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A Constituição Federal de 1988 definiu ainda que cabe ao poder público regulamentar e fiscalizar medidas e serviços que ampliem o acesso da população à saúde, bem como a divisão de trabalho entre três escalas de governo – federal, estadual e municipal. A saúde tem definição ampla, na Constituição brasileira de 1988, em seu artigo 196, a qual é retificada na Lei 8.080, de 1990 que, em seu artigo 2º registra que, “a saúde é um direito fundamental do ser humano, devendo o Estado prover as condições indispensáveis ao seu pleno exercício”.

É de responsabilidade do Estado, também, a formulação e execução de políticas econômicas e sociais que visem, entre outros aspectos, estabelecer condições que assegurem acesso universal às ações e serviços para promoção, proteção e recuperação da saúde, como formação de profissionais, criação de procedimentos, aparelhos, medicamentos, que devem chegar a todas as camadas sociais com custos baixos para que todo cidadão possa ter acesso.

Assim, a saúde constitui um valor humano associado à própria cidadania, havendo interesses sanitários legítimos voltados para a garantia das condições de saúde. Isto requer uma ação política e social para a ampliação do acesso aos bens e serviços e, simultaneamente, para o estabelecimento de constrangimentos que limitem a ação econômica dos agentes e, em particular, a estratégias empresariais das organizações públicas e privadas.

Do ponto de vista da política social, essa dimensão da saúde se expressa na preservação dos gastos em saúde, uma vez que, a despeito dos esforços generalizados

em termos internacionais para a contenção do gasto público, a partir dos anos de 1980, a área da saúde tem preservado tanto sua participação nas despesas nacionais financiadas pelo setor público quanto na magnitude da intervenção estatal na regulação e nas ações de assistência e de promoção, mesmo quando ocorreram transformações na forma de ação do Estado no âmbito dos governos que tiveram a marca das políticas referidas como neoliberais (GADELHA, 2003).

Cordeiro (2001) aponta que é nesse espaço de diversidade, complexidade e conflito que o Estado precisa atuar para regular e gerir as práticas em saúde. As características, os espaços de intervenção e as limitações apontadas precisam, contudo, ser compreendidas e consideradas em quaisquer tentativas de melhor gerir a tecnologia em saúde, seja no que se refere ao processo de desenvolvimento, no controle da incorporação de tecnologias ao Sistema de Saúde, na regulação da utilização ou ainda na busca de um uso mais racional e eficiente dos recursos disponíveis.

Se há um direito à saúde que deve ser garantido pelo Estado, este não significa apenas, como somos induzidos a pensar, “acesso a serviços assistenciais”, ou seja, oportunidade a todos de cuidar de sua “doença”. O direito à saúde começa pelo direito a não ficar doente em decorrência de causas que competem ao Estado enfrentar, mediante intervenção nas suas mais diversas bases geradoras.

É de responsabilidade do Estado, também, a formulação e execução de políticas econômicas e sociais que visem, entre outros aspectos, estabelecer condições que assegurem acesso universal às ações e serviços para promoção, proteção e recuperação da saúde, como a geração de conhecimento e produtos que tendem a ser inseridos e aplicáveis no Sistema Único de Saúde.

Neste sentido, o Estado assume papel central, muitas vezes complexo na dinâmica dos setores de atividade na promoção da regulação, na aquisição de bens e serviços, na disponibilização para prestações de serviços, em investimentos em políticas direcionadas, investimentos em estatais que atuem no setor na assistência social e no sistema econômico como um todo.

Portanto, compete ao Estado brasileiro a formulação de políticas de Ciência, Tecnologia e Inovação em Saúde em várias bases suprir as demandas por serviços de saúde no país. Sendo assim, o artigo 200 (inciso V) da Constituição Federal

estabelece as competências do SUS e entre elas inclui o incremento do desenvolvimento científico e tecnológico em sua área de atuação.

O SUS pauta-se por três princípios constitucionais: universalidade, integralidade e equidade. E nos três casos, frutos da nossa Constituição. Do ponto de vista da ciência e da tecnologia, a aplicação desses princípios deve corresponder ao compromisso político e ético com a produção e apropriação de conhecimentos e tecnologias que contribuam para redução das desigualdades sociais em saúde.

A produção de conhecimentos científicos e tecnológicos reveste-se de características que são diferentes daquelas da produção de serviços e ações de saúde. Por este motivo, os princípios organizacionais que regem o SUS – municipalização, regionalização e hierarquização - nem sempre poderão ser adotados mecanicamente no desenho do sistema de ciência, tecnologia e inovação em saúde (CT&I/S).

Para garantir a autossuficiência do SUS é necessário o fortalecimento da formação dos pesquisadores brasileiros e da produção de conhecimento científico e tecnológico em consonância com as necessidades do Estado, Sociedade e Mercado. A capacidade de colaborar para o desenvolvimento econômico e social, coloca a pesquisa em saúde como estratégica para a soberania do país.

Gadelha (2005) expõe que o fomento à pesquisa em saúde pode corroborar para o crescimento da economia, devido à relação entre ciência e a inovação. Nos países em desenvolvimento como o caso do Brasil, a interseção e a articulação entre os componentes: ciência, tecnologia e inovação em saúde, ainda são insipientes e os esforços recentes.

