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2 GESTÃO DO CONHECIMENTO E A SUSTENTABILIDADE ORGANIZACIONAL

O processo organizacional de sustentabilidade defendido pelas organizações contemporâneas está baseado na adaptação de suas necessidades às ambientais, de uso/reuso do conhecimento, utilizado como fonte produtora de desenvolvimento social. Essa capacidade de adaptação faz com que o conhecimento promova a sustentabilidade às organizações, no sentido de utilizar os princí- pios sustentáveis para efetividade de suas responsabilidades sociais, econômicas e ambientais (BODNAR; FREITAS; SILVA, 2016).

De acordo com Boff (2013), esses princípios se baseiam nos 5Rs da sustentabilidade oriundos da nova política ecológica e sustentável proposta pelos desdobramentos da Agenda 21, discutidos durante a realização da Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente, na ECO 92, acontecida no Rio de Janeiro, e durante o 5º Programa Europeu para o Ambiente e Desenvolvimento, em 1993 (ALKIMIM, 2015). Os princípios (5Rs) são:

• Repensar – refere-se ao exercício em prol da consciência do uso necessário.

• Reduzir – refere-se ao trabalho para o consumo necessário, objetivo e coerente.

• Reusar – trata-se de dar nova utilidade sem mudar a estru- tura da matéria.

• Reciclar – relaciona-se à mudança da estrutura da matéria, quando necessário, para a produção de algo novo, de um novo produto, a uma inovação.

• Rejeitar – apresenta consciência ambiental em descarte de produtos, serviços ou processos que não são sustentáveis.

De acordo com Gray (1989), tais princípios aplicados ao uso da informação e do conhecimento podem torná-los potencialmente sustentáveis e passíveis de inovações por meio de compartilha- mento e/ou aprendizagem colaborativa. Para o autor, a construção do conhecimento organizacional, balizada pelos discursos de sustentabilidade na sociedade atual, sinaliza conexões com sua gestão, levando à potencialização dos processos comunicacionais, essencialmente via TICs.

Tudo isso demanda uma complexidade amparada em visões holística, sistêmica e interdisciplinar, que geram novas atitudes epistemológicas flexíveis, versáteis e aptas para respostas mais assertivas e adequadas às novas problemáticas emergentes deste contexto atual. Porém, à categoria holística, sistêmica e interdis- ciplinar agregam-se os princípios relativos ao desenvolvimento sustentável compreendido como aquele que, considerando os erros do passado, procura satisfazer as necessidades das gerações do presente e do futuro, podendo ser aplicado a qualquer princípio social (BOFF, 2013). Ou seja, nas palavras de Scheibe (2004, p. 330), “sustentável é o que pode ser sustentado no interesse da sociedade”.

No entanto, percebe-se que as teorias ligadas à “sustentabi- lidade” ainda estão muito arraigadas à ideia de desenvolvimento ambiental sustentável, porque a origem do termo está ligada à questão ambiental como natureza física, em especial. A categoria sustentabilidade, geralmente, é discutida, historicamente, consi- derando uma inestimável contribuição à proteção ambiental e ao desenvolvimento sustentável, auxiliando na conscientização sobre a necessidade de luta contra o desenvolvimento industrial sem limites (BODNAR; FREITAS; SILVA, 2016), o que demanda dizer que também é verdadeiro que a questão ambiental vem

do “desenvolvimento” do modo de produção capitalista com a Revolução Industrial do final do século XVIII (SCHEIBE, 2004).

Embora existam pensamentos contrários ao de Scheibe (2004), é de concordância entre a maioria dos autores que susten- tabilidade é um conceito aberto, permeável, ideologizado, subjetivo e relacional (BODNAR; FREITAS; SILVA, 2016), o que torna o termo adaptável às necessidades informacionais, comunicacionais e de conhecimento da sociedade contemporânea, uma vez que são elementos responsáveis pelo desenvolvimento econômico, político, social, educacional etc., e precisam ser refletidos numa dimensão ética, humanista, de maneira a garantir a capacidade de evolução de novas gerações.

