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Da mesma forma em que a conexão por meio de redes é prática antiga na organização dos grupos humanos, a pesquisa em rede também é uma atividade antiga, quase tão antiga quanto à instauração de métodos científicos com o objetivo de abordar e pesquisar fenômenos existentes na terra. Logo, a comunidade científica, como manifestação social, sempre atuou em rede, por meio dos vários recursos que foram estabelecendo-se ao longo de sua história.

O fato mais significativo neste contexto, é que, da forma com que as redes são concebidas atualmente, a ciência tem de maneira bastante significativa um novo suporte para potencializar o seu avanço: justamente a possibilidade de maior conexão entre os seus pesquisadores localizados em espaços geográficos distintos por meio das tecnologias de informação e comunicação.

Para Castells (1999), as redes se constituem na nova morfologia social da atual sociedade, e a difusão de sua lógica modifica de forma substancial a operação de resultados dos processos produtivos, de experiência, poder e cultura. Assim, surge nos últimos anos uma significativa atenção a três grandes abordagens: a) os resultados de comunicação e circulação oportunizados pelo ciberespaço; b) as possibilidades de conexão humana; e c) as perspectivas de trabalho coletivo, amplificadas a partir da junção destes dois componentes, principalmente ancoradas na construção de redes sociais.

Nesse sentido, as redes sociais podem ser compreendidas como formas independentes de coordenação de interações. A marca central da rede é a cooperação, baseada em confiança entre atores autônomos e interdependentes. Estes trabalham em conjunto por um período limitado de tempo e levam em consideração os interesses dos parceiros envolvidos, que estão conscientes de que essa forma de coordenação é o melhor caminho de alcançar seus objetivos particulares. É em função dessa capacidade de agregação que as redes têm um grande potencial para instigar processos de

aprendizagem e são defendidas para a implementação de projetos de inovação, nos casos em que os riscos envolvidos apresentarem-se altos demais para cada um dos parceiros individualmente (FREY, 2003, p. 175).

Para tal, parte-se da seguinte premissa: o trabalho cooperativo amplifica os resultados na medida em que agentes com conhecimentos complementares se integram na busca de um objetivo comum. E este pode ser potencializado em empreendimentos estruturados no formato das redes sociais. Em algumas áreas essa é uma lógica tradicionalmente fundamental no desenvolvimento científico, tecnológico e inovativo.

Portanto, podemos reafirmar que, o acesso ao conhecimento é uma ferramenta chave no desenvolvimento de regiões e grupos sociais, orientado não somente para o incremento econômico, mas entendido, sobretudo, como elemento indispensável ao desenvolvimento humano.

Nesta linha de raciocínio, a possibilidade do agrupamento de pesquisadores em redes se torna dinâmica eficaz no que compete a resultados mais expressivos do que os produzidos por um único indivíduo trabalhando de modo isolado. A comunicação, a troca de informações e o trabalho se tornam efetivamente mais frutíferos quando realizados em rede.

Barabási (2009) e Christakis & Fowler (2010), em seus trabalhos, destacam “o poder das conexões”, ratificando a importância do networking, o seu poder de moldar nossas vidas e, consecutivamente, de produzir mudanças significativas, por exemplo, no âmbito da pesquisa. Para eles, um dos fatores que auxilia significativamente na melhoria de resultados empreendidos pelas pessoas está nas suas conexões com outros indivíduos que, obrigatoriamente, tem alguma experiência ou informação para acrescentar.

Assim como defendem Christakis & Fowler (2010), da mesma forma com que os ricos ficam mais ricos se conectando a outros ricos, e pessoas felizes se conectam a outras pessoas felizes, para a ciência de um modo geral, o seu progresso está atrelado à capacidade de pesquisadores se conectarem a mais e mais pesquisadores, de maneira que a informação e as mais diversas competências sejam

utilizadas em problemas comuns, e que conhecimentos e resultados sejam produzidos com mais intensidade por todos os membros da rede.

