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Eu estava pensando como escrever meu texto a partir da minha narrativa já desenvolvida, no Curso de Extensão “A formação contínua de professores na perspectiva da educação inclusiva: a narrativa, a escuta e a dialogicidade”, coordenado pela professora Iara Maria Campelo Lima, quando, entre danças e pirueta Larrosa (2006, p. 41) escreve sua última frase,“Sê tu mesmo a pergunta”. Pensei, talvez esta frase seja o fio da meada que me leve a refletir sobre as várias perguntas que faço a mim mesma. Algumas são comuns as de toda a humanidade. Donde viemos? Por que existe o universo? Como realmente surgiu o planeta Terra? Estaremos sós no mundo? Mas tem perguntas que faço sobre mim e as vezes tenho certeza que já respondi, em alguns momentos da minha vida, e vejo, que não era assim a resposta. Resposta a perguntas que me acompanham, acompanharão sempre: Por que eu sou assim? Por que me tornei professora? Será que vivi intensamente a minha infância? O que foi bom para a minha vida até agora? Por que me envolvo tanto com algumas questões dos alunos? Como ficarei, sentirei quando me aposentar? Será que realmente fui uma professora que não só ensinei como também eduquei? Será que prejudiquei os alunos?

Por que não ousei em diferentes momentos da minha vida pessoal e profissional? Será que eu sou uma professora frustrada? Realmente eu sou “burra” porque tinha dificuldade em Matemática, como a minha mãe dizia? Até que ponto a repressão, proteção ou a educação,

que meus pais pensavam que davam da melhor forma, inibiram ou nos orientou para que não nos envolvêssemos em transgressões que levassem a destruição das nossas vidas na sociedade? Em fim o que eu procuro...? São inúmeras as perguntas... Mas é importante estarmos sempre relembrando, refazendo, nos envergonhando, nos arrependendo das nossas atitudes.

Estou sempre vivendo, lendo novas histórias, mas, há um bom tempo que não leio um romance. E o que chegou as minhas mãos, através do curso, “Língua Absolvida: História de uma juventude”, de Elias Canetti, em doses, quase, homeopáticas fez com que revivesse a leitura que sempre foi um prazer na minha adolescência. Com ela aprendi, viajando muito por meio dos personagens, narrativas, descrições das ambientações e dos perfis de personalidade, compreendendo, às vezes ponderando, relacionando com a minha história e com quem eu convivi e convivo. Acredito que isso foi fazendo com que, cada vez mais eu me sentisse atraída pela mente humana, pelo comportamento humano, na posição individual e social, levando-me a refletir, pensar, procurar, respostas para tudo que me aflige.

A música, os filmes também sempre foram e serão meus companheiros constantes. A exemplo, assistindo, agora em dezembro, ao filme “O amor nos tempos do cólera” não percebi o tempo passar, nem tive cansaço. Ao sair da sala de exibição foi é fui perceber que teve a duração de 2h30min. Como falava um crítico de cinema: se você não tem vontade de que o filme termine logo ou não fica olhando o relógio, é porque vale a pena assistir a película. Nesta noite me senti feliz, leve; achei a Lua linda, especialmente muitíssimo iluminada, mas como eu sou racional fiquei pensando que toda aquela luz, aquele brilho vindo do claro para a sombra, pertencia ao Sol. E que todo o encanto da Lua era por causa do Sol, mas ao mesmo tempo observo que tudo no mundo tem elo, uma dependência. Então, nesta perspectiva, tudo estaria incluído?

O filme me fez pensar na vida, a sua história é de se viver um sonho, um objetivo e no outro lado da moeda viver as convenções e corresponder às expectativas impostas pela sociedade, pela família ou os sonhos sonhados pelos outros para uma pessoa. E, também, de como o tempo pode ser apaziguador ou cruel com as nossas lembranças, aspirações, frustrações, significância/insignificância, percepção, concepções, dando autonomia para fazermos escolhas que nos exclua ou inclua nos grupos em que vivemos. Desde a adolescência, constantemente procurei respostas para mim mesma, procurando-me autoconhecer, auto-avaliar, e, neste momento, o curso de formação trazendo as lembranças, mexeu com a minha vida, aflorando o sentido da minha inquietação como professora, mulher,

convivendo com outras professoras: por que a mulher profissional se esconde tanto, atrás da esposa, da mãe...?

E mais uma vez é no mundo da literatura que me encontro na leitura de Simone de Beauvoir quando ela aprofunda esta discussão revelando a condição da mulher como o 2º sexo, a mulher objeto, como a submissão, um ser obediente, uma incapaz, algumas vezes consideradas como as crianças, onde o provedor na figura do pai, irmão, marido, tem que escolher, decidir por ela, tem idade para casar! Podem até dizer: Ah, isso é passado! Mas ainda é um valor cultural muito presente na família!

No livro “Estefânia” Núbia Marques (1985) explica melhor minha posição. A personagem principal é Estefânia uma assistente Social que fora torturada pela ditadura militar, por lutar contra a miséria social causada pelas políticas públicas imediatista. Estefânia tinha vida sexual ativa com o namorado, mas escondia de todos, mesmo ela sabendo que o mesmo comentava com amigos e ela não concordava com a atitude dele, mas continuavam encontrando-se clandestinamente. É a mulher sendo aviltada na sua vida afetiva, sexual, emocional, no direito de participar da sociedade ativamente. Ela não se envergonhava e nem temia em conquistar o direito de decidir, pensar, escolher, nem temia em romper com convenções, mas aquela mulher intelectualmente liberada continuava numa relação submissa com o namorado, aceitando suas condições.