Nesse sentido, o conceito de Boff (2013, p. 107) evoca a sustentabilidade como

[...] toda ação destinada a manter as condições energéticas informacionais, físico-químicas que sustentam todos os seres, especialmente a Terra viva, a comunidade de vida, a sociedade e a vida humana, visando sua continuidade e ainda atender as necessidades da geração presente e das futuras, de tal forma que os bens e serviços naturais sejam mantidos enriquecidos em sua capacidade de regeneração, reprodução e coevolução [...], pode ser aplicável aos dife- rentes contextos e realidades de uma sociedade complexa como a nossa.

Ademais, uma vertente que merece atenção para o contexto desses aportes, por caracterizar a relação entre conhecimento, sua gestão e os processos organizacionais sustentáveis, é a defendida por Lave e Wenger (1991) por estar voltada para o domínio sustentável da organização. Caracterizada como socioprática, essa abordagem

tem seus limites nos contextos histórico, social e cultural, relacio- nados a processos de interação social que conduzem à participação das pessoas na vida em sociedade de modo que firme a relação em processos de sustentabilidade para que todos, essencialmente as gerações futuras, usufruam de serviços, produtos, demandas e processos voltados para os bens naturais e renováveis. Em outras palavras, o conhecimento se constrói mediante contextos prático- -sociais em colaboração mútua, muitas vezes nas comunidades de prática (CoP), que impulsionam a aprendizagem informal e natural integrada ao trabalho cotidiano e à vida sustentável.

Para os autores, as maiores vantagens, no âmbito susten- tável, relacionadas às necessidades do indivíduo e da organização tendem a ser resultantes da aprendizagem situada (situated lear- ning) (aquela que atende uma necessidade específica, situada em âmbito específico), assim como da aprendizagem experimental (resultante de experiências e tentativa e erro) e da acidental (por insight ou por coincidência) (LAVE; WENGER, 1991).

Nesse contexto de aprendizagens colaborativas e cons- trução e partilha do conhecimento, abarca-se o novo paradigma de modelo de desenvolvimento, o da sustentabilidade, que surge, mais precisamente, ao final do século XX. Para Lave e Wenger (1991), esse modelo de desenvolvimento já surge sendo considerado uma das maiores necessidades da humanidade, mas também trazendo grandes divergências de ideias e conceitos. Ele impõe a adoção de novas posturas relacionadas aos avanços científico e tecnológico, no alcance do crescimento econômico, na inclusão, na igualdade, na coesão social e na sustentabilidade ambiental e de ordem ética, direcionando, assim, um padrão de desenvolvimento hegemônico (AGUIAR, 2012).

desenvolvimento tiveram início a partir das décadas de 1960 e 1970, suscitados pelos integrantes dos movimentos ambientalistas, sobretudo em razão de sua não aceitação do “modelo materialista, bélico, individualista, competitivo e degradador do meio ambiente da sociedade de consumo”. A partir desse cenário, inicia-se um trabalho em busca de um modelo de desenvolvimento sustentável que atenda as necessidades da população presente, assegurando recursos naturais e boa qualidade de vida às gerações futuras.

Embora o conceito de desenvolvimento sustentável tenha sofrido severas críticas ao longo de sua evolução, (sobretudo por ainda prevalecer o sistema capitalista, insustentável por natu- reza), é lícito afirmar que pode ser considerado um “[...] processo contínuo de melhoria das condições de vida (para parcelas da população mundial), enquanto minimize o uso de recursos naturais, causando um mínimo de distúrbios ou desequilíbrio ao ecossistema” (AGUIAR, 2012, p. 12). Conceitos similares a esse ganharam visibilidade na década de 1980 e estão sendo ampliados a partir daí.

É lícito observar que o termo “desenvolvimento susten- tável” foi utilizado, inicialmente, pela União Internacional pela Conservação da Natureza (IUNC) em seus documentos (MONTIBELLER-FILHO, 2004), e ampliado à luz de muitas outras teorias, a exemplo da descrita por Sachs (2002) sobre os critérios básicos de sustentabilidade, demonstrados no Quadro 1, a seguir.

