4. Tendências de evolução na próxima década
4.1. Opções concretas – perspectivas de sucesso
À luz do cenário mais viável estabelecido no plano estratégico actualizado, a matriz energética jordana em 2020 deveria ser composta por 41% de petróleo e derivados, 29% de gás natural, 14% de Shale Oil, 10% de energias renováveis e 6% de nuclear, o que levaria a uma redução da dependência do exterior de cerca 35% face a 2007.
Para que a Jordânia possa concentrar todos os seus esforços no desenvolvimento de fontes alternativas locais, é necessário que estejam assegurados os fornecimentos de petróleo e gás natural suficientes, de forma a não dispersar a atenção e os meios para satisfazer as necessidades imediatas. Em 2013, os dados oficiais revelam que o crude é importado essencialmente da Arábia Saudita, mediante um contrato renovável anualmente com a Aramco Saudi Arabia, que estipula um fornecimento médio diário de 100.000 de barris, valor que representa cerca de 90% do total de petróleo comprado no exterior. No mesmo ano, o Iraque, principal fornecedor do reino Hashemita durante décadas, abasteceu a Jordânia com uma média de 10.000 barris/dia, valor que segundo o estabelecido contratualmente pode estender-‐se aos 15.000 barris diários.
O fornecimento de gás natural continua a ser a grande preocupação energética do reino. Pese embora a situação política no Egipto pareça estar no caminho para a estabilização e devido à pesada mão da máquina militar do presidente Abdel Fattah el-‐ Sisi os ataques à pipeline terem diminuído (quatro em 2014, tendo o último ocorrido em Fevereiro), o país continua a ser incapaz de cumprir com o fornecimento das quantidades e preços acordados, obrigando a Jordânia à busca incessante de fornecedores alternativos, através de negociações com o Qatar, país que estaria mesmo interessado em investir no projecto da construção do terminal de gás natural liquefeito em Aqaba e com Israel como já referido, embora o negócio seja oficialmente efectuado com a americana Nobre Energy. Uma parte contractual do acordo global, foi já assinada entre a empresa americana e a Arab Potash Company por 15 anos, segundo a qual os fornecedores construirão uma pipeline dos campos de Tamar até ao sul do Mar Morto local da fábrica de potássio, de forma a que seja abastecida com gás natural a um preço já estabelecido por 15 anos, em termos de limite mínimo e indexado ao valor do barril de Brent. A assinatura deste acordo preanuncia a concretização do acordo total de fornecimento geral de gás natural à Jordânia, através da Jordan National Electric Power Company pelo mesmo período de tempo.
A previsão da concretização destes acordos e a respectiva operacionalização, permitirão ao reino jordano empregar os meios nas diligências necessárias à implementação do plano estratégico no que diz respeito aos restantes sectores da futura matriz energética.
No campo da energia nuclear, o governo fez alguns progressos nos últimos sete anos, tal como referido no fim do capítulo 3. Essencialmente consolidou a sua posição de boa conduta a nível internacional com o envolvimento da International Atomic Energy Agency (IAEA) no processo de desenvolvimento do programa nuclear, a qual já realizou duas Integrated Nuclear Infrastructure Review (INIR), uma em 2009 em pleno processo de decisão sobre a viabilidade do nuclear como fonte alternativa e a última em Agosto deste ano, com apreciações favoráveis, facto que vem na sequência da Jordânia ter sido o primeiro país do Médio Oriente a adoptar o Additional Protocol no que diz respeito ao Comprehensive Safeguards Agreement, o qual confere à IAEA privilégios excepcionais de supervisão. As inspecções regulares e o acompanhamento do projecto pela Agência Internacional de Energia Atómica, reveste-‐se da maior
importância, num período em que a comunidade regional e internacional tem sérias dúvidas sobre a intenção da utilização da capacidade nuclear do Irão para fins pacíficos.
