• Nenhum resultado encontrado

O movimento formativo dos Planos de Estudos III – Compreendendo um currículo a

CAPÍTULO 3: NO CONTEXTO DA CONSTITUIÇÃO DOS PROFESSORES DE

3.6 O movimento formativo dos Planos de Estudos III – Compreendendo um currículo a

a partir de um processo decisório

A discussão presente no movimento formativo em torno dos conteúdos e planos curriculares de Ciências compreende episódios que permitem reflexões e a tomada de decisões que, se de algum modo possibilitam a cópia dos conteúdos do ensino de uma lista proposta pelo referencial do RS; de outro, parece tornar essa adoção mais explícita e consciente, por essa razão tende a mostrar que o diálogo revela-se reflexivo-formativo.

As intencionalidades são postas em xeque, ao serem discutidas. O diálogo aponta indícios de autonomia docente e extrapola a discussão, ao situar também questões estruturais das escolas e da profissão professor, elevando a discussão ao nível da reflexão sobre “as considerações éticas”, que no entendimento de García (1992, p. 63[tradução própria]), “passa pela análise ética ou política da própria prática, bem como das suas repercussões contextuais”, nível este “imprescindível para o desenvolvimento de uma consciência crítica nos professores sobre suas possibilidades de ação” (ibid).

Além dos episódios, resgatei uma entrevista da Professora 12 concedida ao Professor Formador 1 para elucidar a necessidade, por parte dos professores investigados, de situar as decisões, tendo presente os livros didáticos de Ciências adotados para o triênio 2011-2013, conforme segue no diálogo.

Diálogo com a Professora 12 sobre a necessidade do livro didático

Professor Formador 1 (2010): Por que sentiram a necessidade de todas levarem o livro no próximo encontro professora 12?

Professora 12 (2010): ...nós... o que eu senti assim do nosso grupo lá, que foi escolhido um livro, só que o

pessoal principalmente 6º ano e7º ano não sentou com... como se diz assim, não analisou, aprofundar, o que há dentro desse livro, não se olhou assim se tem esse, esse, esses conteúdos?!.. Se tem e é da mesma forma

que nós vínhamos trabalhando?!... Para depois ver, é, então vai ficar isso aí! Porque, está, houve a discussão do conteúdo, da forma como nós iríamos desenvolver. Primeiro a gente discutiu algumas coisas, depois houve a parte da universidade, também fazendo as suas colocações e se fez uma relação e quando fomos colocar no papel o pessoal começou a ver a questão das duas horas, a quantidade de informações ali presentes nos conteúdos [do livro], fomos para casa e aí começou haver uma discussão. E eu fui uma que disse: gente, não adianta nós discutir se isso tá certo, se isso não tá, se isso significa que nós estamos seguindo aquilo que foi a dez anos atrás do mesmo jeito, só que mais atualizado, com mais informações... eu digo: não adianta se nós não tivermos o

livro aqui pra analisar, quem tem o livro?

Professor Formador 1 (2010): Quando nos reunimos, várias não tinham o livro na mão, não é? Muitos nem tiveram acesso a este livro escolhido “por todos”, como já foi dito nos encontros anteriores.

Professora 12 (2010): Nós não tínhamos. Então ficou combinado assim: que cada professor buscasse o livro da 5ª... do... do... do 5º ano... do 6º ano e do 7º ano e olhasse com atenção o que o livro estará trabalhando. E a questão de duas horas ou três horas, ficou claro que o município vai ter três horas... só que os professores ainda não entenderam isso... pelo menos eu entendi que o município também vai ter três horas. E aí os professores, teve professores também que ficou assim; é muita coisa, muita coisa...mas não... não posso dizer se é mesmo isso aí porque peguei o livro ontem de uma escola do 5º ano... do 6º ano e do 7º ano ela ia me alcançar... eu vou pegar acho que aqui que venho, tem que pedir só permissão... então assim oh, ficou... porque... Professor, assim oh, nós discutimos e aí toda a parte de plantas era pra ser no 6º ano e de repente na discussão, na fala e coisa... não foi mais e aí tudo aquilo e mais sabe? E aí as gurias começaram se apavorar.

