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A educação permanente em saúde na vacinação

No documento maristelabatista (páginas 158-163)

8 RESULTADOS E DISCUSSÃO

8.4 A EDUCAÇÃO PERMANENTE EM SAÚDE COMO SUBSÍDIO PARA O

8.4.3 A educação permanente em saúde na vacinação

Embora a enfermeira e sua equipe devam usufruir da tecnologia da informação que disponibiliza as inovações científicas, a busca espontânea nem sempre acontece. Por isso a educação permanente em saúde deve ser prática social reflexiva que permita à enfermeira enfrentar as contradições nas diversas funções, como aquelas presentes no seu trabalho na vacinação nas UAPSs.

Desta forma, as enfermeiras depõem sobre as possibilidades de educação em serviço, citando os treinamentos, capacitações, reuniões técnicas e a educação permanente em saúde, como na fala a seguir:

A vacina tem mais detalhe, precisa estar sempre atualizando, tem sempre informação nova, tem que passar pra ela. Tem gente que tem resistência mesmo. Quando falo, ele pergunta, de novo? Já mudou?... É importante observar isto. É dinâmica, né. (Violeta)

Precisa ser treinado, mas precisa de perfil. (Rosa)

Gostam mesmo, adoram reciclagem, outros não. A gente tem que facilitar. Eu gosto de vacina também. Então a gente tem que vê como fica isso. Está precisando muito de capacitação... em sala de vacinação, em BCG tem pouquíssimos enfermeiros fazendo BCG , o pessoal está aposentando e não tem pessoal treinado novo para fazer BCG e PPD, Tenho recebido pessoas da zona norte para fazer BCG lá na região leste. Minha colega tem cinco anos de Prefeitura e, até hoje, não fez capacitação em sala de vacinação, coitada. (Violeta)

Realmente, no município, não tem tido capacitação em sala de vacinação há muito tempo. Não tem, né? Quem já fez... tudo bem. Mas quem tá entrando, não ta tendo. Então precisamos aproveitar o PEPS para isso. (Margarida)

A articulação de saberes constitui as especificidades do trabalho em saúde, por isso é necessário socialização e politização para acumular poder para a transformação da relação de trabalho (CAMPOS, R.; CAMPOS, G., 2006; MERHY et al., 2004; WITT; ALMEIDA, 2003).

No cotidiano do trabalho na vacinação, as enfermeiras tentam suprir esta necessidade, fazendo algumas intervenções, mas nem sempre conseguem o sucesso almejado. Por isso, debatem:

Eu não sei se porque ele não entende!? E isso a gente explica, fala, mas parece que não entende não aceita, já tive muito problema lá, por conta dessa questão de por tentar. (Rosa)

Fiz treinamento, falamos lá em baixo (na chefia), conversamos com acadêmico de enfermagem para ajudar, fizemos várias reorientações; mas tem gente que tem o maior bloqueio, até mesmo... (Violeta)

Acho complicado, mas vou dizer: eles não fundamentam as orientações, tem que ser e pronto. (Rosa)

Aí, eu falei com minha colega; nós vamos fazer isso? Aplicar vacina intramuscular no deltoide de criança menor de dois anos?... (Dama-da- noite)

Esclarece-se que os trabalhos educativos desconectados e baseados em transmissão do conhecimento não são eficazes para incorporar novos conceitos e princípios às práticas estabelecidas (CECCIM, 2005). A enfermeira na ESF tem a possibilidade de ações mais contextuais para a compreensão do indivíduo. Seu processo de trabalho ocorre em um espaço multiprofissional, em que a interdisciplinaridade é desejável, a formação de vínculos com a população a situa como corresponsável pelas ações de saúde de uma área. Desta forma, a enfermeira na UAPS precisa colocar em prática suas potencialidades.

Por isso, ao refletir sobre a possibilidade de melhorar o cuidado na sala de vacinação, as participantes relatam:

Espera um pouquinho: Ele precisa entender a importância disso! Talvez ele entenda a responsabilidade. E a gente conquista o espaço da sala de vacinação. (Violeta)

Devia informar mais a nós e aos nossos técnicos e auxiliar. O que acontece com vacina. Por exemplo, a menina anotou o lote da febre amarela e a gente viu que era Sabin. E se... Tem que voltar para a responsabilidade, a importância e o que acontece. Estão fazendo mecanicamente. (Dália)

Com base nos questionamentos, percebe-se que as enfermeiras, assim como auxiliares e técnicos de enfermagem precisam de espaço para estudar sobre vacinação, de forma sistemática, sendo importante destinar um tempo na sua carga horária para fins de educação permanente em saúde.

