3. Jordânia – A questão energética e relações de vizinhança 3.1 – A geopolítica da dependência energética
3.3 A Estratégia Energética para o Reino Hashemita
O Ministério da Energia e dos Recursos Minerais (MERM), criado em 1984, tem a seu cargo a responsabilidade do controle e regulamentação de todas as actividades relativas ao sector energético. É igualmente da sua competência a realização de estudos regulares sobre a situação energética do país, de forma a elaborar linhas de actuação e recomendações com vista ao fornecimento eficiente de energia. Na Jordânia não existia legislação específica sobre energia, logo os planos e estratégias elaborados pelo ministério, antes de ser implementados tinham de ser submetidos à aprovação do Gabinete (Conselho de Ministros).
Na sequência do agravamento da situação energética da Jordânia no início dos anos 2000, e fruto dos estudos efectuados sobre a situação nacional no sector da energia, o MERM preparou um relatório as recomendações para um período de 15 anos. O Energy Master Plan foi submetido e aprovado pelo Gabinete em 2004 e consistia num conjunto de acções a desenvolver no sentido de reduzir a dependência energética do exterior, através da optimização dos recursos existentes, bem como no desenvolvimento de fontes alternativas.
Em 2007, o governo procedeu à actualização do plano, no designado Updated Master Strategy of Energy Sector in Jordan for the Period 2007-‐2020 – First Part, que consiste numa estratégia abrangente para transformar o sistema energético existente baseado essencialmente no petróleo e gás, numa matriz equilibrada com uma forte componente de energias renováveis, nuclear e óleos de xisto.
De forma a preparar a actualização do plano estratégico, a Comissão Real presidida pelo Príncipe Hamza Ibn Al Hussein, criada para o efeito, desenvolveu uma acção metodológica que passou por39:
-‐ “estudar as principais conclusões e recomendações do plano actual e identificar o que foi entretanto atingido. Identificar os principais obstáculos enfrentados no processo de implementação e os desenvolvimentos recentes que tiveram lugar após a sua aprovação no fim de 2004,
-‐ Rever e actualizar as previsões da procura de petróleo, gás natural e electricidade até ao ano 2020,
-‐ estudar as alternativas disponíveis para atingir essa procura e escolher a melhor,
-‐ desenvolver um plano e um calendário programático para implementar os projectos necessários à prossecução das alternativas adequadas e identificar os respectivos requisitos técnicos, financeiros e legislativos,
-‐ desenvolver as recomendações necessárias nesse sentido”
O plano trata em separado os sectores do petróleo, gás natural, electricidade e energias renováveis e para cada um destes segmentos analisa obstáculos e resistências
39 MERM, Updated Master Strategy of Energy Sector in Jordan for the Period 2007-‐2020 – First Part (2007) disponível online em http://www.memr.gov.jo/portals/0/energystrategy.pdf (consultado em 26 de Setembro de 2014)
que impediram ou atrasaram a sua concretização nos anos posteriores à sua aprovação. No caso do sector petrolífero a jusante, a inoperabilidade do programa deveu-‐se essencialmente à falta de capacidade em atrair parceiros estratégicos que permitissem quer a substituição do oleoduto do porto de Aqaba até à refinaria em Zarqa como a expansão da própria refinaria, dois dos projectos constantes do Energy Master Plan. Por outro lado e ainda neste sector, ressalva-‐se o fracasso das negociações com o Iraque no sentido de implementar a construção de uma pipeline de transporte do crude iraquiano para a refinaria de Zarqa, bem como assegurar o fornecimento de petróleo acordado, devido a falhas operacionais do lado iraquiano. Mas igualmente o mau resultado do relacionamento com a Arábia Saudita no que diz respeito à avaliação das condições da TAPline e eventual reabilitação.
Relativamente ao gás natural o grande obstáculo prende-‐se por um lado, com a incapacidade do Egipto de fornecer as quantidades de produto suficientes para satisfazer a crescente procura jordana e por outro lado com o contínuo aumento dos preços praticados pelos egípcios, ambos os factos relacionados com as alterações na matriz de consumo energético do Egipto na sequência da alta dos preços do petróleo.
