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A definição de instituição: a dimensão normativa da decisão económica

No documento Economia, direito de propriedade e agricultura (páginas 136-139)

Problemática e enquadramento teórico

3. Contributos da leitura institucionalista

3.3. A definição de instituição: a dimensão normativa da decisão económica

3.3.1. A definição de instituição

A diversidade de significados assumidos pela palavra “instituição” é descrita da seguinte forma por Commons numa passagem da Institutional Economics:

“The difficulty in defining a field for the so-called Institutional Economics is the uncertainty of meaning of the word institution. Sometimes an institution seems to be analogous to a building, a sort of framework of laws and regulations, within which individuals act like inmates. Sometimes it seems to mean the ‘behavior’ of the inmates themselves” (Commons, 1934, 2003: 69).

As instituições podem revestir também diferentes configurações: organizações, entidades sociais como o dinheiro, a linguagem e a lei (Hodgson, 1998: 179). Os elementos comuns destas diferentes formas institucionais são, segundo Hodgson, os seguintes:

• envolvem a interacção entre agentes;

• apresentam um número de características, concepções e rotinas comuns; • sustentam e são sustentadas por concepções e expectativas partilhadas; • apresentam qualidades relativamente duráveis, auto-reprodutivas e

persistentes, embora não imutáveis;

• incorporam valores e processos de avaliação normativa através, nomeadamente, do reforço da sua legitimidade moral (ibid).

É possível encontrar alguns destes elementos nalgumas definições de instituição. Assim, para Commons, a instituição pode definir-se como “o controlo da acção individual pela acção colectiva”; para Veblen, estamos perante “hábitos de pensamento estabelecidos, comuns à generalidade dos homens”; para Shmoller a instituição corresponde ao “conjunto de regras formais ou informais, incluindo os meios da sua efectivação” (“enforcement”); para North, a instituição designa as “regras do jogo numa sociedade, ou mais formalmente, constrangimentos concebidos pelo homem que dão forma à interacção humana”.

A definição proposta por Hodgson integra, se não a totalidade, pelo menos grande parte daqueles elementos numa fórmula convincente: “durable systems of established and embedded social rules that structure social interactions” (Hodgson, 2002: 113).

Trata-se de uma definição que sublinha as características que nos parecem essenciais na conceptualização das instituições: a sua durabilidade e solidez (“durable” e “established”) associadas à sua legitimidade social (“embedded social rules”). Ou seja, as instituições, enquanto regras que estruturam as interacções sociais, incorporam uma dimensão de aceitação social.

3.3.2. Alguns elementos da anatomia das instituições

Aquela definição de instituição é apresentada por Hodgson em dois trabalhos: How

Economics Forgot History (2001) e The Evolution of Institutions: an Agenda for future Theoretical Research (2002).

No primeiro daqueles trabalhos, o tema central é o da especificidade histórica e integra a apresentação de uma proposta de classificação e análise institucionalista dos diferentes tipos de sistemas socio-económicos no contexto da qual tenta esclarecer a relação entre instituições e comportamentos.

Este tema é central também no segundo trabalho sobre mudança institucional. Em qualquer dos casos, Hodgson procede a uma recuperação do velho institucionalismo.

Consideramos que estes trabalhos de Hodgson introduzem aspectos importantes para a análise das instituições, nomeadamente: i) a explicação (ou tentativa de) da relação entre instituição e comportamento; ii) a caracterização dos contornos dessa relação; iii) a referência à diversidade das instituições; iv) a importância das normas legais no caso da instituição “propriedade”.

Entre estes elementos da “anatomia das instituições”, segundo Hodgson, interessa- -nos sublinhar os dois últimos - a diversidade das instituições e a importância das normas legais no caso da instituição “propriedade”.

A propósito do primeiro, Hodgson em How Economics… procura caracterizar “(...) the key processes of all economic activity: the production and the distribution of the necessary requisites of human life” (Hodgson, 2001: 287). As instituições directamente relacionadas com estes processos (“provisioning institutions”) correspondem, para o autor, às instituições de maior importância em qualquer sistema socio-económico. É o caso da propriedade mas também do mercado e dos contratos.

“The reason why institutions concerning production and distribution are vital is because production and distribution are themselves vital. In a viable social order these institutions dominate the fabric of social life” (Hodgson, 2001: 299).

A percepção da diversidade das instituições traduz-se, nomeadamente, na natureza do seu processo de emergência e desenvolvimento. Assim, algumas delas, como a linguagem, emergem e desenvolvem-se sem a intervenção do Estado; outras, pelo contrário, como a propriedade, precisam do Estado para existir. A diferença entre umas e outras reside, nomeadamente, na presença ou ausência daquilo que o autor designa por “intrinsic error-correcting or self-policing mechanisms” (Hodgson, 2002: 120). Embora o autor reconheça que “legal rules are always incomplete”, não deixa de afirmar a importância das mesmas no caso da propriedade:

“In this case it would seem that without the threat of the legal system and the courts, people might often default on contracts and take what is not theirs.” (Hodgson, 2002: 120-121).

A ênfase no papel desempenhado pelo Estado no caso da propriedade afasta Hodgson da posição de alguns novos institucionalistas, como é o caso de Williamson que concebe um sistema de propriedade sem o Estado e, como o próprio assume, aproxima-o da Escola Histórica Alemã (“concerning the role of the state in buttressing and maintaining some institutions” [id: 123]).

Como veremos, a definição de propriedade apresentada por Hodgson não anda também muito longe das ideias do velho institucionalismo:

“Individual property is not mere possession; it involves socially acknowledged and enforced rights. Individual property, therefore, is not a purely individual matter. It is not simply a relation between an individual and an object. It requires a powerful, customary and legal apparatus of recognition, adjudication and enforcement. Such legal systems make their first substantial appearance within the state apparatuses of ancient civilization. (…). Since that time, states have played a major role in the establishment, enforcement and adjudication of property rights” (id: 122).

Esta referência de Hodgson à importância das normas legais serve de ligação ao ponto seguinte que apresenta a visão institucionalista da propriedade.

No documento Economia, direito de propriedade e agricultura (páginas 136-139)