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A escolha do Livro Didático de Ciências PNLD 2010/2011 um dia diferente?

Para situar o contexto da escolha do livro didático, situação que sempre mostra certo desconforto quando professores são entrevistados, pela alegação de que a escolha e chegada do livro à Escola são duas coisas muito diferentes, irei me apoiar nas transcrições de entrevistas que coletei com duas professoras supervisoras de rede municipal de ensino, uma supervisora escolar e duas professoras de Ciências (sendo uma municipal e outra estadual) para triangular as informações, a fim de empreender uma análise que pudesse auxiliar no entendimento da questão, tentando perceber por que decorrem determinadas distorções no discurso de cada segmento educacional.

É notório, e a trajetória como professor da educação básica permite afirmar, que existem entraves entre a proposta oficial expressa na política do PNLD e a prática da escolha e chegada dos livros até as escolas.

Ao que pude perceber na fala das supervisoras municipais, havia sempre presente um argumento que de que a escolha dos livros em 2010 seria de modo diferente, pois a unificação do currículo era uma grande razão, e, a meu ver, isso também impôs certa ordem em que o município ficaria sob a guarda do Estado. Esse dilema que percebi nas entrevistas com os professores será melhor evidenciado em um dos episódios que analisei no capítulo 3 desta tese, acerca da organização dos planos de estudos, que no ano de 2010 também foram unificados pela mesa razão: a necessária padronização dos conteúdos entre as redes para facilitar o trabalho, transferências e a formação docente, em outras palavras: “fazer uma escolha unificada a nível de escolas públicas, escolas ... de Cerro Largo... e por razões assim: a primeira porque os livros vêm pelos anos anteriores, sempre falta, tu tem que pedir ... até que venha aquela reserva técnica, já foi um bom andamento do ano letivo. E outra razão principal foi justamente porque nós ainda estamos reformulando os referenciais curriculares e eles, não vou dizer assim que é a base principal, mas eles se tornam referência pra construção, também. Então, por esse dois motivos, nós resolvemos fazer, acabamos de fazer na semana passada, e deu 100%, assim de todas as áreas, chegaram num consenso. Achei que ia dar mais polêmica ...” (Supervisora 2, 2010).

Em entrevista e no diálogo com as supervisoras municipais e professoras, estão presentes os elementos que configuram o modelo de escolha que a municipalidade defendia, o modo operante na escolha dos livros didáticos do PNLD 2010/2011 e as reais condições de escolha.

Diálogo com Supervisora Municipal:

Professor Formador 1 (2010): Então, na verdade, foi feita uma escolha única daí?

Supervisora 2 ( 2010):Isso é porque assim, procurou-se ... ver os livros que estão trazendo, mais em formas de competências e habilidades ... mas nós somos medidos por um IDEB e ainda é uma única forma de avaliação e aonde a matriz referencial tá saindo disso. Então, nesse sentido, a gente pensou em trazer algo mais próximo. Professor Formador 1 (2010): Que tipo de orientações vocês passaram pra eles, pra que eles fizessem a escolha? Como é que foi Superviora 1? [pausa e continua respondendo a própria pergunta] Foi assim: quando chegaram todos, no primeiro momento estavam todos reunidos. A seguir, repassamos essas orientações de forma indutiva que eles pensassem que está sendo mexido nas propostas políticas, estamos montando esse ano a nova, novos referenciais de 5º ao 9º ano que não tem ... a implantação do ensino dos nove anos...

[...]

Professor Formador 1 (2010): ... e depois dessa apresentação de motivos, aconteceu o quê?

Supervisora 2 ( 2010): Daí, eu fiz colocações das editoras também, que nos deixaram alguns recados... assim sabe... mas isso não foi o que levou... eu percebi claramente, às vezes a editora nos coloca: “escolhendo a nossa editora... pedindo um professor, um visitante... eles vem fazer o treinamento”... não foi o que levou, eles realmente analisaram o conteúdo, a apresentação do conteúdo...

Professor Formador 1 (2010): E como é que eles analisaram os livros? Que livros eles tinham na mão pra analisar?

Supervisora 2 (2010): De todas as editoras e os guias também.

Professor Formador 1 (2010): Então eles tinham na mão guias do PNLD... Supervisora 2 (2010): ...e todos os... os exemplares...

Professor Formador 1 (2010): E todos os exemplares que as editoras mandam...

