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CAPÍTULO II TEORIAS ORGANIZACIONAIS

1. A escola como organização

Compreender a escola como uma organização educativa e unidade social artificialmente construída constitui o enfoque em questão.

A definição de organização acompanha, de certa forma, a evolução da “teoria das organizações”. A emergência de novas formas de organizar a sociedade aconteceu com a modernidade, encarada como um processo de racionalização, com o objetivo de estabelecer uma certa ordem social. Desta forma, a organização moderna evolui em direção a paradigmas e também a máximas e imagens centralizadas em modelos racionais de gestão de recursos. Estes preconizam medidas normativas integradas num modelo racional, onde se valoriza a eficiência como medida de intervenção e de controlo do funcionamento da organização, assim como a eficácia. Neste quadro, Lima (2003a: 119) afirma que:

A modernização significará, para o futuro, racionalização, eficácia, eficiência, alcance da solução certa, optimização, relação favorável custo/benefício, progresso…O império da racionalidade económica institui a procura de eficácia à escala universal, dispensando a história, menosprezando a pergunta essencial – eficácia para quê, segundo quem e em benefício de quem? -, e recusando outra resposta que não a do progresso e do interesse geral.

Concretizando melhor esta ideia, o mesmo autor alerta para a despolitização intrínseca da racionalidade moderna representada na máxima the one best way, sendo a apresentação da solução anunciada do topo, mas a execução da mesma acontecendo na base, realçando que:

Ao eleger a racionalidade económica, a optimização, a eficácia e a eficiência, como elementos nucleares, os programas de modernização têm tomado por referência privilegiada a actividade económica, a organização produtiva e o mercado, exportando a ideia da empresa para o seio da administração pública (p.122).

Por sua vez, Blau e Scott (1979: 13) defendem que o que existe em todas as organizações de “comum é que um número de homens se organizou em uma unidade social – uma organização – estabelecida com o propósito explícito de chegar a certas finalidades”. Estes autores, procurando clarificar o conceito de organização, distinguem a organização social de organização formal: “Contrastando com a organização social que aparece sempre que seres humanos vivem juntos” (p.17) e, como tal “é um sistema de crenças e orientações compartilhadas, que servem como standards para a conduta humana” (p.16), baseando-se em “redes de relações sociais e em orientações compartilhadas” (p.17), «existem organizações estabelecidas, deliberadamente, para um certo fim (…) formalmente estabelecidas com o propósito explícito de conseguir certas finalidades”, e, neste caso “usa-se o termo “organizações

84 formais” para designá-las» (p.17).

Dentro das organizações formais, estes autores incluem as organizações informais que “se desenvolvem para ir ao encontro das oportunidades criadas e dos problemas propostos em seu ambiente, e a organização constitui-se do ambiente imediato dos grupos dentro de si” (p.19). Isto significa que uma organização informal surge sempre dentro do contexto de uma “organização formalmente estabelecida” (p.19). Estes autores distinguem, ainda, as organizações burocráticas como detentoras de “máquina administrativa”, em função da sua complexidade e dimensão carecem “de um aparato administrativo especialmente elaborado”. Mesmo as organizações formais de pequena dimensão “têm pelo menos um mínimo de burocracia” que se traduz na “elaboração de regras e regulamentos detalhados que os membros de uma organização devem seguir fielmente” (1979: 20).

Etzioni (1974: 32) remete-nos para as organizações complexas e para as questões do poder como referência de comparação. Assim:

O poder difere segundo os meios empregados para fazer subordinados concordarem. Esses meios podem ser físicos, materiais ou simbólicos. O poder coercivo reside na aplicação ou ameaça de aplicação de sanções físicas, (…) o remunerativo é baseado no controle sobre os recursos materiais e recompensas, (…) o normativo reside na distribuição e manipulação de recompensas simbólicas, (…) manipulação de meios, distribuição de símbolos de estima e prestígio, administração de rituais, e influência sobre a distribuição de “concordância” e “resposta positiva”.

Deste modo, as organizações, uma das principais conquistas da condição moderna, caracterizam-se por serem unidades sociais construídas artificialmente, dotadas de recursos para atingirem determinados objetivos específicos no sentido da continuidade do poder. Neste âmbito, a escola é considerada uma organização socialmente construída, pois existe intencionalmente para prestar serviços, que se pretendem de qualidade, como os valores da eficácia e eficiência.

Weber (1993: 730)27 faz corresponder a denominação de “tipo ideal” à organização

burocrática, caracterizada pela racionalidade, pela eficiência e pela otimização. Neste âmbito, embora a modernidade fosse considerada como processo transformador da vida humana, base de qualquer forma de organização, o potencial humano é relegado para segundo plano, assim como as máximas humanistas de «bem comum» e de «interesse comum», dando lugar às máximas de racionalidade, da impessoalidade e da eficiência (Weber, 1993: 176). Considerada

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a mais eficiente forma de organização burocrática, baseada na legalidade (1993: 708)28, Weber

receava esta grande eficiência, cujos resultados vindos da crescente “burocratização” poderiam representar um problema incontrolado e abusivo de autoridade (1971: 19).

Como se percebe, as escolas, à imagem de qualquer outra organização, são sistemas complexos, daí a existência de uma pluralidade de teorias para explicar e compreender as diferentes organizações. Deste modo, “olhar” as organizações, nomeadamente a escola pela

utilização de uma lente plural parece ser o mais recomendável no sentido de aprofundar os

pormenores considerados como relevantes e, assim, descrever, compreender e interpretar o funcionamento da organização e as lógicas de ação dos diferentes atores.

Como o processo de avaliação das escolas acontece em contexto organizacional, é suscetível de ser analisado à luz de várias teorias organizacionais, tornando-se necessário o contributo das mesmas. Feita a escolha do quadro concetual, torna-se oportuno definir o conceito de organização. Este pode apresentar não uma, mas várias definições: “o conceito de organização conduz-nos a um universo de inúmeras definições, pontos de vista, quadros concetuais, etc.” (Lima, 1998b: 48), em função da teoria organizacional que lhe está subjacente, da “lente” usada para olhar a escola. Para se determinar o quadro concetual subjacente a uma organização escolar, torna-se relevante apresentar uma definição de organização. Como o conceito de organização resulta da teoria organizacional que a apoia e, na linha deste raciocínio, não há uma, mas várias definições de organização, como defende Jorge Costa (1998: 12):

A definição de organização assume conotações diferenciadas em função das perspectivas organizacionais que lhe dão corpo, já que estamos em presença de um campo de investigação plurifacetado, constituído por modelos teóricos (teorias organizacionais) que enformam os diversos posicionamentos, encontrando- se, por isso, cada definição de organização vinculada aos pressupostos teóricos dos seus proponentes.

Ainda segundo Jorge Costa (1998: 12), a definição de organização escolar passa “pelas diversas imagens organizacionais com que a escola é visualizada”. Na perspetiva deste autor, a escola pode ser compreendida através de diversas imagens organizacionais.

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2. Avaliação da escola no âmbito dos modelos organizacionais: da