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A disseminação do conhecimento sob o manto da sociedade tecnológica

1. Da informação ao conhecimento: novas paisagens educativas na sociedade em rede

1.2 A disseminação do conhecimento sob o manto da sociedade tecnológica

A história da mídia nos reserva capítulos instigantes sobre o desenvolvimento dos meios de comunicação. Desde os primeiros dispositivos de comunicação social até os dias de hoje, muitas foram as invenções, descobertas e usos que fizeram da história da mídia um importante viés para o entendimento da sociedade.

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Asa Briggs e Peter Burker (2004: 13) afirmam que “foi somente na década de 1920 que as pessoas começaram a falar de ‘mídia’. Uma geração depois, nos anos 50, passaram a mencionar uma ‘revolução da comunicação’”. Lucia Santaella (2007) afirma que no Brasil do final dos anos de 1980, intelectuais acadêmicos ainda não utilizavam o termo mídia. A palavra ficava restrita aos publicitários e jornalistas como referência a divulgação que uma informação recebia nos meios de comunicação. Naquele tempo os termos mais utilizados nos meios acadêmicos eram meios de massa, cultura de massa, indústria cultural e tecnologias da comunicação.

A palavra mídia é uma derivação norte-americana do termo latino media, que quer dizer meios. Foi importado para a língua portuguesa a partir do inglês com a acepção de meios de comunicação. Briggs e Burker (2004), ao utilizarem mídia, se referem aos materiais usados para a comunicação. Marcondes Filho (1996) e colaboradores adotam a palavra como sinônimo de meios de comunicação.

No início da década de 1990 “mídia” se referia apenas aos meios de comunicação de massa, especialmente aos meios de transmissão de notícias, tais como jornais, rádio, revistas e televisão. Pouco depois seu sentido se alastrou para buscar qualquer meio de comunicação de massas. Deste modo “mídia” passou a ser o termo para fazer referência a uma novela de televisão ou a qualquer outro programa, não apenas aos que transmitiam notícias, assim como para se referir a todos os meios que a publicidade utiliza, desde outdoors até as mensagens publicitárias veiculadas por rádio ou TV. (Santaella, 2007).

O que contribuiu para expansão e fixação deste termo foi o crescimento acelerado dos meios que não se enquadravam mais na lógica da comunicação de massa, ou seja, equipamentos técnicos propiciadores de novos processos de comunicação, a exemplo de canais de TV a cabo, videocassete etc., que começaram a interferir na exclusividade dos meios de massa. Soma-se a este fato, a emergência de uma cultura propiciada pelas redes teleinformáticas que instaurou, definitivamente, a crise da hegemonia dos meios de comunicação de massa. Com isso a palavra mídia se generalizou para se referir também aos processos de comunicação mediados por computador. A partir de então todos os meios de comunicação – desde os de massa até o livro e a fala – passaram a ser referidos como mídia e o conjunto deles mídias. (Santaella, 2007).

É importante deixar claro que o interesse em estudar os meios de comunicação não partiu destes períodos. A própria retórica – estudo da arte de se comunicar – já foi objeto de estudo na Idade Média. (Briggs e Burker, 2004). Antes disso, há autores que defendem que a

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história dos meios de comunicação se inicia com os gritos e gestos utilizados pelos primitivos para externar intenções e indicar objetos. (Costella, 2002). Independente do ponto de partida, a história dos meios de comunicação sempre estará atrelada a mudanças sociais.

Um dos reflexos mais claros destas mudanças é que desde as primeiras tentativas de comunicação até os dias de hoje, testemunhamos o aumento significativo do volume de informações disponíveis. Além disso, as novas técnicas e modos de comunicação instaurados, estabeleceram transformações profundas nas culturas e nas formas de se estar no mundo. (Pereira, 2003).

Assim como os processos de comunicação e a própria cultura, em sua forma mais ampla, foram afetadas pela emergência de mídias, a educação, que é sustentada por processos de comunicação e é elemento cultural constitutivo de uma sociedade, foi afetada diretamente por tais novidades tecnológicas. A questão é que, ao pensarmos a educação, necessariamente, passaremos pela discussão da comunicação, assim como seus processos instauradores de novas formas de interação, não só entre os sujeitos, alunos e professores, mas também das tecnologias envolvidas.

