Perante o declínio da capacidade produtiva dos grandes campos petrolíferos, alimentando os receios de se estar a lidar com um produto finito, com reservas cada vez menores, associado à instabilidade quer dos preços como do fornecimento, bem como fruto de preocupações sobre os efeitos nefastos dos combustíveis fósseis no planeta, cada vez mais países têm nas suas agendas o tema das energias alternativas e em concreto, as fontes de energia renováveis: hidráulica, solar, eólica, das ondas, das marés, geotérmica, biomassa, etc.
A utilização de recursos naturais existentes abundantemente no planeta, como a água, o vento e o sol, para a produção de energia mecânica, remonta à Antiguidade e pouco se desenvolveu ao longo dos séculos pela ausência de necessidade da sua utilização massiva. O momento em que o desenvolvimento industrial determinou a evolução exponencial da procura de energia, coincidiu com o início da exploração dos combustíveis fósseis, que na altura se supunham infinitos, travando quaisquer pesquisas e investimentos em fontes não convencionais, excepção feita à energia hidráulica. Esta fonte sofreu importantes desenvolvimentos após a invenção do primeiro gerador eléctrico em 1831, a qual constituiu a base para a aprendizagem da
forma como gerar electricidade através da força hídrica cinco décadas mais tarde. A primeira central hidroeléctrica construída nos Estados Unidos, começou a produzir energia em 1882 e uma década depois, havia já mais de duas centenas de centrais no país. Durante a primeira metade do século XX a produção de energia hidroeléctrica evoluiu significativamente, com a construção de grandes barragens como a Hoover Dam no Rio Colorado, em 1936 que à data gerava 1345 megawatts (MW) e que se manteve vários anos como a maior barragem a nível mundial, até 2008, quando foi superada pela Three Gorges Dam chinesa que produz 22500 MW de energia. Nos anos mais recentes a China é um dos países que mais tem investido nesta área, contando actualmente com mais de duas dezenas de projectos hidroeléctricos em desenvolvimento. Estima-‐se que a energia hidroeléctrica contribua em cerca de 20% para o total da geração eléctrica a nível mundial.
O desenvolvimento tecnológico da energia solar foi insipiente até ao fim da primeira metade do século XX, sendo que a utilização das tecnologias inventadas se revelava demasiado onerosa para justificar a sua generalização. Só nos anos 70 do século passado, a Exxon Corporation desenhou um painel solar eficiente com um preço mais reduzido de produção, impulsionando a pesquisa nesta área. Este desenvolvimento, agregado às novas preocupações ambientais, determinou fortes investimentos no sector da energia solar, traduzidos no incremento da eficiência fotovoltaica e na concessão de subsídios governamentais (em determinados países) favorecendo a utilização desta fonte energética. A primeira década do século XXI revela a expansão global da energia solar, com a construção de grandes centrais fotovoltaicas, com especial relevo na Índia e China.
A energia eólica, utilizada desde a Antiguidade em embarcações e moinhos de vento, desenvolveu-‐se igualmente no último século e meio com inovações tecnológicas visando maior eficiência e redução no custo de produção das turbinas. Tal como a energia solar, a generalização do uso do vento como fonte energética surge associada às preocupações ambientais que levam determinados governos a publicar leis que impõem quotas mínimas de utilização de energias renováveis às empresas e estabelecem metas de recurso a este tipo de fontes para o futuro próximo, como é o caso da iniciativa "20% Wind Energy by 2030", lançada pelo Departamento de Energia do governo americano em 2008. Neste sector, à semelhança dos anteriores, a
liderança no desenvolvimento tecnológico e instalação de centrais eólicas cabe à China e Índia, não desprezando outras economias emergentes, como o Brasil. Segundo a World Wind Energy Association10, todas as turbinas eólicas instaladas no mundo inteiro em meados de 2014, podem satisfazer cerca de 4% da procura eléctrica global.
Embora recente no campo das energias renováveis, a biomassa tem estado presente na civilização humana, através do uso da lenha que dominou a matriz energética global até ao início do século XX quando foi substituída pelo carvão e petróleo. Só no fim do século passado, a comunidade científica se debruçou sobre a possibilidade da utilização de materiais naturais abundantes na natureza para produzir energia. O recurso à matéria orgânica de origem vegetal ou animal tem lentamente ganho terreno no campo das energias renováveis, apresentando uma alternativa viável aos combustíveis fósseis poluentes, finitos e voláteis no preço.