As decisões baseadas em evidências científicas podem promover a equidade em saúde, reduzir custos sociais ou econômicos e proporcionar maior impacto à saúde de um maior número possível de pessoas. Ao adotar essa estratégia, o Estado se posiciona como crescente demandante e consumidor de resultados de investigações, assim como a sociedade. Nessa perspectiva a pesquisa em saúde busca por estratégias e soluções capazes de minimizar os problemas sanitários, podendo romper o círculo vicioso da pobreza, doença e sobretudo a dependência científica do país em face de grandes corporações que atuam na saúde.

Estes aspectos ficam mais evidentes quando pensamos em quão longa é a cadeia de valor na área de saúde. A gama de variáveis que interferem no atendimento

do paciente no SUS, e interferem diretamente na emancipação científica e tecnológica do País é enorme. A figura nº 5 destaca que o conhecimento gerado por meio da pesquisa na saúde é importante elemento no desenvolvimento de serviços, procedimento da pesquisa clínica, das indústrias química e biotecnológica, da indústria de materiais etc.

Figura nº 5: Cadeia de valor na área da saúde

Fonte: Elaboração própria.

Recentemente, as perspectivas para a área de C&T&I tornaram-se mais promissoras no Brasil com a aprovação da Política Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação em Saúde (PNCTIS) de responsabilidade do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). Trata-se de um conjunto de alternativas e soluções políticas que tem como finalidade construir um novo projeto nacional nesse campo a partir da criação de um ambiente nacional favorável para o desenvolvimento científico e tecnológico do país.

De acordo com Guimarães (2004), o novo projeto político nacional para o setor de C&T&I pode ser capaz de considerar as contradições existentes nessa área e reverter esse quadro. A saúde representa cerca de 30% do esforço nacional de investigação, devido a sua relevante capacidade e necessidade nacional de pesquisa, o que faz com que ela ocupe a posição de maior destaque na produção de conhecimento científico no país, afirma o autor.

Pesquisa em saúde humana é o maior componente do esforço brasileiro em pesquisa. Por outro lado, a saúde é um setor de atividade que possui, desde 1990, uma política de Estado expressa pelo SUS. A despeito dessas duas evidências, as diretrizes gerais da pesquisa em saúde no país estavam afastadas das diretrizes da política de Estado. A construção da PNCTIS objetivava, em última instância, aproximar as prioridades da pesquisa em saúde das prioridades da política de saúde (Reinaldo Guimarães um dos principais responsáveis pela formulação da PNCTIS em entrevista).

A pesquisa em saúde no Brasil é uma das mais antigas e quem detém ampla e consolidada comunidade científica, cuja atuação é reconhecida no âmbito internacional. Entretanto, as atividades de fomento nesse campo, tradicionalmente, estiveram desvinculadas das concepções e prioridades da Política Nacional de Saúde – o Sistema Único de Saúde, das necessidades e demandas da população, assim como, dos interesses do mercado nacional (XII CNS, 2004).

Para Guimarães (2004), Ciência, Tecnologia, inovação em Saúde (C&T&I&S) destacam-se como essenciais e estratégicas para a sustentabilidade e consolidação do SUS, por contribuir para a implementação dos princípios29, diretrizes30 e prioridades em suas três esferas. Para ele, C&T&I&S demanda a obrigatoriedade de formulação de políticas públicas específicas para a saúde.

O que por sua vez, implica nas palavras de Andrade (2007, p. 148) que “a pesquisa em saúde precisa ocupar um outro patamar político, orçamentário e financeiro, o que pode ser alcançado mediante o fortalecimento desse tema na agenda da autoridade sanitária nacional e na formulação de uma política pública setorial”.

Esforços nessa direção foram iniciados com a reorganização institucional do Ministério da Saúde (MS), a partir do ano de 2000 (XII CNS, 2004). A criação de instâncias dentro da estrutura ministerial com a responsabilidade de discutir essa temática, a construção de marcos institucionais: a Agenda Nacional de Prioridades de Pesquisa em Saúde (ANPPS) e a Política Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação em Saúde (PCNTIS) e o termo de cooperação técnica com o MCTI, foram iniciativas do MS com o propósito de aproximar as ideias e interesses do SUS com a PNCTIS.

29

Dentre os princípios do SUS destacam-se a Universalidade, a Integridade, e a Equidade.

30

A intersetorialidade, a participação social, a humanização da saúde, a hierarquização dos níveis de atenção e o orçamento participativo entre as três esferas são diretrizes do SUS.

Em especial, cabe destacar a criação recente Política Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação em Saúde (PNCTIS), que de acordo com as recomendações da 1ª Conferência Nacional de Ciência e Tecnologia em Saúde, é parte integrante da Política Nacional de Saúde, formulada no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), e tem como objetivo estimular o desenvolvimento científico, tecnológico e inovativo da área de saúde com base no desenvolvimento de competências locais em consonância com as necessidades sociais locais que falaremos a seguir.