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Ao fim do regime militar, Tancredo Neves e José Sarney foram eleitos pelo Congresso em votação indireta em 15 de janeiro de 1985. No entanto, Tancredo Neves foi internado na véspera da posse. Enquanto o País assistia à agonia de Tancredo, até sua morte em 21 de abril, Sarney assumiu o seu lugar e governaria o Brasil até 15 de março de 1990 (FERREIRA, 2006).

A primeira das tentativas de conter a inflação na base de choques, o Plano Cruzado, foi anunciada em 28 de fevereiro de 1986. O então presidente José Sarney, fragilizado politicamente, viu no cruzado sua bandeira de salvação. O plano trouxe enormes dividendos políticos. A moeda corrente até então, o cruzeiro, foi substituída pelo cruzado, com corte de três zeros. O governo decretou um congelamento de preços e da taxa de câmbio (FERREIRA, 2006).

À época, o Plano Cruzado havia despejado US$ 10 bilhões em renda para o consumo. A oferta não suportou esse rápido crescimento do consumo, aquecido pelo fim do imposto inflacionário e pela generosidade das medidas no campo dos salários. Logo viria o desaparecimento de produtos, o ágio e, finalmente, a inflação de volta, com força. A inflação passou de 0,63% em julho de 1986 para 7,56% em dezembro. Logo após as eleições de novembro de 1986, quando os deputados eleitos formariam a Assembleia Nacional Constituinte, responsável pela Carta de 1988, veio o chamado Cruzado 2 que também fracassou (FERREIRA, 2006).

As contas externas se deterioraram de tal forma que o País ficou sem reservas internacionais. Em 20 de fevereiro de 1987, o presidente Sarney anunciou oficialmente uma moratória da dívida externa. A crise tomou conta do governo, Dílson Funaro deixou a pasta da Fazenda, em 29 de abril, e foi substituído pelo economista Luiz Carlos Bresser Pereira. Em 12 de junho de 1987 foram anunciadas as medidas do Plano Bresser que fracassou em relação ao combate à inflação. O economista Maílson da Nóbrega substituiu Bresser no comando da Fazenda (FERREIRA, 2006).

Em março de 1987, foi instalada a Assembleia Constituinte. O tema das finanças públicas foi relatado na Comissão do Sistema Tributário, Orçamento e Finanças que foi subdividida em três: tributos, participação e distribuição das receitas, orçamento e fiscalização financeira e sistema financeiro. A nova Constituição consolidou avanços nas finanças públicas, mas no caso tributário e das despesas a nova Constituição teve consequências negativas. Ampliaram-se significativamente as vinculações das receitas, ou seja, com uma destinação programada em lei (FERREIRA, 2006).

O então secretário do Tesouro, Murilo Portugal, escreveu:

Essas vinculações criam automatismos de gastos, petrificam prioridades passadas para o futuro, enfraquecem o incentivo para que haja eficiência no gasto e reduzem o campo de atuação da função alocativa do orçamento. Além disso, a vinculação funciona de forma assimétrica, em um sentido. Os recursos vinculados devem ser automaticamente transferidos para as áreas a que estão vinculados. Mas se houver uma frustração de receita vinculada, as despesas dessas áreas não são reduzidas. (FERREIRA, 2006, p. 111).

Em 1988, a inflação alcançou 980%. Em janeiro de 1989, Maílson anunciou o Plano Verão. Novamente, pela terceira vez desde o Cruzado, foi realizado um congelamento de preços e salários e houve uma tentativa de desindexar a economia. A moeda foi trocada para cruzado novo, com novo corte de três zeros. O impacto do Plano Verão foi ainda mais breve que os anteriores (FERREIRA, 2006). Em 1989, a inflação foi de 1.972%.

Em 1989, o Tesouro dos EUA desenhou um plano que resolveria de uma vez por todas a questão da dívida dos países emergentes. O Plano Brady, como passou a ser conhecido, substituía a dívida velha desses países por dívida nova, garantida por títulos do governo norte- americano. Em contrapartida, previa o reconhecimento do desconto que o mercado secundário de títulos da dívida externa já dava aos débitos dos países emergentes. Mas o Brasil não foi contemplado com o Plano Brady naquele momento, o que só viria a acontecer em 1993 (FERREIRA, 2006).

