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CAPÍTULO 1. TRANSPORTE SUSTENTÁVEL

1.1. O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E O TRANSPORTE

1.1.4. A Estruturação da Política de Mobilidade Urbana no Brasil

A estruturação da Política de Mobilidade Urbana no Brasil iniciou-se com a criação do Ministério das Cidades em 2003, responsável pela elaboração e condução da Política

Nacional de Desenvolvimento Urbano (PNDU5), que articula quatro Secretarias Nacionais:

Habitação, Saneamento Ambiental, Transporte e Mobilidade Urbana (SeMOB) e Programas Urbanos. Compõe ainda a estrutura do Ministério das Cidades o Departamento Nacional de Trânsito (DENATRAN) e de duas empresas públicas: a Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) e a Empresa de Trens Urbanos de Porto Alegre S/A (TRENSURB) (Brasil, MC, 2007).

Segundo o Ministério das Cidades, cabe à Secretaria de Transporte e Mobilidade Urbana - SeMOB:

ƒ “Promover a articulação das políticas de transporte, trânsito e acessibilidade, qualificando os sistemas de transporte público, por meio de ações que estimulam a prioridade ao transporte coletivo e aos meios não motorizados e a implementação do conceito de acessibilidade universal. São desenvolvidas também, por essa secretaria, atividades relacionadas à estruturação da gestão pública e atualização profissional” (Brasil, MC, 2007, pg, 20); e

ƒ “Estabelecer e materializar a Política Nacional de Mobilidade Urbana

Sustentável – PNMUS, entendida como um conjunto de políticas de transporte e de circulação que visam proporcionar o acesso amplo e democrático ao espaço urbano, por meio da priorização dos modos de transporte coletivo e não- motorizados, de forma efetiva, socialmente inclusiva e ecologicamente sustentável” (Brasil, MC , 2006a, pg 18").

Em relação à PNMU, esta por sua vez, estabelece três campos estratégicos de ação:

ƒ Para o desenvolvimento urbano, “a integração entre transporte e controle

territorial, a redução das deseconomias da circulação e a oferta de transporte público eficiente e de qualidade”,

5 O objetivo da PNDU é “orientar e coordenar esforços, planos, ações e investimentos dos vários níveis de

governo e, também, dos legislativos, do judiciário, do setor privado e da sociedade civil...(na) busca (da) equidade social, maior eficiência administrativa, ampliação da cidadania, sustentabilidade ambiental e resposta aos direitos das populações vulneráveis: crianças e adolescentes, idosos, pessoas com deficiência, mulheres, negros e índios” (Brasil, MC, 2007, pg. 20).

ƒ Para a sustentabilidade ambiental, “o uso equânime do espaço urbano, melhoria da qualidade de vida, a melhoria da qualidade do ar e a sustentabilidade energética”, e

ƒ Para a inclusão social, “o acesso democrático a cidade e ao transporte público e a valorização da acessibilidade universal e aos deslocamentos de pedestres e ciclistas” (Brasil, MC, 2004a, apud Brasil, MC, 2007, pg. 20).

A consecução desses objetivos da PNMU, por sua vez, é orientada por três conceitos de aplicação prática: “o planejamento integrado de transporte e uso do solo; a atualização da regulação e da gestão do transporte coletivo urbano; e a promoção da circulação não motorizada e o uso racional do automóvel” (ibid).

O Ministério das Cidades, para enfrentar o atual modelo de mobilidade no país centrado no automóvel e na pouca priorização dos meios de transporte público e não motorizados, elaborou um Caderno de Referência para a elaboração de Plano de Mobilidade Urbana - PlanMob, que deve ser institucionalizado mediante decreto ou atos legislativos e normativos específicos, obrigatório para cidades acima de 500 mil habitantes, fundamental para as cidades com mais de 100 mil habitantes e importantíssimo para todos os municípios brasileiros (MC, Brasil, 2007).

Segundo o Ministério das Cidades (Brasil, MC, 2004a, apud Brasil, MC, 2007) o PlanMob: 1. “É instrumento de orientação da política urbana, isto é, faz parte do arcabouço normativo e diretivo que a cidade dispõe para lidar com o processo de consolidação, renovação e controle da expansão urbana, logo, dele se exige que contenha, no campo da mobilidade, as diretrizes que:

ƒ Fundamentam a ação pública em transporte;

ƒ Delimitam os espaços de circulação dos modos de transporte, incluindo as prioridades;

ƒ Regulam a relação com os agentes privados, provedores de serviços de transporte; e

ƒ Disciplinam o uso público dos espaços de circulação.