Com a expansão das tecnologias digitais e o uso generalizado da internet, as técnicas de acesso, construção e disseminação de conhecimentos alteraram-se significativamente. As tecnologias, mais do que nunca, passaram a ter papel fundamental nos processos de aprendizagem onde, associadas a modelos pedagógicos e teorias de aprendizagem consistentes com o perfil dos destinatários e contextos, desempenham um papel importante no processo educativo.

Tais mudanças, provenientes da expansão das formas de comunicação e da introdução de mídias na sociedade, fizeram alargar as possibilidades de acesso e acúmulo de informações, dando, por exemplo, ao aprendente, a missão de pesquisa e seleção do material que achar útil para sua necessidade cognitiva. Tal comportamento não só reconfigura o papel do aluno, mas também do professor e da escola, que passam a contar com mais uma instituição envolvida no processo educativo: a mídia.

Deste modo, a emergência de suportes e ferramentas de comunicação também está atrelada a grandes mudanças educacionais que, por sua vez, alimenta novas experiências humanas com o ensino e a aprendizagem. Desde o final do século XX estamos vivendo um período marcado pela transformação de nossa cultura a partir de mecanismos de um novo paradigma tecnológico que se organiza em torno da tecnologia da informação.

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O final da década de 1960 marca o processo de transformação tecnológica que vem expandindo-se em grande escala, a razão disto é a capacidade de criação de uma interface entre campos tecnológicos mediante uma linguagem digital comum, na qual a informação é gerada, armazenada, recuperada, processada e transmitida. O mundo se digitalizou.

Para Castells (2011) esse é um evento histórico da mesma importância da revolução industrial do século XVIII induzindo a um padrão de descontinuidade nas bases materiais da economia, sociedade e cultura. Diferentemente de qualquer outra revolução, o cerne da transformação que estamos vivendo na revolução atual refere-se às tecnologias da informação, processamento e comunicação.

O que caracteriza a atual revolução tecnológica não é a centralidade de conhecimentos e informação, mas a aplicação desses conhecimentos e dessa informação para geração de conhecimentos e de dispositivos e de processamento/comunicação da informação, em um ciclo de realimentação cumulativo entre a inovação e seu uso. Os usos das novas tecnologias de telecomunicações nas duas últimas décadas passaram por três estágios distintos: a automação de tarefas, as experiências de usos e a reconfiguração das aplicações. Nos dois primeiros estágios, o progresso da inovação tecnológica baseou-se em aprender usando. No terceiro estágio, os usuários aprenderam a tecnologia fazendo, o que acabou resultando na reconfiguração das redes e na descoberta de novas aplicações. O ciclo de realimentação entre a introdução de uma nova tecnologia, seus usos e seus desenvolvimentos em novos domínios torna-se muito mais rápido ao novo paradigma tecnológico. Consequentemente, a difusão da tecnologia amplifica seu poder de forma infinita, à medida que os usuários apropriam-se dela e a redefinem. Dessa forma, os usuários podem assumir o controle da tecnologia como no caso da internet. Pela primeira vez na história, a mente humana é uma força direta de produção, não apenas um elemento decisivo no sistema produtivo. (Castells, 2011).

Diante desta perspectiva, a sociedade que temos hoje é fundamentalmente diferente da que conhecemos até o início dos anos de 1970. (Cardoso, 2007). A sociedade atual é designada por Castells (2011) como sociedade em rede. Ela é caracterizada por uma mudança na sua forma de organização social, possibilitada pelo surgimento das tecnologias de informação, num período marcado também pela necessidade de mudanças econômicas (globalização) e sociais. Nessa sociedade em rede a autonomia das escolhas de decisão está diretamente ligada com a nossa capacidade de interação com a mídia. (Cardoso, 2007).

Castells (2003: 07) afirma que a “rede é um conjunto de nós interconectados”. A formação de redes não é uma prática humana recente, mas elas ganharam vida atualmente

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transformando-se em redes de informação energizadas pela internet. Para Castells (2003), as redes têm vantagens extraordinárias como ferramentas de organização em virtude de sua flexibilidade e adaptabilidade constitutivos, características essenciais para se sobreviver e prosperar num ambiente em rápida mutação. Para ele, esta é a justificativa para sua proliferação em todos os domínios da economia e da sociedade, desbancando corporações verticalmente organizadas e burocratizadas e superando-as em desempenho. Porém, apesar das vantagens em termos de flexibilidade, as redes sempre tiveram que lidar com um problema: “dificuldade em coordenar funções, em concentrar recursos e metas específicas e em realizar uma dada tarefa dependendo do tamanho e da complexidade da rede”. (Castells, 2003: 07).