A preocupante dependência do petróleo e a crescente consciência ambiental têm movido a comunidade científica e os governos no sentido de encontrar mais e melhores alternativas energéticas, pelo que nas últimas décadas tem aumentado a pesquisa e o desenvolvimento de tecnologias que permitem tirar partido de outros recursos, que não apenas a água armazenada numa barragem, o sol ou o vento. O século XXI tem mostrado avanços significativos na utilização das ondas e marés, bem como na energia proveniente do calor da terra, a geotermia. As comunidades ligadas às energias alternativas alegam que todas estas fontes renováveis em conjunto têm capacidade para suprir parte significativa das necessidades energéticas do planeta, reduzindo drasticamente o recurso aos combustíveis fósseis, com elevados ganhos para o ambiente.
Relativamente à energia nuclear, não obstante seja uma fonte alternativa às convencionais, não é renovável. Os desenvolvimentos e pesquisas verificados no âmbito do nuclear nas últimas décadas dividem os cientistas, governantes e ambientalistas face à sua utilização, pois se por um lado tem enormes vantagens ambientais (não contribui para o efeito de estufa e tem um impacto quase nulo sobre a biosfera dado que não é poluente) e uma grande eficácia (é a mais concentrada fonte de energia e não necessita de armazenamento da energia produzida em baterias), tem igualmente desvantagens em termos dos resíduos produzidos que
exigem condições muito específicas quanto ao transporte e armazenamento. Contudo a principal fonte de controvérsia prende-‐se com o elevado risco de acidentes nas centrais nucleares, de que são exemplos trágicos Three Mile Island, nos Estados Unidos em 1979, Chernobyl em 1986 na União Soviética, Tokaimura em 1999 no Japão e Fukushima em 2011 também no Japão. Segundo o World Nuclear Report11, em Julho de 2013 havia 31 países a operar centrais nucleares no mundo, com um total de 427 reactores o que se traduz numa capacidade instalada combinada de 364 Gigawatts (GW). No entanto, o mesmo relatório refere que a quota do nuclear na matriz energética global a nível mundial tem vindo a decrescer desde o seu pico máximo de 17% em 1993, para cerca de 10% em 2012. Actualmente a capacidade nuclear total instalada no mundo é inferior à capacidade combinada de três renováveis: solar, eólica e biomassa.
Pese embora a transição para as energias alternativas represente actualmente uma meta política na maior parte do mundo, a pressão da indústria petrolífera e em concreto dos países produtores continua a imperar, e os investimentos no sector estão longe de abrandar. A sociedade moderna criou uma dependência quase total dos combustíveis fósseis, tendo-‐se desenvolvido no último século e meio em torno do petróleo e gás natural. Mais do que preocupações ambientalistas, foi sobretudo a ameaça da capacidade da matéria prima estar a atingir o seu fim, que moveu a procura desenfreada de fontes alternativas. Se bem que, como vimos neste capítulo, as energias alternativas se tenham vindo a impor globalmente, a realidade é que estas requerem investimentos avultados em pesquisa e tecnologia, traduzindo-‐se num elevado custo de produção e a sua eficácia e aplicabilidade são mais reduzidas do que as obtidas com os combustíveis convencionais, levando a indústria petrolífera a envidar todos os esforços para manter a liderança do mercado energético global.
Esta realidade é patente numa indústria que ganhou novo impulso nas últimas três décadas e que está a revolucionar o modelo das dependências energéticas mundiais – a extracção de xisto betuminoso. Não sendo uma descoberta recente, o óleo de xisto é usado desde tempos antigos pois os depósitos de alta qualidade queimam sem necessidade de ser transformados, a sua produção comercial apenas
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http://www.worldnuclearreport.org/IMG/pdf/20130716msc-‐worldnuclearreport2013-‐hr-‐v4.pdf
tem início no século XIX e de forma insipiente. Os períodos de escassez de crude no mercado, impulsionaram o interesse no óleo de xisto e no século XX a indústria do xisto cresceu a nível mundial, contudo o elevado custo de extracção combinado com a disponibilidade e preço do petróleo convencional, refrearam o seu desenvolvimento. Acrescem a este facto as preocupações decorrentes dos riscos ambientais provocados por determinadas técnicas de fracturação da rocha, com graves consequências no solo e lençóis freáticos.
Os embargos petrolíferos e a escassez de fornecimentos que caracterizaram as duas últimas décadas do século XX, determinaram uma viragem, marcada por grandes investimentos em pesquisa e tecnologias de extracção, essencialmente em países com uma elevada dependência energética. A constante descoberta de grandes reservas de óleo de xisto por todo o mundo tem estimulado o desenvolvimento do know-‐how e da tecnologia de forma a tornar o produto final compatível com o seu equivalente convencional.
Figura VIII – Mapa das bacias geológicas com formações de óleo e gás de xisto, a nível mundial em 2013 Fonte: EIA12 12
EIA, publicado online em: http://www.eia.gov/analysis/studies/worldshalegas/ (consultado em 15 de Junho de 2014)