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No Brasil, os primeiros registros são dos tempos de Colônia. Em 1548, com o primeiro Governo-Geral, de Tomé de Souza, a estrutura administrativa fazendária organizou-se em torno do Provedor-Mor. Em 1761, a Coroa portuguesa criou o Erário Régio que lançou as bases das finanças públicas em Portugal e no Brasil. No entanto, ainda não existia um orçamento propriamente dito e não havia uma nítida diferença entre o patrimônio pessoal do Rei e os recursos do Estado (FERREIRA, 2006).

Segundo Ferreira (2006), não se pode tecer conclusões sobre a situação financeira no Brasil Colônia, mas há muitas evidências de descontrole, déficits e dificuldades orçamentárias no governo português, a principal é a constante mudança do padrão monetário até o século XVIII, algo vivenciado novamente pelos brasileiros, nos anos 1980, com os planos de estabilização e mudanças de moeda.

Em 1808, a família real e a Corte portuguesa desembarcaram no Brasil, em fuga das tropas francesas, o País deixou de ser vice-reino e passou a ser sede da monarquia luso- brasileira. Ainda em 1808, D. João VI estabeleceu o primeiro Banco do Brasil (BB), com características comerciais e de banco central, portanto, com autoridade de emitir moeda. Também estabeleceu um Erário no Rio de Janeiro, nessa época começou a ser utilizada a expressão Tesouro Nacional ou Tesouro Público, no entanto, não existia controle da despesa (FERREIRA, 2006).

À época, a contabilidade demonstrava predominância das receitas públicas com impostos de importação, e nas despesas, os gastos militares e com a Casa Real representavam mais da metade do total. Em análise sobre o orçamento de 1810 e 1811, Manuel Jacinto Nogueira da Gama, futuro Marquês de Baependi, externa lucidez quanto ao impacto negativo do descontrole dos gastos públicos (FERREIRA, 2006):

Creio ter demonstrado claramente que não é deplorável o estado da Real Fazenda desde que se exijam impreterivelmente as sobras das capitanias, e que as despesas públicas não excedam consideravelmente às que ficam indicadas, principalmente na marinha e guerra; assim acontecendo elas serão realizadas sem novas imposições, sem papel-moeda, do que devemos absolutamente fugir, sem abusos de emissões de moeda [...] se pode facilmente conseguir adotando-se o que tenho proposto, que as rendas públicas excedem às despesas, e que por consequência se possam fazer com a maior exação todos os pagamentos, cessando a atual penúria e o progresso da dívida do Estado, cessando a dependência terrível, e o mais fatal inimigo do crédito público. (FERREIRA, 2006, p. 37).

D. João VI retornou a Portugal em abril de 1821, sacando os recursos em ouro que havia depositado no Banco do Brasil (BB). Em seu lugar, como Príncipe-Regente, ficou D. Pedro, futuro D. Pedro I, que em função da pressão para o seu retorno a Portugal decide pelo

“fico”, em janeiro de 1822, e pela ruptura com Portugal, proclamando a independência do Brasil, em 7 de setembro de 1822. Nada mudou do ponto de vista fiscal, foram cobrados os mesmos impostos do Brasil de D. João VI, o excesso de gastos foi coberto por empréstimos externos, o primeiro foi em 1824, sendo a Inglaterra a principal fonte desses empréstimos (FERREIRA, 2006).

Nesse período, o Brasil também iniciou sua dívida interna para financiar seus gastos, emissões foram realizadas para refinanciar débitos vencidos, bem como pagar as despesas. A moeda circulava com deságio em relação ao seu valor nominal e ocorreu forte desvalorização em relação à libra esterlina, principal taxa de câmbio do País na época. Os elevados gastos militares, financiados com emissão de moeda, e a voracidade com que a burocracia atacou o Banco do Brasil, levou o BB à falência em 1829, cuja liquidação foi seguida por grave crise econômica e política (FERREIRA, 2006).

O conturbado quadro político, a desastrosa derrota para Argentina no confronto pela posse da Província da Cisplatina que seria hoje o Uruguai, e a frágil situação financeira do País levaram D. Pedro I à abdicação em 1831. Nos anos seguintes, o Brasil foi governado por figuras políticas em torno do Imperador até que D. Pedro II tivesse sua maioridade antecipada, esse período ficou conhecido como Regência. Em julho de 1840, D. Pedro II assumiu o trono do Brasil, aos 14 anos de idade (FERREIRA, 2006).

Ainda em 1831, o deputado Bernardo Pereira de Vasconcelos, adepto do liberalismo econômico, assumiu o Ministério da Fazenda, fez reformas na organização fazendária e, pela primeira vez, ensaiou a execução de uma lei orçamentária. Em seu relatório de 1832, apresentado aos congressistas, descreveu a situação fiscal do período (FERREIRA, 2006):

Em geral o nosso sistema de impostos é consideravelmente vicioso, constando de uma multidão de minuciosas taxas trazidas de Portugal, nos malfadados tempos coloniais, ou lançadas aqui sem conhecimento dos princípios da ciência, quando aparecia ou se fingia aparecer necessidade de aumento de renda. A penúria atual do tesouro deve-se muito mais atribuir às dificuldades que sofre a sua cobrança, do que à falta de meios dos contribuintes. (FERREIRA, 2006, p. 40)

Em 1851, Irineu Evangelista de Souza, Barão e Visconde de Mauá, criou um banco para concorrer com a única instituição financeira do Rio de Janeiro, o Banco Comercial. Em 1854, por determinação do governo, ocorreu a fusão dos dois bancos, resultando o segundo Banco do Brasil. O declínio do Império iniciou-se com o retorno do País aos conflitos armados e a duas crises financeiras, em 1857 e em 1864. A alta dos juros pela autoridade monetária inglesa, causou uma crise de liquidez interna, no Brasil, levando dezenas à falência. Em 1864, a quebra da Casa Bancária A. J. Alves Souto causou uma corrida ao sistema financeiro, e o

BB teve suspensa sua capacidade de emissão de moeda. O fim da escravatura, em maio de 1888, indispôs a classe dominante com a Monarquia. Um golpe militar derrubou D. Pedro II, em 15 de novembro de 1889, que seguiu para o exílio com a família real dois dias depois (FERREIRA, 2006).