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1. Da informação ao conhecimento: novas paisagens educativas na sociedade em rede

1.3 A informação difundida na lógica de redes: novas demandas, novos abismos

1.3.1 Sociedade do Conhecimento: muito além do acesso à informação

A sociedade que vem se reconfigurando com o advento das Tecnologias de Informação e Comunicação desenvolvidas nas últimas décadas recebe nomes distintos. Tal situação é reflexo de diferentes perspectivas que vem sendo alargadas de termos como Sociedade da Informação e Sociedade do Conhecimento:

Sociedade pós-industrial (Bell e Touraine), sociedade tecnotrônica (Brizenzinski), sociedade informatizada (Nora e Ninc), sociedade interconectada (James Martin), sociedade post-capitalista (Ralf Danhrendof, Peter Drucker), estado telemático (Román Gubern), aldeia global (McLuhan), sociedade digital (Negroponte, Terceiro, Bustamante), cibersociedade (Joyanes), sociedade bit (Reginaldo Rodrigues de Almeida, neste livro). Todos reflectem a influência que as tecnologias vêm tendo nas relações sociais e internacionais, na economia e na cultura. (Almeida, 2004: 05)

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O termo Sociedade do Conhecimento foi criado pelo sociólogo americano Daniel Bell, em 1976, no livro “The Coming of Post-industrial Society”. Nesta publicação ele traçou as características de uma mudança econômica que já tinha começado: de uma economia industrial, em que a maioria das pessoas estava envolvida na produção de coisas, para uma economia pós-industrial, em que a força de trabalho se encontrava cada vez mais concentrada nos serviços, nas ideias e na comunicação. Segundo Daniel Bell, boa parte desta nova tendência dependeria cada vez mais de pessoas e de instituições que produzissem conhecimento. (Hargreaves, 2003).

Para Hargreaves (2003) a profecia de Bell estava parcialmente correta. O acesso a cada vez mais anos de educação pública, de ensino superior e de educação para adultos continuou a expandir-se. Os jovens permaneceram na escola durante mais tempo, entraram no ensino superior em maior número e começaram a trabalhar mais tempo e a fazer sua carreira mais tarde. Mas saber se tudo isto conduz a uma Sociedade do Conhecimento globalmente melhor e mais acessível a todos permanece em aberto, pois nem sempre mais escolaridade significa melhor aprendizagem.

A Sociedade do Conhecimento dos nossos dias não está representada apenas pelo crescimento de determinados setores especializados como a ciência, a tecnologia ou a educação. Ela não é apenas um recurso para o trabalho e para a produção, pois permeia todos os domínios da vida econômica, caracterizando a própria forma como as grandes empresas e muitos outros tipos de organizações operam. É do economista Peter Druckner (apud Hargreaves, 2003) a ideia mais difundida de Sociedade do Conhecimento, qual seja:

[...] é e será o conhecimento... O valor agora criado pela “produtividade” e pela “inovação” que são, ambas, aplicações do conhecimento ao trabalho. Os grupos que liderarão a sociedade do conhecimento serão “os trabalhadores do conhecimento” ... O desafio econômico... residirá, pois, na produtividade do trabalho e dos trabalhadores do conhecimento. (Druckner apud Hargreaves, 2003: 33).

Três dimensões são identificadas na Sociedade do Conhecimento. A primeira compreende a esfera científica, técnica e educativa alargada. A segunda envolve formas complexas de processamento e de circulação do conhecimento e da informação numa economia baseada nos serviços. A terceira implica mudanças básicas na forma como as organizações empresariais funcionam, de modo que possam desenvolver uma inovação contínua nos produtos e nos serviços, criando sistemas, equipes e culturas que maximizem as oportunidades de uma aprendizagem mútua e espontânea. (Hargreaves, 2003)

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Assim, percebe-se que o segredo para uma forte economia baseada no conhecimento não reside apenas no acesso das pessoas à informação, mas também no grau em que elas conseguem processar essa informação. Talvez resida aí a diferença básica entre Sociedade da Informação e Sociedade do Conhecimento. Muitos autores tratam estes conceitos como sinônimos, mas outros os afastam, colocando a Sociedade do Conhecimento como uma sequência, ou consequência da Sociedade da Informação.

Sociedade da Informação, informacional ou em rede, são conceitos que pretendem dar conta do modo como as tecnologias da informação e da comunicação têm vindo a afetar não apenas os processos produtivos, mas também as relações sociais e os padrões culturais. Menos frequentes são as propostas de leitura das mudanças em curso que elegem o conhecimento como chave fundamental para a compreensão das sociedades contemporâneas.

A Sociedade do Conhecimento é uma sociedade da aprendizagem. O sucesso econômico e uma cultura de inovação contínua depende da capacidade dos trabalhadores para continuarem a aprender por si próprios e uns com os outros. Uma economia baseada no conhecimento não funciona apenas com o poder das máquinas, mas sim com o dos cérebros – pensando, aprendendo, inovando.

