• Nenhum resultado encontrado

1. TECNOLOGIA E EDUCAÇÃO

1.5 A escrita colaborativa via web

Quando tratamos do assunto escrita, logo nos remetemos à questão de práticas escolares, pois é nesse ambiente que os alunos têm o contato mais aprofundado sobre como escrever um bom texto. Com as mudanças ocorridas na sociedade e os avanços da tecnologia, a escrita consequentemente também obteve suas modificações, e hoje temos uma escrita que acontece nos ambientes digitais, e não mais restritas só ao mecanismo grafocêntrico.

Esse modelo de escrita em espaços digitais, se deu devido a incorporação dos avançados processos de internet para a Web 2.0 que possibilita aos usuários não mais a passividade da coleta de informações, mas agora tais sujeitos, podem se atrever a interagir e a elaborar conteúdos para serem publicados nas redes.

35 Só a título de informação, a Web 1.0 funcionava como uma espécie de biblioteca, como arquivos para pesquisa, em que o usuário, se debruçava apenas para coleta de informações, sem interferir necessariamente nos conteúdos que ali estavam expostos. No entanto, com o advento da Web 2.0, esse modelo tornou-se obsoleto, dando espaço para a interatividade em espaços digitais, mais autonomia para produção e interferências em conteúdos por meio de linkagem.

Quando pensamos nessa vertente para o meio escolar, observamos que muitos alunos estão inseridos, de certo modo, com as tecnologias por meio das redes sociais e até de jogos.

Esses mesmos indivíduos interagem nos espaços digitais e conseguem realizar algumas atividades de forma coletiva. E com isso Leite (2011, p. 81), reitera

Os novos nativos digitais evitam acompanhar argumentos lineares que não permitam a sua interferência e lidam facilmente com o hipertexto. Eles modificam, produzem, partilham. Essa atitude diante da mensagem é sua exigência de uma nova sala de aula, seja na educação básica e na universidade, seja na educação presencial e online.

O contato com a inovação chama a atenção do novo panorama de estudantes, que querem a todo momento interagir com a informação que é dada, e nisso, entram em destaque as práticas colaborativas, em que os alunos por meio da junção de ideias produzem textos e materiais de uma forma mais satisfatória. E tais atividades podem proporcionar aos alunos a aquisição de saberes de maneira conjunta, práticas que hoje são bem vistas e valorizadas para o mundo dos negócios e da internet, ou seja, não se restringem apenas ao espaço escolar.

Desse modo, faz com que os discentes tratem uma informação de maneira coletiva, e também aprendam com esse processo de partilha dos saberes. Como destaca Pinheiro (2011, p. 3)

isso significa que, ao trabalhar em grupo, os sujeitos podem produzir melhores resultados do que se atuassem individualmente. Num trabalho de escrita em grupo, pode ocorrer a complementariedade de capacidades, de conhecimentos, de esforços individuais, de opiniões e pontos de vista, além de uma capacidade maior para gerar alternativas mais viáveis para a resolução de problemas.

Sendo assim, a escrita colaborativa não é uma prática isolada, mas requer a cooperação de todos os envolvidos no processo, e não diz respeito apenas ao produto finalizado, mas considera todo o percurso de construção dos envolvidos.

Para tanto, nesta pesquisa o que consideramos escrita colaborativa não é propriamente o produto final, tendo em vista que a prática colaborativa de produção de minicontos pelos alunos aconteceu durante todo o processo, desde o momento de apresentação da temática, seguido da discussão, e a construção processual do texto que teve por pretensa levar a um ir e vir de informações que por ventura foram editadas sempre que os grupos necessitaram de

36 inserir alguma outra informação faltante em seus textos. Então nesse caso, a colaboração se faz antes mesmo da própria produção textual.

Diferente do contexto de produção restrito e monopolizado, as práticas de escrita colaborativa contribuem até mesmo para a formação de um sujeito mais sensível, motivando a perspectiva dos valores humanos, pois envolve respeito ao dizer do outro, exigindo assim paciência e confiança no ato do trabalho colaborativo. Sobre isso Pinheiro (2011, p.4) afirma que

a EC está intrinsecamente ligada a dinâmica de práticas sócio-culturais, já que, à medida que essas se desenvolvem e se consolidam, suscitam um ambiente que pode promover novas práticas colaborativas, que se constroem por meio da interação entre sujeitos. Esses, ao fazerem uso da forma escrita, são re(conhecidos) pelo (s) outro (s) por meio da leitura do que escreveram, buscando, com a informação do (s) outro (s), construir um conhecimento que, por sua vez, passa a ser disponibilizado para outro (s).

Segundo Pinheiro (2013), a atividade de escrita colaborativa no contexto escolar também promove a aquisição de novas habilidades do saber: a criatividade, a colaboratividade, a crítica, a comunicação. Por esse viés, os alunos no processo de atividade de EC (Escrita Colaborativa) conseguem pensar de forma mais acurada sobre como se posicionar diante de um determinado assunto, consequentemente, seu grau de ativismo tende a ser maior devido à troca de ideias e de informações vistas e encaradas por diferentes olhares; o que desperta também a autonomia responsiva com o produto final daquele texto e tal perspectiva é somatória quando tratamos de questões voltadas para a formação de um sujeito plenamente letrado.