O fato de os professores de Ciências envolvidos na discussão acerca das mudanças nos planos de estudos tomarem a decisão de trazer o livro didático no último encontro para o fechamento dos novos planos e encaminhamento final do processo, já evidencia como a autonomia dos professores vai sendo, aos poucos, resgatada. Não vejo essa implicação tão forte como amarra no processo que poderia levar a uma provável cópia dos conteúdos do livro. De certo modo, a decisão até pode demonstrar um retrocesso na construção iniciada nos encontros que principiaram este último, mas o processo formativo é assim, ora avança, ora estanca, ora retrocede, está, pois, em movimento e nesse movimento de ir e vir vai assumindo uma forma também reflexiva: a de se pensar que as decisões não são imutáveis, tal como se acreditavam ser os currículos, as diretrizes curriculares, as prescrições dos sumários dos livros. Outro aspecto a ser considerado sobre a decisão de retomar o livro didático adotado para o ano de 2011 está na questão contingencial, de que este será o material didático que todos os alunos e professores terão para dispor em aulas de Ciências, senão o único, um dos poucos. Também precisa ser acrescentado à discussão o fato de que a maior parte dos professores não teve acesso ao livro antes da escolha do mesmo, o que dificulta o planejamento das ações.

Nos episódios recortados do último encontro de discussão acerca das alterações nos planos de estudos, para além do acordo final sobre os conteúdos, esteve em pauta a corresponsabilização do coletivo docente que ensina Ciências nas redes estadual e municipal.

T 01: O que vocês vão fazer? (Professor Formador 1, 2010).

T 02: eu comecei a ler ali como as Lições colocam assim na questão da formação curricular, ele inicia com a questão da formação do universo , as teorias, a origem da terra e o que é necessário para ter vida, ai vem o sol, a água e o ar. Dai ele tem a questão da diversidade, ecossistema, habitat, problemas ambientais, características dos ecossistemas , ciclo do oxigênio, a célula, bactérias, algas, protozoários e fungos, poluição do ar, aquecimento global, água, reaproveitamento, lixo, doenças virais e a questão de antibióticos ... (Professora 12, 2010).

T 03: doenças humanas (Professor Formador 1, 2010). T 04: isso no sexto ano? (Professora 1, 2010).

T 05: não, está para as duas séries, sexto e sétimo. Nas lições está junto, de dois em dois anos (Professor Formador 1, 2010).

T 06: isto é nas duas, só que veja que me chama atenção, assim, seres vivos: ele não dá aqui nos blocos de conteúdos, ele não tem referência a mamíferos, a répteis... (Professora 12, 2010).

T 07: mas não é ali, eu acho. É só ali? Não, não deve ter mais, deixa eu ver, eu já tinha olhado, acho que é em outro lugar... (Professor Formador 1, 2010).

T 08: em nenhum lugar... (Professora 12, 2010).

T 09: então, estão todos os seres vivos em diversidade biológica, está tudo ali (Professor Formador 1, 2010). T10: só que ele dá um enfoque especial, que é aí que eu quero chamar atenção, temos que nos definir (Professora 12, 2010).

T 11: por isso que vocês têm que pensar o que vocês querem, se é aquilo... (Professor Formador 1, 2010). T 12: ele dá um enfoque especial à questão das bactérias... ele dá coisas que pros outros, como se nós fizéssemos parte disso ali...e aí, né? (Professora 12, 2010).

T 13: eu acho que vocês têm que perceber essa questão que a professora 12 coloca ali. É uma questão de vocês tomar uma decisão. Primeiro, se vocês vão seguir o documento das Lições ou se vocês vão seguir outra coisa, o que vocês vão seguir? Vocês vão ter que chegar num acordo, numa decisão… (Professor Formador 1, 2010)

T 14: nós vamos chegar na mesma tecla, o que a SMEC decidir e não adianta nós planejar e eles chegam e dizem: - não, vocês têm que dar aquilo ou isso... (Professora 2, 2010).

