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4 TECENDO A CANÇÃO DO VIVER-VIVENTE, DO APRENDER APRENDENTE NA PESQUISA-FORMAÇÃO

4.3 AS PROFESSORAS CO-PARTICIPANTES NA PESQUISA-FORMAÇÃO

Quem poderia cirandar, dando graça e beleza a essa ciranda, senão professoras que na história do seu fazer pedagógico vêm entoando versos significativos, sendo e se fazendo educadoras que tomam o conhecimento como prioridade e têm o sentido do pesquisar, implicado no seu desejo?! Pois é! Foi de lá, das suas histórias que o critério para participação nesta pesquisa foi definido. Foi sim, do encontro de outras cirandas que gerou, nessa ciranda, um encontro de afetos enraizados nas nossas histórias, pois, em algum momento da história da educação especial, já havíamos convivido, como aluna, professora, coordenadora, em

diferentes tempos, lugares e entre-lugares. Decerto, a diversidade das histórias e experiências, deu mais graça e beleza à singularidade desse encontro com as (07) sete professoras formadas em Pedagogia pela Universidade Federal de Sergipe/UFS e uma formada pela Faculdade Pio X, hoje todas são professoras e trabalham na rede municipal e/ou estadual de ensino, vinculadas à Educação Especial.

O critério desafiador que definiu serem estas as professoras co-participantes nesta pesquisa foi, de fato, à complexidade do grupo gerada pela diversidade de experiências constituídas no modo existencial de ser, pessoal e profissional. Desse modo, um dos critérios fundamentais era a professora ter vivido os diferentes momentos da Educação Especial e a professora Custódia veio de lá da nascente, esteve presente nos primeiros passos da Educação Especial do Estado de Sergipe, participou dos primeiros grupos de professoras das classes especiais e foi aluna do primeiro curso de especialização. Assim, a professora traz na sua história, não só uma atuação de luta, persistência e respeito pelo seu fazer pedagógico na escola e nos movimentos do sindicato. Na sua fala, se apresenta:

“Sou Custódia Maria Nascimento Matos, 47 anos, há 22 anos professora em Classe de Educação Especial trabalhando com pré-adolescentes e adolescentes com dificuldade em aprendizagem e alguns jovens com distúrbios de comportamento. Uma mulher que não aceita como a sociedade machista é organizada”.

As professoras Irmã e Margarida preencheram outro critério importante. Elas vêm tecendo fios e meadas do processo de transformação que a Educação Especial vem vivenciando, como professoras e ocupando diversos cargos de coordenação em diferentes instâncias com seriedade, compromisso e ainda muita vontade política de significar e ressignificar, questionar e refletir toda experiência e formação vivida. Num olhar pra si se apresentam:

“Sou Maria Irma Rezende Feitosa, Pedagoga com Habilitação em Orientação Educacional/UGF - Universidade Gama Filho/RJ, Pós Graduada em Estimulação Precoce – UFRJ - Universidade Federal do Rio de Janeiro, Habilitada em Educação Especial -/UERJ – Universidade Estadual do Rio de Janeiro, nas áreas de Deficiência Auditiva e Visual. Atualmente, professora do Centro de Apoio Pedagógico para Deficientes Visuais - CAP.;

”Sou Margarida Maria Teles, Baiana/Sergipana, Pedagoga, Pós - Graduação em Psicomotricidade e Adicional em Educação de Pessoas Surdas, INES-RJ, Proficiência em LIBRAS-Língua Brasileira de Sinais, MEC/UFS-SE. Atualmente, Coordenadora do Centro de

Apoio Pedagógico para Deficientes Visuais - CAP. Iniciei informalmente no exercício da profissão do Magistério, como Auxiliar de Classe aos quatorze anos. Seis anos após, já era professora concursada da Rede Estadual, na educação de jovens e adultos turno noturno e bem depois, na Rede Municipal, com alunos de 1ª a 4ª série, diurno. Nessa Rede, aconteceu meu despertar como professora de aluno especial, optando pelo atendimento de pessoas surdas na Sala de Recursos, na EMEI Áurea Zamor de Melo.

