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4.3 COLETA E ANÁLISE DOS DADOS

4.3.2 A elaboração dos mapas cognitivos causais

Após a definição dos objetivos e das alternativas para política fiscal brasileira5, realizou-se a segunda etapa de campo desta pesquisa, ou seja, a elaboração dos mapas cognitivos causais individuais dos atores.

Nessa etapa, participaram 22 atores6, sendo 19 remanescentes da primeira etapa. Por motivo de agenda, cinco entrevistados da primeira etapa não participaram da etapa de elaboração dos mapas. Três novos atores ingressaram nessa segunda etapa sem prejuízo à pesquisa, uma vez que não há como pré-requisito a participação na etapa anterior. Os mapas foram elaborados no período de 21 de outubro a 15 de dezembro de 2016.

É importante esclarecer que as percepções e opiniões expressas, nesta etapa, são exclusivamente dos entrevistados e não refletem, necessariamente, a visão das organizações as quais estiveram ou estão vinculados.

Inicialmente, foi disponibilizada antecipadamente a todos os entrevistados desta segunda etapa a relação dos 21 objetivos e alternativas, com as redações completas e resumidas, para que pudessem refletir previamente sobre os conceitos e as possíveis relações de causalidade.

Vale destacar que a relação, previamente, disponibilizada não categorizava os conceitos em objetivos ou alternativas, pois poderia induzir a definição das relações de causalidade entre os itens, uma vez que uma alternativa leva a um objetivo. Como ressaltado por Eden (2004), o mesmo conceito pode aparecer como nó tail (cauda) para um ator e nó head (cabeça) para outro. Segundo Eden (2004), esse fenômeno é observado em formuladores de políticas públicas. Esta pesquisa aborda as alterações da política fiscal brasileira.

As redações resumidas foram impressas em cartões para serem utilizadas ao longo das dinâmicas de elaboração dos respectivos mapas cognitivos causais. Para facilitar a dinâmica e a validação dos mapas, os objetivos e as alternativas foram identificados aleatoriamente por caracteres alfabéticos, conforme disposto no Apêndice D.

No tocante à dinâmica, para elaboração dos mapas, primeiro foi solicitado ao entrevistado que agrupasse as etiquetas em três grupos: objetivos-fins, objetivos secundários e alternativas/ações. Em seguida era solicitado aos entrevistados que declarassem suas opiniões e percepções quanto às relações de causalidade entre os objetivos e as alternativas, na seguinte

5 Essa fase da pesquisa está melhor detalhada na Seção 5, Definição dos Objetivos e Alternativas da Política Fiscal.

6 As relações dos entrevistados, nesta fase, encontram-se no Erro! Fonte de referência não encontrada. e Erro! Fonte de referência não encontrada..

ordem: (1) entre objetivos-fins, (2) entre objetivos-fins e os secundários, (3) entre os objetivos secundários e, por fim, (4) entre os objetivos-fins, os secundários e as alternativas.

Após a identificação das relações de causalidade, as crenças, os arcos entre os nós, era solicitada aos participantes da dinâmica a definição dos efeitos percebidos dessas relações, podendo ser positivo ou negativo, e as respectivas intensidades. Nesta pesquisa foram considerados três graus de intensidade: forte (+3 e -3), moderado (+2 e -2) e fraco (+1 e -1). Assim, foram identificadas as crenças individuais de cada um dos participantes.

A percepção dos participantes, em relação aos conceitos, do que seja objetivo ou alternativa nem sempre foi a mesma. Como exposto por Eden (1988), pessoas diferentes interpretam de maneiras diferentes uma mesma situação, cada indivíduo possui uma diversidade de valores e interesses.

É importante ressaltar que alguns dos entrevistados demonstraram certa dificuldade em estabelecer os efeitos percebidos das relações de causalidade, positivo ou negativo, bem como os respectivos graus de intensidade: forte, moderado ou fraco. Externaram que se fazia necessário detalhar melhor alguns dos objetivos e das alternativas especialmente quando se consideram dois horizontes de tempo distintos.

Por exemplo, a alternativa Estabelecer regras para redução da despesa primária da União em relação ao PIB, o tempo de duração dessa alternativa, provavelmente, levaria a uma inversão do efeito, de positivo para negativo em algumas relações de causalidade. Nesse caso, assumiu-se a regra do texto da PEC 241(ou 55)/2016, mais conhecida como PEC do Teto. Em outras situações, mesmo após os esclarecimentos pelo autor, alguns participantes consideraram o texto ambíguo e preferiram não incorporá-lo aos respectivos mapas.

Todo esse processo de elaboração dos mapas cognitivos causais, a partir de objetivos e alternativas, inicialmente não percebidos ou considerados pelos entrevistados, propiciou uma maior reflexão quanto às causas e consequências da política fiscal brasileira, ao mesmo tempo que fomentou o processo de aprendizado político exposto por Jenkins-Smith et al. (2014).

Nessa segunda etapa de campo, também foi utilizado o gravador de voz, e ao final da dinâmica os mapas eram fotografados. A Figura 10 apresenta uma foto de um mapa cognitivo ao final de uma das dinâmicas.

Figura 10 - Foto de um mapa cognitivo causal ao final da dinâmica, antes da validação.

Após a dinâmica, o mapa causal era registrado em formato digital, com auxílio do software Microsoft PowerPoint, para melhor visualização e, em seguida, enviado para análise do entrevistado que, quando julgava necessário, solicitava os ajustes até a validação final. A Figura 11 apresenta um mapa cognitivo após a validação pelo entrevistado.

Dos 22 mapas cognitivos causais, 19 foram elaborados segundo essa dinâmica, outros três foram elaborados, por meio de orientação a distância, a partir da disponibilização de arquivo digital, de modo que os participantes pudessem organizar e relacionar os objetivos e as alternativas de forma similar à dinâmica presencial.

5 DEFINIÇÃO DOS OBJETIVOS E ALTERNATIVAS DA POLÍTICA FISCAL Nesta seção é apresentada uma descrição do conteúdo das entrevistas e dos documentos relacionados ao tema, bem como são listados os objetivos e as alternativas para a política fiscal brasileira.

As entrevistas semiestruturadas foram realizadas com atores que atuam ou atuaram no subsistema da política fiscal. O roteiro, com questões relacionadas ao tema, foi estruturado por meio das técnicas sugeridas pelo Value-Focused Thinking. As entrevistas foram transcritas e os respectivos conteúdos analisados com os documentos relacionados ao tema7, segundo as categorias e subcategorias do código definido. A categorização dos textos está disponível no Apêndice C.