2. Deve estar vinculado ao Plano Diretor Municipal e aos planos regionais, caso o município esteja inserido em uma região metropolitana, aglomerado urbano ou região

integrada de desenvolvimento, obedecendo as diretrizes urbanísticas neles fixadas. Em adição, é importante destacar que o PlanMob não é um outro plano urbano, mas parte complementar, seqüencial e harmônica do Plano Diretor.

3. Deve analisar e propor diretrizes, ações e projetos para:

ƒ A infra-estrutura da circulação motorizada e não motorizada das pessoas e das mercadorias, incluindo: calçadas, travessias, passarelas, passagens inferiores, escadarias, ciclovias, terminais de ônibus, estacionamentos públicos, píers, pistas de rolamento, viadutos, túneis e demais elementos físicos;

ƒ A funcionalidade da circulação, definindo as regras de apropriação da infra- estrutura viária pelos diferentes modos de transporte e a regulamentação de seu uso, expressando prioridades; e

ƒ A organização, o funcionamento e a gestão dos serviços de transporte público.

4. Tem como principal objetivo: proporcionar o acesso a toda a população as oportunidades que a cidade oferece, com a oferta de condições adequadas ao exercício da mobilidade da população e da logística de circulação de bens e serviços”.

Em complemento, o PlanMob deve ainda definir diretrizes para a eliminação de barreira arquitetônicas, urbanísticas e de transporte, sendo esta última caracterizada pela falta de adaptação em qualquer sistema de transporte, e isto deve valer tanto para projetos novos quanto para a adaptação de sistemas existentes (Brasil, MC, 2007).

Para Boareto (2006), o objeto de atuação do PlanMob é a organização dos espaços de circulação e dos serviços de trânsito e transportes públicos, integrando-o aos instrumentos de gestão urbanística, subordinando-o aos princípios de sustentabilidade ambiental e voltando-se para a inclusão social.

Segundo autor (ibid), o PlanMob deve:

ƒ Diminuir a necessidade de viagens motorizadas; ƒ Repensar o desenho urbano das cidades;

ƒ Repensar a circulação de veículos nas cidades;

ƒ Desenvolver os modos não motorizados, uma vez que seu uso não pode ser só uma intervenção no atual desenho, mas como parte do novo desenho urbano (ciclovia,

qualidade das calçadas, paisagismo não só estético, mas como suporte dos deslocamentos a pé);

ƒ Reconhecer o modo a pé;

ƒ Proporcionar mobilidade às pessoas com deficiência;

ƒ Priorizar efetivamente o transporte coletivo (infra-estrutura, novas energias, maior qualidade, investimentos contínuos);

ƒ Considerar o transporte hidroviário; ƒ Baratear as tarifas do transporte coletivo; ƒ Reduzir os impactos ambientais;

ƒ Reduzir os acidentes e vítimas do trânsito; e ƒ Estruturar a gestão local.

Os temas a serem tratados pelo PlanMob, sejam gerais ou de presença obrigatória, independente do porte do município, estão esquematizados na tabela 1.1 a seguir, que sugere que cada tema seja tratado de acordo com o porte do município, ou seja, com as características de cada localidade (ibid).

Tabela 1.1:Temas Particulares ou Específicos que devem constar no Plano de Investimentos de cada Município, considerados segundo

as características de cada localidade

Tema de 60 a 100 mil hab de 100 a 250 mil hab de 250 a 500 mil hab de 500 mil a 1 milhão hab mais de 1 milhão hab Acessibilidade, transporte coletivo e

escolar para a área rural X X X X X

Organização da circulação em áreas

centrais e pólos locais X X X X X

Classificação e hierarquização do

sistema viário X X X X X

Implantação e qualificação de

calçadas e áreas de circulação a pé X X X X X

Criação de condições adequadas à

circulação de bicicletas X X X X X

Sistemática para avaliação permanente da qualidade do transporte coletivo e de

indicadores de trânsito X X X X

Sistemas integrados de transporte

coletivo X X X X

Tratamento viário para o transporte

coletivo X X X

Modelo tarifário para o transporte

coletivo urbano X X X

Regulamentação da circulação do

transporte de carga X X X

Sistemas estruturais de transporte

coletivo de média capacidade X X

Modelo institucional em regiões

metropolitanas e áreas conurbadas X X

Sistemas estruturais de transporte

coletivo de alta capacidade X

Controle de demanda de tráfego urbano X

Fonte: Boareto (2006)

Observa-se nessa tabela 1.1 que os temas diretamente relacionados aos deslocamentos não motorizados, ou seja, “implantação e qualificação de calçadas e áreas de circulação a pé” e “criação de condições adequadas à circulação de bicicletas” são fundamentais para todos os portes de cidades mencionadas.