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4. Percurso metodológico

4.3 Métodos de análise de dados

4.3.1 Análise de conteúdo das entrevistas

4.3.1.2 Exploração do material

A exploração do material é a etapa mais longa e desgastante. As decisões tomadas na pré-análise são pontos centrais desse momento do trabalho. É nessa fase da codificação, que os dados brutos são organizados e agregados em unidades que permitirão uma descrição das características pertinentes do conteúdo.

Triviños (2010) se refere a esta fase como descrição analítica. É nesta etapa que o material reunido que constitui o corpus da pesquisa é mais bem aprofundado, sendo orientado em princípio pelas hipóteses e pelo referencial teórico, surgindo desta análise quadros de referências, buscando sínteses coincidentes e divergentes de ideias. “Os procedimentos como a codificação, a classificação e a categorização são básicos nesta instância do estudo”. (Triviños, 2010:161).

Segundo Bardin (2011) a codificação compreende a escolha de unidades de registro (recorte), a seleção de regras de contagem (enumeração) e a escolha de categorias (classificação e agregação). Bauer e Gaskell (2002) afirmam que a principal função da codificação é servir de elo entre o material escolhido para análise e a teoria construída pelo pesquisador, pois embora os documentos estejam abertos a uma multidão de possíveis questões, a análise do conteúdo os interpreta apenas à luz do referencial de codificação.

Unidade de registro é a unidade de significação a codificar. As unidades de registro podem ser consideradas partes de uma unidade de amostragem, estabelecida anteriormente na constituição do corpus. (Duarte e Barros, 2011). Recorta-se o texto em função da unidade de

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registro. Todas as palavras podem ser levadas em consideração como unidades de registro. Serão palavras-chave; palavras-tema; palavras plenas ou vazias; categorias de palavras: substantivos, adjetivos, verbos, e etc. O personagem pode ser escolhido como unidade de registro: traços de caráter, status social, papel, etc. Se o acontecimento for tomado como unidade de registro, o recorte se fará em unidades de ação, nos casos de filmes, contos, relatos, lendas, etc. O documento serve como unidade de registro quando a ideia principal de um livro, um relato, uma entrevista é suficiente para o objetivo desejado. (Bardin, 2011). Para compreender as unidades de registro, muitas vezes, é preciso, fazer referência ao contexto no qual estão inseridas. Na análise de mensagens políticas, por exemplo, a contextualização de palavras como liberdade, progresso e democracia pode auxiliar na compreensão do verdadeiro sentido. (Duarte e Barros, 2011).

A seleção de regras de contagem (enumeração) nada mais é do que o momento no qual se verifica a presença de elementos que podem ser significativos, assim como também a ausência, que pode significar bloqueios ou traduzir vontade oculta. A frequência com que aparece uma unidade de registro denota-lhe importância. Por outro lado, a intensidade será medida através dos tempos do verbo (condicional, futuro, imperativo), dos advérbios de modo, adjetivos e atributos qualificativos. “A medida de intensidade com que cada elemento aparece é indispensável na análise dos valores (ideológicos, tendências) e das atitudes”. (Bardin, 2011:136). A direção pode ser favorável, desfavorável ou neutra. Os pólos direcionais podem ser: positivo ou negativo, bonito ou feio (critério estético), pequeno ou grande (critério de tamanho). A ordem de aparição das unidades de registro pode ter uma grande relevância. Pode ser útil saber se existem constantes que são evidenciadas na ordem de sucessão dos elementos. Por fim, a co-ocorrência é a presença simultânea de duas ou mais unidades de registro. Este fato nos indica a distribuição dos elementos e sua associação. (Bardin, 2011). Assim, as regras de enumeração se referem especificamente à quantificação das unidades de registro que levarão ao estabelecimento de índices. (Krippendorff apud Duarte e Barros, 2011).

Conforme Bardin (2011) a maioria dos procedimentos de análise qualitativa organiza- se em torno de categorias (classificação e agregação). A categoria é uma forma geral de conceito, uma forma de pensamento. As categorias são reflexos da realidade, sendo sínteses, em determinado momento, do saber. Por isso, se modificam constantemente, assim como a realidade.

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Na Análise de Conteúdo, as categorias são rubricas ou classes que reúnem um grupo de elementos (unidades de registro) em razão de características comuns. Para escolher categorias pode haver vários critérios: semântico (categorias temáticas), sintático (verbos, adjetivos, pronomes), léxico (classificação das palavras segundo seu sentido, agrupar os sinônimos, os antônimos), expressivo (agrupar as perturbações da linguagem, da escrita). A categorização permite reunir maior número de informações à custa de uma esquematização e assim correlacionar classes de acontecimentos para ordená-los. A categorização representa ainda a passagem dos dados brutos para dados organizados. Na atividade de agrupar elementos comuns, estabelecendo categorias, seguem-se duas etapas: inventário (isolam-se os elementos comuns) e classificação (repartem-se os elementos e impõem-se certa organização à mensagem).

Para categorizar, podem empregar-se dois processos inversos: tendo estabelecido o sistema de categorias, baseado em hipóteses teóricas, repartem-se os elementos à medida em que são encontrados, é o procedimento de “caixas”, conforme Bardin (2011:147); as categorias emergem da classificação analógica dos elementos e progressiva dos elementos, é o procedimento por “acervo” (Bardin, 2011:147), o título de cada categoria somente é definido no final da operação.

A autora elucida que, para serem consideradas boas, as categorias devem possuir certas qualidades: exclusão mútua – cada elemento só pode existir em uma categoria; homogeneidade – só devem ser incluídas numa mesma unidades de registro semelhantes; pertinência – as categorias devem dizer respeito às intenções da investigação; objetividade e fidelidade – se forem bem definidas, se os índices e indicadores que determinam a entrada de um elemento numa categoria forem bem claros, não haverá distorções devido à subjetividade dos analistas; produtividade – as categorias serão produtivas se os resultados forem férteis em inferências, em hipóteses novas, em dados exatos.

A organização do material neste trabalho teve início com a seleção das unidades de contexto sendo agrupadas a partir das premissas da análise de conteúdo. Primeiramente organizamos as várias respostas de cada pergunta em sequência, assim tínhamos para cada pergunta 10 respostas agrupadas de forma sequencial. A partir de então observamos as várias respostas e passamos a organizar a partir de tabelas as falas mais recorrentes e alocamos sob os indicadores de registro, que por sua vez compuseram as subcategorias e categorias.

O fato de termos organizado o material sob o escopo de respostas sequenciais não impediu que trouxéssemos para determinados indicadores de registro, recortes de falas

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presente em outras sequencias de respostas. Ou seja, apesar da estratégia das respostas em sequência, ela não limitou a busca de indicadores em outras partes do texto. Tal estratégia foi utilizada para tentar tornar o material de quase 100 páginas, mais acessível e organizado. Esta foi uma etapa mais desgastante e longa do processo de pesquisa.