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Organização na relação com a estrutura

No documento maristelabatista (páginas 143-146)

8 RESULTADOS E DISCUSSÃO

8.3 ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO DA ENFERMEIRA NA VACINAÇÃO

8.3.3 Organização na relação com a estrutura

As enfermeiras apresentaram suas dificuldades relacionadas à organização da estrutura, à luz de suas experiências. A organização da estrutura física das salas de vacinação, o apoio administrativo para a logística de vacinação e suas relações de vínculo empregatício foram considerados relevantes. Assim a sala de vacinação na UAPS é mencionada por uma das enfermeiras:

A gente agora está com uma sala novinha, com uma sala só para isso; antes não tinha. Agora, compraram geladeira novinha, tudo direitinho, ta? Faltou só auxiliar. (Violeta)

Observa-se que, apesar da nova estrutura física na UAPS (citada por Violeta), ainda persiste a falta do auxiliar de enfermagem para este trabalho. A estrutura física adequada é aquela que atende às necessidades para a sala de vacinação (BRASIL, 2008b) e deve atender exclusivamente a esta finalidade. Os recursos e investimentos para construção são financiados pelo SUS, tendo em vista a finalidade a que se propõem.

A organização do trabalho sofre influências estruturais, relacionadas à estrutura macroeconômica, bem como à estrutura organizacional, como o modo de gestão empreendido pela instituição, que está, por sua vez, relacionado ao modo de produção vigente (GELBCKE; LEOPARDI, 2004).

Outro fator importante para a operacionalização da vacinação refere-se ao apoio administrativo, para garantir a acessibilidade da população. No diálogo com este enfoque, as enfermeiras apontaram:

Aqui, você trabalha, trabalha, trabalha... o profissional que corre atrás, que sabe a sua responsabilidade, mas, às vezes, esbarra em muita coisa, precisa fazer um trabalho de qualidade. (Jasmim)

Eu acho que falta um pouco de apoio. No dia da campanha, por exemplo, a gente tem um carro para fazer. Se você não fez os acamados no dia, a gente fica enrolado depois. Eu ainda acho que a vacina ainda é a parte da SMS que a gente tem mais apoio. Pelo menos no dia D a gente tem o carro à disposição com motorista. As outras coisas não. Isto fez com que tivesse um certo status. (Dália)

Em outro município, Sala equipada, tem armário, geladeira, ar refrigerado, ela tá tudo direcionada pra quê? Para atendimento á vacinação onde você tem um funcionário responsável no turno da manhã e da tarde para resolver as questões de vacina. E você tem a Secretaria de Saúde em cima, junto com você. Pra quê? Para te auxiliar nas campanhas. Aí você consegue fazer um trabalho de excelência. Então você

consegue no dia D, você consegue enviar a campanha na zona rural, nos bairros fora pra quando terminar a campanha você tenha um bom resultado... E junto também tem um carro, um transporte, tem todo um aparato pra te ajudar a fazer. O agente, o carro de som, tem tudo pra fazer. Então assim, eu sempre defendi o resultado. Vindo pra cá não acontece. (Jasmim)

Neste momento, observa-se que existem diferenças na disponibilidade de recursos para a estratégia de rotina e de campanha de vacinação, como carro e motorista, divulgação. Nas campanhas de vacinação, os resultados são avaliados mais rapidamente, tendo maior visibilidade do produto desta ação, que, neste caso, entendido como o alcance da meta estabelecida, expresso pela cobertura vacinal.

Neste enfoque, é relevante a estratégia de participação de todos profissionais da equipe para este objetivo, principalmente nos dias específicos (dia D). Configura-se, nesse momento, a importância de um trabalho em equipe, em que todos perseguem um resultado final, o mesmo produto.

As condições de trabalho, representadas pela estrutura física adequada, materiais e insumos em quantidades e qualidade suficientes, acesso facilitado aos serviços de saúde são importantes, mas não se pode esquecer a importância do recurso humano nesta organização. Com este entendimento, a organização da estrutura passa a ser evidenciada pelas relações de trabalho e emprego, citadas pelas enfermeiras:

O problema é... Aquilo que a gente já conseguiu e ter que recomeçar, porque venceu o contrato. (Dama-da-noite)

Eu estou com dois auxiliares novos contratados que nunca tinham visto uma sala de vacinação. (Margarida)

Tem colega minha (enfermeira) que aprendeu fazendo comigo e por ela mesma, tá? (Violeta)

As contradições do trabalho da enfermeira na vacinação das UAPSs foram evidenciadas pela incerteza gerada pelo contrato temporário, a inexperiência e a insegurança, configurando-se em uma estrutura de recursos humanos com muitas fragilidades.

Desta forma, percebe-se que os aspectos estruturais relacionados à conjuntura social, econômica e política estão presentes no cotidiano da organização do trabalho da enfermeira na vacinação.

Com base nos depoimentos, percebe-se a necessidade da equipe de enfermagem se unir para reivindicações referentes aos seus direitos trabalhistas, dada a sua posição na composição da equipe de ESF das UAPSs. Entende-se que o saber e o fazer da enfermagem devem retratar um caráter organizativo, que também se aplica a sua imagem, conforme citam Gomes e Oliveira (2010).

O trabalho da enfermeira nas UAPSs é um processo em construção no qual este profissional precisa reconhecer os microespaços de poder e suas diferentes subjetividades e valorizar sua participação como ator neste processo (GELBCKE; LEOPARDI, 2004; KIRCHHOF, 2003).

No trabalho em saúde, as estruturas das relações sociais são marcadas pelas diferenças de poder e subordinação e de salários e emprego entre os profissionais e os usuários e o domínio de saberes e valores culturais (CAMPOS, R.; CAMPOS, G., 2006). Portanto, a organização do trabalho da enfermeira na vacinação nas UAPSs reforça as vantagens da descentralização deste trabalho, em que a população e os trabalhadores participam e se comprometem com esta responsabilidade nos serviços de saúde, compondo uma integração da equipe para a finalidade da vacinação. Entretanto, neste trabalho, localizam-se relações complexas que são reveladas no cotidiano em busca da efetividade na vacinação.

8.4 A EDUCAÇÃO PERMANENTE EM SAÚDE COMO SUBSÍDIO PARA O

No documento maristelabatista (páginas 143-146)