T 15: não, mas quem... (Professor Formador 1, 2010).

T 16: têm que seguir os eixos temáticos, mas para os projetos, é coisa de escola (Professora 3, 2010).

T 17: tanto faz o plano, se tu quer seguir... vamos seguir conforme esse aqui.. E aí veremos o que nós escolhemos. Vamos seguir conforme esse aqui. Vou lendo e vocês vão vendo se concordam ou não. A sétima e oitava é a vida, então a organização, a matéria, a energia, como eles se reproduzem, evolução, origem da vida, a classificação, bactérias, fungos... (Professora 12, 2010).

T 18: nós não tinha tudo isso, a sequência da evolução na sexta série? (Professora 1, 2010).

T 19: nós temos que tomar essa decisão, o que nós vamos abordar , o sistema solar, a origem da vida, o sol, a água e o ar no quinto ano? (Professora 12, 2010).

T 20: mas compete a nós fazer do quinto ano? Vai pertencer às séries iniciais ano que vem (Professora 1, 2010).

T 21: não, acho que ela está falando do sexto ano. (Professor Formador 1, 2010).

T 22: vai ser uma competição esse ano. Porque o livro que nós vamos utilizar vai abordar isso aqui no sexto ano. Isso que eu acabei de ler (Professora 12, 2010).

T 23: tá, então isso que tá no livro e tá ali, ótimo. É, não é? Se está nos dois, é ou não é, professor formador 1? ... Mas nos vamos ter um ano pra por isso em ordem (Professora 1, 2010).

T 24: a editora Z, ela adota isso aqui, sexto ano isso aqui. Procurando fazer integração (Professora 12, 2010). T 25: sexto ano já é o de Ciências, ecologia (Professor Formador 1, 2010).

T 26: isso aí. E a tendência é permanecer (Professora 12, 2010).

T 27: é que nesse sentido, o sétimo ano seria os seres vivos, tanto os animais quanto as plantas, bactérias, tudo. Oitavo ano é o corpo humano. E nono ano, Química e Física, essa é a sugestão que a Professora 12 está dizendo, nessa proposta ficaria dividida assim (Professor Formador 1, 2010).

[...]

T 28: quer dizer que o sétimo ano pega as plantas e animais? (Professora 12, 2010).

T 29: nessa proposta, sim, no sétimo ano. Daí a professora 10 levantou a proposta de trazerem as plantas para o sexto ano. Eu estou só levantando o que vocês disseram, eu não tô aqui tomando partido nenhum e nem vou tomar ainda, eu só acho que vocês têm que ver que são coisas diferentes e ver o que vocês desejam fazer. Essa é a decisão, vocês têm que tomar, na verdade vocês só têm duas propostas correntes: que uma é seguir essa linha geral, que eu acabei de resumir, que no fundo é o mesmo, ou fazer o que os livros trazem, mas com relação às plantas, trazer as plantas pra dentro do sexto ano e deixar só os animais dentro do sétimo ano e outra é seguir as Lições, que, pelo que já foi explicado, está mais de acordo com o livro que vocês adotaram (Professor Formador 1, 2010).

[...]

T 30: ...na quinta série, que vai ser o sexto. Então você trabalha com quinta? Tu também? (Professora 10, 2010). T 31: e o que tu faz? (Professor Formador 1, 2010).

T 32: eu faço isso aqui que está no livro (Professora 10, 2010).