Quadro 1 – Critérios básicos de sustentabilidade

1 Sustentabilidade Social

Obtenção de um patamar razoável de igualdade social; distribuição justa de renda; emprego pleno e/ ou autônomo com qualidade de vida decente; acesso igualitário aos recursos e serviços sociais.

2 Sustentabilidade Cultural

Mudanças no interior da continui- dade (equilíbrio entre respeito à tradição e inovação); capacidade de autonomia para desenvolvimento de um projeto nacional integrado e endógeno (em contrariedade às reproduções servis dos modelos externos); autoconfiança somada com a abertura para o mundo. 3 Sustentabilidade Ecológica

Preservação do capital natural na produção de recursos renová- veis; restrição do uso de recursos não-renováveis.

4 Sustentabilidade Ambiental Respeito à capacidade de tempo para a renovação dos recursos naturais.

5 Sustentabilidade Territorial

Configurações urbanas e rurais equilibradas (eliminação das inclinações urbanas na alocação do investimento público); melhoria do ambiente urbano; superação das diferenças inter-regionais; estratégias de desenvolvimento ambientalmente eficazes para áreas ecologicamente comprometidas (conservação da biodiversidade pelo ecodesenvolvimento).

6 Sustentabilidade Econômica

Desenvolvimento econômico entre setores de forma equilibrada; segurança alimentar; capacidade de modernização constante dos instrumentos de produção; sig- nificativo nível de autonomia na pesquisa científica e tecnológica; inserção soberana na economia internacional.

7 Sustentabilidade Política (nacional)

Democracia regida nos moldes de apropriação universal dos direitos humanos; desenvolvimento da capacidade do Estado para instau- rar o projeto nacional, em parceria com todos os empreendedores; destacado nível de coesão social.

8 Sustentabilidade Política (internacional)

No tocante às políticas internacio- nais, a sustentabilidade passaria pela garantia de paz assegurada pelo fortalecimento da ONU, controle do sistema financeiro internacional, verdadeira coope- ração científica e diminuição das disparidades sociais norte-sul.

Fonte: Sachs (2002, p. 38).

Um dado interessante é que, de acordo com Aguiar (2012), somente a partir da década de 1990, as empresas e organizações brasileiras começaram a investir em programas ambientais e sociais objetivando atender as demandas sociais e do (novo) mercado. Isso se deu também por entenderem que o custo financeiro em diminuir o passivo ambiental e gerir conflitos sociais pode ser bem mais elevado do que promover ações responsáveis, preventivas, preservacionistas e conservacionistas (sustentáveis). Com isso, boa parte das organizações passou a investir em conhecimentos que garantam produtos, serviços e processos sustentáveis. As que

ainda não o fazem, correm pela busca dessas ações e de modelos de aplicação e conhecimentos que incitam mudança nos padrões de produção e de comportamento (VINHA, 2003).

Em meio a esse contexto, cresce a importância do capital intelectual organizacional, caracterizado como um recurso intan- gível fundamental para garantir a produção com mais eficiência, eficácia, efetividade, de forma responsável e sustentável. Isso significa dizer que o capital intelectual organizacional se torna o grande instrumento para sustentabilidade (SVEIBY, 1998).

De acordo com Sveiby (1998), três conjuntos de fatores compõem esse capital, quais sejam: a) capital humano, representado pelos conhecimentos e competências dos colaboradores, colocados à disposição da organização; b) capital estrutural, envolvendo tanto os softwares e sistemas de gestão como os demais ativos organiza- cionais com características inovativas que possam ser relacionados na categoria de “propriedade intelectual” (marcas, patentes entre outros); c) capital de relacionamento, correspondente à geração de conhecimento resultante das relações com outras organizações, como clientes e fornecedores, ou seja, todo o conjunto de stake- holders (SILVEIRA et al., 2013).

