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5 O MOVIMENTO INCLUSIVO EM/NA FORMAÇÃO: SENTIDOS E SIGNIFICADOS

5.3 A ESCRITA NARRATIVA DO SENTIDO EXISTENCIAL DE SER

Na pesquisa-formação, a essência do processo inclusivo em formação contínua de professores na pretensão da autonomia e autoria, implicava-se na encarnação do sentido, e o nutriente desse processo esteve sempre na narrativa e na dialogicidade, no sabor do sentido que revelava de si. Dessa forma, uma pitada especial do sal, como diz Barthes (1978, p.21), “Na ordem

do saber, para que as coisas se tornem o que são, o que foram, é necessário esse ingrediente, o sal das palavras. É esse gosto das palavras que faz o saber profundo, fecundo”. Então, por que estragar as palavras se elas têm o poder de dar sentido ao que somos, ao que pensamos, ao que desejamos, a como nos expressamos, nos revelamos!? Quem teria o poder de desvelar tal verdade se não as palavras!? Por que encapsulá-las negando ou metamorfoseando sua significação!? Lispector (1999, p. 24), nas suas reflexões pontuava: “o pior de mentir é criar falsa verdade [...] se a mentira fosse apenas a negação da verdade, então este seria um dos modos (negativos) de dizer a verdade”. Mas, para que as falsas verdades não fossem intencionalmente criadas e defendidas, ou até mesmo para que elas fossem desvendadas, precisava brotar da referência do vivido, refletida e refletindo no discurso existencial, o teor do discurso fenomenológico, como bem pontua Rezende (1990, p. 18)

O discurso fenomenológico pretende corresponder à encarnação do sentido em seus diversos lugares de manifestação, através da história. Uma palavra, uma frase, uma definição, nunca poderão dizer o que há de dizer. Temos necessariamente de recorrer ao discurso para nos aproximarmos o mais possível da densidade semântica do fenômeno humano.

Nos fundamentos do discurso da fenomenologia, Rezende (1990) vai deixando claro que a compreensão é a busca da fenomenologia, e que a própria questão da semântica do discurso humano, que na significação da essência existencial se revela, toma a significação do inesgotável, do inacabado, do modo humano de ser. Portanto, se a fenomenologia caminha na essência do movimento da existência humana de ser, então o sentido não pode se revelar na compreensão do sentido pleno, acabado, encerrado, fechado. E, nesse sentido, a compreensão estará sempre aberta às possibilidades, ao inesgotável do acontecimento. Nessa especificidade, o autor esclarece que a questão é, “das relações entre o sentido pleno e suas diversas outras manifestações” (p. 27). Essa flexibilidade do acontecer, possibilitou na relação interativa com cada professora, um movimento prospectivo, impulsionando a escrita e a reescrita da narrativa do sentido ontológico de ser.

O eixo dessa questão esteve sempre no sentido do que pode ser compreendido sob o olhar fenomenológico de Heidegger (2005), o qual potencializa a dimensão da essência existencial de ser, não como uma coisa, não como um conteúdo ausente de si, mas como um modo de existir, existindo na significação existencial de ser. Nesse sentido, duas questões se tornaram fundantes: a compreensão no modo de ser da presença e a interpretação que, por basear-se na compreensão, criou possibilidades projetadas no compreender. Nesse movimento, a relação prospectiva nutriu-se e criou mobilidade, fecundando o movimento da

escrita narrativa do sentido existencial de ser. A atitude fenomenológica nessa relação esteve sempre fundada, epistemologicamente, no fazer aprender, e a credibilidade dessa possibilidade, na pesquisa e na formação, alimentou minha disposição, ao que denominei de relação prospectiva, a uma escuta dialógica, instigando as professoras a olharem-se e verem- se nesse olhar. E, a relação dessa escuta nutrida pela interpretação, que toma o conhecimento do que se compreendeu, impulsionava outro movimento em si, e, na escrita de si.