T 33: Agora vocês precisam tomar a decisão do que farão para o ano que vem ... (Professor Formador 1, 2010). T 34: nós temos três votos que são a favor da mudança. Única coisa que eu digo assim, tu saiu daqui do estado, quem não teve essa experiência vai esbarrar não no conteúdo, eles vão seguir o livro… (Professora 12, 2010). T 35: vocês têm que ver o compromisso com as demais escolas e até com quem não está aqui. Até porque, se vocês chegam lá e não acontece, vocês podem ter de fato um currículo no papel e um currículo em ação, que é o que vocês estão fazendo. Tá escrito que é pra ser no sexto ano, na quinta série e vocês não estão dando, vocês estão dando na sexta série, então não adianta escrever e depois fazer diferente (Professor Formador 1, 2010). T 36: é o primeiro ano (Professora 1, 2010).

T 37: eu entendo, mas você entendeu? (Professor Formador 1, 2010).

T 38: porque nos queria ficar com tudo, porque o aluno sai dali da escola e fica com lacuna. Então foi a primeira vez que não demos as plantas (Professora 1, 2010).

T 39: ele não quer dizer para nós (Professora 12, 2010).

T 40: não hoje, preciso facilitar a discussão, mas são vocês que irão trabalhar com estes conteúdos e com este material (Professor Formador 1, 2010).

[...]

T 41: você tem quinta hoje? (Professora 10, 2010). T 42: quinta a oitava, Ciências (Professora 1, 2010). T 43: tu é a favor da mudança ? (Professora 10, 2010).

T 44: ah! eu já tô acostumada com a mudança, né? Só esse ano que não (Professora 1, 2010). T 45: ...que nessa discussão uns concordando e outros discordando (Professora 12, 2010).

T 46: eu trabalhei até julho meio ambiente, lixo, reciclagem, preservação e julho em diante plantas, tudo sobre as plantas. Eu trabalhei com bastantes folhas, atividades, porque não tinha livro (Professora 1, 2010).

T 47: mas aí que tá, de pegar e montar um material, usar os outros, tu não precisa ficar só com o livro... (Professora 10, 2010).

T 48: isso, se nós continuássemos a nos reunir, gente, nós podia fazer uma big de uma apostila bonita, com atividades, coisas assim, buscar coisas e fazer de plantas. Iria ser legal, todos trabalhar, já que nós vamos ter essas oportunidades de nos encontrar (Professora 1, 2010).

T 49: Então, vocês estão se encaminhando para quê? (Professor Formador 1, 2010).

T 50: não, uma coisa tem que ser colocada assim: a tua preocupação é depois lá fora, o que vai acontecer? Mas todo mundo foi avisado dessa reunião, as escolas liberaram nós pra reunião, então quem não tá aqui, tem que acatar o que o grupo decidiu porque foi liberado, tinha permissão, era pra tá aqui hoje. Tanto que tava um auê nas escolas de professor substituindo professor para ter esse grupo de estudo. Nós fomos liberadas, nós temos autorização de estar aqui. Agora quem não está nem aí com o problema, não pode vim chiar [reclamar] e não pode reclamar se não vem participar (Professora 10, 2010).

T 51: vocês têm um fórum de discussão que foi chamado pelo município e o estado atendeu. Então, na verdade, aqui é o fórum de decisão, quem não está aqui, na verdade não poderia decidir sozinho. Este teu argumento tem fundamento, sim (Professor Formador 1, 2010).

T 52: nós podemos questionar o porquê da não presença? (Supervisora 1, 2010).

T 53: isso aí. E se vai adotar, acho que isso é o mais importante também para perguntar: - vão adotar o que está sendo feito nesse grupo? Porque esse que é o problema das meninas se decidir ou não por uma outra, porque elas estão com medo de fazer uma outra coisa e depois na hora ninguém seguir, acho que é isso, não é? Eu não conheço os professores que não estão aqui, por exemplo, então não sei o que eles pensam. Em tese eu só conheço vocês (Professor Formador 1, 2010).

