A partir da descrição do processo de curadoria de conteúdo e de como se aplica em alguns âmbitos, é possível perceber que há similaridade com o processo de gestão da informação. Para explorar as dimensões que assemelham e as que distinguem os dois processos, apresentamos, a seguir, alguns aspectos básicos para caracterizar a gestão da informação.
4.1 Gestão da Informação
A gestão da informação e do conhecimento (GIC) constitui uma corrente teórica da Ciência da Informação (ARAÚJO, 2014) que tem seu surgimento fortemente influenciado pela valorização da informação e do conhecimento como fontes de riqueza na sociedade, o que resultou no reconhecimento da necessidade de gerenciar tais ativos. Nesse sentido, a GIC é formada a partir
Informação (BARBOSA, 2008) e contempla os processos de gestão da informação, gestão do conhecimento e produção de inteligência.
No que se refere à gestão da informação (GI), o foco de atenção é a informação, entendida como “conteúdo e construção social”, conforme esclarece Alba (1997 apud MARCHIORI, 2014, p. 28-29):
[...] Tanto a origem quanto os componentes da gestão da informação envolvem um amálgama teórico-prático que envolve os processos de tratamento e processamento da informação enquanto conteúdo e construção social; o entorno organizacional e econômico-cultural no qual a estratégia de uma organização depende de uma estratégia de informação; e os computadores (e outros aparelhos) ligados a redes eletrônicas que viabilizam a armazenagem e transferência de informação [...].
Nessa perspectiva, entende-se que o processo de gestão da informação busca, mediante a realização de um conjunto de atividades interconectadas, proporcionar o acesso a informações adequadas a determinadas necessidades de informação com vista ao seu uso em um determinado contexto.
Detlor (2010) afirma que há três perspectivas a partir das quais a GI pode ser percebida: a organizacional, a das unidades de informação e a pessoal. Nas perspectivas organizacional e pessoal, a gestão da informação lida com uma grande variedade de fontes de informação (pessoal, textual e on-line, incluindo informação não estruturada), sendo que, em cada uma dessas perspectivas, a gestão da informação é realizada com uma finalidade específica. A gestão da informação organizacional visa contribuir para o alcance dos objetivos estratégicos e competitivos da organização, ao passo que a gestão da informação pessoal objetiva contribuir
com o alcance de objetivos individuais, relacionados à vida coti- diana, ao trabalho ou ao estudo. Já na perspectiva das unidades de informação, a gestão da informação lida com um conjunto de fontes de informação mais limitado, uma vez que dificilmente inclui fontes pessoais e informação desestruturada por se voltar para a gestão das coleções, com o fim de atender as necessidades informacionais de seus usuários.
A perspectiva predominante da gestão da informação é a organizacional (DETLOR, 2010). Vinculadas a ela estão três das principais obras que abordam o processo de gestão da informação: McGee e Prusak (1994), Davenport (2002) e Choo (2006). Essas três obras apresentam modelos de gestão da informação e descrevem cada uma das etapas do processo. Embora apresentem etapas em quantidade e com denominações diferentes, percebe-se que há convergência no que se refere ao teor das etapas, revelando que se trata de um processo já consolidado na literatura.
Nesse sentido, o modelo proposto por Choo (2006) é representativo do processo de GI e consta das seguintes etapas: a) identificação das necessidades de informação; b) coleta das informações necessárias; c) organização e armazenamento da informação; d) desenvolvimento de produtos e serviços de infor- mação; e) distribuição da informação; e f) uso da informação.
A identificação das necessidades de informação é a etapa basilar de todo o processo, pois é buscando satisfazer tais necessi- dades que as etapas seguintes são realizadas. Entretanto, como afirma Davenport (2002), determinar as exigências informacionais é muito ambíguo e complexo. Sob esse viés, o autor aponta a aproximação entre gestores e usuários de informação como essencial, uma vez que é necessário que o gestor de informação conheça bem o problema e a
GI é tanto coletada externamente quanto produzida internamente; e a informação produto da GI é destinada ao público interno e externo. Assim, as necessidades e os requisitos de informação desses dois públicos precisam ser adequadamente identificados.