Para a Unesco, uma Sociedade do Conhecimento é uma sociedade que se nutre de sua diversidade e capacidades. Tal condição se dá pelo fato de que cada sociedade conta com seus próprios pontos fortes em matéria de conhecimento, por conseguinte, é necessário atuar para que os conhecimentos que estão depositados nas distintas sociedades se articulem com as novas formas de elaboração, aquisição e difusão do saber, avaliadas segundo o modelo da economia do conhecimento. (Unesco, 2005).

A economia do conhecimento, por sua vez, descreve uma etapa particular do desenvolvimento do sistema capitalista, baseada em conhecimento, que sucede a uma fase de acumulação do capital físico.

Tal como Marx había predicho a mediados del siglo XIX, parece ser que el conocimiento está sustituyendo a la fuerza de trabajo y que la riqueza creada se mide cada vez menos por el trabajo en su forma inmediata, mensurable y cuantificable, y depende cada vez más del nível general de la ciencia y del progreso de la tecnología. (Unesco, 2005: 50).

Tal fase, destaca a complementaridade estrutural e tecnológica que existe entre as novas possibilidades de codificação, armazenamento e transmissão de informações fornecidas pelas novas tecnologias, o capital humano dos trabalhadores que pode usá-los e uma organização “reativa” da empresa - graças aos avanços na gestão do conhecimento - que permite a exploração mais ampla de produtividade potencial.

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Como dito anteriormente, o conceito de economia do conhecimento foi criado por Peter Drucker (1969), onde buscava referência à aplicação do conhecimento de qualquer campo ou fonte, novo ou velho, como estímulo ao desenvolvimento econômico. Porém, Daniel Bell deu destaque a expressão, por chamar atenção para o impacto do conhecimento nas economias das sociedades industriais avançadas.

Bell (1974) acreditava que alguma forma de conhecimento sempre foi fundamental para o funcionamento de qualquer sociedade, no sentido de que o conhecimento é um universal antropológico. Bell argumentava que o traço distintivo das sociedades industriais avançadas era que o conhecimento teórico10 teria passado a constituir o “princípio axial” do desenvolvimento (1974: 175). Tal conhecimento teria alcançado esse novo papel porque a mudança de uma economia de produção para uma economia de serviços significava que: “quando o conhecimento se torna envolvido de alguma forma sistemática na transformação aplicada dos recursos, então pode-se dizer que o conhecimento, não o trabalho, é a fonte de valor!”. (Bell, 1979: 169).

Assim, o caráter e a riqueza das sociedades industriais avançadas passam a ser determinados por uma “teoria do valor do conhecimento”, uma vez que o conhecimento teórico servia a dois propósitos principais: o primeiro, tem relação com a sua aplicação por meio do processo de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) que consistia na principal fonte de inovação e, o segundo, o coloca como essencial para a formulação de políticas de auxílio ao planejamento. Além disso, esse novo papel do conhecimento teórico exigia, de acordo com Bell (1974: 29), uma “tecnologia intelectual” para orientar sua aplicação no processo de pesquisa e políticas. Portanto, em vez de manter o entendimento habitual da tecnologia como relacionada às ferramentas ou às máquinas, Bell recorreu ao termo tecnologia intelectual para se referir à substituição dos algoritmos (regras para solução de problemas) pelo juízo intuitivo nas políticas e na pesquisa.

Assim, enquanto conceito, a Sociedade do Conhecimento se sustenta na ideia de que o conhecimento é um fator central para o crescimento econômico e para o desenvolvimento social das nações. Tal condição é alimentada pela Sociedade da Informação que, por sua vez, tem as tecnologias funcionando como motores dessa nova estrutura social.

10 O conhecimento teórico para Bell se constitui de proposições organizadas de fatos ou ideias, apresentando um juízo ponderado ou

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O relatório da OCDE11, sob o título Knowledge Management in the Learning Society,

de 2000, associa a gestão do conhecimento aos desafios criados pela aceleração das mudanças na Sociedade do Conhecimento.

Estamos a entrar numa “economia aprendente” em que o sucesso dos indivíduos, das empresas, das regiões e dos países reflectirá, mais do que qualquer outra coisa, a sua capacidade de aprender. A aceleração da mudança reflecte a difusão rápida das tecnologias da informação, o alargamento do mercado global... e a desregulação e menor estabilidade dos mercados. (OCDE (2000) in Hargreaves, 2003: 38).

Tais tendências põe em análise questões profundas sobre os tipos de conhecimentos aos quais temos acesso e suas formas de aquisição. É preciso desenvolver no sujeito a capacidade de aprender e de liderar a mudança. Como pano de fundo dessa nova ambiência, encontra-se as práticas de sociabilidade virtuais, que se configuram, no contexto atual, como fontes de geração, partilha e difusão de saberes. A organização da sociedade a partir de redes de comunicação, faz emergir uma nova forma de busca, acesso e difusão de conteúdos jamais experimentados, tendo cada indivíduo conectado como um ator desse processo.