Estes problemas reflectem-‐se no sector da electricidade, gerada com recurso ao gás natural e fruto de um constante incremento no consumo.
Os resultados negativos no âmbito das energias renováveis derivam essencialmente de três factores. Em primeiro lugar o factor financeiro decorrente do elevado custo dos sistemas de energia renovável face aos convencionais, o que se reflectiria no encarecimento do preço do produto final. O segundo factor prende-‐se com a falta de legislação adequada aplicável aos projectos neste campo de acção. Por último é referida a incapacidade de garantir condições de segurança nas áreas (grandes extensões de terra) a ser afectas a este tipo de projectos.
Após a descrição dos obstáculos encontrados na implementação da reforma energética, a comissão responsável pelo projecto faz uma análise da evolução dos níveis de consumo de forma a poder elaborar previsões sobre o seu crescimento até ao ano de 2020. O estudo é feito por tipo de combustível e a evolução é prevista para três períodos temporais: 2012, 2015, 2020.
Tabela IX – Previsão da evolução da procura, por tipo de combustível , em milhar de toe Combustível 2007 2010 2015 2020 Fuelóleo 679 637 765 928 Diesel 1889 2174 2652 3203 Gasolina 806 928 1115 1321 Gás Natural Liquefeito 364 418 510 619 Querosene 163 186 227 274 Jet Fuel 260 298 356 423 Asfalto 163 175 190 205 Gás Natural importado 2469 3761 4335 3778 Gás Natural local 143 65 68 0 Oil Shale 0 0 976 2436 Energias Renováveis 107 122 745 1362 Electricidade importada 533 533 533 533 Total 7577 9298 1247 150084
Fonte: Ministério da Energia e Recursos Minerais da Jordânia
Pese embora o quadro anterior mostre incrementos concretos no consumo de determinados produtos, a análise da evolução prevista nesta actualização do plano não revela alterações muito substanciais, quando agrupados os combustíveis em grandes tipos, e se visualiza a contribuição de cada um para a matriz energética de forma a satisfazer a evolução da procura prevista com efeito, se de 2007 a 2010 é expectável uma diminuição substancial da importância do petróleo e seus derivados, na década seguinte não se contemplam mudanças percentuais. Por outro lado, o peso do gás natural apresenta um aumento considerável na previsão para 2010, que pode ser explicado pela sua utilização em detrimento dos derivados do petróleo, mas volta a decrescer até atingir em 2020 uma percentagem semelhante à de 2007.
Por outro lado, a previsão parece pouco ambiciosa quanto à evolução da importância das energias renováveis, por ventura fruto do levantamento inicial dos obstáculos encontrados.
Tabela X – Previsão da evolução da importância de cada grupo de energia para a matriz global jordana (%)
Combustível 2007 2010 2015 2020
Petróleo e derivados 57% 48% 47% 47%
Gás Natural 34% 43% 37% 33%
Energia importada 8% 6% 5% 3%
Energias Renováveis 1% 3% 4% 6%
Oil Shale -‐ -‐ 7% 11%
Fonte: Ministério da Energia e Recursos Minerais da Jordânia
Na sequência da análise efectuada, a equipa responsável pela actualização do plano, elaborou oito cenários para satisfazer as necessidades energéticas da Jordânia para o período em questão. Para cada um são determinadas as percentagens de cada fonte energética, algumas com especificações concretas a saber:
Gás Natural: contrato para fornecimento anual de 3.000 milhões de m3, contrato para fornecimento adicional de 2.000 milhões de m3 por ano, desenvolvimento do campo de Risha.
Energia Nuclear: central geradora 600 MW
Energias Renováveis: energia solar 60 MW e energia eólica 60 MW Oil Shale e petróleo convencional: sem especificações formuladas. Os cenários foram desenhados partindo dos seguintes pressupostos:
-‐ Garantia dos fornecimentos de gás natural do Egipto através da pipeline, -‐ Possibilidade do aumento das quantidades de gás importado do Egipto, -‐ Aumento das quantidades de gás natural produzido localmente (campo de
gás de Risha), como resultado dos investimentos neste projecto, -‐ Introdução de alternativa nuclear para a geração de electricidade, -‐ Exploração de Oil Shale para geração de electricidade.