Foi a partir desses fatores que a introdução do enfoque estratégico de aplicação de atividades colaborativas nas organi- zações pela busca do conhecimento – preferencialmente voltado para questões de sustentabilidade, e, utilizando-se dos benefícios do capital intelectual – trouxe um pensar holístico aos processos organizacionais, aumentando o nível de participação nos fluxos informacionais da organização, ampliando os espaços para compartilhamento de informações e criação de conhecimento e aumentando o nível de competitividade e o ritmo das trans-

liderança e ao nicho de mercado, ligadas ao conhecimento (ÉBOLI; MANCINI, 2011).

Com efeito, as relações de causalidade entre conhecimento, informação, aprendizagem, inovação, vantagem competitiva e sustentabilidade começam a ser altamente exploradas, embasadas na integração entre trabalho, capacitação e competência profis- sional e desenvolvimento pessoal, econômico e social, a partir da década de 1960, mais sistematicamente a partir da década de 1980. Além disso, utiliza-se das capacidades humanas como a inteligência, a intuição e a inovação, aplicadas à tecnologia e à técnica, como instrumentos-chave para o sucesso das organizações sustentáveis e para a aprendizagem e a aquisição de competências necessárias ao desenvolvimento sustentável como: conhecimento interdisciplinar, ética, honestidade e responsabilidade, percepção e ação, liderança, visão crítica, habilidade de diálogo e comunicação, consciência ambiental, social e econômica, visão estratégica de sustentabilidade, adequação aos requisitos ambientais e cultura para a sustentabilidade (SILVEIRA et al., 2013).

Nesse caso, a GC – caracterizada como uma atividade inerente ao desenvolvimento humano e organizacional – torna-se um recurso estratégico de inovação na geração de valor, impres- cindível à criação e ao desenvolvimento da competitividade. Por isso, faz-se necessária, também, a transformação de processos tácitos e implícitos de conhecimento pessoal e organizacional em arcabouços inovativos úteis à obtenção de resultados como: qualidade de vida, retorno financeiro, melhoria e sobrevivência de negócios, sustentabilidade, entre outros, por meio de atividades que permitam a construção do conhecimento via aprendizagens colaborativas, logo, a sua gestão (BERTO; PLONSKI, 2001).

Para tanto, a GC utiliza-se da interação entre técnicas, tecnologias e pessoas, associada à criação de um ambiente

propício à aprendizagem que permite, por meio da colaboração, o gerenciamento e a efetividade da criação, desenvolvimento, compar- tilhamento e aplicação do conhecimento. Esses novos saberes que surgem dessa interação permitem capitalizar o conhecimento no contexto de sua criação, validação, apresentação e aplicação dentro e fora das organizações (ROSSETTI; MORALES, 2007).

É nesse sentido que, segundo Rossetti e Morales (2007), a GC utiliza-se do relacionamento e da interatividade, dos capitais humano, estrutural e ambiental para operacionalizar suas ações de gerenciamento. Assim, pode-se dizer que ela consiste em combinar o saber explícito e o saber tácito aos processos, produtos e serviços da organização para a criação de valor, por meio da externalização e socialização das competências individuais e do conhecimento organizacional, essencialmente voltado para fins sustentáveis.

Para tanto, tornam-se imperativos: a implantação de uma cultura de compartilhamento de boas práticas de construção de conhecimento para fins sustentáveis; a ampliação das redes de relacionamento; a valorização dos ativos intelectuais; e o aumento da capacidade de utilização criativa desses ativos em contextos diferenciados. Para isso, projetos e programas de GC devem ser bem formulados, a fim de tornar os processos de aquisição do conhecimento e de aprendizagem e compartilhamento dos saberes viáveis aos objetivos e metas sustentáveis da organização.

Nesse caso, a GC para fins sustentáveis organizacionais, permite que se despertem aptidões e predisposições necessárias à sociedade do conhecimento, utilizando-as a favor do perfil das orga- nizações que ora emergem e de suas demandas para a sustentabilidade. Desse modo, a percepção de uma nova função para a informação e, principalmente, para o conhecimento, potencializa seu papel no seio

3 PERCURSO INVESTIGATIVO DOS APORTES