• Nenhum resultado encontrado

A evolução da produção e a produtividade

por substituição de importações (1969-1981)

2. A evolução da produção e a produtividade

Começamos revisando como têm evoluído algumas economias da América Latina e outras fora da região nas últimas quatro décadas. O gráfico 1 apresenta a evolução do PIB per capita desses países como fração do PIB per capita dos Estados Unidos. A escolha destas variáveis reflete a adotada em boa parte da bibliografia sobre crescimento e desenvolvimento (ver Hall e Jones, 1999). Na comparação de outros países com os Estados Unidos, presumimos de modo implícito, que a economia estadunidense é uma “fronteira” para a qual os demais poderiam potencialmente convergir.

Talvez, poderia se argumentar que os Estados Unidos possuem uma economia já desenvolvida (ou seja, uma economia que já aplica as melhores práticas e tecnologia –da fronteira–). Desde a Segunda Guerra Mundial, seu crescimento se manteve praticamente constante, com recuperações rápidas para compensar os declínios gerados pelas recessões. Em geral, o que impulsiona seu crescimento dos Estados Unidos é principalmente a inovação (novas invenções) e não a incorporação de grandes mudanças em suas políticas econômicas. Pelo contrário, os países da América Latina devem ser considerados economias em desenvolvimento. Implementar as “políticas certas” poderia transformar potencialmente essas economias e torná-las tão eficientes quanto a economia dos Estados Unidos. Afluir em direção à fronteira ou “recuperar o espaço” exigiria que os países da América Latina registrassem um crescimento muito maior, pelo menos durante seu processo de desenvolvimento.

GRÁFICO 1. PIB per capita como fração do PIB per capita dos Estados Unidos

Fonte: Cálculo dos autores com dados de Penn World Tables 9.1.

Como apresenta o gráfico 1, a Coreia do Sul parece ser o único caso claro dessa recuperação de espaço em toda nossa seleção. Começou em 1980 como o país mais pobre da amostra, com um PIB per capita inferior a 20% do PIB

per capita dos Estados Unidos e, em 2017, atingiu 70%. Para conquistar esses

avanços, teve um crescimento de mais de 3% em seu PIB per capita durante três décadas, com desaceleração ao longo do tempo. Esse é exatamente o padrão que se espera. Inicialmente, o país apresenta um crescimento relativamente alto enquanto adquire conhecimento dos países ricos, emula as suas melhores práticas e acumula capital. Porém, à medida que se reduz a brecha entre o país em questão e a fronteira, as taxas de crescimento diminuem. O único país latino-americano que reflete em alguma medida um desenvolvimento semelhante ao da Coreia do Sul é o Chile, embora com números menores.

Por que os países da América Latina não recuperaram espaço? A teoria econômica tradicional explica a produção mediante os fatores que constituem o PIB. O PIB é uma função da mão de obra, do capital e da produtividade, que é simplesmente o elemento residual. Analisar como cada um desses três fatores tem evoluído nos permitiu identificar a origem do problema.

O componente de mão de obra refere-se ao número de horas trabalhadas para gerar a produção. Quando apresentar o PIB per capita, estamos considerando o número de pessoas, mas não a quantidade de horas que cada pessoa trabalha porque, na maioria dos países de nossa apresentação, os dados sobre as horas trabalhadas não estão disponíveis. Contudo, acontece que essa informação não é essencial para nossa tarefa, porque as horas trabalhadas por pessoa não podem aumentar muito no longo prazo (pois o número de horas que

as pessoas podem trabalhar por dia tem um limite). Nas recessões, as horas trabalhadas por pessoa podem ser substancialmente reduzidas, mas esse número geralmente retorna ao seu nível anterior na fase de recuperação. No longo prazo, quando se analisa o crescimento em um período de décadas, as horas trabalhadas por pessoa não contribuem significativa para a produção1.

O componente de capital é potencialmente diferente. Em princípio, uma economia poderia acumular grandes quantidades de capital indefinidamente e atingir um PIB per capita muito alto. No entanto, essa lógica é enganadora. Como o produto marginal do capital tende a diminuir quando aumenta a escala, um estoque de capital anormalmente abundante geraria uma rentabilidade muito baixa, ou até mesmo investimentos não lucrativos. Por isso, a quantidade de capital em uma economia está intimamente ligada ao nível de produtividade da mesma. Ou seja, a disparidade no nível de capital não influi significativamente na disparidade na produção. Neste contexto, a produtividade é, certamente, o principal fator que explica as diferenças no nível de produção2.

