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A função gerencial/administrativa

No documento maristelabatista (páginas 123-128)

8 RESULTADOS E DISCUSSÃO

8.2 FUNÇÕES DA ENFERMEIRA NA SALA DE VACINAÇÃO E SUAS

8.2.2 As contradições nas funções das enfermeiras na sala de vacinação

8.2.2.2 A função gerencial/administrativa

Historicamente, as funções administrativas sempre estiveram vinculadas à função da enfermeira, tendo em vista a associação da responsabilidade pelo cuidado e a necessidade de gerência da unidade de serviço de saúde para garantir assistência de boa qualidade. Houve momentos nos quais a enfermeira destacou-se mais na administração que na assistência, afastando em muito das ações cuidadoras, o que, atualmente, na ESF, tem se tentado resgatar.

Sabe-se que, atualmente, nas UAPSs deste município, o cargo de gerência local pode ser ocupado por qualquer um dos profissionais do quadro efetivo, que tenha, no mínimo, formação em ensino médio, sendo esse cargo ocupado também pelo auxiliar de enfermagem (18%) ou pelo médico (5%), ou assistente social (7%) ou enfermeira (70%), surgindo conflito entre estes profissionais. Portanto é preciso também refletir sobre qual modelo de gerência é necessário (JUIZ DE FORA, 2010).

Com esta concepção, a função gerencial/administrativa é debatida pelas enfermeiras, a partir da necessidade de organização do trabalho na vacinação. A função gerencial da enfermeira na vacinação se revela na organização deste trabalho e na capacidade de transformar a qualidade deste cuidado na UAPS em que atua.

Neste sentido, as enfermeiras debateram sobre as contradições percebidas na sala de vacinação que dependem de posicionamento gerencial.

Ah, eu acho que, na sala de vacinação, às vezes, ele faz, faz, faz, faz, faz... Mas sempre a cobertura está ruim. Não tem muito bom retorno, a cobertura sempre baixa, falha nos registros. Nunca tem uma resposta boa mesmo. (Jasmim)

Uma dose aqui, outra ali no Retiro, no São Sebastião, Jardim esperança.... No final, a produção no município... mas quanto isto significa? vai dar quanto no município? Quando se fala em cobertura vacinal baixa, a carapuça não serve em mim. Sinceridade. Porque o que a gente corre para conseguir cobertura vacinal! Não depende da gente. Se está baixa, não é culpa minha não. São outras coisas: mãe que trabalha fora, criança na creche... Agora da minha parte, eu estou tranquila. Não é culpa minha não. Entendeu? (Violeta)

Percebe-se que estas enfermeiras têm uma preocupação com o alcance das metas de vacinação e trabalham buscando este objetivo. Porém, reconhecem as contradições no seu cotidiano que contribuem para este insucesso. Incluem atitudes internas da equipe, como o registro adequado (por exemplo) e também as condições do acesso e acessibilidade dos usuários a este trabalho.

A avaliação é fundamental para a equipe de trabalho conhecer os limites e possibilidades do desempenho de um trabalho e deve subsidiar a tomada de decisão (URBANETTO; CAPELLA, 2004). Assim, manifestam preocupação com os resultados insatisfatórios no trabalho da vacinação. Embora apontem falhas no registro pela equipe de enfermagem, esses resultados foram mais evidenciados como associados a fatores externos à organização do trabalho, relacionados às questões sociais que parecem impedir o acesso da população à vacinação.

Segundo Merhy e outros (2004), no ato de gerenciar, os sujeitos do cuidado devem estar associados a um projeto de saúde em defesa da vida das pessoas. Por isso, neste trabalho, a enfermeira deve assumir a função gerencial, visando construir uma equipe de enfermagem criativa, ética e tecnicamente competente.

Nos depoimentos a seguir, as enfermeiras trocam informações, tentando encontrar uma solução:

Na nossa Unidade, a gente faz assim: a gente fica responsável pela sala de vacinação por um período de um ano, quando roda. Montou uma escala para parte da manhã e parte da tarde, onde sempre tem uma enfermeira na sala, além do responsável. Isso ajudou e facilitou muito. Começamos desde o início, assim. Tá dando certo. (Lírio)

Era bem interessante que aqui a gente colocasse quantas horas eu fico na sala de vacinação. Porque, neste esquema que você esta falando, com certeza você fica muito mais condicionada com o local. Aí dá uma mudada. Você sabe que, no meu período, eu vou modificar o que eu quero, eu vou limpar, vou treinar o auxiliar que vai ficar junto comigo, vamos tirar dúvidas. Eu vou melhorar esse processo. Aí eu vou procurar saber o que tenho que fazer. Eu acho que assim dá uma melhorada com este sistema de escala... (Margarida)

A troca de experiências e a criatividade são iniciativas que devem ser valorizadas, pois contribuem para a transformação de ações mais comprometidas e efetivas, tornando-se a função gerencial menos complexa. Desta forma, a escala rotativa na sala de vacinação surge entre as participantes como uma medida fácil e possível e que não requer decisões complicadas. Isso conforma com a proposta de criar espaços de discussão sobre a prática, proporcionando reflexões que possam apontar para soluções viáveis e factíveis. Assim, entende-se que é preciso ampliar as discussões sobre o gerenciamento no trabalho da enfermeira na sala de vacinação e levá-las até as equipes.

