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CAPÍTULO III A METODOLOGIA

4. Análise e tratamento de informação

No quadro desta investigação, este procedimento (análise e tratamento de informação) implicou uma interação das diferentes matérias trabalhadas quanto ao quadro teórico e aos modelos teóricos de análise das organizações no sentido de proporcionar uma interpretação das diversas perspetivas implicadas na realidade em questão, de modo a comparar e aprofundar a compreensão do caso estudado. Assim sendo, a intenção consistiu em aprofundar o conhecimento do processo avaliativo em causa, tomando como base os referentes teóricos.

Após a recolha da informação, procedeu-se ao seu tratamento, através de procedimentos de organização e sistematização, como defendem Bogdan e Biklen (1994: 205): “processo de busca e de organização sistemático de transcrições de entrevistas (...) com o

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objectivo de aumentar a sua própria compreensão desses mesmos materiais e de permitir apresentar aos outros aquilo que encontrou”. Para isso, o conjunto de dados, designado por Vala (1986) de corpus de análise, foi submetido à técnica de análise de conteúdo que o autor (1986: 104) refere como uma: “desmontagem de um discurso e da produção de um novo discurso através de um processo de localização-atribuição de traços de significação, resultado de uma relação dinâmica entre as condições de produção do discurso a analisar e as condições de produção da análise.” E assim foi acontecendo, um trabalho de interpretação de um texto que terminou na produção de outro texto. Nesta linha de ideias, o mesmo autor acrescenta que:

A análise de conteúdo é hoje uma das técnicas mais comuns na investigação empírica realizada pelas diferentes ciências humanas e sociais. […] A finalidade […] será pois efectuar inferências, com base numa lógica explicitada, sobre as mensagens cujas características foram inventariadas e sistematizadas (1986: 101,104).

Este procedimento visa a redução de dados (a partir do sistema de categorização e codificação dos dados) com o objetivo de passarem ao processo de descrição e interpretação (Vala, 1986). O processo de categorização consiste, na perspetiva de Bardin (2000: 37), em colocar “numa certa ordem a confusão inicial”, através da ordenação e agrupamento dos elementos resultantes dos discursos recolhidos, mas cuja simplificação impõe algumas regras essenciais, para não se correr o risco de retirar sentido ou desvirtuar as mensagens, regras essas que deverão atender aos critérios de “objectividade, de validade e de fidelidade”.

Na sequência deste procedimento, Vala acrescenta ainda que “A construção de um sistema de categorias pode ser feita a priori ou a posteriori ou ainda através da combinação destes processos” (1986: 111). Neste âmbito, o guião da entrevista obedeceu a objetivos que, de certa forma, contribuíram para definir, por si, algumas categorias.

Ao tratar desta questão, Bardin considera importante para a organização da análise a adoção dos seguintes procedimentos. Assim, a partir da pré-análise, a leitura “flutuante” pode representar um passo importante para manter “contacto com os documentos a analisar e em conhecer o texto deixando-se invadir por impressões e orientações” (2000: 96). Já numa fase posterior à delimitação do material a analisar, a ação seguinte consiste na “constituição de um corpus […] ou conjunto dos documentos tidos em conta para serem submetidos aos procedimentos analíticos […] para fazerem «falar» o material (2000: 96,98).

Pode dizer-se que a leitura flutuante permite a identificação de elementos expressivos da informação na tentativa de se proceder à sua codificação numa expressão significativa no

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sentido da concentração dos dados. Adotando as palavras de Bardin, procedeu-se “a transformação – efectuada segundo regras precisas - dos dados brutos do texto, transformação esta que, por recorte, agregação e enumeração, permite atingir uma representação do conteúdo, ou da sua expressão, susceptível de esclarecer o analista” (2000: 103).

Estes elementos emergentes das diversas atas e das respostas dos entrevistados foram associados de acordo com a mesma relação de sentido ou codificados numa expressão, permitindo categorizar nessa expressão um conceito apropriado para a pesquisa. Das entrevistas e das atas destacaram-se, também, as “unidades de registo (…) de significação a codificar e correspondente ao segmento de conteúdo a considerar como unidade base, visando a categorização e a contagem frequencial” (2000: 104). As unidades de registo, considera Vala, são formadas por “a palavra, a frase (...) ou ainda um item” ou por “o tema ou a unidade de informação” (1986: 114).

Para que estes procedimentos fossem realizados, houve necessidade de se leram e relerem as transcrições das entrevistas e das atas atentamente de forma a encontrar as categorias (que compreendem informações mais abrangentes) e as respetivas subcategorias de codificação (que compreendem informações mais específicas) com vista à redução de dados e sua organização.

A análise da teia dos discursos permite encontrar e descobrir outros sentidos, outras leituras dos discursos e seus significados, possíveis pela leitura e releitura do texto que entretanto resultou desta prática de desmontagem dos discursos e que Bardin (2000: 96) designa como “leitura flutuante” do corpus de análise.

No decorrer deste procedimento, adotou-se a sugestão de Bardin (2000: 170) quando refere que “o discurso não é o produto acabado mas um momento num processo de elaboração, com tudo o que isso comporta de contradições, de incoerências, de imperfeições”. Neste sentido, a postura assumida foi, designada por Bardin (2000), de “vigilância crítica” face ao que as primeiras impressões revelaram, recorrendo, assim, a determinadas técnicas de validação para acabar com os subentendidos das mesmas. Assim, a análise constituiu um procedimento que permitiu a apreensão dos significados das narrativas, sem esquecer a importância dos critérios de qualidade na interpretação das mesmas, pois como refere Bardin (2000), só assim se podem estabelecer boas categorias.

Ao longo deste processo foram assinaladas, nas próprias transcrições das entrevistas e das atas, as unidades de registo e a respetiva categoria ou subcategoria atribuída. Acabada esta

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fase de categorização dos dados, através da organização em categorias e subcategorias de codificação, foram-lhes associadas abreviaturas, como indicam Bogdan e Biklen (1994). Bardin apresenta a seguinte definição:

A categorização é uma operação de classificação de elementos constitutivos de um conjunto, por

diferenciação e, seguidamente, por reagrupamento […] com os critérios previamente definidos. As categorias são rubricas, ou classes, as quais reúnem um grupo de elementos (unidades de registo, no caso de análise de conteúdo) sob um título genérico, agrupamento esse efectuado em razão dos caracteres comuns destes elementos (2000: 117).

De seguida, construíram-se uma série de quadros que implicaram as categorias e subcategorias de codificação com as respetivas unidades de registo e/ou de contexto das transcrições das entrevistas e dos documentos (atas).

Pode considerar-se que a categorização dos dados caracterizou-se por uma produção de conhecimentos na medida que permitiu conhecer melhor o tema em estudo e perceber elementos significativos, recorrentes e até divergentes entre os vários entrevistados.

O processo de produção de conhecimentos, nesta perspetiva, dá-se à medida que se recolhem e analisam os dados (Bogdan e Biklen, 1994).

Em anexo pode ler-se o processo de análise que efetuamos, tendo por base a interpretação que fomos capazes de produzir da literatura especializada.

CAPÍTULO IV - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E