Em uma rede formada por pesquisadores - como em qualquer rede social - vários atores se estruturam como hubs, ou seja, atores que servem para o fornecimento e envio de informações, estes são os principais agregadores dos demais e outros como conectores na transmissão compartilhamento de informação e aprendizado. Os conectores são os membros que se conectam aos hubs para que daí se disperse mais informações. Cria-se, assim, em uma rede, a possibilidade de instauração de um contexto de solidariedade e multiplicidade de resultados e trocas de experiências, o que ratificando o que dito anteriormente, dificilmente ocorreria em projetos organizados isoladamente ou com indivíduos pouco conectados.

Os conectores são um componente extremamente importante da nossa rede social. Eles criam tendências e modas, fazem contatos importantes, espalham novidades ou ajudam a abrir um restaurante. São a tessitura da sociedade juntando facilmente diferentes raças, níveis de instrução e linguagens. [...] Os conectores são nós que contêm um número anomalamente grande de links (BARABÁSI, 2009, pp. 50-51).

Deste ponto de vista, a inserção em novos grupos, com novos hubs e conectores, permite a possibilidade de interação e cooperação entre novos membros com conhecimento em áreas muito específicas, diferentes, restritas. Permite-se também a conexão com agentes com maior reputação ou experiência, com maior poder de conexão, agregação de outros grupos, instituições e outros recursos materiais ou imateriais.

A inclusão/exclusão em redes e arquitetura das relações entre redes, possibilitadas por tecnologias rapidíssimas da informação, configuram os processos e funções predominantes em nossas sociedades. Redes são estruturas abertas que tendem a se expandir, gerando novos nós, que compartilham os mesmos códigos de comunicação (valores ou objetivos de desempenhos) (FUJINO, A. et. al., 2009, p. 212).

A interdisciplinaridade encontrada nas redes entre pesquisadores propõe ascender o universo muitas vezes fechado da ciência e trazer à tona a multiplicidade dos modos de conhecimentos, reconhecendo assim as variedades de indivíduos e dos

conhecimentos destes indivíduos, principalmente como produtores de novos e velhos modos de produzir ciência.

Kodama (1992) afirma que alguns dos mais significativos avanços científicos surgiram da integração ou fusão de campos científicos anteriores separados ou onde havia pouco diálogo entre seus pesquisadores. Porém, como aponta Fujino, et. al. (2009, pp. 215-216),

A ciência é uma atividade eminentemente coletiva e social, construída por meio de relações sociais entre os pares. Seus resultados (avanços ou retrocessos) são resultantes da interação entre os pesquisadores, seja de maneira direta (por meio de desenvolvimento de projetos e publicações em coautoria) ou indireta (por meio da citação de trabalhos da comunidade científica). De certo modo, existe uma relação entre todos os membros de uma comunidade científica de determinada área, tanto nacionalmente quanto internacionalmente, e, em consequência ao desenvolvimento da atividade científica como um todo.

Para LARA & LIMA (2009), a cooperação científica é um processo social intrínseco às formas de interação humana para efetivar a comunicação e o compartilhamento de competências e recursos. Para as autoras, a cooperação científica em rede é um meio para otimizar recursos, dividir trabalho, aliviar o isolamento próprio da atividade acadêmica e criar sinergia entre os membros dessa atividade.

Para Balancieri (2005), uma rede científica pode ser então, definida como uma organização de coesão tênue, consistindo em diferentes indivíduos ou grupos ligados entre si por vínculos de naturezas diversas. Essas redes são tipicamente centros “não físicos” que contam com meios de comunicação avançados, a fim de promover a interação de participantes com qualificações complementares. O grau de participação de cada unidade participante é flexível.

A divulgação dos resultados das pesquisas, quando também publicados em cooperação, e a conexão entre os vários agentes que contribuíram para a realização do trabalho formam o que aqui é considerado como redes científicas, que, segundo Newman (2001), é um termo derivado da linguagem social, que adota a nomenclatura redes sociais.

Para Medows & O’Connor (1971), uma rede científica pode ser definida como um conjunto de trabalhos cooperativos desenvolvidos entre dois ou mais pesquisadores e identificados por meio de artigos co-assinados, identificando suas instituições e localidades de origem. Para os autores, os artigos como resultado da produção de quaisquer tipos de conhecimento representa a comprovação social de um trabalho estabelecido por uma rede com enfoque na ciência.

