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CONTEXTUALIZANDO A VACINAÇÃO

No documento maristelabatista (páginas 53-56)

5 VACINAÇÃO

5.1 CONTEXTUALIZANDO A VACINAÇÃO

Vacinas, vacinadores e campanhas de vacinação fazem parte do longo processo de estabelecimento da autoridade sanitária no Brasil. Desta forma, a cultura de vacinação está associada a um longo processo de introdução de vacinas nas atividades de rotina, de campanhas de vacinação e de vacinação em massa empreendidas pelo Estado brasileiro desde o final do século XIX (HOCHMAN, 2011).

Todo o percurso da vacinação no país pode gerar reivindicações de expansão da oferta, dependendo do momento histórico, político e epidemiológico, a exemplo do que ocorre com a vacina antigripal por causa da epidemia pelo vírus HINI e com a vacina contra meningite. Pode também gerar dúvidas, questionamentos, como o ocorrido com a prevenção quanto à poliomielite, que foi adotado vacina Sabin no Brasil e na Índia e a vacina Salk nos EUA; ou a revacinação BCG ID na prevenção da tuberculose adotada por vários anos para maiores de 5 anos. Necessidade de expansão e as dúvidas contribuem para variações na resistência antivacinal (FEIJÓ; SÁFATI, 2006; MOULIN, 2003).

Porém, a resistência antivacinal pode estar associada ao procedimento, gestos ou informações adotados e nem sempre explicados ou entendidos pelos profissionais de saúde, o que contribui para a dificuldade do alcance das metas na população. Diferenças culturais podem interferir na decisão sobre a utilização de uma vacina e influenciar as decisões científicas, éticas e sociais.

Tanto os vacinadores quanto os vacinados possuem crenças com implicações sobre o entendimento do fenômeno, e sua aceitabilidade deve ser analisada a partir das representações e experiências práticas que as comunidades vivenciam e não como fenômeno negativo. Assim, eventos adversos pós-vacinais (reações individuais indesejáveis) devem ser cuidadosamente notificados e investigados e adotadas orientações adequadas quanto às vacinações subsequentes, podendo antecipar avanços em vacinologia (FEIJÓ; SÁFATI, 2006; FERNANDES et al., 2007; MOULIN, 2003).

A vacinologia precisa vencer os fracassos, reações indesejáveis, ineficácia, falta de especificidade das vacinas. O empreendimento nesta área é uma necessidade para ampliar as possibilidades de novas alternativas vacinais para as

doenças como tuberculose, aids, dengue, neoplasias, entre outras. Os avanços tecnológicos e na área da biologia molecular e da imunologia têm trazido grandes expectativas à comunidade científica e à população que espera se beneficiar destas evoluções. É preciso que seja permeada de rigor nas normas de segurança adotada e transparência (MOULIN, 2003; PAULO, 2010; QUEIROZ et al., 2009).

A eficiência da vacinação inclui os efeitos alcançados em relação ao esforço despendido, levando em conta, além da eficácia (grau de proteção), as condições reais de trabalho em vacinação, como a aceitação, a estabilidade e facilidade de aplicação. A incidência e mortalidade por doenças imunopreveníveis são indicadores que indiretamente expressam as condições de assistência à saúde, as ações de vigilância epidemiológica e o trabalho dos profissionais em vacinação (PINHEIRO; ESCOSTEGUY, 2006).

A decisão de buscar a vacinação disponível nos serviços de saúde é atribuída, primeiramente, ao usuário, o que depende de suas características, percepção da necessidade e também das barreiras existentes no acesso ao serviço de saúde. Os meios para obtenção da vacinação dependem das condições e estilos de vida; assim, a relação entre uma condição econômica desfavorável e uma menor cobertura vacinal pode ser compreendida sob a perspectiva do acesso à intervenção. Piores condições econômicas podem significar uma menor oferta de serviços e/ou uma maior dificuldade de acessar a intervenção. Os comportamentos, hábitos e atitudes que concretizam um estilo de vida da população podem interferir nos resultados de uma cobertura vacinal e determinar graus diferentes de aceitabilidade (BARATA, 2006; MORAES; RIBEIRO, 2008).

