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Mais do que estarmos na era da sociedade da informação e conhecimento, e mesmo de uma própria sociedade em rede, estamos no momento da cooperação internacional em rede. Cooperação esta que é possibilitada – em até certo ponto - pelo avanço técnico traduzido pelos meios de transportes e principalmente pelas tecnologias de informação e comunicação. Para além de outras possibilidades de cooperação internacional em rede, esta modalidade se faz pertinente enquanto sólida e necessária na produção e transmissão de conhecimento científico e na superação de desigualdades e problemas comuns enfrentados.

A produção de conhecimento novo requer, cada vez mais, o esforço compartilhado entre pares, inclusive aqueles situados em contextos nacionais e institucionais diversos, em torno de ações colaborativas e iniciativas conjuntas para o encontro de soluções a questões e problemas comuns no mundo globalizado. A cooperação internacional deverá levar em conta essa tensão entre o acirramento

da competitividade e a necessária produção colaborativa de conhecimento (MACIEL & ALBAGLI, 2010, P. 9).

Para Adams (2012) as novas redes regionais estão reforçando a competência e a capacidade das economias emergentes de investigação, e alterando o equilíbrio global de atividade de pesquisa científica que por sua vez podem revelar diferentes formas de abordar os problemas das grandes instituições mundiais. Ainda segundo o autor se as superpotências não quiserem serem deixadas para trás, elas terão que sair de suas zonas de conforto para acompanhar o dinamismo das novas mudanças que estão acontecendo.

Essas transformações podem representar o aprofundamento das assimetrias nas relações internacionais e os riscos daí decorrentes, sobretudo para os países em desenvolvimento; mas, também, abrem-se novas oportunidades de uma possível democratização do acesso à informação e ao conhecimento e sua apropriação social em favor de um desenvolvimento em novas bases, sob diferentes pontos de vista. No plano da geopolítica, coloca-se o desafio da desconcentração do conhecimento, tanto entre países quanto entre regiões (MACIEL & ALBAGLI, 2010, P. 9).

A colaboração é normalmente uma coisa boa do ponto de vista público. O conhecimento é melhor transferido e combinado por colaboração entre vários autores. Os artigos destes autores por sua vez tendem a ser citados com mais frequência e ter mais impacto na comunidade científica mundial, pois, normalmente possuem uma profundidade e consistência mais razoável, eles também permitem cobrir muitos países e disciplinas de investigação ao mesmo tempo (ADAMS, 2012).

A quantidade de trabalhos publicados em conjunto em comparação a isolada tem, ao longo dos anos têm aumentado exponencialmente. Em artigo recente, King (2012) faz um retrospecto da quantidade de autores por trabalho científico com base de dados da Nature. No início de 1980, os artigos com mais de 100 autores eram raros, em 1990, o registro anual com esse número ultrapassou 500. O primeiro trabalho com 1.000 autores foi publicado em 2004, uma pesquisa com 3.000 autores em 2008. No ano passado, um total de 120 artigos de física teve mais de 1.000 autores e 44 tinham mais de 3000. Muitos deles são de colaborações no Large Hadron Collider

(LHC) do CERN, na Europa no laboratório de aceleração de partículas, perto de Genebra, na Suíça.

Gráfico nº 1: Multi autores por artigo de 1998 a 2011

Fonte: King (2012). Disponível em: http://go.nature.com/w3f2jt

O gráfico nº 1 pertencente ao trabalho de King (2012) em que o autor destaca os artigos indexados pela base de dados da Thomson Reuters no período concebido entre 1998 e 2011, mostrando o número de trabalhos com mais de 50, 100, 200, 500 e 1000 autores. A partir do final dos anos de 1990 a meados dos anos 2000, as linhas são relativamente planas, subindo a partir do ano de 2001. Com exceção da queda no ano de 2006, a tendência é claramente de subida, em 2010 mais de 1000 trabalhos superaram o número de 50 autores. Claro que é importante lembrar que em algumas áreas como as ciências humanas essa prática ainda é muito incomum.

A cooperação internacional em ciência e tecnologia tem crescido a uma taxa significativa. Partindo de uma base inexpressiva em meados do século XX, a cooperação internacional representa hoje uma parcela considerável da pesquisa científica. Quando medida, por exemplo, através da contagem de artigos publicados em co-autoria por pesquisadores trabalhando em, pelo menos, dois países diferentes, a cooperação internacional mais do que duplicou entre 1988 e 2001 – passou de 8 para 18% do total de artigos publicados e indexados pelo Science Citation Index (NSF, 2004, Science and

Engineering Indicators, pp. 54-55).