No que se refere ao conteúdo a ser abordado por séries/anos do Ensino Fundamental, poucos foram efetivamente modificados/alterados do antigo modelo. A decisão do grupo passou por duas propostas. No início do encontro, a busca pela adoção das Lições do Rio Grande, como forma de inovação e de seguir o modelo já expresso nos planos de estudos, o do currículo por competências, como está apresentado nos turnos T 02, T 05 T 13 T17 T 18, T 19 e T 23: “tá, então isso que tá no livro e tá ali, ótimo. É, não é? Se está nos dois, é ou não é, professor formador 1? ... Mas nós vamos ter um ano pra pôr isso em ordem. (Professora 1, 2010).

Logo depois, surge no diálogo a ideia de manter uma modificação no conteúdo de plantas, que sairia da posição atual 6ª série/7º ano para a 5ª série/6º ano, em razão de ter três horas-aulas semanais. Essa decisão acarretaria falta do conteúdo no livro didático da série/ano, com isso uma maior mobilização do professor em relação ao modo de disponibilizar tal conteúdo aos alunos (T 29, T 30, T 31 T 32, T 33 e T 34). Essa proposta estava sendo defendida pela Professora 10.

Lições do Rio Grande, demonstrando que o conteúdo ficaria mais de acordo com o livro didático adotado, dando a ideia de que era o melhor caminho a seguir. Desse modo, as duas propostas são discutidas e, em meio a acordos e desacordos, o que ficou explícita foi a necessidade da formação continuada (T 45 e T 48).

Um elemento importante que o processo possibilitou aos professores participantes foi o entendimento de que, para serem abordados conteúdos diferentes do livro ou do que cotidianamente se fazia, tornava-se necessária a formação continuada através do grupo em que participavam, como fica expresso de modo contundente pela Professora 10 (2010), no turno T 47: “mas aí que tá, de pegar e montar um material, usar os outros, tu não precisa

ficar só com o livro...” e pela Professora 1(2010) no turno T 48: “isso, se nós continuássemos a nos reunir, gente, nós podia fazer uma big de uma apostila bonita, com atividades, coisas assim, buscar coisas e fazer de plantas. Iria ser legal, todos trabalhar, já que nós vamos ter essas oportunidades de nos encontrar”.

Quanto ao processo decisório, acredito que a marca mais profunda da discussão esteve em torno da corresponsabilização de todos os professores de Ciências do grupo que participavam ativamente, como pode ser deflagrada no turno T 50: “Tanto que tava um auê nas escolas de professor substituindo professor para ter esse grupo de estudo. Nós fomos liberadas, nós temos autorização de estar aqui. Agora quem não está nem aí com o problema, não pode vim chiar [reclamar] e não pode reclamar, se não vem participar”

(Professora 10, 2010) e da busca de sintonia com os participantes eventuais ou ausentes, mas que ensinavam Ciências no município em questão. Essa atitude de responsabilizar a todos pela autoria das decisões foi um mecanismo de defesa e de controle que a questão curricular subjaz, pois o conteúdo de um currículo também imprime um saber-poder que determina ações para além do ensino.

Num grupo que busca seu fortalecimento, a busca por fazer valer as decisões é uma estratégia interessante de consolidação, o que leva uma professora do grupo a resumir as intenções de todos como sendo:“todo mundo foi avisado dessa reunião, as escolas liberaram nós pra reunião. Então quem não tá aqui tem que acatar o que o grupo decidiu, porque foi

liberado, tinha permissão era pra tá aqui hoje” (Professora 10, 2010), daí também a

importância da expressão fórum de discussão-decisão que está presente num turno do mesmo diálogo (T 51): “vocês têm um fórum de discussão, que foi chamado pelo município e o estado atendeu. Então, na verdade aqui é o fórum de decisão, quem não está aqui, na verdade não poderia decidir sozinho. Este teu argumento tem fundamento, sim” (Professor

Formador 1, 2010).