Lévy (1993) fala em suas teorias de uma inteligência coletiva, cujos indivíduos usam seus saberes de forma conjunta em redes virtuais para a produção de conteúdo. Sendo assim, a pessoa que mais sabe deixa sua contribuição e essa contribuição é complementada por outros saberes que terão por base o melhoramento de um determinado resultado. Dessa forma, a inteligência coletiva é um trato importante a ser considerado no meio educacional, tendo em vista que essa produção é toda colaboração dos saberes dos participantes para a produção de textos, integrando múltiplas linguagens.

Assim, a escrita colaborativa somada aos demais aparatos pertinentes das mídias como: imagens, som, e hipertextos permitem aos colaboradores terem formação para suas produções, ampliando as ideias que serão dispostas no texto, pois através do visual e das várias funções presentes nas ferramentas midiáticas é possível aguçar a criatividade dos membros da escrita colaborativa. Schmaedecke (2019, p.49) reitera que

aprendizes que interagem e trabalham colaborativamente constroem conhecimento de modo mais significativo, desenvolvem habilidades intra e interpessoais, deixam

37 de ser independentes para serem interdependentes. Interação e envolvimento se intensificam quando há colaboração.

As práticas colaborativas contribuem para a produção textual dos alunos, tornando-os seres mais coparticipantes do processo de construção de um novo letramento que perpassa uma escrita meramente restrita ao espaço escolar. Tais práticas tendem a desenvolver no aluno mais do que conhecimentos convencionais dispostos em um currículo, é um preparar para as situações complexas vivenciadas na sociedade.

Pinheiro (2013) destaca que cada vez mais as práticas de EC têm ganhado força e principalmente com a possibilidade dessa escrita acontecer no espaço digital, a escola não pode deixar de lado essa nova forma de letramento, que permite uma ressignificação das metodologias centradas apenas na escrita mecanizada e desvinculada da prática. Tendo em vista que o público da escola atual é o mesmo público que já tem acesso aos meios digitais, e fazem uso desses para sua comunicação. Com tal afirmação, Coscarelli (2016, p.14) acrescenta que

a escrita colaborativa, a produção e a recepção de textos multimodais em rede, a busca por informações em um ambiente com muitas possibilidades, a leitura e a integração de informações de múltiplas fontes requerem o desenvolvimento de diversas habilidades que precisam ser aprendidas, formal ou informalmente. Os professores deveriam se preocupar com isso e buscar formas de ajudar os alunos a desenvolverem as habilidades necessárias para serem leitores e produtores dos diversos gêneros textuais que os ambientes digitais possibilitam e que a vida exige deles.

Nesse sentido, diante das demandas dos novos tempos e do contexto educacional que está permeado por mudanças, a escrita colaborativa tem sido uma metodologia que utilizada na escola para a produção de textos cooperativos surte um efeito positivo e proporciona a interação entre os alunos, bem como a construção de ideias de forma conjunta. Segundo Pinheiro (2010, p.229)

é possível afirmar que a EC é, antes de tudo, um empreendimento ativo e social que possui duas forças de impulsão interrelacionadas: o grupo, como agente de apoio individual, e o participante, cujo envolvimento para colaborar repousa no seu interesse em partilhar com o grupo a realização das tarefas. Pode-se, por conseguinte, afirmar que, dado seu caráter social, a colaboração tem como base outros conceitos, como socialização e confiança, identidade e coesão grupal, motivação e envolvimento ativo na participação.

É perceptível que as práticas de escrita colaborativa não se propõem apenas a mera avaliação dos alunos ou até mesmo considerar os níveis de escrita dos discentes, é um trabalho que vai além, pois se desenvolve por meio de cooperação e de junção de ideias.

Desse modo, essa prática reintroduz princípios esquecidos pela sociedade, como a partilha e a solidariedade (BONILLA, 2015; PRETTO, 2015; DAMIANI, 2008), ou seja, a sensibilidade

38 de escuta e acolhimento dos saberes do outro é um marco importante para a produção de texto colaborativo que destaca também o processo e não o produto final.

Com isso, esse trabalho colaborativo de escrita permite aos alunos estarem diante de uma nova forma de letramento, como afirma Kleiman (1995), que requer novas habilidades e não só uma escrita de maneira desvinculada, pois o propósito é tornar o aluno autor de suas próprias formas de saber, e desempenhando habilidades escritas em variados espaços de maneira interativa e levando em consideração os usos sociais de leitura e de escrita como práticas relevantes e que consideram a interação dos sujeitos.

Assim, a escrita por moldes colaborativos, nos espaços digitais, e tendo as ferramentas corretas auxiliam os alunos no processo de estímulo por questões de produção de texto, pois permite que aqueles que possuem mais dificuldades possam ter auxílio em sua produção, tratando os saberes de forma conjunta.

Sendo assim, a escrita colaborativa também proporciona a interatividade entre os alunos de poder desenvolver atividades de maneira cooperativa, que não consiste em uma tarefa fácil, a princípio, mas que pode ser estimulante para os alunos a partir do momento que são incentivados pelo professor, fazendo com que todos aprendam formando uma rede conjunta de aprendizagem, sem hierarquias. Essas perspectivas, de colaboração e escritas com propostas sociais preparam os alunos para novas formas de letramentos, abordagem que será apresentada no próximo capítulo.

39