Agora, com a internet, as redes passaram a exercer sua flexibilidade e adaptabilidade, afirmando, assim, sua natureza revolucionária. Ao mesmo tempo, essas tecnologias permitem a coordenação de tarefas e a administração da complexidade. Segundo Castells (2003), isso resulta numa combinação nunca antes experimentada de flexibilidade e desempenho de tarefas, de tomada de decisão coordenada, execução descentralizada, de expressão individualizada e comunicação global, horizontal, que fornece uma forma de organização superior para a ação humana. E esta revolução acontece dentro de um contexto que converge para aceitação e difusão desta estrutura, em rede, na sociedade:

No final do século XX, três processos independentes se uniram, inaugurando uma nova estrutura social predominantemente baseada em redes: as exigências da economia por flexibilidade administrativa e por globalização do capital, da produção e do comércio; as demandas da sociedade, em que os valores da liberdade individual e da comunicação aberta tornaram-se supremos; e os avanços extraordinários na computação e nas telecomunicações possibilitados pela revolução microeletrônica. Sob essas condições, a Internet, uma tecnologia obscura sem muita aplicação além dos mundos isolados dos cientistas computacionais, dos hackers e das comunidades contraculturais, tornou-se a alavanca da transição para uma nova forma de sociedade – a sociedade em rede –, e com ela para uma nova economia. (Castells, 2003: 08).

Esta organização da sociedade em rede é oportunizada pelo modelo de comunicação propiciado pela internet e pela própria característica da espécie humana, que é a comunicação. É a comunicação que assegura o tecido social que construímos e vivemos. A complexidade das nossas sociedades nos obriga a interagir permanentemente, em diversos domínios de relacionamentos – social, profissional e cultural. “O nosso mundo é um mundo de comunicação mediada por tecnologias como lápis e o papel, o telefone, a televisão e a internet. E continua a ser também o mundo da comunicação face a face”. (Cardoso, 2007: 29). Mas Castells e Cardoso (2006) afirmam que a tecnologia é condição necessária, mas não suficiente para a emergência de uma nova forma de organização social baseada em redes.

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Para os autores, atualmente, vários setores da vida em sociedade (saúde, poder, conhecimento etc.) estão dependentes da capacidade de organização com base nos benefícios do novo sistema tecnológico, porém, a estrutura social de uma sociedade em rede resulta não só da tecnologia, mas da interação entre a tecnologia e a organização social.

As redes de comunicação digital, assim, são a coluna vertebral da sociedade em rede, e tal sociedade manifesta-se de diversas formas, conforme a cultura, as instituições e a trajetória histórica de cada sociedade. Além disso, a comunicação em rede transcende fronteiras, ela é global, é baseada em redes globais. Então, a sua lógica chega a países de todo o planeta e difunde-se através do poder integrado nas redes globais de capital, bens, serviços, comunicação, informação, ciência e tecnologia. (Castells e Cardoso, 2006).

Porém, como as redes são seletivas de acordo com os seus programas específicos, e porque conseguem, simultaneamente, comunicar e não comunicar, a sociedade em rede difunde-se por todo o mundo, mas não inclui todas as pessoas. De fato, neste início de século, ela exclui a maior parte da humanidade, embora toda a humanidade seja afetada pela sua lógica, e pelas relações de poder que interagem nas redes globais da organização social. (Castells e Cardoso, 2006).

Desta forma, a internet é uma ferramenta que permite, pela primeira vez na história dos meios de comunicação, a comunicação muitos com muitos, num momento escolhido, em escala global. Para Castells (2003), assim como a imprensa no Ocidente criou o que McLuhan chamou de Galáxia de Gutenberg6, com a internet ingressamos num novo mundo de comunicação: a Galáxia da Internet. Tal conjuntura se baseia no número de pessoas com acesso à Rede. De acordo com o Worldometers7 o número de usuários de internet no mundo ultrapassa os 3 bilhões8 (3.223,569,018). No início do ano 2000, havia apenas 250 milhões de usuários de internet no mundo9.