Os profissionais em saúde são citados como a base para viabilizar e implementar projetos, ações e serviços de saúde disponíveis à população. A

formação de recursos humanos para o SUS tem aproximado as instituições formadoras e as ações e serviços do SUS para facilitar condições de crítica e reflexões para mudanças de formação e cuidado em saúde (WITT, 2005).

Com esse propósito, em 2004, foi instituída a Política Nacional de Educação Permanente em Saúde, que incentiva a criação do Polo de Educação permanente em Saúde (PEPS) como estratégia para a formação e o desenvolvimento de trabalhadores para o SUS, utilizando a problematização dos processos de trabalho, baseada em uma reflexão crítica sobre suas práticas (ALMEIDA; FERRAZ, 2008; BRASIL, 2009a; PIERANTONI et al., 2008).

O PEPS deve ser espaço de diálogo e de negociação entre os atores das ações e serviços e das instituições formadoras, para superar limites da formação e reorientação das práticas de prevenção e promoção da saúde na proposta da ESF. Assim constitui um espaço para as enfermeiras discutirem e refletirem sobre o cuidado e as contradições presentes no cotidiano do seu trabalho e assim mobilizarem a equipe de enfermagem para alcançar os objetivos de um saber fazer qualificado, que traduza em autonomia profissional (GOMES; OLIVEIRA, 2010).

A educação permanente é um instrumento importante para propor a formação a partir das necessidades de saúde das pessoas, estruturada a partir da problematização do processo de trabalho com o objetivo de transformação das práticas profissionais e da própria organização. Por isso, esta necessidade encontra uma possibilidade na iniciativa do poder público, por meio do Peps para enfermeiras e para auxiliares de enfermagem das UAPSs.

Entende-se, assim, a educação permanente essencial à política de formação e desenvolvimento dos trabalhadores que atuam no SUS e comporta diferentes metodologias e técnicas de ensino-aprendizagem inovadoras (BRASIL, 2006a). Entretanto, no município em questão, esta proposta de PEPS para as enfermeiras e auxiliares de enfermagem das UAPSs teve início somente em 2011, sete anos após ter sido instituído.

Dependendo da concepção que se tem sobre o processo ensino- aprendizagem, as relações entre os sujeitos (acadêmicos, enfermeira, auxiliares e professor) diferem. É preciso que os sujeitos dialoguem sobre a prática de educação dominadora e o alcance de uma educação como prática de liberdade. Isto implica contribuir para perfis diferentes de profissionais de enfermagem.

Segundo Freire (2011), ao adotar a concepção “bancária”, o educador transmite valores e conhecimentos enquanto o educando memoriza conteúdos, mas mantém a contradição. O educador é sujeito dominador e o educando escuta, segue a prescrição, acomoda. Nesta visão, os seres humanos são considerados seres de adaptação.

Na concepção de educação problematizadora, considera-se essencial que ocorra uma relação dialógica entre os sujeitos para superar a contradição entre educador e educando. A unidade dialética favorece um conhecimento solidário sobre a realidade concreta sobre a qual os aspectos subjetivos e a objetividade se encontram, construindo e reconstruindo um saber crítico. Propõe, portanto, a reflexão autêntica de suas relações com o mundo, em busca da liberdade. Nesta visão, os homens desenvolvem a consciência crítica e lutam por emancipar-se da opressão (FREIRE, 2011).

A problematização e a tomada da consciência coletiva sobre a realidade do trabalho deve fazer parte do processo educativo e das intervenções e potencializa a emancipação dos trabalhadores (CECCIM, 2005; FREIRE, 2011). Desta forma, Educação Permanente em Saúde pode ser orientadora das iniciativas de desenvolvimento dos profissionais e das estratégias de transformação das práticas de saúde.

A construção dos sujeitos criativos, éticos, tecnicamente competentes, defensores da saúde da população, capazes de atuar nos focos do gerir e do agir no interior dos serviços de saúde pode contribuir para alterar a lógica do cuidado à saúde e, consequentemente, o modelo de atenção em saúde (MERHY et al., 2004).

Assim acredita-se que o PEPS poderá possibilitar construção de espaço coletivo para a reflexão e avaliação do cotidiano do trabalho da enfermeira na vacinação, porque, ao mesmo tempo que atualiza as práticas, permite a construção de relações e processos nas equipes e na organização da UAPS, ao compartilhar saberes. Neste espaço, é possível vislumbrar produções de conhecimentos para o campo da saúde coletiva e da enfermagem.

8.5 TRANSFORMAÇÕES DO TRABALHO DA ENFERMEIRA NO CONTEXTO DAS

No documento maristelabatista (páginas 158-163)