Supervisora 2 (2010): ...aprovados pelo MEC... Então tem editoras que às vezes uma área não é aprovada, outra é... e a novidade pra esse ano... não sei se isso cabe na tua colocação...

[...]

Supervisora 2 (2010): ...apesar de só termos apenas primeira e segunda opção, só foram duas editoras ... não tiveram muita escolha... mas é a novidade desse ano...

Professor Formador 1 (2010): Na tua visão, o que tu pode observar, já que você estava lá... estava coordenando a escolha... você acredita que eles se detiveram no livro em si, no exemplar físico, que eles tinham na mão ... de cada editora que acaba mandando pra gente fazer a escolha; ou que de fato eles se detinham ao guia... pra mim compreender a escolha; pelo guia ou pelo livro?

Supervisora 2 (2010): Ao livro. [...]

Professor Formador 1 (2010): que critério de fato tu acredita que eles usaram pra definir esse e não aqueles outros 9 que poderiam ter sido? Quando tu olha pra Ciências ...

[...]

Supervisora 2 (2010): ...é... o conteúdo que eles têm a ser trabalhado naquela série... então que veio ao encontro disso.

Na entrevista estão destacados momentos em que ficam expressos: - uma falsa ideia de que os professores conheciam o guia de escolha do PNLD e que o utilizaram na escolha; - um crédito sobremaneira na condição de que todos tiveram acesso a todos os livros; - que as editoras não influenciaram na escolha, mas visitaram escolas e professores prometendo “treinamento”; - a ligação da escolha dos livros com a mudança curricular e a possível vinculação com o referencial curricular do RS – Lições do Rio Grande, que já era do interesse da supervisora que fosse adotado como currículo para todas as escolas de Cerro Largo-RS, pois assim no pacote teriam o mesmo livro e o mesmo plano para o ano de 2011. A própria supervisora, em outro trecho da entrevista, posiciona-se como professora também da rede estadual. Como nas escolas estaduais seguiriam a regra dos referenciais, que vinham sendo impostos, ela também acreditava ser melhor investir na mesma regra no município, unificando

todas as ações e iniciativas, conforme segue: “eu tenho minha experiência de escola estadual, sempre foi direto na escola” (Supervisora 2, 2010), ainda que não intencionalmente, mas a experiência vivenciada pela supervisora conduziu de algum modo para que ela aceitasse mais facilmente a unificação, o que de todo modo facilitaria o trabalho de todos.

Os diálogos da entrevista com a Supervisora 2 (2010) deixaram-me muito duvidoso de que de fato os professores teriam tido acesso a todos os livros do catálogo de escolha – Guia do PNLD e também ao próprio Guia. Nesse sentido, ao passo que eu visitava cada escola, ia entrevistando supervisores e diretores de escola (nas que não tinham supervisoras) quanto ao processo de escolha do livro didático 2010 do PNLD 2011. Então, selecionei um dos diálogos que transcorreram em uma biblioteca escolar, enquanto estávamos procurando pelos guias, livros e propagandas das editoras, durante uma dessas entrevistas que se passou na Escola II.

Diálogo entre formador, supervisoras e professoras:

Professor Formador 1 (2010): Na tua visão, tu achas que o guia do PNLD, o guia do MEC que apresenta o livro, tem a resenha e a avaliação, ele é eminentemente utilizado pelo professor na adoção ou é mais a cópia física do livro, o professor na verdade olha o quê, para escolher?

Supervisora 4 (2010): Eu acho que o professor, agora já está mais espertinho, ele não olha tanto o livro que traz uma visão mais avançada. Ele busca integrar o seu conteúdo a sua realidade dentro da sua comunidade e usar o livro como um complemento para estudo. Então assim ... eles analisam o todo do livro, inclusive assim, o, se não existe muita poluição visual dentro do livro, muita propagandinha; o professor já está bem inteligente para escolher o livro didático.

Professor Formador 1 (2010): E, você já me frisou que o guia também veio e foi de acesso aos professores. Você ainda tem algum guia na escola?

Supervisora 4 (2010): Eu tenho todos na biblioteca. Estão todos na biblioteca.

(então todos os presentes foram até a biblioteca para ver os guias e continuarmos a dialogar sobre a escolha dos livros didáticos)

Professor Formador 1 (2010): A minha pergunta aqui com as professoras da escola e a diretora e professora 1, é quanto à escolha do livro, se elas tiveram acesso ou não ao guia de escolha do MEC- PNLD:

Supervisora 4 (2010): Não, nós recebemos as propagandas que estão na sala dos professores (acho que não foram recolhidas ) e nós recebemos todos os livros de algumas editoras, inclusive nós recebemos visita de uma editora, da editora x que veio o próprio representante da editora, veio fazer a visita para nós.