Em 17 de dezembro de 1989, Fernando Collor de Mello venceu Luiz Inácio Lula da Silva, no segundo turno das eleições presidenciais. Naquele ano, a inflação brasileira foi a patamares inacreditáveis, de 1.972%. A apreensão em relação à posse de Collor levou a um grande volume de saques em contas-correntes e nos investimentos. Na tarde do dia 13 de março de 1989, Sarney decretou feriado bancário. No dia 16, a então ministra da Fazenda do novo governo, Zélia Cardoso, e sua equipe anunciaram as medidas econômicas, denominadas Plano Collor. O cruzeiro substituiu o cruzado novo (FERREIRA, 2006). A medida de maior repercussão foi o bloqueio, por 18 meses, de todos os depósitos em aplicações financeiras, poupança e conta-corrente que excedessem Cz$ 50 mil.

Em um primeiro momento, o impacto do Plano Collor foi uma extraordinária queda na atividade econômica. A pressão política pela liberação dos recursos bloqueados permitiu um rápido aumento da liquidez já no segundo semestre de 1990 e o retorno da inflação. Em 1º de fevereiro de 1991, o governo aplicou um novo choque na economia, o Plano Collor 2, com mais um congelamento de preços e salários. Novamente, o plano teve efeito curto. Zélia Cardoso de Mello deixou o governo em maio, substituída por Marcílio Marques Moreira. Com paciência e habilidade diplomática, Marcílio obteve êxito com as negociações da dívida externa brasileira (FERREIRA, 2006).

Em maio de 1992, Pedro Collor, irmão do presidente, fez duras acusações contra Fernando Collor que levaram à instalação, no dia 26, da CPI do PC, em alusão ao tesoureiro de campanha, Paulo César Farias. No dia 29 de setembro, a Câmara dos Deputados decidiu afastar Collor da Presidência por 441 votos a 38, com uma abstenção e 23 ausências. Era o fim do governo Collor. Em 2 de outubro, o vice, Itamar Franco, assumiu interinamente a

Presidência da República, empossado, em definitivo, em dezembro de 1992, com a conclusão do processo de impeachment (FERREIRA, 2006).

O deputado federal Gustavo Krause, então secretário da Fazenda de Pernambuco, seria o ministro da Fazenda no lugar de Marcílio Marques Moreira. Sua passagem meteórica pelo cargo foi de exatos dois meses e 14 dias. Assumiu o então ministro do Planejamento, Paulo Haddad, que acumulou os dois cargos. Também durou pouco, saiu em 28 de fevereiro de 1993, junto com toda a equipe econômica da Fazenda. Eliseu Resende, amigo pessoal de Itamar, assumiu a Fazenda em março. No mesmo mês, o Senado aprovou o Imposto Provisório sobre Movimentação Financeira (IPMF), mais tarde, virou contribuição.

Eliseu Resende pediu demissão em 19 de maio de 1993. Na madrugada de 20 de maio, Itamar anunciou que Fernando Henrique Cardoso, então ministro de Relações Exteriores, seria o novo ministro da Fazenda. Fernando Henrique soube da nomeação pelo Diário Oficial, pela manhã, em Nova York, avisado pelo então secretário-geral do Ministério das Relações Exteriores, Luiz Felipe Lampreia. Ainda de Nova York, Fernando Henrique contatou Edmar Bacha. Depois, juntaram-se a ele alguns notórios economistas brasileiros: Pedro Malan, Pérsio Arida, André Lara Resende, Winston Fritsch e Gustavo Franco, todos ligados à PUC carioca. (FERREIRA, 2006).

Nos dias 5 e 6 de junho de 1993, Fernando Henrique fez as primeiras reuniões com a equipe em São Paulo para elaborar o diagnóstico da conjuntura econômica e avaliar as soluções possíveis. A situação era preocupante: inflação ascendente, tarifas públicas congeladas, orçamento estourado nas estatais e na previdência e os bancos estaduais em dificuldades. Propôs-se o Plano de Ação Imediata (PAI), para enfrentar algumas questões urgentes e preparar o ambiente propício para uma ação mais direta contra a inflação (FERREIRA, 2006). Segundo Ferreira (2006), as três ações mais importantes do PAI foram: a renegociação da dívida contratual com os estados e municípios, que culminou com a publicação da Lei n. 8.727, de 1993; a criação do Fundo Social de Emergência (FSE), em 1994, e, mais tarde, virou a Desvinculação das Receitas da União (DRU); e a preparação e revisão do orçamento de 1994.