O sal das palavras que deu gosto ao sabor na relação prospectiva esteve sempre no teor literário do romance, da música e da poesia que mobilizavam os sentidos e significados, os sonhos e as fantasias, silenciados numa escrita que descrevia a história de formação e experiência pelo tempo marcado pelo relógio da escolaridade, pelo tempo do tempo. Os fatos descritos pareciam sem o sal do sabor do saber de si; a escrita trazia as marcas das estratégias do discurso constituído, desencarnado e sem sujeito; o narrador estava ali, mas faltava na narração o espaço que revelasse a encarnação do sentido. Afinal, no processo inclusivo em formação, para que os professores se façam presentes na teia interdisciplinar do conhecimento, é fundante que a sua articulação nesse conhecimento seja pelo sentido próprio. E, nesse sentido as professoras precisaram escutar e compreender o teor das palavras de Benjamin (1994, p. 203) ao referir-se ao leitor narrador: “Ele é livre para interpretar a história como quiser, e com isso o episódio narrado atinge uma amplitude que não existe na informação.” Dando substância à narrativa sem desmerecer o valor da informação, mas sem se limitar a ela, o autor acrescenta,

A informação só tem valor no momento que é nova. Ela só vive nesse momento, precisa entregar-se inteiramente a ele e sem perda de tempo tem que se explicar nele. Muito diferente é a narrativa. Ela conserva suas forças e depois de muito tempo ainda é capaz de desenvolver. [...] Ela não está interessada em transmitir o “puro em si” da coisa narrada como uma informação ou um relatório. Ela mergulha a coisa na vida do narrador para em seguida retirá-la dele. Assim se imprime na narrativa a marca do narrador, como a mão do oleiro na argila do vaso. (p. 204-205)

Inicialmente, as professoras apresentaram resistência, principalmente porque já vinham reescrevendo sozinhas e não sabiam como sair da escrita convencional, impregnada pela informação a qual transmite o “puro em si” da coisa narrada, e trazer para a narrativa o vivido, o sentido, o curtido das suas experiências colocadas, tão natural, na oralidade. No entanto, resistindo a pensar, mas pensando, repensando e escrevendo nas linhas e entrelinhas do modo existencial de ser, com dúvidas, porém mergulhando cada uma ao seu modo, no seu tempo e

na profundidade possível, as professoras foram se vendo e quebrando a resistência da impessoalidade. Tanto que o processo vivido na relação prospectiva realizou-se em vários encontros individuais além dos encontros coletivos. A leitura dos textos completos (ANEXO B, p.195), com alma e sensibilidade, permitirá ao leitor sentir o perfume das rosas que agora vem da escrita narrativa. Num iniciar poetizante, as professoras fizeram o verbo delirar!

Cada professora encontrou no modelo de aprendizagem vivido, uma dificuldade especifica para justificar o lento movimento da escrita narrativa. Desse modo, a essência da relação prospectiva na mediação da busca da compreensão do sentido ontológico, esteve em fazer fluir a compreensão e interpretação de si, mobilizada pela música, pela poesia, pelos contos e até por objetos, como o baú que a profª Margarida trouxe para falar de si. E esta pitada de sal ajudou a brotar um encantamento em si, e na relação gerada. Nesse sentido, a profª Irma foi instigada a pensar em se ver numa música ou poesia a qual a revelasse, escolhendo então a composição de Gonzaguinha, “O Que é o que é”, cujo refrão repetia “Viver e não ter a vergonha de ser feliz...”. Brotou da nascente “lembranças da infância

que estavam tão guardadas e “esquecidas”. Será que estavam esquecidas ou eu não queria lembrá-las? O curso fez-me esse movimento em que fui entrando em mim mesma”. E no

desabrochar dessa autoria a professora puxou da nascente o que lembrava sua significação Eu sei que no meu ambiente familiar a criança não tinha vez. O adulto era ouvido, porque meu pai delegava aos mais velhos (irmãos) esse poder. Meu pai tinha seu saber adquirido na escola da vida, pois estudou somente a 1ª série, mas era autoritário, rígido na educação com os filhos, ou seja com as filhas mulheres. A figura de minha mãe se faz presente na minha formação, embora “frágil” diante de meu pai, mas com muita sabedoria porque com sua doçura, seus gestos mansos, seu diálogo ia quebrando dentro de nós as mágoas e os ressentimentos das atitudes dele, fazendo com que o vínculo do amor fosse preservado entre nós. Que mulher! Tantas vezes silenciada, mas nunca deixou de acreditar nos seus sonhos que era formar seus filhos a serem independentes. Ela insistia com as filhas “vocês têm que estudar para conquistar a independência”, naquela época eu não entendia, mas a força sutil da sua presença ficou em mim.