Na tentativa de também conceituar o que é, aqui, considerado como uma rede científica22 acredita-se que esta possa ser descrita como agrupamentos de pesquisadores e suas afiliações e grupos, em uma continuidade de pesquisa em rede, com vários níveis hierárquicos ou não, em espaços geográficos distintos ou não, onde se tem por finalidade a construção de laços de cooperação, confiança, reciprocidade e compartilhamento de experiências, promovendo, assim, o progresso da ciência por meio da produção de bens, serviços, conhecimentos e inovações.

Nelas se reflete a horizontalidade, voluntariedade, interdisciplinaridade, cooperação, flexibilidade, solidariedade, objetivos e metas comuns. Elas podem ser estruturadas nos âmbito das mais variadas escalas: local, regional, nacional, internacional; em vários níveis diferentes: intra, inter ou mista, considerando-se a conexão entre grupos, departamentos, instituições, setores; também pode se estruturar de acordo com suas motivações: culturais, sociais, econômicos, simbólicas, políticos, científicos e tecnológicos.

Em uma rede científica, Newman (2001) chama os grupos ou as pessoas de “atores” e a conexão entre elas de “vínculo”. Os atores, assim como o vínculo, podem ser definidos de várias maneiras, dependendo das questões de interesse. O ator pode ser uma pessoa, um grupo, instituição, laboratório ou uma empresa.

Para Funaro (2010, p. 53), “na pesquisa científica os atores são cientistas, e o vínculo entre eles é a colaboração, que posteriormente resultará em uma publicação em forma de colaboração ou coautoria”. A publicação, ou registro de uma patente, por exemplo, é a expressão dos resultados e objetivos aspirados por uma rede científica. A promoção da construção de um vínculo em uma rede que resulte no avanço da ciência

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Existe uma polissemia de termos e definições com relação a este tipo de rede, na maior parte dos casos usam-se várias nomenclaturas para denotar o mesmo objeto: redes de coautoria, redes de colaboração acadêmica, redes de colaboração científica, redes de cooperação científica, redes de conhecimento, redes sociais cooperativas, redes acadêmicas de pesquisa etc.

ou na solução de um problema por sua vez pode ser considerada como o objetivo primário de qualquer rede científica.

De acordo com Witter (2009), desde os anos 60 do século passado observa- se o crescimento das redes sociais cooperativas no âmbito da pesquisa científica, possibilitando a solidificação de grupos formados por pesquisadores geograficamente distantes, ou mesmo aqueles não distantes. Este tipo de pesquisa em rede, no passado, dependia em grande parte das debilidades espaço-temporais do correio, fax, telégrafo e telefone (mostrados anteriormente), principalmente no transporte de arquivos.

Ainda segundo Witter (2009), a rede social merece a adjetivação de colaborativa ou cooperativa quando todos os que a integram, não apenas os que são nós, ou membros com maior centralidade (aqueles com maior número de contatos ou maior poder na rede), mas todos contribuem significativamente para o grupo, empenhando-se em disseminar via rede o que for de interesse comum e partilham as informações com todos.

Nesse tipo de rede social23, todos cooperam para melhorar: o desempenho de cada um, o produto que estejam elaborando, o conhecimento a ser produzido, ou para atingir os objetivos gerais ou específicos estabelecidos. Contudo, se pressupõe que em uma rede de pesquisa, a ação cooperativa esteja implícita em sua estruturação, caso contrário, a rede perderia sua estrutura básica, por isso neste trabalho é utilizado apenas o termo “rede científica”.

Para Weisz & Roco (1996), uma rede científica pode ser um empreendimento cooperativo que envolve metas comuns, esforço coordenado e resultados ou produtos (trabalhos científicos) com responsabilidade e mérito compartilhados. Assim, a cooperação científica oferece uma fonte de apoio para melhorar o resultado e maximizar o potencial da produção científica.

Ainda segundo Weisz & Roco (1996), em uma ótica social, importante ganho resultante da formação de redes científicas quando comparada a pesquisadores isolados é a ampliação do repertório de abordagens e ferramentas que advém do

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Admite-se também que uma rede científica, assim como as demais estruturas sociais, não esteja livre de disputas por poder, territorialidades, e a construção de grupos rivais dentro de uma estrutura maior, sobretudo por que estas particularidades compõe organizacionalmente qualquer agrupamento desta natureza.

intercâmbio de informações e da fertilização cruzada que se verifica quando grupos distintos juntam esforços no sentido de alcançar determinada meta.