Na aquisição de informação, é preciso equalizar a oposição entre a grande multiplicidade e a diversidade de informação disponível de interesse com os limites da capacidade e do tempo disponível para seu processamento e dos recursos necessários para sua obtenção. Assim, por um lado, buscar-se-á um amplo espectro de fontes humanas, textuais e on-line, formais e informais, internas e externas à organização. Por outro lado, é imprescindível que sejam avaliadas e selecionadas as que mais possam atender as necessidades de informação identificadas (CHOO, 2006). Como esclarece Davenport (2002), a obtenção é uma atividade ininterrupta que requer uma exploração eficaz das informações disponíveis a partir da combinação das abordagens automatizada e humana para filtrar e selecionar as informações relevantes.
Na etapa de organização e armazenamento da informação, cuida-se para que a informação adquirida na etapa anterior seja organizada e armazenada para possibilitar consultas futuras. A organização da informação inclui indexação, catalogação e classifi- cação com vista a possibilitar a rápida recuperação da informação. O desenvolvimento de produtos e serviços de infor-
mação é a etapa mediante a qual as informações coletadas são
customizadas de modo a satisfazer as necessidades de informação identificadas. Nesse sentido, Choo (2006) entende que os produtos e serviços de informação devem ser capazes de orientar a resolução de problemas, as ações e decisões organizacionais. Para tanto, de acordo com Taylor (1986 apud CHOO, 2006), o desenvolvi- mento de produtos e serviços de informação deve agregar valor à informação a partir da consideração sobre o contexto no qual os
usuários utilizarão a informação. Assim, o esforço de agregação de valor à informação tem por fim ampliar as possibilidades de a informação ser considerada útil para o usuário.
A etapa de distribuição da informação otimiza o acesso à informação constante dos produtos e serviços desenvolvidos, de modo que “a informação correta atinja a pessoa certa no momento, lugar e formato adequados” (CHOO, 2006, p. 414). Já o uso da informação dá sentido ao conjunto de atividades próprias da gestão da informação. Para Choo (2006, p. 416), “o uso da informação é um processo social dinâmico de pesquisa e construção que resulta na criação de significado, na construção de conhecimento e na seleção de padrões de ação”. Segundo o autor, o uso da informação em cada modo resulta do entrelaçamento de recursos cognitivos, emocionais e ativos para atender as neces- sidades de informação específicas de cada arena. Sob essa ótica, entende-se que o resultado que o processo de GI visa fomentar é o comportamento adaptativo da organização, ou seja, a capacidade de selecionar e realizar ações voltadas para a consecução dos objetivos organizacionais e adequados ao contexto (CHOO, 2006).
4.2 Relações entre curadoria de
conteúdo e gestão da informação
Nesta seção, buscam-se estabelecer comparações entre cura- doria de conteúdo e gestão da informação de modo a evidenciar suas similaridades e distinções. Para tanto, apresenta-se o Quadro 2 no qual se comparam as etapas presentes nos dois processos.
de informação, o desenvolvimento de produtos e serviços/agregação de valor e edição e a distribuição/compartilhamento da informação.
Quadro 2 – Comparação entre as etapas da gestão
da informação e da curadoria de conteúdo
ETAPAS INFORMAÇÃOGESTÃO DA DE CONTEÚDOCURADORIA
Identificação de necessidades de informação ✓ ×
Aquisição/Busca ✓ ✓
Seleção × ✓
Organização e armazenamento ✓ ×
Desenvolvimento de produtos e serviços/
Agregação de valor e edição ✓ ✓
Distribuição /Compartilhamento ✓ ✓
Uso da informação ✓ ×
Interação × ✓
Avaliação × ✓
Fonte: elaboração própria.
A identificação das necessidades de informação não consta das etapas do processo de curadoria de conteúdo porque é compreendida como integrante do momento de planejamento e concepção da atividade, antecedendo, portanto, o processo em si. Há de se considerar que, na GI, a identificação de necessidades de informação é realizada continuamente, posto ser uma necessidade mais específica e mutante ao longo do tempo. Já na curadoria de conteúdo, a identificação das necessidades de informação a atender se vincula ao tema objeto da curadoria, previsto em seu