A profª Irma na sua narrativa traz o pensar, pensando na complexidade da divergência, do conflito familiar, de uma luta desigual entre o poder dominador do seu pai e o poder que, no silêncio, sua mãe ia se mantendo. Traz na pessoa de sua mãe a referência existencial enquanto a essência que nutria, mesmo sem saber por que, o sentido ontológico que foi crescendo na significação da busca do seu ser-professora. Na verdade, ele nasce do movimento reagente à dor que, na nascente, seu pai constrói em sua relação autoritária com a mulher na sua família. Nesse sentido, a escrita impessoal silenciava essa dor que enquanto dor

doía mexer na imposição do silenciamento o qual domesticava o ser criança, filha e esposa. Trazendo a intertextualidade com as discussões aqui geradas, e os diferentes “agoras” vivenciados na história passada ela coloca.

Minha mãe, com seus sonhos de jovem casa-se aos 19 anos, naquela época o casamento significava segurança e status. Reportando-me ao filme “Colcha de Retalho” em que Sofia ao casar-se, vai perdendo o brilho da sua juventude, assim também, minha mãe ao casar-se vai perdendo seu brilho, sendo moldada aos padrões de meu pai, agindo conforme as diretrizes dele. Apesar desse ambiente repressor, conduz o casamento com sabedoria e equilibro, resgatando e projetando seus sonhos nas filhas a se tornarem “mulheres independentes”.

Movida pelo desejo da mãe, ela prossegue os estudos na Escola Normal, muito mais pela facilidade que dizia ver no curso, do que pelo desejo de ser professora, suas lembranças retratam algo significativo pela analogia com um local de referência afetiva que na sua fala revelava: “ Nesse curso, estudo novas disciplinas, mas sigo lentamente como as águas calmas

de um riacho que existia no terreno de meu pai em Itabi e que sentada ficava a jogar pedrinhas naquelas águas que seguiam lentamente seu percurso.” A evolução da escrita do

sentido ontológico de ser foi surpreendendo cada vez mais, e a maior curiosidade foi a evidente fortaleza que o sentido foi dando sentido à luta do viver, acrescenta a profª: “Interessante! Foi buscando essas lembranças que vi como fui aprisionada e pode entender

porque no meu caminhar procurei “valorizar o ser humano”, no entanto eu procurava era ser valorizada, buscava para o outro esse valor negado, a mim mesma desde criança.” O fio

da meada que gerou a tomada de consciência nasceu do movimento em si, mobilizado na relação dialógica quando a profª puxa a experiência na qual se sentiu mais presente na sua presença, e que naquele momento da discussão do filme Babel estava sendo instigada. Era o que faltava para esse despertar. Nesse movimento de si, ela buscou a experiência que mais lhe tocou e mobilizou sua ações e iniciativas na Escola Municipal Anísio Teixeira.

Passo a lecionar a disciplina ciências para alunos adolescentes, turno da noite, trabalhadores com perspectivas que a escola seria o caminho para a realização dos seus sonhos [...]. Pensei, repensei, fiz uma retrospectiva da minha vida e encontrei dentro de mim a professora adormecida. Acordei sim, pois o desejo de fazer naquele momento algo por aqueles alunos foi muito forte. Resgato dentro de mim esta professora, passo a exercer o exercício do magistério com prazer e segurança, através do diálogo, da escuta e do respeito ao outro, juntos entrelaçamos nossas vidas e construímos nossa história.