Por isso, os trabalhadores da saúde e o Governo precisam da adesão de diversos segmentos da população brasileira na mobilização para o alcance de metas estabelecidas pelo PNI, porque a substituição do conceito de resistência pelo de aceitabilidade resulta da compreensão dos benefícios desta ação (MELLO et al., 2010; MOULIN, 2003).

A vacinação deve ser considerada atividade de responsabilidade coletiva, e ocorre uma estreita relação entre PNI, APS e ESF, pois todos são de grande relevância epidemiológica (BRASIL, 2001, 2003a). Entende-se, portanto, que todos os profissionais integrantes da ESF e das UAPSs precisam se envolver nas indicações e nos resultados das ações da vacinação, embora a equipe de

enfermagem se destaque nas atribuições e compromisso com a vacinação da população.

O Ministério da Saúde corrobora que a “enfermagem tem despendido esforço constante e exaustivo para vacinar com eficácia em determinadas áreas” e, por isso, destaca: “é imprescindível valorizar o pessoal que cumpre a missão de vacinar” (BRASIL, 2003a, p. 212).

Assim, percebe-se que, para garantir o acesso a toda a população, é preciso enfrentar o caos urbanístico, deslocando-se para áreas rurais e periferia urbana, em meio à crescente violência, à escassez de recursos, às improvisações, informações insuficientes para a mobilização da população e à falta de reconhecimento, apoio e incentivo por parte dos gestores (BRASIL, 2003a).

Nesta perspectiva, a vacinação constitui um desafio para o trabalho da enfermeira porque a mesma, ao coordenar o trabalho da equipe, precisa obter os melhores desempenhos e contar com a participação efetiva dos profissionais envolvidos, atendendo às expectativas, anseios e receios da população.

Desta forma, a enfermeira deve subsidiar as competências da equipe de enfermagem nesta atividade, que são relevantes, considerando-se o impacto social que ocorre com a mudança no perfil da morbimortalidade por doenças transmissíveis no país.

Sabe-se que o trabalho em vacinação em Unidade de Atenção Primária em Saúde (UAPS) é executado majoritariamente pela equipe de enfermagem, sendo que a enfermeira assume a responsabilidade por todas as ações de uma sala de vacinação, como: a conservação das vacinas, manutenção do estoque, administração das vacinas, orientações, capacitação do profissional e elaboração do arquivo de cartão espelho; o controle das doses administradas na rotina diária, garantindo assim a eficácia de uma possível busca ativa aos faltosos (PAULO, 2010; PEREIRA; BARBOSA, 2007; QUEIROZ et al., 2009).

Nesse sentido, a vacinação nas UAPSs constitui-se em um trabalho da equipe de enfermagem que possui os seguintes componentes: a) o objeto que se refere à vacina e ao cuidado dispensado à pessoa a ser vacinada; b) os agentes do cuidado incluem o profissional de enfermagem e o usuário da atenção primária à saúde; c) os instrumentos agrupam-se, os artefatos físicos, as habilidades, atitudes e o conhecimento; d) a finalidade é a prevenção de doenças; e) os métodos estão voltados à sistemática das ações, procedimentos e técnicas e f) o produto desta

ação é medido pelo impacto da ação no controle, eliminação e erradicação das doenças imunopreveníveis (ALMEIDA; ROCHA, 1997; SANNA, 2007). Estes componentes do trabalho em vacinação exprimem um gesto vacinal que possibilita compreender o espaço social do trabalho da enfermagem em vacinação.

Segundo Ballalai (2005, p. 30), o gesto vacinal refere-se “aos três momentos distintos relacionados à aplicação das vacinas: o antes, o durante e o depois da aplicação”. Exige, portanto, domínio técnico e fundamentação teórica para a compreensão deste gesto.

5.2 UM POUCO DA HISTÓRIA DA VACINAÇÃO ANTES DO PROGRAMA

No documento maristelabatista (páginas 53-56)