Mas, para Castells (2003) a influência das redes baseadas na internet vai além do número de usuários:

6 A Galáxia de Gutenberg é uma obra de Marshall McLuhan, publicada na década de 1960, na qual ele analisa a emergência da escrita e da

tipografia. Na obra, o autor apresenta a cultura manuscrita na Antiguidade e na Idade Média e analisa a interpretação da cultura da página impressa, da cultura tipográfica, mostrando até que ponto ela transformou a cultura oral anterior. É essa cultura que entra novamente em mudança no princípio do século 20. O livro permite acompanhar a reconstrução da cultura desde o aparecimento do alfabeto e compreender a imensa transição ocorrida com a introdução da imprensa, do jornal e do livro, e nos dá também a visão da reconfiguração da galáxia de Gutenberg com os novos meios de comunicação da era eletrônica. A tudo isto, junta-se a forma nova de apresentar a evolução cultural do mundo, mediante a apresentação dos fatos em configurações sucessivas sob a forma de mosaicos no curso dos acontecimentos.

7 Worldometers um site que levanta e disponibiliza, em tempo real, estatísticas mundiais. Ele é produzido e executado por uma equipe

internacional de desenvolvedores, pesquisadores e voluntários com o objetivo de tornar as estatísticas mundiais disponíveis e m um formato relevante instigante e tempo para um grande público em todo o mundo. O endereço eletrônico para o site é: http://www.worldometers.info/br/.

8 Pesquisa realizada no site – que tem atualização em tempo real – em 13/10/2015 às 15h00 (horário de Brasília/Brasil). 9 Números extraídos do Portal de Notícias G1, em matéria assinada pela Agência de Notícias France Presse de 26/01/2011.

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[...]diz respeito também à qualidade do uso. Atividades econômicas, sociais, políticas, e culturais essenciais por todo o planeta estão sendo estruturadas pela Internet e em torno dela, como por outras redes de computadores. De fato, ser excluído dessas redes é sofrer uma das formas mais danosas de exclusão em nossa economia e em nossa cultura. (Castells, 2003: 08).

Tal “qualidade do uso” é reforçada por Cardoso (2007) que afirma que, na sociedade em rede, a autonomia das escolhas está diretamente ligada a nossa capacidade de interação com a mídia. Para o autor, a mídia é entendida como todos os aparelhos de mediação e acesso a comunicação e informação, incluindo, assim, a internet. De tal modo, faz parte do exercício de cidadania a apropriação social das Tecnologias de Informação e Comunicação interligadas em rede. Mas tal apropriação vai depender do domínio individual das habilidades necessárias para interagir com ferramentas de mediação, “seja das que nos fornecem acesso à informação, seja das que nos permitem organizar, participar e influenciar os acontecimentos e as escolhas”. (Cardoso, 2007: 32).

Todo o universo de possibilidades que se situa dentro da rede mundial de computadores só é possível devido a interação entre a tecnologia e a sociedade, agora, interligada. Um dos resultados desta conexão generalizada é a quantidade de conteúdo que é gerado a partir dos fluxos de informação, tais fluxos se dão em um ambiente cibernético que denominamos de ciberespaço.

O termo ciberespaço surge pela primeira vez em 1984 em um livro de ficção científica de William Gibson, chamado Neuromancer. No livro, o ciberespaço é retratado como um espaço não-físico ou territorial composto por um conjunto de redes de computadores através dos quais as informações circulam.

Para André Lemos (2004) é possível entender o ciberespaço à luz de duas perspectivas. A primeira, pode ser vista como lugar onde estamos quando entramos num ambiente simulado (realidade virtual) e, a segunda, como o conjunto de redes de computadores interligados ou não, em todo planeta, a internet. Ainda para o autor, estamos caminhando para uma interligação total das duas concepções do ciberespaço, pois as redes vão se interligar entre si e, ao mesmo tempo, permitir a interação por mundos virtuais em três dimensões.

Nos novos meios de comunicação conectados à internet é possível coletar, manipular, arquivar, simular e transmitir informações que circulam em uma nova camada que se sobrepõe aos fluxos materiais que estamos acostumados a receber. O ciberespaço é, assim, um espaço sem dimensões, um ambiente de informações navegável de forma instantânea, marcado pelo tempo real, pela ubiquidade e pelo espaço não físico.