Na reflexão dessa experiência, enquanto investigadora que investiga seu próprio conhecimento, a profª Irma se reconhece, reconhecendo e assumindo o sentido ontológico de ser, e, feliz, surpresa com o experienciado na profundidade de um suspiro que por si só revela de si, com o brilho no olhar e o corpo parecendo ganhar força de si, erguendo-se ela falava parecendo ter se encontrado: “passei a vida na escola e só agora nesse curso vim me ver e me

fazer autora. Olha só!” Interessante que a reação ao assujeitamento da mulher foi constante

na reflexão da profª Custódia e revelada como o sentido que lhe movia, enquanto sentido ontológico de ser, parecia ter ela vivido a experiência da profª Irma. Foi muito curioso como a profª Custódia se viu na última frase do texto de Larrosa, “sê tu mesmo a pergunta”, se fazendo representar nas perguntas lança várias perguntas, e dando evidência à presença da pergunta em sua vida ela narra,

Desde a adolescência, constantemente procurei respostas para mim mesma, procurando-me autoconhecer, auto-avaliar, e, neste momento, o curso de formação trazendo as lembranças, mexeu com a minha vida, aflorando o sentido da minha inquietação como professora, mulher, convivendo com outras professoras: por que a mulher profissional se esconde tanto, atrás da esposa, da mãe...?

A profª Custódia na sua narrativa revela um movimento próprio da sua aprendizagem e conhecimento para além da formação, marcada pelo tempo escolar e, ao mesmo tempo em que a circularidade da pergunta lhe faz quieta no movimento motivo pelo qual, talvez ela tanto se inquiete com a passividade das professoras que como mulher se esconde, ela rompe com a linearidade do pensar, tanto na narrativa oral como na escrita. A relevância desta questão está no movimento de independência na construção do conhecimento que ela vem tecendo fora da escola, ao mesmo tempo se articulando no movimento dela e, inclusive se evidenciando nele. Justamente, por tudo que lê de literatura e pela intertextualidade que desenvolve se fazendo presente nessas leituras.

Estou sempre vivendo, lendo novas histórias, mas, há um bom tempo que não leio um romance. E o que chegou as minhas mãos, através do curso, “Língua Absolvida: História de uma juventude”, de Elias Canetti, em doses, quase, homeopáticas fez com que revivesse a leitura que sempre foi um prazer na minha adolescência. Com ela aprendi, viajando muito por meio dos personagens, narrativas, descrições das ambientações e dos perfis de personalidade, compreendendo, às vezes ponderando, relacionando com a minha história e com quem eu convivi e convivo. Acredito que isso foi fazendo com que, cada vez mais eu me sentisse atraída pela mente humana, pelo comportamento humano, na posição individual e social, levando-me a refletir, pensar, procurar, respostas para tudo que me aflige.

A literatura para ela tem sido lazer, diversão, como também um processo de aprendizagem que impulsiona novos conhecimentos, novas buscas, principalmente porque a profª traz no seu modo de ler a essência da leitura, articulando o conhecimento na compreensão do seu modo de ser. A frase por ela retirada do texto “sê tu mesmo a pergunta” ao pé da letra significa, ela própria que, na busca da compreensão de si, faz esse movimento pela literatura. Assim, ela vem diversificando a leitura e a situação. Uma fonte de prazer e aprender!. É que ela apresenta de forma muito própria o sabor do ler e do aprender com o que lê. Na sua análise do filme “O amor nos tempos do cólera” foi uma revelação do tempo de si, do vivenciado no instante presente, encharcado de outras significações:

não percebi o tempo passar, nem tive cansaço. Ao sair da sala de exibição foi é fui perceber que teve a duração de 2h30min. Como falava um crítico de cinema: se você não tem vontade de que o filme termine logo ou não fica olhando o relógio, é porque vale a pena assistir a película. Nesta noite me senti feliz, leve; achei a Lua linda, especialmente muitíssimo iluminada, mas como eu sou racional fiquei pensando que toda aquela luz, aquele brilho vindo do claro para a sombra, pertencia ao Sol. E que todo o encanto da Lua era por causa do Sol, mas ao mesmo tempo observo que tudo no mundo tem elo, uma dependência. Então, nesta perspectiva, tudo estaria incluído?