Outro critério fundamental era trazer professoras que se integraram à Educação Especial no movimento da discussão da “inclusão”. Nesse sentido, cada professora no seu modo se ser, trouxe a singularidade da sua presença. As professoras Kátia, Sheila e Vanusa trouxeram o olhar, inclusive da psicopedagogia e, além da experiência na rede pública, um trabalho de significação fundante na discussão do processo inclusivo, por coordenarem escolas na rede particular de ensino, que defendem o processo inclusivo. Nessa perspectiva, a professora Vanusa, além de coordenar o setor da Educação Especial da Diretoria Regional de Educação- 8/ SEED/Se, ministra aulas em curso de formação de professores em Educação Especial. Na singularidade das suas falas elas se apresentam:

“Sou Kátia Siene Costa Santos, licenciada em Pedagogia pela Universidade Federal de Sergipe, pós-graduada em psicopedagogia institucional pela Fanese. Atuo como docente na rede pública municipal de ensino em classe de educação especial e como gestora na rede particular em uma escola aberta á inclusão; “Sou Sheila Virgínia da Silva Ludugero, sergipana, 42 anos, nasci e cresci no bairro Getúlio Vargas em Aracaju. Filha de Lucy Lisbôa da Silva e Joel Batista da Silva. Quinta filha de uma família de seis irmãos. Casada e mãe de adolescentes gêmeas, hoje com 17 anos de idade. Estudei na Universidade Federal de Sergipe, onde cursei Pedagogia e me especializei em Orientação Educacional. Integrei-me à primeira turma do Curso de Pós-Graduação desta mesma universidade e fiz o curso “Educação no Mundo Subdesenvolvido”- Área de concentração: Educação de Adultos . Em 1998, na Faculdade Pio X, cursou pós-graduação em Psicopedagogia clínica e institucional. Tenho 24 anos de magistério. Atualmente trabalho na perspectiva da educação inclusiva, coordenando o ensino fundamental de uma escola particular, e ministrando aulas de alfabetização de adultos (EJA) na rede estadual de ensino onde sou professora, há 18 anos;“Sou Vanusa Silva Góes formada em Pedagogia pela Universidade Federal de Sergipe com Especialização em Psicopedagogia pela Faculdade Pio Décimo. Nasci em 24 de setembro de 1971, no Estado do Rio de Janeiro, sendo abraçada pelo estado de Sergipe, através da adoção com seis anos de idade, pelo casal Lígia e Luciano. Atualmente exerço a função técnico-pedagógica, como

responsável pelo setor da Educação Especial da Diretoria Regional de Educação-8/ SEED/Se e professora da Faculdade São Luis de França do curso de especialização em Educação Especial”.

Afinando o desafio da diversidade, defini um outro critério fundante para pesquisa que se propõe a vivenciar a diversidade na formação de professores. Desse modo, além da experiência da formação foi fundante a presença de professoras com deficiência e que tivesse vivido no seu cotidiano com a deficiência. Nessa perspectiva, se fez presente a professora Josivilma, que tem deficiência visual e trouxe na sua história as marcas da exclusão e do que está posto pela inclusão, e a professora Daniella que vem lutando com o mesmo problema, buscando possibilidade para o seu irmão com paralisia cerebral. Das suas falas elas se revelam:

“Eu sou Josivilma Souza Santana, nasci na cidade de Itabaiana no Estado de Sergipe no ano de 1978. Fui criada na cidade de Moita Bonita, meus pais eram de origem humilde, minha mãe era servente de uma escola e meu pai trabalhava na roça. Atualmente, sou licenciada em pedagogia pela Universidade Federal de Sergipe, fiz meu curso normal na escola Rui Barbosa. Estou me especializando, no momento, em Educação especial pela Faculdade são Luis de França. Sou concursada, tanto pelo Estado quanto pelo Município de Aracaju, onde atuo como professora de educação especial e educação infantil respectivamente.”; “Sou Daniela de Oliveira Alves, formada em Pedagogia pela UFS, pós-graduada em Psicopedagogia clínica e institucional, e em Educação Inclusiva pela Faculdade Pio Décimo, funcionária da Secretaria de Educação do Estado de Sergipe desde 2004, trabalhando com crianças portadoras de necessidades especiais desde 2007 no município de Japaratuba – SE e atualmente em Aracaju- SE, lecionando para deficientes auditivos e mentais na Escola de Reabilitação e Educação “Rosa Azul”.

