clodoaldo, Yarlei e Osvaldo, atual jogador do Fluminense/RJ, são exemplos de jogadores com baixa estatura e “cabeça chata”. Essas características do jogador cearense acabam sendo prejudiciais, na maioria das vezes, no futebol praticado nos dias de hoje, onde a força física e jogadores altos estão sendo cada vez mais valorizados dentro dos esquemas táticos utilizados pelos treinadores que buscam uma maior consistência no sistema defensivo.

Para Vasconcelos (2011), devido à predominância socioeconômica e cultura do futebol da região sudeste sobre o nordeste, onde a mídia teve grande responsabilidade devida a sua influência dentro do futebol, a identidade do futebol cearense acabou sendo esquecida.

Pela possibilidade do baixo grau de escolaridade e influência das dificuldades culturais que o nordestino e o próprio cearense sofrem, grandes jogadores do futebol do estado acabam por encerrar suas carreiras profissionais cedo ou com seus nomes vinculados a atitudes de indisciplina extracampo, dificultando assim, o longo sucesso no futebol de alto nível.

Essas influências na forma de jogar e nas características dos jogadores, vem ocorrendo no Brasil desde as categorias de base dos clubes, fazendo com que se torne cada vez mais difícil a produção de jogadores que tenham as características típicas do “craque” que os torcedores brasileiros tanto gostam, produzindo então, na sua maioria, jogadores com menor qualidade individual, mas com melhor entendimento tático.