Na condição de coordenador do grupo, pude exercer o papel de articulador/sistematizador, especialmente pelo jogo de perguntas que fiz uso no processo, na tentativa de resgatar a discussão e encaminhar para tomada de decisões, sempre no sentido de resgatar um diálogo crítico-reflexivo que permitisse avançar através da comunicação intersubjetiva, daí dialógica e interativa, tal como fica explícito nas passagens: “O que vocês

vão fazer?”; “...uma questão de vocês tomar uma decisão. Primeiro, se vocês vão seguir o documento das Lições ou se vocês vão seguir outra coisa, o que vocês vão seguir?”; “...preciso facilitar a discussão...” e “... vocês estão se encaminhando para quê...” (Professor Formador 1, 2010). A condição de formador e a necessidade de assumir uma corresponsabilidade me mantinham em constante vigilância sobre as propostas a fim de clarificar/explicitar os dois caminhos possíveis. Essa condição está bem assumida no T 33: “Eu estou só levantando o que vocês disseram, eu não tô aqui tomando partido nenhum e nem vou tomar ainda, eu só acho que vocês têm que ver que são coisas diferentes e ver o que vocês desejam fazer. Essa é a decisão, vocês têm que tomar, na verdade vocês só têm duas propostas correntes: que uma é seguir essa linha geral, que eu acabei de resumir, que no fundo é o mesmo, ou fazer o que os livros trazem, mas com relação às plantas, trazer as plantas pra dentro do sexto ano e deixar só os animais dentro do sétimo ano, e outra é seguir as Lições, que, pelo que já foi explicado, está mais de acordo com o livro que vocês adotaram” (Professor Formador 1, 2010).

Na sequência está apresentado o episódio que marca o encerramento do processo investigado nesse movimento formativo.

T 54: então acho, assim, todos concordam com a questão de plantas? (Professora 12, 2010).

T 55: aquele dia da formação sobre as Lições do Rio Grande, eu não sei, o município não participou, foi só o estado. Mas lembra que chamou a atenção que aqui, e esse município aqui do lado, o Z, que era o único que era diferente do resto, o restante trabalhava plantas também, já na quinta (Professora 10, 2010).

T 56: eu vejo assim, que foi muito aonde a Universidade X conseguiu influenciar a formação… (Professora 12, 2010).

T 57: eu concordo que seja dado plantas ou então subir a carga horária (Professora 1, 2010). T 58: aumentar a carga horária (Professora 10, 2010).

T 59: aumentar a carga no sétimo, se não eu concordo que seja plantas no sexto (Professora 1, 2010). T 60: me digam que eu listo (Professora 10, 2010).

T 61: vê aqui com as gurias, cada um dá a sua opinião (Professora 1, 2010).

T 62: então, o que vocês optaram por fazer? Pra mim tentar entender. Vocês optaram por pegar, eu posso estar enganado, vou tentar resumir o que vocês disseram. Vocês vão adotar a estruturação que a professora 12 apresentou mas alterando plantas para o sexto ano, que na verdade ainda é a estrutura do livro do que vocês adotaram só que sem plantas no sétimo ano e sim no sexto ano, é isso ? (Professor Formador 1, 2010).

T 63: isso ai. Vocês concordam, gurias? Acham ruim? (Professora 1, 2010).

T 64: ...dar, eu não dou, eu trabalho numa escola, mas não no sexto ano, mas concordo que fica melhor assim (Professora 11, 2010).

T 66: o que tem que ser feito é isso aí, para esse ano vai ser repetitivo, no caso eles vão ver essas coisas e não podem ver duas vezes a mesma, ok? (Professora 2, 2010).

T 67: só que tem crianças que nem têm nada a ver com isso e nem vão ter o conteúdo (Professora 1, 2010). T 68: eu sei, mas é que é uma unidade, a gente não vai trocar tudo (Professora 10, 2010).

T 69: gurias, lá no ensino médio a criança aprende tudo de novo, detalhado (Professora 1, 2010).

T 70: eu sempre penso: se nós não colocamos gosto nos alunos de Ciências, de quinta a oitava série, nunca mais