No entanto, a implementação do programa nuclear continua a suscitar grande relutância junto da opinião pública e mesmo junto de entidades oficiais, agravada com o acidente de Fukushima. Em 2012 o parlamento votou a suspensão de todas as actividades nucleares, decisão que foi contudo ignorada pelo governo, que prosseguiu com as diligências para a sua operacionalização. A esta tomada de posição não terá sido alheia a descoberta recente de grandes reservas de urânio com alto grau de pureza (70.000 toneladas em 2007, valor que facilmente duplica com os achados do corrente ano), conferindo à Jordânia a posse de mais de 2% das reservas mundiais de urânio. Segundo a Jordan Atomic Energy Commission, há reservas suficientes no país para satisfazer as necessidades do programa nuclear durante 150 anos, razão mais do que suficiente para o não abandono do projecto. Com efeito no corrente ano, foi anunciado pela Jordan Uranium Mining Company (JUMCO), a construção de uma central de urânio com uma capacidade inicial de 1.500 toneladas, que colocará a Jordânia na lista dos fornecedores do precioso elemento químico.
Não obstante os avanços dos últimos sete anos, a calendarização do programa nuclear não permite de forma alguma atingir a quota prevista no plano para o ano 2020, uma vez que o início da produção da primeira unidade da central está previsto para 2021, ou seja já fora do âmbito temporal da Master Strategy of Energy Sector.
O sector das renováveis, por via da aprovação da nova lei que agiliza os processos legais, tem fortes probabilidades de evoluir suficientemente para atingir ou mesmo superar as metas propostas. A importância do Renewable Energy and Energy Efficiency Fund será determinante no apoio aos projectos e iniciativas que podem impulsionar o crescimento do sector. A Jordânia possui as condições climatéricas ideais para a máxima eficiência na utilização da energia quer solar como eólica, tendo igualmente no seu território, propriedade do governo, as vastas extensões de terra desabitada indispensáveis à implementação dos sistemas, sem a necessidade de incorrer em processos complicados de expropriação.
Numa altura em que os ricos países do Golfo começam a abraçar o sector das renováveis, acompanhando as tendências do ocidente e usufruindo do know-‐how e
tecnologias proveniente dos países mais desenvolvidos neste âmbito, não será difícil a Jordânia encontrar os parceiros adequados para providenciar o investimento necessário, como sugere o recém acordo assinado com a empresa de energias renováveis de Abu Dhabi, a Masdar tendo em vista a cooperação entre os dois países neste sector.
À semelhança das renováveis o desenvolvimento do sector do Shale Oil poderá constituir o elemento fundamental do processo de viragem para a maior independência energética da Jordânia.
Foram já mencionados os progressos oficiais no estabelecimento de parcerias internacionais visando quer a exploração, como a construção de centrais eléctricas que operam com Shale Oil, e na realização dos estudos de viabilidade indispensáveis à atracção de novos investimentos para o sector. Entre estas parcerias internacionais, os acordos já assinados com a Eesti/Enefit, revestem-‐se de uma importância fundamental.
Vale a pena olhar para o caso da Estónia para determinar o potencial de reprodução do modelo à realidade da Jordânia.
O pequeno país do Báltico, com uma superfície que representa cerca de metade do território jordano, tem apenas 1% das reservas mundiais estimadas de Oil Shale e 17% do total de depósitos da Europa, contudo 90% da geração eléctrica do país faz-‐se através do xisto. O sector da energia de Oil Shale, emprega cerca de 8.000 trabalhadores e contribui, na sua totalidade para 4% do PIB estónio.
As origens da produção remontam a 1921, pelo que ao longo de quase um século, o país tem sido o palco do desenvolvimento de novas tecnologias de extracção e produção eléctrica, devido às características particulares do Oil Shale do seu subsolo, diverso do de outras regiões, como é o caso dos Estados Unidos, razão pela qual a Estónia se encontra na vanguarda da indústria de extracção e transformação de xisto a nível mundial. É uma nação com reconhecidas capacidades tecnológicas, tendo sido o primeiro país a utilizar a votação electrónica.
Em 2006 a matriz energética estónia era composta por 55% de Oil Shale, 17% de petróleo e derivados (importado) 15% de gás natural (importado), 11% renováveis e 2% de outras fontes locais, facto que se traduz num cenário muito aliciante para países como a Jordânia.
