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Organização na relação hierárquica

No documento maristelabatista (páginas 140-143)

8 RESULTADOS E DISCUSSÃO

8.3 ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO DA ENFERMEIRA NA VACINAÇÃO

8.3.2 Organização na relação hierárquica

Nas UAPSs, a enfermeira, ao assumir a responsabilidade pelas ações de vacinação, adquire a autoridade no nível mais descentralizado do PNI, o que deve ser conciliado com seu saber específico de enfermagem. Na dialética das relações hierárquicas, estas enfermeiras mencionaram o seguinte:

Mas parece que não entende, não aceita, já tive muito problema lá, por conta dessa questão... Então eles não fazem nada. A gente pede p/ fazer a limpeza da sala, vê a escala e vai ter que montar a caixa. Precisamos supervisionar mais de perto a sala de vacina, mas... também tem outras coisas. O que fala lá é assim: o enfermeiro tem a função dele, o auxiliar outra. Como se o enfermeiro não supervisionasse e eles não entendem isso. (Rosa)

Precisa dar uma atenção na sala de vacinação, vai lá dar um apoio ao auxiliar, fazemos assim quem tá lá, passa tudo mastigadinho, olhamos se tem fila, dúvidas. Não é possível ficar exclusivamente para ela, mas eu procuro acompanhar também, ficar mais perto, dar apoio, reúno, discuto. Procuro fazer o melhor. (Violeta)

Eu entendo que há falta de perfil e que o auxiliar de enfermagem não aceita o que existe de novidade, a gente vai

falar ela fala “Ah eu já sei”. Não aceitação da supervisão do enfermeiro, porque ele assume muita coisa. (Dália)

Por sua especificidade profissional, a enfermeira ocupa uma posição de poder na UAPS frente à equipe e à população e, por isso, deve procurar influenciá- los positivamente para o alcance das metas do PNI.

A organização hierárquica das ações e dos serviços públicos do SUS integra ao princípio de descentralização político-administrativa, tanto no sentido da rede de serviços quanto em níveis crescentes de complexidade, conforme cita respectivamente os artigos 7º e 8º, capítulo II da Lei 8.080, de 19 de setembro de 1990 (BRASIL, 1990a).

As fragilidades e facilidades nas relações hierárquicas na organização do trabalho da enfermagem somam-se à divisão do trabalho, ao modelo de gestão institucional e de enfermagem, às complexidades tecnológicas e do conhecimento (SILVA, 2009).

A distribuição de funções por grau de complexidade na enfermagem é inerente à composição da profissão em três categorias diferentes, diferenciadas pela formação do saber técnico. A enfermeira, nesta hierarquia, deve ser capaz de, além de executar ações específicas, planejar ações a serem realizadas pela equipe, supervisionar, orientar e implementar novas ações (CONSELHO REGIONAL DE ENFERMAGEM DE MINAS GERAIS, 2010).

Assim, ao mesmo tempo que a enfermeira avança no seu saber/fazer, enfrenta desafios pelas contradições internas no saber/fazer, tendo em vista que a assistência de enfermagem não é prestada exclusivamente por ela. Entende-se, assim, que a enfermeira precisa dialogar frequentemente com sua equipe, procurando detectar as necessidades desta. O enfrentamento, neste caso, torna-se mais ameno, quando a enfermeira, ao supervisionar sua equipe, promove reflexões para atuação com mais segurança.

Acrescenta-se que, ao liderar uma equipe de enfermagem, a enfermeira deve ajudá-la a desenvolver suas potencialidades, inseri-la no planejamento das ações e na participação das decisões para maior comprometimento com o trabalho e agregar valores ao indivíduo para mantê-lo motivado.

A liderança como uma abordagem estruturada na delegação de poderes, alianças, equipes, envolvimento, parcerias e negociações deve promover a

motivação humana, para o alcance de maior produtividade, eficiência e realce dos valores humanos daqueles que compõem o quadro de pessoal da instituição. A vontade de trabalhar produtivamente é de grande importância para a enfermagem e reflete na forma como o cuidado é executado (BEZERRA et al., 2010; PEREIRA et al., 2009; TRAD; ROCHA, 2011).

Desta forma, a enfermeira tem o desafio de considerar a produção de sujeitos capazes de aprender e de compartilhar desde que estejam motivados para as suas funções. Além disso, ela deve dialogar com os sujeitos do cuidado sobre a importância da vacinação, promovendo reuniões comunitárias, atenta às reivindicações a partir de uma escuta qualificada e construir vínculos com esta.

Quanto maior a proximidade da enfermeira com a sala de vacinação e com os sujeitos deste cuidado, mais rápida será a solução de problemas, facilita a produção do cuidado em vacinação e supera o conflito determinante de desgastes e desequilíbrios na equipe de enfermagem.

Como profissional integrante de uma rede de cuidados, a enfermeira da UAPS precisa dialogar também com o nível municipal, através da Coordenação de Vacinação, e com a Chefia do Departamento de Atenção Primária a Saúde. Nesta relação hierárquica ascendente/vertical, busca respaldo para suas decisões internas na UAPS. Entretanto, nestas relações hierárquicas, ela enfrenta contradições externas, como apontam os diálogos a seguir:

Eu perguntei pra eles sobre... aí me disseram que agora é assim. Fui saber de onde saiu aquilo e, de repente, disseram: apaga tudo que tá..., Gente, eu acho... que eles realmente estão acima da gente. (Dama-da-noite)

Eu tenho experiência de ter trabalhado em outro município. Fora daqui, a gente vê a atenção que se dá à vacinação. Numa realidade totalmente diferente. (Jasmim)

A Coordenação sempre tinha referência. Fazia cobranças: você pediu muita vacina, o que aconteceu, seu movimento não fecha. A gente tem que ter conversa. Quando não tem ninguém pra cobrar... (Dália)

Ainda assim é o único lugar que tem rede de informação. Aí irrita quando eles cobram... porque eu sei onde tá a falha. (Violeta)

O saber/fazer da enfermeira no trabalho da vacinação passa por mudanças frequentes, marcadas pelas transformações do avanço científico na área de imunização e as conquistas políticas de inserção de novos imunobiológicos no calendário de vacinação. Para isso, precisa ter uma comunicação frequente com os níveis ascendentes da Secretaria de Saúde, tanto para buscar apoio para sanar dúvidas, como alimentar as informações sobre o produto de seu trabalho, através dos relatórios de doses aplicadas de vacinas e do movimento de entrada e saída de vacinas.

Percebe-se por estes depoimentos que a enfermeira e sua equipe precisam de retroalimentação de informações, com possibilidade de debate para o replanejamento e, assim, reforçar positivamente a finalidade deste trabalho e a participação dos sujeitos do cuidado na vacinação.

Desta forma, entende-se que as relações hierárquicas no trabalho da enfermeira na vacinação na UAPS devem ser conduzidas no sentido de socializar as decisões e encontrar soluções que ajudem a superar os conflitos e gerar transformações na APS.

No documento maristelabatista (páginas 140-143)