Acentuando o poder de sua intertextualidade na literatura e o poder que ela exerce sobre a compreensão de si, ela continua revelando um lindo movimento no processo inclusivo em formação de professor, e nesse sentido, vão pedaços do narrado,

O filme me fez pensar na vida, a sua história é de se viver um sonho, um objetivo e no outro lado da moeda viver as convenções e corresponder às expectativas impostas pela sociedade, pela família ou os sonhos sonhados pelos outros para uma pessoa. [...] E mais uma vez é no mundo da literatura que me encontro na leitura de Simone de Beauvoir quando ela aprofunda esta discussão revelando a condição da mulher como o 2º sexo, a mulher objeto, como a submissão, [...]No livro “Estefânia” Núbia Marques (1985) explica melhor minha posição. A personagem principal é Estefânia uma assistente Social que fora torturada pela ditadura militar, por lutar contra a miséria social causada pelas políticas públicas imediatista. Estefânia tinha vida sexual ativa com o namorado, mas escondia de todos, mesmo ela sabendo que o mesmo comentava com amigos e ela não concordava com a atitude dele, mas continuavam encontrando-se clandestinamente. É a mulher sendo aviltada na sua vida afetiva, sexual, emocional, no direito de participar da sociedade ativamente. Ela não se envergonhava e nem temia em conquistar o direito de decidir, pensar, escolher, nem temia em romper com convenções, mas aquela mulher intelectualmente liberada continuava numa relação submissa com o namorado, aceitando suas condições.

A beleza da escrita narrativa do sentido ontológico de ser, está no desvendar do autorizar-se pela compreensão e interpretação na tecedura dos fios, fiados e entrelaçados desde lá na nascente, confirmando com Bosi (1994) que puxar fios e meadas da leitura exige muito trabalho, e a escrita do sentido ontológico exige mais ainda, porém fui no autorizar-se. Inclusive na relação prospectiva, a profª trabalhou muito na escrita e reescrita para entrelaçar, tecer os possíveis fios que foram puxados da sua história de formação, até porque a razão da sua inquietação não estava em identificar o esconder-se das professoras, mas o que este mobilizava da relação vivida no contexto familiar.

Presto muita atenção à questão e observo alguns fatos comuns ao universo feminino. A mulher sempre é cobrada como o fiel da balança na criação dos filhos, pode trabalhar fora de casa, mas continua com as obrigações domésticas (tarefas, de um modo geral, consideradas inferiores), portanto, não está na esfera do homem. Com sua sexualidade historicamente negada, o que vem prevalecendo é a procriação. Não é reconhecida socialmente, economicamente como uma profissional, somente quando há interesse para governantes e empresas dizerem que são “politicamente corretos”. Continua restrita a sua atuação profissional, social em algumas áreas do universo masculino. Fazendo-se algumas exceções por permissão ou conquista da luta da mulher. Algumas (que são muitas) não se vêem como um ser humano como o homem o é também. E como tal têm direitos, devem ter atitude/opinião e romper com algumas convenções onde é somente a fêmea para ser domestica, ser só sentimentos, ser silenciada, ser abnegada. Há sim, quando eu falo que nós somos professoras/domésticas ao observar alguns comportamentos, que são inconscientes, na sala dos professores, como diálogos sobre horário para ir para servir o almoço da família, o aluno não quer estudar... Então percebem a dimensão, a função primordial da educação que é de formar opinião de forma autônoma.

Na narrativa da profª, fica visível o pulsar pulsante da profundidade da revolta na constituição da educação da mulher e de como sua busca de leituras, as quais ajudaram a desvendar a compreensão do sentido que lhe faz presente, está neste pulsar. O mais curioso foi compreender o quanto esta revolta aprisionou de si, vivenciar movimentos desafiantes revelado na fala como sendo um grande desejo fazer coisas alternativas que gerem mudanças.

A dificuldade aparente da profª Margarida fez-me exercer o papel de escriba no computador de forma que favorecesse a ela perceber a fluidez do seu discurso oral, e um objeto carregado de significação veio da resposta à minha pergunta a respeito do que vinha à sua lembrança de prazeroso, do gostoso, do vivido na infância. Surgiu, então, o baú, onde ela guardava o que mais gostava, sem dúvida, lugar do afeto de si. Apesar de a profª ter