Face aos oito cenários traçados, o relatório considera mais exequível aquele que contempla que em 2020, 29% da energia primária seja satisfeita através do gás natural, 14% pelo Shale Oil, 10% através de energias renováveis e 6% através do
nuclear. À luz deste cenário, a contribuição das fontes energéticas locais aumenta gradualmente, com a consequente redução da dependência externa, que passaria dos 96% em 2007, para 75% em 2015 e 61% em 2020.
O trabalho da Comissão inclui ainda um conjunto de recomendações, pautado por numerosas acções específicas a desenvolver, entre as quais se salientam:
Petróleo e seus derivados:
-‐ Captação de parceiros estratégicos para aumentar a capacidade da refinaria e construir a pipeline de Aqaba a Zarqa;
-‐ Acelerar o plano governamental para reestruturar o sector do petróleo a jusante, liberalizando o mercado;
-‐ Estudar alternativas à indústria de refinação caso não se encontre parceiro para implementar o projecto de expansão da refinaria existente; -‐ Adoptar a eficiência da capacidade de armazenamento de petróleo e derivados em 90 dias e aumentar gradualmente esta capacidade
Sector eléctrico:
-‐ Levar a cabo projectos de expansão da capacidade de geração de electricidade;
-‐ Mudar para a utilização de Shale Oil para a geração eléctrica, fazendo recurso à experiência internacional, e completar as negociações com a Estónia para a construção de uma central de 300 MW, a funcionar com óleo de xisto;
-‐ Rever as tarifas eléctricas de forma a reflectirem o custo de gerar, transferir e distribuir a electricidade
-‐ Completar e aprovar a lei geral da electricidade. Gás Natural:
-‐ Completar negociações com o Egipto de forma a assegurar o fornecimento da quantidade adicional de 2.000 milhões de m3 por ano; -‐ Procurar intensivamente alternativas de fornecimento de gás natural no
longo prazo junto de outros países, como a Arábia Saudita, o Iraque ou outros;
Shale Oil:
-‐ Completar os estudos de viabilidade para a exploração do óleo de xisto; -‐ Fechar as negociações com a Shell Company no acordo de concessão
para exploração de Shale Oil de profundidade;
-‐ Empreender negociações com a Estónia para a construção da central eléctrica a combustão de xisto de forma a operacionalizar a operação antes do fim de 2015;
-‐ Realizar os devidos estudos de impacto ambiental dos projectos de Shale Oil;
-‐ Criar uma entidade especializada para o Shale Oil. Energias Renováveis:
-‐ Elaboração de legislação específica de modo a estimular o sector privado e respectivos investimentos neste sector;
-‐ Continuar a implementação dos projectos de energia eólica para geração de electricidade, com a concretização de quatro projectos em zonas já determinadas);
-‐ Completar os estudos necessários aos projectos de energia térmica solar;
-‐ Alargar a utilização de sistemas de células fotovoltaicas nos mercados domésticos, industriais, comerciais e em iluminação de áreas remotas; -‐ Intensificar a pesquisa no âmbito da biomassa (recorrer à experiência
brasileira), para cobrir necessidades industriais e utilização no sector dos transportes;
-‐ Criar um fundo de apoio para projectos no domínio das energias renováveis.
Acrescentam a estas, recomendações mais gerais destinadas a sensibilizar os consumidores energéticos particulares e empresariais para a racionalização do uso da energia, através de campanhas, seminários e incentivos.
Saliente-‐se que a implementação das medidas sugeridas no Updated Master Strategy of Energy Sector in Jordan for the Period 2007-‐2020, representam um
investimento total a oscilar entre os 14.000 e os 18.000 milhões de dólares, ou cerca de 1.200 milhões de dólares anualmente.