O desejo da busca de novos caminhos mobilizou as professoras a comparecerem no entardecer chuvoso do dia 07/07/2007 para tomarem conhecimento da proposta da pesquisa- formação “Tecendo saberes, dizeres e fazeres em formação de professores: uma perspectiva de educação inclusiva”. Para mim, foi de fundamental importância que o espaço experiencial da pesquisa-formação fizesse ressoar a riqueza dessa diversidade. Decerto que a graça e beleza do movimento dessa ciranda, estiveram muito presentes, na força da presença, e cada fala das professoras fortaleceu minha expectativa na possibilidade do pensar interativo e do conviver na dialogicidade, pensando e refletindo no entendimento desafiador de Leão (2000, p. 25), “pensar é ter a coragem de por em jogo, em todo relacionamento, o espaço de

liberdade das próprias pressuposições e o advento da verdade nos propósitos de ação e compreensão”. E, as professoras no papel de co-participantes, autorizaram-me a revelar a autoria de suas falas.

Iniciei minha fala às professoras, instigando no convite o desejo de que todas fossem desafiadas a pensar, pensando com coragem de por na mesa a questão que mais me mobilizava a essa pesquisa, e que está presente, como marcas do vivido, em todos nós, professores, formados, vivenciando experiências centradas nos paradigmas que deram sustentação ao processo excludente. Como pensar e criar um experienciar inclusivo?! Dizia eu, às professoras, que não acreditava podermos realizar um fazer pedagógico inclusivo, pensando com base na lógica excludente, ao mesmo tempo, que acreditava que esse processo de transformação teria que ter o gosto da experiência e da descoberta desse processo, neste experienciar. Seria um desafio à formação que centrava o poder do conhecimento na lógica do conhecimento de quem ensina, ensinando, explicando, defendendo as diferentes propostas, as quais ao longo da história iam mudando de conceito, de forma, de jeito de saber e fazer. Esse processo, o qual conduzia o fazer, silenciando a realidade, os questionamentos, a diferença, todas já havíamos vivido, assistido, e/ou aplaudido ao longo da história da educação especial, sob as diferentes propostas denominadas nos modelos: médico, médico psicológico, prescritivo ou educacional, ou denominações equivalentes.

No meu discurso acentuava meu desejo do quanto seria importante investigar o que dos sentidos e significados já vividos, ainda se faziam presentes, ao mesmo tempo em que esclarecia que, a perspectiva da pesquisa-formação está na reciprocidade do implicamento, na evidência do que reforça Macedo (2006, p.252), “ensino e pesquisa nutrem-se mutuamente” e, portanto, nosso desafio seria fazer da narração das histórias de formação e experiência um instrumento de pesquisa e de formação. Desse modo, instigadas a um experienciar de flexibilidade e despojamento as professoras assumiram o desafiar-se ao acontecimento que gerava inquietação pela incerteza do próprio acontecer, parecendo certas do que afirma Larrosa (2002, p. 19): “somente o sujeito da experiência está, portanto, aberto à sua própria transformação”. Acentuando esse desafiar-se, eu argumentava que o movimento da pesquisa- formação aberto ao caminhar para si na narrativa, dimensiona simultaneamente, sujeito e objeto, e dá realce a superação da disjunção, que na sua fala, Heidegger, sem fazer o verbo delirar, porém dando o real sentido à compreensão, como modo de ser, e não de conhecer, define o ser como conhecedor de si, “o ser que existe como modo de compreender”, afinando

o desafino da pesquisa que, no seu movimento, ao assujeitar o sujeito na objetivação coloca-o como fonte a ser descrita e conhecida pelo sujeito que se assume pesquisador.