Para Carvalho (2009), as redes sociais, se movimentam em diferentes direções e se articulam e usufruem de forma positiva do que oferecem os sistemas de informação. Na realidade brasileira interessam, prioritariamente, o fortalecimento significativo da pesquisa, do ensino-aprendizagem e de iniciativas voltadas para a cidadania. Sendo assim, as redes científicas podem contribuir para o crescimento do País, principalmente em regiões periféricas como é o caso do Nordeste.

No caso brasileiro, essas redes surgem como uma alternativa concreta para agregar grupos de pesquisadores distribuídos geograficamente e embora atuem em temas conexos, nem sempre têm a oportunidade de encontros presenciais, em virtude de questões econômicas, de tempo e espaço. A interatividade abre infinitas possibilidades de interatuação em tempo real e em múltiplos espaços (FUJINO, et. al., 2009, p. 217).

As redes representam o mundo em movimento, e, mediante as relações entre as pessoas, vão de modo contínuo reconstruindo a estrutura social, sendo a informação, o conhecimento e a possibilidade de transmissão e construção destes o elemento aglutinador em uma estrutura em rede, sobretudo na ciência. A rede enquanto espaço plural de conexões potencializa ações coletivas e de solidariedade entre pessoas que são de grande relevância nas mais variadas áreas.

Para Fujino et. al. (2009), uma rede científica é um dos mecanismos mais eficazes no compartilhamento das experiências e atividades indispensáveis para a alimentação do fluxo que leva ao desenvolvimento da ciência. As redes permitiriam, assim, ao indivíduo uma condição de contiguidade e continuidade, trazendo mudanças no fluxo de informações e nas relações entres os indivíduos.

Tais redes representam, nesse contexto, não só um elemento competitivo significativamente vantajoso, mas também estruturas potencializadoras de aprendizado social, independência científica e tecnológica, que por sua vez, podem também “capacitar” os indivíduos a se valerem das mudanças técnicas em prol de perspectivas em favor de uma convivência solidária, recíproca, cooperativa e comunitária.

Considerações Finais

A premissa que se procurou defender neste nó foi a seguinte: o trabalho cooperativo em rede amplifica os resultados na medida em que agentes com conhecimentos complementares se integram na busca de um objetivo comum. Assim, o importante ganho resultante da formação de redes científicas quando comparada a pesquisadores isolados é a ampliação do repertório de abordagens e ferramentas que advém do intercâmbio de informações e da fertilização cruzada que se verifica quando grupos distintos juntam esforços no sentido de determinada meta.

Mais do que simplesmente obter acesso à informação, a construção deste tipo de rede se torna elemento-chave na produção de conhecimento, que, por sua vez, sempre foi à base para a manutenção e o desenvolvimento de nações e grupos sociais. É na produção de conhecimento que se tem elemento básico no desenvolvimento de qualquer área científica.

Esta dinâmica por sua vez tem aumentado cada vez mais e influenciado a cooperação internacional em rede com países que antes mantinham pouca ou nenhuma relação deste tipo. A busca pelo enfrentamento de problemas comuns tem mudado a geopolítica mundial gradativamente, indicando novas tendências de articulações em rede.

Para além dos retornos científicos produzidos pela pesquisa científica em rede, os tipos de redes em que os atores se inserem condicionam principalmente suas práticas políticas, que por sua vez pode proporcionar ideologicamente uma estrutura de cooperação em rede constante para a solução de problemas comuns existentes em um único país ou em vários.

Especificamente, os novos contornos e desafios aos problemas comuns e as especificidades, está a cada vez mais crescente cooperação internacional, que busca por meio de redes de pesquisadores satisfazer a necessidade de todos em busca da compreensão de problemas e retornos para todos os envolvidos. Do ponto de vista social e científico a construção de redes é importante veículo no alcance dos mais diversos objetivos e possibilidade de solução dos mais diversos problemas.

3º Nó

As multiplicidades geográficas do