Supervisora 2 (2010): quero fazer uma colocação, eu também sou nova (na SMEC). O pedido do município é feito na Secretaria de Educação [sim na Secr. de Educação – disse a Supervisora 4 (2010)]. Na Secretaria de Educação não chegou. Mas com Escola III, que é do estado que eu falei com outra professora, ela disse que elas estavam analisando o guia do PNLD, agora me fugiu a palavra porque tu tá gravando, então assim eu peguei de duas escolas para levar livros. Eu não vim aqui no interior. Elas já tinham alguma opinião formada, também foi em cima do guia. [dá uma olhada na sala das profes – disse a Supervisora 4 (2010)]. Então é nós no município, professor formador 1, que não recebemos ainda [- porque eu recebi a carta branca – disse a Supervisora 4 (2010)]. Na secretaria eu tenho certeza que não. Mas eu achei que chegava nas escolas municipais.

Professor Formador 1 (2010): a meu ver, é bem costumeiro não vir os guias e vir apenas os livros para o professor olhar.

Supervisora 4 (2010): Não, nós é o primeiro ano que recebemos os livros diretamente na escola, primeiro ano que recebemos os livros.

Supervisora 2 (2010): ô, viu, o que eu falei. Nós sempre recebíamos apenas o guia, com, com ...

Supervisora 2 (2010): E eu tenho minha experiência de escola estadual, sempre foi direto na escola, por isso que eu também tenho essas dúvidas, quando a gente coloca

Supervisora 4 (2010): Porque nos tínhamos....É que assim, a gente reorganizou a biblioteca esse ano, e... Supervisora 2 (2010): Supervisora 1, a senhora no passado...

[chega a professora 1, de Ciências, com as propagandas das editoras, da sala dos professores e constata:] Professora 1 (2010): é, são os guias da Editora!, é...piss..

Supervisora 2 (2010): então assim, ó, eu pensei, né?

Professora 1 (2010): a professora 7 sempre adotou esse, a professora 7 sempre queria. Que livro bom.

E nós de Ciências também conseguimos. Todas as escolas chegaram com a mesma proposta aqui. Meu Deus, que bom!

Professor Formador 1 (2010): Que livro é o que vocês adotam em Ciências?

Professora 1 (2010): Vou te mostrar aqui. Sabe que o último que veio eu não gostei da 8ª série, e eu continuei a usar esse velhinho, que era do outro ano ainda e era o que todo mundo escolheu agora.

Supervisora 2 (2010): pois é, né, professora 1, porque às vezes nem sempre vem a primeira opção. Professor Formador 1 (2010): nem sempre vem a opção que a gente quer!

Professora 1 (2010): mas assim era muita misturança de conteúdo, sabe, era uma coisa mais... eu acho que ... Esse autor aqui ...

Professor Formador 1 (2010): O autor de livro ...

Professora 1 (2010): até o professor 14, todo mundo, escolheu esse aqui. Claro, eu complemento muito ele, dou todas, dou além dele, sabe. Muito bom!

[a professora 7 estava presente na ocasião e nada afirmou durante a entrevista]

Num universo de contradições, esse é o contexto em que estávamos imersos, num contexto em que as afirmações se confundiam com práticas e que não condiziam com a realidade que estávamos presenciando. Posso afirmar que esse é um quadro bastante comum nas escolas dessa região, pois tenho pesquisado a educação e os professores dessa macrorregião desde 2001. E, por mais que o quadro fosse inesperado, de algum modo não fiquei impressionado com o que presenciei. Em geral, os livros sequer chegam às escolas dos municípios, especialmente nos com menor número de habitantes. Os guias são apenas disponibilizados eletronicamente pelo MEC, e num contexto em que a internet ainda é novidade, senão distante da realidade, o que está no acesso dos professores é o catálogo de propaganda das editoras, que apresenta todas as obras como uma fábula maravilhosa, em que tudo parece fácil e bom.

Diálogo com a professora municipal:

Professor Formador 1 (2010): ... como foi a escolha e por que vocês escolheram este livro didático?