Uma maneira simples de entender isto é calcular qual seria o PIB per

capita dos países da América Latina, se eles tivessem a mesma relação

capital-produto do que os Estados Unidos (preservando seus próprios níveis de produtividade), e se tivessem a mesma produtividade do que os Estados Unidos (preservando seu próprio nível de capital). A tabela 1 apresenta esses cálculos, com base nas taxas médias de investimento e crescimento entre 1980 e 2017, junto com uma hipótese da taxa de depreciação e do requerimento de capital (ver Hall e Jones, 1999)3.

1 É importante notar que, nos países da América Latina para os quais existe esta informação, não se observa nenhuma diferença significativa nas horas trabalhadas entre os países da região e os países desenvolvidos, como os Estados Unidos (Corporação Andina de Fomento [CAF], 2018).

2 CAF (2018) apresenta um cálculo semelhante, porém mais detalhado. Consulte a tabela 1.1 do relatório para obter uma discriminação adicional em termos de força de trabalho, emprego, horas trabalhadas, produção por hora e produtividade, assim com a intensidade do capital físico e a intensidade do capital humano.

3 O exercício pressupõe que não apenas os países da região tenham a mesma produtividade do que os Estados Unidos, mas também o mesmo nível ou qualidade de capital humano.

TABELA 1. PIB per capita como fração do PIB per capita dos Estados Unidos

2017 Se tivesse o nível de capital dos Estados Unidos

Se tivesse o nível de produtividade dos Estados

Unidos Argentina 0,35 0,37 0,95 Brasil 0,26 0,26 1,02 Chile 0,41 0,43 0,95 Colômbia 0,24 0,25 0,96 Costa Rica 0,28 0,29 0,99 Equador 0,19 0,18 1,05 El Salvador 0,13 0,14 0,91 Guatemala 0,14 0,14 0,95 Haiti 0,03 0,02 1,54 Honduras 0,08 0,07 1,20 México 0,33 0,30 1,12 Nicarágua 0,10 0,10 1,00 Paraguai 0,21 0,20 1,06 Peru 0,23 0,22 1,01 Rep. Dominicana 0,28 0,31 0,93 Uruguai 0,37 0,44 0,86 Coreia do Sul 0,66 0,67 0,99 Estados Unidos 1,00 1,00 1,00

Fonte: Cálculo dos autores com dados de Penn World Tables 9.1.

É claro que o nível de capital por trabalhador explica muito pouco a distância entre os níveis de renda per capita entre os Estados Unidos e os países da região (e, às vezes, até afasta ainda mais o país em questão da fronteira). Pelo contrário, a produtividade é altamente relevante do ponto de vista quantitativo. Se os países da América Latina tivessem a produtividade dos Estados Unidos, seriam substancialmente mais ricos. Em nosso debate sobre a convergência, os países da América Latina não convergem para a fronteira porque sua produtividade não conflui para a produtividade dos países mais ricos.

Nas próximas seções deste trabalho, avaliaremos as possíveis explicações sobre a grande diferença entre os níveis de produtividade dos países latino-americanos e o nível da fronteira (os Estados Unidos). Estas explicações podem ser consideradas “fontes de ineficiência”. Algumas distorções existentes na forma como operam os países da América Latina não permitem que o capital e

mão de obra produzam da forma mais eficiente. A eliminação destas distorções ou obstáculos deveria transformar o nível de produtividade do país em questão para se aproximar ao nível dos Estados Unidos.

Ao descobrirmos os obstáculos relevantes para o desenvolvimento, podemos propor as políticas adequadas para gerar um aumento da produtividade. Em outros termos, a implementação de políticas que eliminem as fontes de ineficiência permitirá à economia em questão, adotar as melhores práticas produtivas (incluindo políticas de promoção do capital humano) e políticas mais adequadas, bem como aumentar sua produtividade. Da mesma forma, essa economia retomaria o processo de recuperação de espaço em seu desenvolvimento e assim diminuir a distância com a fronteira.

3. Composição: