3. Jordânia – A questão energética e relações de vizinhança 3.1 – A geopolítica da dependência energética
3.2 Realidade energética – a matriz actual
Como referido anteriormente os recursos energéticos jordanos são muito limitados e claramente insuficientes para satisfazer a demanda doméstica. Com efeito, segundo dados do Ministério da Energia e Recursos Minerais, a produção local de petróleo e de gás natural em 2012 foi de, no conjunto, 279 milhares toe os quais apenas contribuíram em 3,5% para o total de energia necessária.
Fruto do desenvolvimento social e económico do país, o consumo energético jordano tem vindo a crescer de forma exponencial nas últimas décadas, agravando o desafio do governo em alcançar os níveis da procura.
Figura XXI – Evolução do consumo energético em TWh36
Fonte: Quandl37
Segundo fontes oficiais do Ministério da Energia e Recursos Minerais jordano, o consumo de energia primária em 2012 representou um total de 7.979 milhares de toe, sendo que destes, 87,6% dizem respeito a petróleo e seus derivados, 8,3% a gás natural, 2,4% a electricidade importada e apenas 1,8% a energias renováveis. A
36 TWh ou Terawatt-‐hora (1 terawatt-‐hora = 85984,52 toe) 37
Quandl disponível online em https://www.quandl.com/c/jordan/jordan-‐energy-‐data (consultado em 3 de Julho de 2014)
variação nos últimos cinco anos revela oscilações dignas de análise, quando segmentada por tipo de energia, como se pode verificar no quadro seguinte. O dado mais significativo prende-‐se com o aumento do valor da electricidade importada que passou de 74 milhares de toe em 200838 para 188 milhares de toe em 2012, significando uma variação de 154%. Igualmente significativos são os valores para o consumo de gás natural, que reflectem a situação reportada no ponto anterior, relativa às sucessivas interrupções no fornecimento proveniente do Egipto com as sabotagens da Arab Natural Gas Pipeline, agravadas em 2011 durante as revoltas que depuseram o presidente egípcio. Com efeito o consumo de gás, que mantinha um ritmo crescente até 2009 diminuiu 26% em 2010, 62% em 2011 e 25% deste ano para 2012, o que se traduz numa variação negativa de 76% em cinco anos. A situação do consumo de petróleo e seus derivados, mostra igualmente uma aceleração dos valores com variações conjunturais entre 2008 e 2010, mas deste ano para 2011 dá-‐se um aumento de 4.774 milhares de toe para 6141 milhares de toe, o que representa um incremento de 25% apenas num ano e deste valor para 6.992 milhares de toe em 2012, ou seja mais 14%. Apenas a coluna referente ao consumo de energias renováveis apresenta um modesto mas constante crescimento nestes cinco anos, revelando uma variação total entre 2008 e 2012 de 27%.
Tabela IV – Consumo de energia primária entre 2008 e 2012, por tipo de energia, em milhares de toe
Ano Petróleo e seus
Derivados Gás Natural Energias Renováveis Electricidade Importada 2008 4426 2725 110 74 2009 4454 3086 120 79 2010 4774 2289 124 168 2011 6141 873 130 313 2011 6992 659 140 188 Var. % 08/12 58% -‐76,3% 27% 154%
Fonte: Ministério da Energia e Recursos Minerais da Jordânia
É fundamental entender quais os sectores responsáveis pelo consumo energético. A análise dos dados oficiais para o mesmo período de 2008 a 2012, revela o peso do sector terciário, a par do decréscimo da importância da agricultura e indústria bem como as alterações sócio-‐demográficas no país, referidas no capítulo anterior.
Com efeito verificamos que o sector dos transportes sozinho, é responsável em 2012, por 49% do total da energia final consumida na Jordânia, quando em 2008 o valor, embora alto, se situava nos 39%. Em contrapartida a indústria contribui em 2012 para 14% do total do consumo energético perdendo nove pontos percentuais face a 2008. O consumo doméstico, que se manteve estável nos quatro primeiros anos deste período, sobe 2% de 2010 para 2011 e volta a estabilizar em 2012. É difícil avaliar a variação produzida no sector agrícola uma vez que as fontes oficiais agregam os dados da agricultura, comércio e iluminação pública sob a mesma designação de “Outros”, contudo observando a contribuição percentual desta verba para o total de energia consumida e assumindo não ter havido uma diminuição efectiva da iluminação pública nem do número de estabelecimentos comerciais neste período, podemos inferir que o decréscimo dos valores se deve essencialmente ao abrandamento do sector da agricultura.
Tabela V – Contribuição de cada sector para o consumo total de energia final entre 2008 e 2012 (%)
Ano Transportes Indústria Consumo
Doméstico Outros* 2008 38 23 21 18 2009 39 22 21 18 2010 41 21 21 17 2011 41 20 23 16 2012 49 14 23 14
* agricultura, comércio e iluminação pública
A análise do consumo de petróleo segmentada por tipo de derivados, nos últimos cinco anos, é reveladora de duas realidades distintas. Por um lado valida o elevado peso do sector dos transportes visto no quadro anterior, por outro lado reflecte o aumento significativo do consumo de diesel, destinado à geração eléctrica, resultado da quebra das importações de gás natural do Egipto.
Tabela VI – Segmentação do consumo de petróleo por tipo, entre 2008 e 2012, em milhares de toe
Ano Gás
Liquefeito
Gasolina Jet
Fuel
Kerosene Diesel Fuelóleo Asfalto Total
2008 319 873 216 100 1493 1100 167 4268 2009 339 1022 318 111 1614 823 194 4421 2010 312 1065 351 69 1577 1381 152 4907 2011 378 1083 354 75 2407 1670 109 6076 2012 377 1147 380 81 3103 1578 92 6758
Fonte: Ministério da Energia e Recursos Minerais da Jordânia
Relativamente ao consumo de electricidade, tem vindo a verificar-‐se um acréscimo significativo nos últimos anos. O Ministério da Energia e Recursos Minerais atribui o aumento da procura à crescente utilização de aparelhos de ar condicionado, quer para fazer face às altas temperaturas do Verão, como à generalização do seu uso como aquecimento no Inverno, dado o diferencial de preço em relação aos combustíveis fósseis, sendo que o consumo doméstico aumentou 12,6% em 2012 face ao ano anterior e o sector comercial, registou igualmente uma subida de 7,4%. Esta situação reflecte-‐se na quantidade de electricidade gerada em 2012, superior em 13,3% relativamente a 2011 e é clara na figura seguinte, que mostra a elevada percentagem do consumo doméstico e a sua evolução crescente ao longo de cinco anos, a par de um decréscimo no consumo industrial e uma estabilização nas restantes áreas com funcionamento eléctrico, como a indispensável bombagem de água.
Tabela VII – Contribuição de cada sector para o consumo total de electricidade, entre 2008 e 2012 (%)
Ano Consumo
Doméstico
Indústria Comércio Bombagem
Água Iluminação Pública 2008 39 27 17 15 2 2009 41 25 16 15 3 2010 41 25 17 15 2 2011 41 26 17 14 2 2012 43 24 17 14 2
Fonte: Ministério da Energia e Recursos Minerais da Jordânia
Estes consumos energéticos traduzem-‐se numa elevada factura para o reino Hashemita e o reflexo do seu aumento é igualmente visível nos preços dos produtos para o consumidor final. O sector energético na Jordânia é extremamente controlado pelo governo, que revê e estabelece mensalmente os preços dos combustíveis reflectindo as oscilações do mercado internacional. Para impulsionar o crescimento económico e fruto dos favoráveis acordos energéticos estabelecidos com o Iraque, o governo jordano implementou um sistema de subsídios aplicáveis aos combustíveis fósseis e electricidade. Estes apoios começaram a ser reduzidos em 2005 e posteriormente em 2010, sob pressão do Fundo Monetário Internacional. Nos últimos anos a política de subsídios onerava o estado em cerca de dois mil milhões de dólares, verba que representava 10% do PIB, o dobro do valor médio de outros países árabes. Em Novembro de 2012, o Gabinete toma a decisão radical de cortar os subsídios na íntegra, medida se reflectiu de imediato no preço final dos produtos energéticos e que, em consequência, provocou numerosos tumultos entre a população, obrigando o governo a atribuir um apoio monetário à população mais carenciada, como medida compensatória pela alta generalizada dos preços por via dos aumentos nos combustíveis.
Tabela VIII – Preço de venda dos combustíveis em Janeiro e Dezembro 2012
Combustível Unidade Janeiro Dezembro Variação %
Gás Liquefeito Dinar/botij a 6,5 10 53,8% Gasolina (90) Dinar/litro 0,620 0,800 29,0% Gasolina (95) Dinar/litro 0,795 1,015 27,7% Diesel Dinar/litro 0,515 0,685 33% Querosene Dinar/litro 0,515 0,685 33%
Fuelóleo Indústria Dinar/ton 501,24 475 -‐5,2%
Fuelóleo Navios Dinar/ton 511,32 501,50 -‐1,9%
Diesel Navios Dinar/litro 0,670 0,685 2,2%
Jet Fuel (Aviação Local) Dinar/litro 0,614 0,621 1,1%
Fonte: Ministério da Energia e Recursos Minerais da Jordânia
Segundo o Ministério da Energia e dos Recursos Minerais, o corte dos subsídios reflectidos no preço geral dos combustíveis, terá como consequência directa o refrear do consumo exagerado de derivados do petróleo, mas igualmente constitui um alerta aos jordanos para a necessária reforma energética em curso, com a grande tónica nas renováveis.