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Nos processos de adesão ao ciberespaço, cada representação individual se insere como uma pequena parte do grande sistema de fluxos de informações, dando ao ambiente uma dinâmica particular onde se estabelece a criação de redes numa estrutura matriz de múltiplos laços. Esta dinâmica seria a chave para a compreensão do universo que se modifica a cada instante, onde a comunicação se converte para algo antes inimaginável, para além da ficção científica, é um novo espaço social, nestes termos,

O ciberespaço não seria um agregado de informações autônomas, mas um processo permanente de adesão – através da contribuição particular – a malha reticular de informações universais. Cada ator do processo, cada usuário, estaria participando racionalmente para modelar o grande hipertexto – e não para criar uma área autônoma de informação, mesmo tendo que passar por isso. (Cunha, 2003: 198).

Diante deste contexto, o ciberespaço favorece o surgimento de comunidades virtuais e de agregações eletrônicas como um todo que se encontram aglutinadas em meio a interesses comuns e traços de identificação. É um ambiente onde espaço e tempo adquirem uma nova concepção devido à ausência de fronteiras geográficas.

As comunidades organizadas a partir do ciberespaço viabilizaram mudanças significativas nas relações sociais pautando-se nas oportunidades que o meio virtual oferece. Relações profissionais, afetivas, familiares etc., anteriormente limitadas pelo tempo e espaço tangível, agora são tão possíveis, quanto imediatas, proporcionando a interação de memórias através das conexões. Castells (2011) afirma ser o ciberespaço uma rede interativa a qual possibilita:

A formação de um hipertexto e de uma metalinguagem que, pela primeira vez na história, integra no mesmo sistema as modalidades escrita, oral e audiovisual da comunicação humana. O espírito humano reúne suas dimensões em uma nova interação entre os dois lados do cérebro, máquinas e contextos sociais. (Castells, 2011: 414).

A potencial integração de texto, imagens e sons no mesmo sistema, acionadas a partir de múltiplos pontos, seja em tempo real ou em outro momento, molda a cultura pois, como afirma Postman (apud Castells, 2011: 414) “nós não vemos... a realidade... como ‘ela’ é, mas como são nossas linguagens. E nossas linguagens são nossos meios de comunicação. Nossos meios de comunicação são nossas metáforas. Nossas metáforas criam o conteúdo de nossa cultura”.

A partir do exposto entendemos que, como a cultura é mediada e determinada pela comunicação, as próprias culturas, isto é, nossos sistemas de crenças e códigos historicamente produzidos são transformados de forma fundamental pelo sistema tecnológico, isto inclui as formas de se adquirir e transmitir conhecimento.

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Assim, o ciberespaço é alimentado pelo fluxo de informação permanente entre seus usuários. Nestes termos, entendemos que ele não pode ser visto apenas como uma ambiência composta por tecnologias e instrumentos de infra-estrutura, mas também por saberes e pelos indivíduos que os possuem. A conexão entre indivíduos situados em locais geograficamente distintos, torna os saberes desterritorializados ao mesmo tempo que favorece desenvolvimento da inteligência coletiva.

O conceito de inteligência coletiva de Pierre Lévy (2004) não aborda apenas cognição, mas é um projeto global que pressupõem ações práticas que se destinem à mobilização das competências dos indivíduos, e que busquem de fato a base e o objetivo da inteligência coletiva, que é o reconhecimento e o enriquecimento mútuo daqueles que se envolvem nessa proposta. (Lévy, 2004). Desta forma, a inteligência coletiva visa tornar o saber a base principal, a infra-estrutura, das relações humanas. Como diz o autor:

El concepto de inteligencia colectiva se opone a la idea de que el conocimiento legítimo viene desde "arriba", de la universidad, de la escuela, de los expertos, reconociendo, al contrario, que nadie sabe todo y que cualquiera sabe algo. La inteligencia colectiva permite pasar de un modelo cartesiano de pensamiento basado en la idea singular del cogito (yo pienso), para un colectivo o plural cogitamus (nosotros pensamos). Este concepto tiene serias implicaciones para la construcción de una verdadera democracia, creando una