Professora 1 (2010): Ah, tá, anteriormente a escolha foi mandado para a escola vários exemplares de várias editoras, a gente foi dando uma olhada na escola e a gente tem esses encontros na escola II. Então o grupo em si, porque a escola II também recebeu os livros. Eu já tinha previamente olhado lá na minha escola, então ali nós voltamos. A nossa turma de Ciências e Matemática voltou a dar uma olhada nos mesmos livros que estavam lá na escola. Então a gente olhou, analisou junto e a gente viu o tipo de atividade, como era exposta, os conteúdos, até um pouco a sequência também que a gente tá interada e, tá, aí a gente optou por uma coleção, essa do autor. Daí a gente teve a oportunidade, um convite da secretaria para todos os professores das escolas municipais, estaduais, particulares, para fazer uma coisa assim única, que todo mundo pudesse participar. Os alunos que saem da nossa escola vão pras estaduais, pro ensino médio, na escola VII ,escola VI, daí mais ou menos eles têm a sequência. Daí eles teriam o mesmo livro que nós, no caso. Daí por isso é mais fácil, por isso eles quiseram unificar, e assim, quando a gente chegou na prefeitura, todos os professores que estavam lá, das escolas municipais, estaduais e particulares tinham optado pelo mesmo que nós. Achei bem interessante e os que não puderam vir mandaram um bilhete com o nome do professor.

Professor Formador 1 (2010): Não foi uma escolha integrada.

Professora 1 (2010): Não foi, nós não tínhamos nem falado com eles. E eles vieram também e acharam assim por unanimidade que aquela coleção era melhor, então foi uma coisa bem fácil pra nós no primeiro momento da reunião, nós já estávamos prontos com a escolha, não tinha muita escolha.

As razões reapresentadas retomam a contradição de que houve escolha, foi única, todos concordaram, mas, ao mesmo tempo, não foi uma discussão integrada. Também está claro nas repostas que não havia muitas opções, ou seja, não eram muitos livros, provavelmente não eram as doze coleções que estão no guia para a área de Ciências.

Diálogo com a professora estadual: o contraponto

Professor Formador 1 (2010):está bem, então você não participou da escolha? Professora 10 (2010): não.

Professor Formador 1 (2010): mas, você sabe que foi escolhido o livro didático para 2011, tu imagina que seja para todos, é isso?

Professora 10 (2010): sim.

Professora 10 (2010): cheguei, mas já estava na reta final. Então o que aconteceu? Cheguei aqui e daí já tinha. As editoras mandaram para a gente olhar pra conhecer o material e vendo assim, nós escolhemos um da editora Y... Mas assim veio muitos[livros], aqueles com visão interdisciplinar, sabe, então, conversando com os outros colegas, por que a gente não decide mesmo se vai em cada série, se vai escolher um?

Professor Formador 1 (2010):coleção diferente ...

Professora 10 (2010): uma coleção diferente. Então, o pessoal achou melhor se ficar com essa da editora y que eram modelo padrão, assim digamos que já que o pessoal tá habituado a trabalhar, não quis entrar muito nesse interdisciplinar que porque daí quinta série trazia conteúdos de quinta, sexta, sétima, oitava, mas a nível mais conforme a idade do aluno. Então, a gente não se achou ainda preparado pra trabalhar dessa forma, preferiu manter o[livro] tradicional.

A professora 10 (2010), na verdade, não participou da escolha, discordava da coleção escolhida, mas, por fim, concordou e deixou de ousar em sua escolha por um livro com abordagem mais interdisciplinar, ficando com o mesmo de todos, demonstrando que ela mesma parecia fazer parte da escolha quando afirma: “nós escolhemos” (Professora 10, 2010). Mais adiante no texto (capítulo 3) poderá ser percebido, pela análise empreendida dos encontros de formação, que a adoção do livro didático comum a todos foi um indicativo que, mais tarde, determinou boa parte das escolhas e mudanças realizadas quanto aos planos de estudos de ambas as redes: municipal e estadual.