Essa tendência de crescimento em “multi autoria” continuará seguindo as prioridades globais como aquelas voltadas para a saúde, energia, clima e estruturas

sociais, impulsionado em parte por organismos internacionais como a Organização Mundial da Saúde (OMS). “Parte desse crescimento não virá de verdadeira colaboração, mas sim de contribuições independentes, de esforços conjuntos, geralmente na forma de dados, que envolvem apenas fraca interação intelectual” (ADAMS, 2012, p. 335).

Artigos com vários autores vêm a contribuir para a difusão da cooperação entre os países. Por exemplo, a União Europeia possui extenso tratado de redes de cooperação científica entre os países membros. Alemanha e Reino Unido possuem uma rede de pesquisa significativamente intensa, o que representa conexões de inúmeros pesquisadores.

De acordo com dados da Web Of Science (2011) os dois países tinham cerca de 10.000 publicações conjuntas em sua base de dados para períodos, que por sua vez eram o dobro do total de artigos indexados em 2003 e que significavam 10% da produção total de cada país. Os Estados Unidos tem cooperado significativamente nos últimos anos com a China e essa tendência tem aumentado, em 2011 ambos publicaram 19.141 artigos juntos.

Para Barabási (2009) o mundo se tornou bem menor que os seis graus de separação do ponto de vista científico, a busca pela cooperação tem proporcionado contribuições significativas na ciência e promissoras estruturas de pesquisa em rede pelo mundo que por sua vez tem aproximado nações distantes geograficamente e as vizinhas. Além do que para o autor, estas redes, são fortes veículos diplomáticos.

A quantidade de artigos publicados em parceira tem aumentado nos números anos à medida que as nações e grupos de cientistas vêm compreendendo a importância do networking no mundo acadêmico atual. A geopolítica mundial tem se mostrado também direcionada para uma geopolítica em rede em que as forças de muitos países têm emergido como grandes blocos de pesquisa comum (CHRISTAKIS & FOWLER, 2010).

Essas transformações podem representar o aprofundamento das assimetrias nas relações internacionais e os riscos daí decorrentes, sobretudo para os países em desenvolvimento; mas, também, abrem-se novas oportunidades de uma possível democratização do acesso à informação e ao conhecimento e sua apropriação social em favor de um desenvolvimento em novas bases, sob diferentes pontos

de vista. No plano da geopolítica, coloca-se o desafio da desconcentração do conhecimento, tanto entre países quanto entre regiões (MACIEL & ALBAGLI, 2010, P. 9).

De acordo com Adams (2012) antes da década de 90 nenhum país havia compartilhado mais de 1.000 artigos em conjunto em um ano. Para o autor o rápido crescimento da China desde 2000 está levando a um nível de cooperação acadêmica mais estreita com Japão (até quatro vezes desde 1999), Taiwan (até oito vezes), Coreia do Sul (até dez vezes), Austrália (mais de dez vezes) e com todos os outros países na região da Ásia-Pacífico região.

A Índia tem construído ao longo dos anos uma rede de pesquisa, com Japão, Coréia do Sul e Taiwan, no Oriente Médio, Egito e Arábia Saudita tem forte parceria de pesquisas científicas também em rede que por sua vez tem atraído os vizinhos Tunísia e Argélia. Na América Latina existe uma rede de pesquisas emergente focada em torno do Brasil, que por sua vez dobrou a cooperação com Argentina, Chile e México. O continente africano tem duas redes distintas uma no sul da África, em países de língua francesa e outro na África Oriental em países de língua inglesa (ADAMS, 2012).

Hoje, já não há dúvida de que a cooperação entre os países e outros atores internacionais – em plena época da sociedade e da economia do conhecimento – converteu-se, de mera opção, em necessidade imprescindível. Basta pensarmos em como a comunidade científica internacional poderá conquistar um desenvolvimento científico e tecnológico e ter amplo acesso às novíssimas áreas do conhecimento e assegurar sua aplicação em benefício geral, enfrentar os graves problemas globais do nosso tempo e até sobreviver a eles, sem um sistemático esforço de cooperação, em escala jamais vista antes (MONSERRAT FILHO, 2010).

Para Morel et. al. (2007), mais do que iniciativas de promoção da cooperação internacional, estas devem ser estabelecidas em redes que ao longo do tempo possam se tornar fortes e estáveis veículos de circulação de informação, ideia e conexão de pesquisadores, como o caso da rede internacional de doenças negligenciáveis da qual o Brasil faz parte.

A cooperação internacional por sua vez se faz veículo estimulante na construção de redes sociais voltadas para a pesquisa científica, uma vez que estas

estruturas se comportam como verdadeiras facilitadoras na circulação de informações e ajuda na conexão entre os vários membros, facilitando o aprendizado social conjunto.

A pesquisa científica em rede e suas contribuições na obtenção