Segundo Urbanetto e Capella (2004), a enfermeira em contato direto com os sujeitos do cuidado aproxima-se mais das exigências e facilita buscar apoio da instituição para sustentação e orientação. Por isso, o gerenciamento participativo com clareza das competências de cada um permite o entendimento dos limites das partes envolvidas. Permite conhecer os critérios adequados à realidade, sem

privilégios, mas primando pela satisfação e estímulo do grupo. Foi mencionada a dificuldade de trabalhar nas UAPSs, mediante a instabilidade de vínculo empregatício, gerando descontinuidade das ações, como apontado nesta fala:

O problema é... Como fazer o pessoal trabalhar de forma adequada? Aquilo que a gente já conseguiu e ter que recomeçar, porque venceu o contrato. (Dama-da-noite)

As enfermeiras e auxiliares de enfermagem novatos precisam ser incluídos na equipe. Seu saber-fazer na vacinação é gradativo e depende da ambientação na equipe de trabalho. É, neste momento, que manifestam seu embasamento teórico oriundo de sua formação para transposição na prática e, por isso, estão mais acessíveis para a educação em saúde.

Por isso, a enfermeira, na liderança de uma equipe, deve ajudar os componentes desta a vencer os medos, as inseguranças, sem que estes sintam constrangimento por serem inexperientes (URBANETTO; CAPELLA, 2004). O monitoramento e avaliação das ações de vacinação estão presentes nas ações da enfermeira das UAPSs deste município, o que se evidencia no depoimento abaixo:

Precisamos de dados mais fidedignos, corrigir muitas falhas, sempre tem que tá corrigindo. Pra ficar tudo certinho. Eu vejo muito erro no registro; Às vezes, você está orientando uma pessoa, mas precisa interromper... tem que sair. Já aconteceu de marcar só o finalzinho do lote da febre amarela, entendeu? Aí, qual foi o lote que é aquele? O que acontece? na hora de consolidar é uma confusão; às vezes, um dá baixa no cartão, o outro não. É preciso mostrar a importância, mostrar as consequências e confiar também. (Violeta)

Quando a enfermeira acompanha o trabalho da equipe, consegue avaliar o processo de trabalho e fazer mudanças que podem contribuir para um melhor resultado final. A partir da apresentação e discussão destes resultados, podem ser levantadas as falhas ocorridas e, consequentemente, novas estratégias podem ser adotadas.

A avaliação e a retroalimentação devem ser parte de toda a dimensão do trabalho da vacinação (LUHM; CARDOSO; WALDMAN, 2011). Devem incluir a compreensão e possibilidade de aprendizagem para mudar e transformar a realidade profissional e o perfil epidemiológico da população (URBANETTO; CAPELLA, 2004). A seguir, as enfermeiras debateram sobre o trabalho em sala de vacinação como uma ação que, independentemente de afinidades dos profissionais, deve ter um controle:

Quando eu fui para UAPS, ninguém gostava de trabalhar na sala de vacinação. Agora melhorou um pouco. Todo mês um grande problema para o fechamento, entre as enfermeiras. (Dama-da-noite)

Eu acho assim. A vacina é uma função não exclusiva do PSF. Precisa valorizar mais. (Violeta)

Acho que só fiquei na sala porque era acadêmica. Talvez, se fosse auxiliar de enfermagem..., eu teria ido organizar fila, fazer registro, e o fato do auxiliar já ter tanto tempo de trabalho eu confiasse, ele já tem 20 anos de trabalho, passou por vários treinamentos, mas cai tanto na rotina que esquece de lavar as mãos, o erro persiste, não muda. (Margarida)

A responsabilidade pela ação da equipe de enfermagem enquanto líder requer da enfermeira o controle deste trabalho, que inclui a competência gerencial. Nesta função, o perfil da enfermeira se revela na forma de lidar com o outro e seu entendimento sobre autoridade e poder, que são de difícil delimitação.

O controle inclui autoridade, poder e liderança. Fala-se de autoridade como subordinação hierárquica e humanizada que visa estabelecer limites assertivos e não autoritários. Por isso, o poder e a liderança neste caso se dão pela participação. Não devem ser confundidos com chefia ou ação burocrática (URBANETTO; CAPELLA, 2004).

Ao analisar os depoimentos sobre função gerencial, percebe-se que, neste trabalho da enfermeira, aplicam-se concepções diferentes de gerência associadas à

qualidade do cuidado. Nesse sentido, Greco (2004) afirma que a gerência da unidade consiste na previsão, provisão, manutenção, controle de recursos materiais e humanos; e a gerência do cuidado consiste no diagnóstico, planejamento, execução e avaliação da assistência, incluindo supervisão, orientação e delegação de atividades.

Assim, em meio aos conflitos inerentes à função gerencial, a enfermeira deve permitir que seu trabalho seja avaliado, sinalizando maturidade no trabalho em equipe para novas tomadas de decisões mais assertivas. Enquanto líder da equipe de enfermagem, a enfermeira deve manter uma postura que vise ao crescimento coletivo da equipe.

No documento maristelabatista (páginas 123-128)