Ao ser aplicado o questionário (apêndice A), vários professores informaram em suas respostas que não conheciam os critérios utilizados pelo PNLD para avaliação das coleções. Quando se referem a que critérios utilizam para escolha, alguns remetem à sequência dos conteúdos e sua correlação com os planos de estudos, como fica claro nas passagens: “o livro didático é escolhido em reunião com professores da área e segue os conteúdos exigidos nos planos de estudos” (Professora 1, 2010); “verificando o conteúdo que estou acostumada a desenvolver em cada série, se o livro contém este eu escolho” (Professora 12, 2010), provavelmente não se dando conta de que ocorre o inverso: os conteúdos são transcritos para os planos, que por sua vez seguem o livro e induzem o fazer docente. Quando questionados sobre o conhecimento dos critérios do PNLD, os professores foram unânimes em afirmar que

não conheciam nenhum dos critérios, e alguns afirmam que: “não. Nunca entendi porque geralmente vem a 2ª opção. Isto já desmotiva, pois a aula bem preparada é tudo” (Professora 2, 2010); “não lembro no momento, mas já li ‘faz tempo’” (Professora 4, 2010); “acho que devem estar de acordo com os Planos Curriculares da Educação Básica” (Professora 9, 2010) e uma última afirma: “eu li muito ‘por cima’, vagamente, a avaliação feita pelo MEC” (Professora 12, 2010). Sendo que 12 professores entrevistados afirmam que sequer conhecem o PNLD e dois apenas conhecem em parte o programa. Um não respondeu.

Quando questionados quanto ao acesso que têm ao catálogo do MEC, ou seja, ao guia de escolha do PNLD, os professores afirmam na sua grande maioria que na verdade se utilizam do: “catálogo das editoras” (Professoras 1; 6; 8; 10; 11; 12, 2010), e a Professora 5 (2010) afirma que: “a gente se detém mais ao catálogo das editoras, pois são elas que nos fornecem exemplares”, o que corrobora a ideia que perpassou o diálogo com os professores já apresentado, clarificando ainda mais a posição de que os professores não têm acesso ao material que é desenvolvido para avaliação das obras e coleções e que tem como função contribuir na escolha dos livros, uma vez que é feito por consultores que analisam profundamente os livros e compõem resenhas que podem auxiliar ou até conduzir a uma leitura mais crítica das obras avaliadas, bem como servir de parâmetro para escolha.

O material que chega às escolas é tão somente as propagandas das editoras, que por vezes vem acompanhado de propostas de formação, computadores, televisão, entre outros prêmios, dependendo do tamanho da rede ou escola. A maioria dos professores também faz referência que, mesmo escolhendo o livro, o processo é moroso, geralmente chegando até a escola somente a 2ª opção e muitas vezes um livro que sequer foi escolhido, como segue: “muitas vezes escolhemos o livro didático e a escola não foi contemplada com a escolha” (Professora 2, 2010); “quase nunca vem a 1ª opção, geralmente nos é enviada a 2ª opção” (Professora 5, 2010); “tem escolha de 1ª e 2ª opção. Geralmente é enviada a 2ª opção, o por quê, não sabemos” (Professora 6, 2010).

Decorre certo desconhecimento, por parte dos professores entrevistados, acerca do PNLD, critérios de avaliação do Livro didático, Guia de Escolha, pois na verdade a escolha ocorre em meio a certo cerceamento do grupo de organização (supervisores) e em meio a tantos outros enganos que foram destacados nessa parte da análise. Essa situação parece favorecer a adoção do livro único em todas as escolas e reforça a noção de currículo comum, advinda da ideia de base nacional comum, concepção de currículo mínimo e de currículo

prescrito, conceitos que foram incorporados na vivência destes professores de tal modo, que por vezes sequer ousam pensar diferente. Esse entrave-dilema também está demarcado na posição – opção por ser organizado um currículo único para o município de Cerro Largo-RS, que trato a partir da análise de episódios que decorreram durante a revisão dos planos de estudos das escolas em que trabalham os referidos professores.

Os elementos que apresentei me parecem retirar parte da autonomia tão bem estabelecida pela Lei 9394/96 - LDBEN, mas tão distante das escolas brasileiras, pois há muita imposição que vem dos sistemas. A autonomia talvez não esteja na necessidade de mudança ou em fazer diferente, mas sim no processo decisório, no coletivo, na autoria dos conteúdos, nos procedimentos, nos objetivos do ensino e da área de conhecimento. Acredito que, para formar sujeitos cidadãos, nas ementas dos planos de estudos, colocamos nossos sonhos e desejos, esperançamos, mas a lista de conteúdos tem se mostrado um mero ordenamento pela cópia do livro. Assim, cabe perguntar: como atingir um novo sonho (ementa constituída pelo grupo) com uma velha lista de conteúdo, com a cópia de um programa distante do qual não participamos e do qual não nos sentimos parte e nem representados?

O dia de escolha do livro de fato foi bem diferente, a meu ver, do que se espera de uma escolha, que em princípio deveria ser de cada professor, de cada professora, que com seu