De acordo com os dados do Ministério dos Assuntos Económicos e Comunicações da Estónia, em 2006 a geração de electricidade através de Oil Shale é suficientemente competitiva no mercado eléctrico do Báltico, com custos de produção de 26,5€/MWh50 , contra o valor de 25,9 €/MWh da geração eléctrica nuclear da Filândia e 23,8€/MWh na Lituânia51. No mesmo ano, o preço de compra de electricidade produzida por via eólica era de 73,7 €/MWh.
Com níveis actuais de extracção superiores aos das necessidades nacionais , a Estónia consegue exportar quase metade da sua produção. Embora o preço do Shale Oil na Europa seja inferior ao do crude, o seu valor é bastante mais alto do que o custo de produção, dotando o país de mais uma fonte de rendimento.
No entanto, a bem sucedida realidade energética da Estónia, pode vir a alterar-‐ se com as directrizes da União Europeia, nomeadamente a implementação de novas taxas sobre as emissões de carbono, facto que tem impelido as entidades oficiais a fazer grandes investimentos na pesquisa e desenvolvimento de tecnologia de redução de emissões.
Todo o know-‐how e tecnologias desenvolvidas ao longo destas décadas na Estónia, poderão contribuir de forma robusta ao cumprimento dos objectivos para o Shale Oil previstos no plano estratégico para o sector energético da Jordânia, uma vez que as características dos depósitos de Oil Shale na Jordânia são semelhantes às da Estónia e tendo em conta os dois projectos em carteira. A construção de uma central eléctrica movida a Oil Shale com uma capacidade de 550 MW em Attarat Umm Ghudran, pela Enefit estónia, actualmente em processo de financiamento e com o início da construção previsto para o primeiro trimestre de 2015. Esta será a segunda maior central do mundo movida a Oil Shale, a seguir à central eléctrica de Narva na Estónia e consumirá 10 milhões de toneladas de Oil Shale por ano. Segundo a calendarização, deverá começar a operar em 2017. O segundo projecto, tem em curso os estudos de viabilidade para a construção de uma central de transformação de Shale Oil com uma capacidade produtiva de 38.000 barris por dia.
50 MWh -‐ Megawatts hora 51
A Lituânia interrompeu o seu programa nuclear, com o encerramento do último reactor de geração soviética em 2009, como parte dos requisitos impostos aquando do pedido de adesão à União Europeia
O entusiasmo com o sector ficou patente no Jordan International Oil Shale Symposium, realizado em Amã em Abril de 2014, que reuniu mais de três centenas de participantes de todo o mundo, entre os quais inúmeros potenciais investidores internacionais, com a atenção redobrada nas potencialidades da Jordânia no âmbito do Oil Shale.
Sendo que a percentagem da energia nuclear na matriz energética prevista para 2020 será nula, para atingir os objectivos proposto e em consequência reduzir a dependência energética da Jordânia nos níveis esperados, as entidades oficiais ver-‐se-‐ ão obrigadas a compensar o peso relativo daquela fonte, pelas alternativas disponíveis que não impliquem a sua importação do exterior. O mesmo é dizer que o sector do Shale Oil e o das Energias Renováveis, em conjunto, necessitam de compensar os 6% não realizáveis através do nuclear, acrescido ao crescimento previsto de, respectivamente 14% e 10%.
Embora havendo a consciência de que o processo de implementação de programas nacionais desta dimensão, seja inicialmente muito lento, dada a inexperiência, a necessidade de criar de raiz quer o know-‐how como os meios e o ultrapassar de resistências, tendendo posteriormente a processar-‐se com maior rapidez, verificamos que a inércia dos primeiros sete anos após a entrada em vigor do plano estratégico, dificilmente será compensada na meia década que resta até à data de referência em 2020.
Não há porém dúvidas que o governo jordano tem feito o máximo ao seu alcance para não se desviar do percurso traçado, independentemente de uma conjuntura regional e internacional desfavorável, que muito tem dificultado o processo.
4.2. “Wild Cards” -‐ Imprevistos que podem comprometer a evolução
O impulso dado à implementação do plano estratégico para o sector energético nos anos mais recentes levanta algum optimismo quanto à prossecução dos objectivos traçados, pese embora não seja o suficiente para que sejam atingidos dentro dos prazos previstos.